Depois que tinha ouvido aquela conversa, entre seu pai e sua mãe. Não saíra mais do quarto, ficava ali de baixo do seu cobertor. As palavras de seu pai, tinham o magoado muito. Tinham lhe deixado uma ferida no pobre coraçãozinho. A vontade de jogar bola crescia, e ele não tinha como jogar. Aquilo eram só mais motivos para ficar dentro do quarto. Ficava lá, quieto sem falar com ninguém, dormia até quando pudesse. Ficava acordado olhando para os lados pensando.

  Sentia saudades dos trouxas, de jogar futebol de botão. Seu pai nãoi se importava com ele, a única pessoa que abria a porta do quarto quando podia era sua mãe. Com todo aquele isolamento, ela chara a ser a única pessoa que via no dia a dia. Sua mãe lhe contara que suas tias viriam passar uns dias ali na casa deles. Não se importou com o fato, não queria conversar com bruxos, chatos, que adoravam se exibir e falar mal dos trouxas. 

Os dias se passaram lentamente, parecia que as horas não passavam com ele ali deitado. Sentia vontade de correr, e brincar. As visitas chegaram, todos ficaram felizes pela companhia dos parentes, menos ele. Ficava ali quieto em seu canto, sem querer incomodar ninguém. Às vezes passava alguém na frente do quarto e ele podia ouvir se perguntarem. 

▬ O que tem com Nicolas?

E ouviu alguém da família contar a história, parcialmente, pois ninguém sabia que ele tinha ouvida a conversa atrás da porta. Agora que tinha visita, mal saia para comer, passava quase o dia todo dormindo, ninguém entrava em seu quarto. Mas um dia, enquanto estava dormindo, ouviu a porta se abrir. Não eram passos pesados como de sua mãe, eram mais leves e menos barulhentos quando pisavam no assoalho. 

▬ Hey!

Disse baixinho uma voz de um menino.

▬ Ta acordado?

Perguntou outra voz, mais fininha e doce do que a outra, era de uma menina. Resolveu abrir um pouquinho os olhos, e viu os seus dois primos de sua idade ali. Não tinha se lembrado que eles viriam junto com as visitas. 

▬ To sim. 

Disse ele sentando-se na cama com calma. 

▬ Por que você não sai da cama?

Perguntou a menininha sentando-se na cabeceira da cama. 

▬ É não te vimos desde que chegamos de viagem, você só fica ai deitado. 

Falou o primo logo depois da garotinha. 

▬ Não tenho nada de interessante pra fazer fora desse quarto. 

Respondeu Nicolas, olhando para os dois, deveria ser fácil para eles sair do quarto deles, a família deles o amassem de verdade, e pudesse brincar do que quisesse.

▬ Mas e brincar, você não gosta?

Perguntou a prima de Nicolas. Florence, mas todo mundo a chamava de Flor. 

▬ A única coisa que eu brincava era com minhas bolas de futebol. ▬ Explicava ele, o acontecido. ▬ Mas meu pai as estourou, por causa dos trouxas. 

▬ Como assim trouxas?

Perguntou o primo de Nicolas, Peter. 

▬ É no fim de ano eu conheci uns trouxas na praia, eles eram bem legais, e eu brinquei bastante com eles. ▬ Explicava todo o acontecido para os primos, nos mínimos detalhes. ▬ Ai no outro dia de manhã, me deu vontade de voltar lá, só que meus pais não gostam de trouxas, então eu fugi, meu pai veio do trabalho preocupado e quando eu voltei, apanhei uma surra e ele estourou minhas bolas de futebol. Eu então desci as escadas, e escutei a ...

E parou de falar por ali, quase tinha falado para os primos sobre a conversa que tinha escutado de seu pai e sua mãe. Suspirou olhando para eles.

▬ Mas os trouxas eram legais?

Perguntou a garotinha, curiosa sobre os trouxas, Nicolas olhou para ela, depois para Peter.

▬ Sim, não são como os bruxos dizem, eles são divertidos. As brincadeiras trouxas são mais animadas e divertidas, eu adorei. ▬ Falava ele para os primos que lhe ouviam atentos. ▬ Sempre achei os trouxas chatos. E sempre me perguntava como eles viviam sem magia. Mas  eu entrei na casa deles, e sinceramente, eles vivem muito bem sem magia.

Disse ele, estava se divertindo, estava falando bem dos trouxas para os primos, e os primos pareciam estar entendendo como os trouxas eram legais, e não eram aqueles chatos que os bruxos costumavam dizer.

▬ Eu sempre achei os trouxas chatos, agora até me deu vontade de conhecer alguns trouxas.

Disse Flor para Nicolas.

▬ Eu também...

Disse Peter, levantando-se e indo até a janela, olhou para fora e depois olhou para Nicolas.

▬ Podem acreditar em mim, trouxas são divertidos e legais, não sei se todos são assim, mas os que eu conheci eram.

Disse ele confirmando com a cabeça, olhou para Peter, que voltara a olhar pela janela. Ele parecia estar pensando algo.

▬ Tenho uma ideia!

Disse Peter, e Flor se antecipou.

▬ Qual? Pode falar.

Disse ela, abrindo um sorriso ansioso.

 ▬ Ah nós poderíamos fugir para brincar com os trouxas amanhã.

Disse Peter, voltando e sentando-se na cama.

▬ Boa ideia!

Disse Flor. A ideia de fugir para ver os trouxas tinha lhe agradado primeiramente, mas logo se lembrara que poderia se encrencar com seu pai se fugisse novamente.

▬ Eu adoraria ir lá, ainda mais com vocês, mas não quero encrenca com meus pais.

Disse Nicolas fazendo uma careta.

▬ Eu já pensei nisso! ▬ Respondeu rápido Peter. ▬ É só, nós falarmos para seu pai que nós lhe obrigamos a ir lá nos mostrar os trouxas.

▬ Ótima ideia!

Disse Flor sua voz doce, ela sorriu e levantou-se.

▬ Tudo bem! Agora nós temos que nos preparar tudo para amanhã.

Disse Nicolas muito animado, iria ver os trouxas novamente, brincar com eles, e por cima iria brincar com eles, junto aos seus primos, parecia que tinha tomado uma injeção de animo. Os três ficaram ali, conversando sobre tudo que teriam quer fazer no próximo dia, horário para acordar, o que iriam comer, como iriam fugir. E ficaram ali, até a hora de dormir, de uns tempos pra cá, aquele tinha sido o dia mais feliz que Nicolas tivera.