O quarto de Eric encontrava-se bem mais arrumado do que de costume. Não havia nenhuma roupa íntima suja sobre o tapete, tampouco sobre a mesa de cabeceira. Os livros estavam todos nas estantes, organizados por gênero e tamanho. Não havia nenhum resto de comida ou mesmo embalagens vazias de biscoitos.
Toda aquela organização surreal fez o recinto, outrora considerado um chiqueiro, merecer ser chamado de “pedacinho do paraíso” pela mãe de Eric. Tudo parecia perfeito. É, apenas parecia. O momento de deleite visual foi interrompido pela visão de um corpo feminino seminu sobre a cama, parcialmente coberto pelo edredão preto. Dona Marta, absolutamente surpresa, pôs-se a observar a moça, e logo começou a correr o quarto de seu filho com os olhos, à procura de qualquer detalhe que provasse que a presença daquela garota não se tratava de mais um de seus delírios matinais. Rapidamente, dona Marta notou um par de tênis ao lado dos de seu filho. Ao adentrar um pouco mais no quarto pôde ver as roupas da moça sobre a cadeira giratória, que estava oculta pela porta. Dona Marta não conseguia conceber a idéia de que seu filhinho, que completara 18 anos no dia anterior, já estivesse se envolvendo com uma mulher... e ainda por cima ruiva! Toda esta cena durou apenas 5 minutos, tempo suficiente para Eric voltar da padaria e ver o vulto esguio de sua mãe diante da entrada de seu quarto.
Eric largou o pão da fornada matinal sobre a mesa de centro da sala e foi correndo até seu quarto, puxando sutilmente sua mãe para fora e fechando a porta do local. Antes que sua mãe pudesse dizer qualquer coisa a respeito da moça encontrada no quarto, Eric sorriu e falou:
—A senhora disse que eu deveria aproveitar meu aniversário do jeito que me conviesse... e eu fiz exatamente o que a senhora mandou! Agora espere um pouco que vou chamar Letícia para comer conosco.
Com a mesma velocidade que foi correndo até sua mãe, Eric abriu a porta de seu quarto e entrou. Aproveitar-se da costumeira letargia matinal de dona Marta para não ter que responder perguntas irritantes não era certo, mas, no momento, era o que havia de mais seguro a se fazer.
Assim que entrou no quarto, o rapaz sentou-se na beira da cama, aproximou-se do corpo desacordado da moça, encostou seus lábios na orelha esquerda dela e sussurrou com sua voz levemente grave:
—Acorde, bela adormecida, é hora do café!
As poucas palavras de Eric foram suficientes fazer a garota ruiva levantar e atirar-se aos braços do rapaz. Ela já estava acordada, mas Eric não sabia disso. Surpreso, Eric abraçou a moça, que, em resposta, beijou os lábios corados do rapaz.