Luke Shill. Eu queria acreditar que a escolha da empresa para esse garoto como a próxima vítima era apenas uma coicidência, mas algo impregnava minha mente de dúvidas sobre tal acaso. 

Entrei no elevador, agora estando sozinho naquela caixa de metal, escutando os guinchos das cordas e engrenagens que faziam o aparelho descer enquanto milhares de vozes incômodas ecoavam com suas teorias em minha cabeça. Sai para o saguão do edifício, meus olhos irritando-se fracamente com a luz que entrava pelas paredes de vidro dali, refletindo-se no piso branco do local. 

Fui até o portão e olhei para o homem que agora estava na portaria, será que ele também fazia parte daquela perseguição? Eu quase conseguia ouvir sua voz trêmula dizendo que eu havia saído para o homem ao telefone. 

Outro motorista da empresa já me esperava a alguns metros do edifício, tinha o cabelo ruivo e os olhos verdes cansados, parecia não gostar muito do trabalho, como todos os outros. Sua expressão demonstrava impaciencia enquanto eu me dirigia vagarosamente ao carro de hoje, um modelo branco diferente do usado anteriormente. Eu queria saber onde a empresa guardava toda sua remessa de veículos, eu não iria me importar se ela me desse um ou dois de vez em quando. 

- Quanta demora - o homem resmungou, partindo dali assim que fechei a porta do carro. 

- Boa tarde para você também - respondi, rebendo um suspiro irritado do outro. 

- Luke Shill... - começou ele. 

- Trabalhava para a empresa, porém foi despedido por ter medidas que esta não aprovava - completei sua frase. 

- Certo - disse ele, limitando-se a olhar me pelo retrovisor. 

- E por que querem matá-lo? Têm tanto medo dos ex-funcionários abrirem a boca sobre nossos serviços? - perguntei, querendo mais informações sobre o homem que eu suspeitava estar me vigiando. 

- O caso é que ele já abriu a matraca - o homem continuou, os nós de seus dedos ficando brancos no volante com a força que ele aplicava neste - Parece que anda investigando os novos assassinos para pessoas que desejam eles mortos. 

Bingo, era ele mesmo que me perseguia. Estranhei o modo como todo o mistério terminou extremamente depressa, eu realmente pensara que Luke seria um pouco mais esperto para deixar aquele jogo no mínimo divertido. 

- Não será estranho o cara de repente morrer sendo que ele já perseguia assassinos? - perguntei. 

- Faça com que pareça suícidio - o homem disse, encarando-me novamente pelo espelho com seus olhos cansados - Esse caso é muito importante e não pode ter falhas. 

- Ok - eu disse, inclinando-me para a frente, curioso com o desafio - O que eu faço?

- Deixarei você algumas quadras longe da casa de Luke - ele começou, falando vagarosamente como se explicasse matemática para uma criança, ignorei a irritação que aquilo me causara - Ele está em sua residência. 

O homem deu-me o endereço da vítima, e eu assenti começando a localizá-la na cidade que eu tanto conhecia. 

- Entre casualmente - ele continuou - Luke não costuma deixar a porta trancada, faça seu serviço do jeito que desejar, desde que pareça que ele se matou. Saia da casa pelos fundos, pule o muro se for preciso, a vizinhança não está presente a esse horário para te ver fugindo por esse caminho. 

Assenti enquanto o carro começava a desacelerar. 

- Espero você quatro quadras abaixo da casa às 17 em ponto. - ele terminou, enquanto eu abria a porta. 

- Pode deixar, sou bom quando o assunto é fugir - disse, e sai do carro. Fora deste a rua estava quase deserta, poucas pessoas insignificantes andavam com passos ritimados pela calçada, e apenas alguns carros passavam rapidamente por ali.

Olhei no relógio, eram 15 horas. Eu tinha 2 horas para me divertir.