Estava a meio da aula de Química quando dentro de meu bolso meu celular vibrou. Uma nova mensagem tinha chegado na caixa. Peguei com cuidado ele de bolso para ninguém se aperceber que eu estava remexendo nele e abri as mensagens. Era de Bernardo:

“Hoje vou ter treino de futebol com o Miguel. Não vou puder levar você pra casa! Acha que consegue ir pra lá sem mim, só por hoje?? Depois eu compenso você!! xD”

Esbocei um sorriso com as palavras dele, até perceber que Marta me encarava com uma cara muito estranha. Me fez sinal coma cabeça para olhar para o lado e bem devagar fui movendo minha cabeça. A professora estava de meu lado, olhei para ela e para o aparelho na minha mão. Peguei nele e o pousei na bolsa:

_Menina Medeiros, presumo que não estava falando com Antoine Lavoisier e muito menos com Henri Le Chântelier! – ela falou irónica roubando risadinhas de todo o mundo que estava dentro daquele espaço.

Fiquei sem graça. Tinha toda a classe me olhando. Isso me incomodou.

_Mas, já que interrompeu minha aula, sabe ao menos me dizer em que consiste a Lei de Lavoisier, mais propriamente a lei da conservação da massa?

Não sabia nem sequer quem era Lavoisier, ainda pensei que fosse o nome de alguma coisa de comer ou até de um jogo de consola. Estive a ponto de responder que não sabia até que a ponta da caneta de marta começou batendo, como se me fazendo sinal para  um quadradinho vermelho, numa página do livro me chamando a atenção. No titulo dizia: “ Lei de Lavoisier ou Lei da Conservação da massa.” Li rápido o que dizia na caixa.

_Mas me vai dizer a definição para hoje ou vai me fazer ainda perder mais tempo. – a professora falou alto com aquela sua voz irritante, autoritariamente.

_Lavoisier, senhora professora, - fiz enfase em senhora professora em tão de zoamento, - diz que na natureza nada de cria e nada se perde, tudo se transforma. – falei irónica.

Ela olhou para mim com cara de admirada com a minha definição e também um pouco desiludida por achar que eu não estava atenta na sua aula. Me fazendo ganhar a batalha de aluno para professor, Que todo o mundo gosta de ganhar, principalmente quando deixa os professores sem razão. Foi o que aconteceu naquele momento.

_Veja se se põe mais atenta na minha aula, hein garota! E deixe essas conversações de celular para o intervalo.

Virou costas e seguiu até ao quadro. Olhei para Marta com cara de alivio. Ela riu de minha cara e levou a caneta a boca. Abanando com a cabeça como se me dissesse que eu era uma grande louca. Encolhi os ombros começando a me rir. Por muito que a situação fosse embaraçosa eu achei muito graça.

Quando dei pela a hora a aula estava terminando. Guardei minhas coisas na bolsa e fiquei esperando pela coisa lenta da Marta, que ainda arrumava as suas. Saímos da sala juntas em direção ao portão da saída.  Fomos caladas por um bom tempo, até a curiosidade louca da Marta despertar:

_Quem é que no meio da aula conseguiu roubar sua atenção, fazendo você esquecer de tudo, e sorrir que nem uma boba?

Percebi que ela estava numa de zoar. Marta conseguia ser irritante.

_Você é impossível! – falei no lance.

_Esse garoto tá mexendo com você!

_Eu sei… - falei não querendo admitir. – E o pior é que eu estou achando que gosto dele!

_Só achando?

_Sim, só achando. E não tente fazer mais nenhuma pergunta porque eu não vou responder.

_Tudo bem. Eu vou indo, já que a senhorita hoje não tá para questionários.

_Tá bom! Eu acho que vou indo também. Bernardo fui no treino com o Miguel e não me vai levar.

Percebi que ela ficou incomodada quando eu referi o nome do Miguel.

_Ah, verdade, logo tem festa no Pimenta Preta, vê se aparece por lá! Vou estar esperando por você!

_Ok. Se puder eu vou lá. – passei no portão e Marta começou a caminhar, para a direção contrária. Quando já estava uns passos mais longe, gritou:

_E vê se leva o Bernardo. Acho que ele também vai curtir ir lá no bar.

Estive para correr até ela e lhe responder. Mais optei por não ligar  e seguir meu caminho até casa. Confesso que estava com medo.  E as recordações do passado voltaram. Fui o caminho todo a grande velocidade e sempre olhando para tudo o que era canto, sempre com a sensação de estar a ser vigiada. Asselarei mais o passo e felizmente, cheguei em casa sã e salva.

Estava vazia, não tinha ninguém lá dentro. Meu pai e Carolina deviam estar trabalhando, Kate ainda não tinha voltado de sua terra e Bernardo estava no treino. Tinha a casa só para mim. Pousei minha bolsa no sofá e fui na cozinha. Abri a geladeira. Não havia nada que me agradasse. Remexi em todas as portas dos armários e nada. Só faltava abri uma e não me parecia que ia ter algo que matasse minha fome. Abri a porta e várias caixas de bolacha haviam lá. Fui lendo o rótulo de todas e peguei numas com chocolate.

Fui de novo para a sala e me estendi no sofá. Peguei no controle remoto e fui percorrendo todos os canais daquela lista gigante. Até que decidi parar num. Passava “ Paixão sem limites”.

Fiquei vendo o filme até o sono tomar conta de mim.

3 horas depois…

Comecei a abri meus olhos com dificuldade, pois uma luz forte estava acesa. Olhei em meu redor e tomei consciência da realidade. Estava na sala, lugar onde devia ter adormecido enquanto via o filme. Olhei a janela, o sol estava desaparecendo no oriente. Pôs uma mão na cabeça e com a outra cocei meu olho. Senti a presença de alguém s entrando na sala e se aproximando de mim. Meu pai já devia ter chegado. Senti a boca de alguém chegar próximo de meu ouvido e sussurrar por lá:

_Bom dia Bela Adormecida.

Era Bernardo. Ri com o termo e me deixei levar:

_Oi meu príncipe encantado.

Ele riu também e beijou meu pescoço. Me encolhi com o seu toque.

_Já voltou do treino? Pensei que fosse de mais tempo! – falei surpreendida.

_E demorou algum tempo, você é que não tem noção das horas.

_Que horas são?

_Quase sete.

_E rapaz, dormi tanto tempo. Acho que acabei perdendo mesmo a noção das horas!

_Você é uma dorminhoca. – ele desarrumou meu cabelo com mão. Segurei ela e a beijei carinhosamente. Só depois percebi que podia não estar sozinha em casa.

_Meu pai e sua mãe ainda não chegaram?  - preguntei curiosa.

_Minha mãe ligou á pouco dizendo que estavam presos transito e que ainda iam demorar. Por isso acho que a gente ainda tem um tempo. – seus olhar azul acinzentado se tornou um olhar sedutor e malicioso.

Me levantei para ele se sentar, apoiei minha cabeça em suas pernas. Ele ficou fazendo carinho por meu cabelo e testa.

_A Marta me falou que logo vai haver uma festa no Pimenta Preta…

_Sim, eu sei. O Miguel também me falou dessa festa.

_E… Você vai??

_Pois!! Acerca disso. Eu estava pensando em levar você comigo!

_E… isso é um convite? – falei aproximando minha boca da dele.

_E se for, você aceitava? – Bernardo ainda se aproximou mais de mim.

_Talvez… - sussurrei baixinho, roçando seus lábios no meus. E me envolvendo num beijo doce e calmo que eu não queria que nunca mais acabasse e que durasse para sempre. O problema é que para sempre, sempre acaba. E foi o que aconteceu. A gente parou o beijo assim que se apercebeu que o portão de casa abriu e que o carro de nossos pais tinha acabado de entrar para a garagem.

Bernardo se levantou e fui para a cozinha. Eu apenas peguei no controle remoto e mudei o canal com cara de desapontamento e deceção.  Nossos pais eram um saco…