Depois de esconder o corpo do homem, pulei desdenhosamente os restos da porta que havía estado na frente de sua casa. Pouco tempo depois uma grande multidão estaria ali se perguntando o que teria acontecido com o vizinho, e quando isso acotecesse era bom eu estar longe o suficiente para não ser associado à cena. 

Andei alguns quarteirões, não ligando para a chuva fina que começara a cair e me molhava, enquanto pessoa a minha volta corriam para algum abrigo e colocavam suas maletas e pastas acima da cabeça para se proteger dos pingos de água. 

Parei em uma esquina distante o bastante de minha última vítima, esperando entre as pessoas que procuravam um táxi para livrá-los da chuva, em pouco tempo um senhor rabugento estacionou ao meu lado, fazendo um sinal quase imperceptível para que eu entrasse. 

Abri a porta traseira do carro preto e discreto e sentei-me, batendo a porta logo em seguida. 

- Tudo feito? - perguntou o motorista secamente, eu tinha a impressão de que ele não gostava de seu trabalho. 

- Sim - disse, afastando algumas gotas de água de minha jaqueta escura. 

- Ótimo, aguarde por seu próximo alvo - disse ele, olhando apenas por um instante pelo retrovisor, checando de que o havia escutado. 

Afirmei com a cabeça, já acostumado com o processo entendiante de ter que esperar a próxima vítima em meu apartamento vazio. 

Pelo resto do caminho o carro mergulhou em um completo silêncio, que era aceito confortávelmente por mim e pelo motorista. Encostei a testa no vidro gelado do carro, e observei as pessoas agrupadas em lojas e lugares cobertos por entre a visão embassada que a chuva me proporcionava. Qual entre aqueles rostos irritados seria o próximo a morrer? 

- Chegamos - disse o homem, parando o carro na frente do edifício em que eu morava. 

- Bem, é sempre um prazer encontra você, Erik - eu disse, abrindo a porta do carro e saindo para a chuva fria que dominava a rua. 

Corri para a entrada do prédio, dando um aceno leve para o porteiro me reconhecer. Ouvi o tranco do pesado portão sendo aberto, e entrei no hall. 

O homem na portaria cumprimentou-me balançando a mão, com um sorriso um pouco forçado no rosto, tentando esconder o quanto estava tenso e torcendo para eu acreditar. Idiota, aquele sorriso era mais falso do que os que minhas vítimas lançavam para os inocentes logo antes de cometer seu crime. 

Apressei o passo para chegar ao elevador que já se fechava, estendi a mão afim de parar a parede metálica que deslizava pelo aparelho e entrei, sorrindo inocentemente para a mulher que me encarava quando apertei o andar do meu apartamento. 

- Pelo visto tomou chuva - ela disse, apontando para minha jaqueta molhada. Olhei para ela, seus olhos verde-escuros apenas demostravam uma simpatía ingênua, seus cabelos pretos estavam amarrados para trás, e ela segurava uma pasta preta nas mãos. Devia estra voltando do trabalho. 

- É, dessa vez não consegui escapar - disse, enquanto tentava tirar alguns fios de meu cabelo cinza encharcado do rosto.

O elevador parou e a moça sorriu enquanto a porta prateada se abria, ela saiu do aparelho, fazendo seus sapatos soarem pelo assoalho do andar. 

A passagem se fechou novamente e o elevador recomeçou a subir até o número que eu havia pedido, sai assim que pude e corri para meu apartamento, abrindo a porta rapidamente e deixando-a aberta enquanto ia apressadamente para a sala, onde o sistema que me conectava ao telefone da portaria estava. 

Apertei o botão para ouvir a última chamada trocada no local, e minhas suspeitas se concretizaram. 

- Ele chegou - disse o porteiro, em uma voz ruidosa, apressadamente. 

- Muito bom, mantenha-nos informados sobre todos os seus movimentos - alguém disse do outro lado da linha, sua voz alterada por um tipo de aparelho. 

Estavam em vigiando, e o pior era que a lista de quem poderia querer fazer isso era grande.