Encostou seu corpo no meu, passou sua mão pela minha cintura e me abraçou por trás. O cheiro de Bernardo chegou no meu nariz e eu me virei para ele.

_Você tá louco? – sussurrei baixinho com minhas mãos em seu peito.

_Sim, completamente louco por você…

Ele beijou minha testa e eu sorri sem jeito. Deitei minha cabeça em seu peito e fiquei por lá brincando com as linhas bem definidas de seu abdómen até o sono pegar.

Acordei com alguém gritando meu nome, virei para o outro lado e não liguei. Ouvia se passos de alguém subindo as escadas:

_Leonor! Bernardo, acordem se não vão se atrasar para a escola.

Refleti naquilo que tinha ouvido e entrei em pânico. Bernardo estava dormindo de meu lado. A gente se tinha atrasado e ou muito me enganava ou tinha meu pai vindo em direção ao meu quarto. E se preparando para nos apanhar naqueles preparos.

_Bernardo, acorde!! A gente adormeceu! Acorde Bernardo! – abanei com Bernardo e este dava poucos sinais de vida.

_O que é que foi??

_A gente adormeceu e meu pai está farto de nos chamar.

Meu pai abriu a porta do quarto e Bernardo rebolou para debaixo da cama. Foi por um segundo que ele não o apanhou enfiado na minha cama.

_Então filha? Estou farto de chamar!

_Desculpe pai é que eu acho que o despertador não tocou e… eu não acordei e…- estava tão atrapalha que nem conseguia pronunciar uma frase direito.

_Pois eu calculei, mais olhe que é melhor se despachar se quer chegar a horas.

_Sim, não se preocupe eu já estou indo para o banheiro.

_E não se mexe.

_Estou esperando que você saia!! – falei irónica.

_Você hoje está muito estranha. – ele falou abandonando meu quarto. E fechando a porta atrás de si. Respirei bem fundo e Bernardo saiu de onde tava.

_Você acha que ele me viu? – Bernardo preguntou preocupado.

_Acho que não.

_Então é melhor eu me ir vestir também. – Ele se dirigiu a porta, mas minha mão chegou a tempo de o impedir de rodar o puxador.

_Você tá louco! Meu pai ainda pode estar no corredor ou no quarto. O que acha que ele vai pensar quando vir você sair de meu quarto?

_Que eu, o seu maior inimigo, vim lhe dar os bons dias.

_É impressionante como você consegue ter tão bom humor logo de manhã! Agora espera aqui que eu vou ver se o caminho está livre.

Abri a porta devagar e olhei para a esquerda e para a direita. Não havia sinal de ninguém. Fui em bicos de pés até a ponta das escadas e olhei lá em baixo. O Sr. Afonso e a Dona Carolina estavam se preparando para sair. E… saíram. A porta bateu e eu chamei Bernardo que voou para seu quarto.
Olhei para o relógio tinha 15 minutos para chegar á escola. Vesti uma roupa qualquer e preparei minha bolsa. Corri para a cozinha e bebi um iogurte. Chamei por Bernardo e seguimos para a escola.

Cheguei mesmo em cima do sinal. Ia ter Português e quando cheguei na sala já todo o mundo estava com os cadernos abertos. Sentei na primeira cadeira que vi na frente e troquei uns olhares com a Marta. Ela estava diferente, tinha um brilhozinho diferente. Estava triste, não era que ela tivesse feliz mais sua expressão estava menos viva. Virei meu olhar para o quadro e comecei passando o que estava por lá. Meu celular vibrou dentro da bolsa e assim que tive oportunidade o olhei.

Era uma mensagem de Marta:

“Preciso urgentemente de falar com você, aconteceu uma coisa. Você nem vai acreditar!”

Acabei de ler o texto e tornei o olhar para ela que me encarava com a caneta na boca. Será que tinha rolado alguma coisa com o Miguel?? Sabia que ela e ele andavam falando á algum tempo e ela também me disse que na festa eles se aproximaram mais. Fiquei curiosa e ansiando o final da aula.

A aula passou depressa. Até nem foi muito marrenta. Marta saiu antes de mim por isso tive que a procurar no meio daquela multidão de gente. Foi andando até ao bar da escola e Marta estava sentada numa mesa ao canto. Bernardo também estava lá, sentado noutra mesa com os amiguinhos dele, o Lourenço e o Miguel. E uma estranha troca de olhares entre a Marta e Miguel chamou minha atenção. Não era aqueles olhares tímidos e apaixonados mas sim olhares como facas, tensos, mortíferos e de ódio.

Mal Marta percebeu minha presença me chamou para ao pé dela.

_Até que enfim! – ele falou autoritária.

_Desculpa, mas também você saiu da sala e desapareceu sem sequer me dizer para onde vem!!

_Tenho montes de coisas para lhe contar! Você nem imagina.

_Me diga!! Vai!!

_Aconteceu uma reviravolta!! – ela falou baixo.

_Uma reviravolta?... – falei com voz curiosa. - Com essa sua expressão só pode ter a ver com o Miguel. Vá me conte!!

_Ontem eu e o Miguel fomos dar uma volta e ele foi um fofo. A gente deu um passeio e ele me levou a casa. Quando estava entrando ele se colocou na minha frente e não me deixou entrar. A gente estava prestes a se beijar… Só que depois uma garota apareceu e o reconheceu se começando a fazer a ele.

_Que mal!!

_É, e você não sabe a lata que ela tive quando perguntou ao Miguel se ele já me tinha levado no barco!

_No barco? – perguntei sem intender o que ela queria dizer!

_Parece que o pai dele tem um barco, e é para lá que ele leva as suas companhias para a noite. – ele disse fazendo aspas com os dedos em “companhias da noite”.

_Que grande lata hein!!

_E agora imagine eu no meio disso tudo!

_O que você fez?

_Virei costas e entrei em casa. O fiquei vendo da janela andando pela rua com aquela coisa loira e podre de feia grudada nele.

Com a conversa, desviei o olhar para a mesa onde eles estavam e Miguel estava vidrado em Marta. Bernardo também me encarava. Vi ele pegar seu celular e no mesmo instante vi o meu vibrar. Olhei o visor:

“Acho que a gente tinha combinado conversar aqui na escola. Vem até a sala do 3º ano, tou lá te esperando. xD”

Bernardo se levantou e pegou suas coisas. Foi em direção a porta do bar e virou á esquerda. Esperei um tempo, para não levantar suspeitas.

_Marta, vou no banheiro. – olhei o relógio.- A gente se vê na aula!

_Tá bom!

Percorri os corredores daquela escola e cheguei na sala do 3º ano. Bernardo estava sentado em cima de uma mesa.

_Estava te esperando!

_Sabe como é muita gente para despistar. – falei pousando minha bolsa numa mesa qualquer.

_Acho que a gente tem assuntos pendentes. O que você pensa fazer em relação aos nossos pais?

Sentei numa mesa á sua frente.

_Eu acho que é muito cedo para a gente lhes contar, ainda pra mais eu e você não temos um nome para dar a isso que está rolando entre a gente. Isso aqui tá acontecendo tão rápido.

_Você tá se sentido forçada? Eu não forcei você a nada!

_Eu sei! È por isso que eu não quero falar já. As coisas estão rolando naturalmente apesar de ser com muita rapidez e eu quero ver até onde isso vai.

_E… até onde isso vai? – ele falou rouco.

_Até onde a gente levar! – falei pondo meu olho dentro do seu.

Bernardo se levantou e se aproximou de mim. Pôs uma mecha de meu cabelo para trás e levantou minha cabeça.

_Não quero que isso acabe! Pela primeira vez eu acho que estou apaixonado por uma garota. Eu quase sempre as usava e deitava fora como bonequinhas de plástico e nem sequer ligava para o que elas sentiam, mas agora quando estou com você acho que uma força dentro de mim me faz querer te agradar, me faz querer te beijar, te abraçar, te acarinhar, te ajudar, te proteger,...– Naquele momento quem achou que uma força dentro de si, estava impedindo de respirar era eu. Meu coração parou no momento em que ele falou a palavra: “apaixonado”. Bernardo estava apaixonado por mim!?! E o pior é que ele pareceu bem sincero naquilo que disse.

_Eu também não quero que isso acabe. Eu estou muito bem com você e acima de tudo estou feliz.

_E… está apaixonada por mim?... – ele preguntou atrevido.

Não queria desiludir Bernardo, mais na realidade eu acho que ainda não podia dizer que estava apaixonada por ele. Eu me sentia completamente boba quando estava ao pé dele mais acho que ainda iria precisar de algum tempo para dizer que estava apaixonada por ele. Ainda pra mais depois de ser estuprada confesso que é difícil conseguirem abrir meu coração por completo e roubarem o melhor de mim.

_Bernardo eu gosto de estar com você e te posso garantir que você foi a melhor coisa que me aconteceu nos últimos meses, só que eu ainda tenho duvidas sobre aquilo que sinto, eu preciso ter certezas daquilo que quero! É por isso que acho que ainda é muito cedo para eu falar que estou apaixonada por você!

_E o que eu posso fazer para esclarecer as duvidas que tem e as certezas de que precisa?

_Apenas deixar o tempo rolar…

Ele se foi aproximando e encostou seus lábios nos meus. Segurei sua cintura e ele passou suas mãos carinhosas por meu rosto. Nossas cabeças iam se mexendo de um lado para o outro bem devagar e suas mãos faziam carinho em meu rosto, ora puxando meu cabelo para trás, ora impedindo de eu afastar minha boca da sua.

O clima estava bom, até demais, mas eu e Bernardo tínhamos aula, e já tinha tocado á um bom tempo. Nos largamos e limpamos nossas bocas que estavam vermelhas e inchadas para disfarçar. Não é que tenha adiantado muito, mas já dava para não desconfiarem. Saímos um de cada vez daquela sala e seguimos direções diferentes. Cada um para seu lado…