Naruto acabara seu expediente por aquele dia. Havia tratado um velho cachorro que estava com grandes problemas renais, e confortado sua dona idosa. Já havia avisado à senhora que seu cachorro estava morrendo, mas ela não admitia tal coisa, então tratava do cachorro pela milésima vez.

Desligou as luzes do consultório pegando em cima da mesa da secretaria suas correspondências e subiu as escadas que levavam ate seu apartamento. Desde que montara seu escritório morava no mesmo local. Era mais cômodo já que tinha dez horas diárias de trabalho.

Lembrou o quanto sempre quis morar em uma casa que tivesse um enorme gramado, onde poderia ter diversos animais de estimação. Desde criança adorava animais, tanto que sua mãe ficava louca com a quantidade de bichinhos que o garoto levava para casa.

Tivera de tudo, cachorros, gatos, coelhos, ratos, sapos e uma cobra. Sua mãe quase enfartara quando apareceu com a cobra negra enrolada em seus braços. Infelizmente ela tivera que ir embora, mas se pudesse teria ficado com ela.

Foi ate a cozinha e pegou uma maça. Estava morto de fome, mas o jantar teria que esperar já que necessitava de um banho. Entrou em seu quarto mastigando um pedaço e segurando-a na mão direita. Sentiu o cheiro doce antes de vê-la. Escutou o remexer dos lençóis em contraste a pele dela.

- Olá meu bem. – Hinata sorria maliciosa.

Encarou-a. Estava nua deitada sobre a sua cama. Encostou-se na porta ainda olhando-a.

- Você disse que estaria ocupada hoje à noite. – Falou.

- E vou estar. – Sorria enquanto se remexia sob os lençóis. – Está cansado?

- Um pouco. – Olhava-a serio, apesar de estar gostando.

- Humn. – Mordeu o lábio inferior. – Que tal descansar um pouco comigo?

- Acho que não vou descansar, mas que mal há?

Foi em direção da mulher exuberante que estava a sua frente, pronta para ele.

Hinata sempre foi assim, entrava em sua vida e fazia o que queria depois ia embora.  Ele se martirizava falando que não entraria no jogo dela outra vez, mas então ela aparecia e ele não resistia.

Lembrava da primeira vez deles como se estivesse acontecido ontem. Ela pulara a janela de seu quarto e invadira sua cama. Ainda podia sentir como foi acordar com a pele quente dela sobre o seu corpo e a boca exigindo tanto dele. Ela tinha apenas quinze anos, mas o seduzira como uma prostituta, ainda por cima virgem. Foi isso que ela falara depois do ocorrido. Apenas queria perder a virgindade e ninguém melhor do que Naruto, uma pessoa totalmente confiável, simpático, amigo e bonito.

Fizeram tantas vezes durante aquele verão que se perdeu nas contas. Afinal era um garoto que estava indo para a faculdade, e seus hormônios estavam à flor da pele. Para Hinata não tinha horas nem local, estava sempre disposta e quente para ele. Correram perigos de serem descobertos tantas vezes quanto possíveis, o que os estimulava ainda mais.

Foi para a faculdade estudar e pensara nela todos os dias. Fizera planos de uma vida adulta com ela, tendo certeza absoluta que esperaria ele voltar. Mas não foi o que aconteceu. Dois anos depois ficou sabendo que ela havia fugido para se casar com Kiba. Ele tomara um porre e ficara uma semana embriagado.

Mas ela acabou voltando para Progress e para ele, sem nenhum pedido choroso de desculpas. Sempre foi assim com Hinata e ele sabia que seria enquanto não fizesse nada para mudar a situação. Ele a odiava tanto quanto sentia ódio de si.

 Hinata subiu em cima dele estendendo a mão para pegar um cigarro de cima da mesinha de cabeceira.

- Então me fala sobre Sakura. – Permanecia montada nele.

- Desde quando voltou a fumar?

- Ah não me venha com sermões Naruto. Todas as pessoas necessitam de um vicio para sobreviver! - Sorria presunçosa.

- E qual dos outros você largou?

Ela rolou os olhos em sinal de tédio.

- Naruto, se não experimentar todos como poderei saber qual é o melhor?

- Hum. – Se concentrou em olhá-la.

- Bom, conte-me tudo sobre Sakura.

- O que posso falar dela? – Estava encarando-a. – Apenas uma garota que voltou para sua cidade natal.

- Aff os homens são todos iguais. – Ela saiu de cima dele, erguendo-se aos pés da cama. Começou a caminhar de um lado a outro fumando, sob a luz da lua que invadia o quarto. Naruto apenas a observava com atenção. A pele estava totalmente exposta e o luar fazia com que ficasse com uma leve coloração verde. Pode notar algumas manchas vermelhas começarem a surgir naquele corpo nu. Ela, às vezes, gostava de ser mal tratada.

- Ok. – Suspirou derrotado. – Sakura é uma garota solitária que abriu uma loja de presentes. Que a meu ver esta um tanto magra de mais como se não passasse bem há algum tempo. Feliz agora?

- Sim. –Sorriu por conseguir o que queria. – Por que ela gostaria de voltar para aquela casa no pântano? Realmente começo a concordar que ela é louca!

- Minha prima não é louca. Só um pouco solitária!

Ela parou e o encarou, vedo-o de pé colocar a calça jeans.

- As pessoas solitárias, Hinata, voltam ao lar por ser o único lugar para onde podem retornar.

Ela o encarou vendo seus ombros largos e se aproximou pousando suas mãos nos ombros nus dele. Tinha paixão por aquela região do corpo de Naruto.

Respirou profundamente sentindo o cheiro dele. Seus olhos encheram- se de lagrimas que não deixaria cair.

- Às vezes, a sua casa é o local mais solitário que existe. – Ela falou aquilo mais para si mesma do que para ele.

Observou-a parada a sua frente segurando-o pelos ombros e teve que resistir a vontade de confortá-la. Sabia o quanto aquilo era doloroso apesar dela não admitir.

Levantou a cabeça o olhando.

- Mas o que estamos fazendo falando sobre Sakura! Vamos preparar o jantar e comer na cama.

O sorriso dela era malicioso. Como podia mudar tão drasticamente? Perguntava-se isso sem entendê-la.

Abaixou as mãos pequenas e ágeis para o zíper da calça dele abrindo-a.

- Você sabe que tenho um apetite maior quando estou com você! – Mordeu o lábio inferior.

Acordou mais tarde e não a viu mais. Hinata havia ido embora novamente. Nunca dormiam juntos, na verdade nem sabia se em algum momento o motor interno dela parava. Sempre estava atrás de coisas para saciar a vontade de algo que ela mesma desconhecia.

Estava indignado consigo mesmo. Não sabia o que tinha feito para amar uma mulher que não conseguia nutrir um sentimento genuíno por qualquer pessoa especialmente por ele.

A raiva tomou conta de si, fazendo-o levantar. Precisava fazer algo se não explodiria.

Teria sido mais inteligente ficar em um hotel ou aceitar o convite do tio de passar a noite na sua confortável casa, onde Tsunade deixava o quarto de hospedes sempre pronto caso alguém precisasse ou chegasse a passeio. Quantas vezes quando criança sonhara em dormir naquela linda casa, naquela bela rua onde tudo parecia perfumado e bonito? Perdera as contas. Mas naquele exato momento estava deitada sobre um cobertor que colocara no chão antes de se aconchegar. Estava pensando nas compras que teria que fazer com urgência. A cama era a primeira coisa que faria, e também um telefone. Compraria um abajur e uma mesa para colocá-lo em cima, alem de toalhas novas.

Usou a lista de compras como se fosse o muro. Colocou cada item em seu lugar como fazia com os tijolos e geralmente funcionava.

 Passaria no mercado e reabasteceria a geladeira. Estava sendo refletida em seu corpo a falta de rotina em sua alimentação. Pulara refeições demais nos últimos dias. A visita a Progress Weekley era inevitável já que pretendia colocar um anuncio da loja.

  Parou para escutar os barulhos da noite. Os sons de animais silvestres e de ratos. Teria que comprar ratoeiras, afinal não queria dividir seu espaço com os roedores. Também colocaria naftalina embaixo da casa para afastar as cobras. Não lembrava bem, mas achava que era isso. Fazia muito tempo que não morava no campo. Quando os coelhos tentassem invadir o seu canteiro de verduras e hortaliças, colocaria um pedaço de mangueira para parecer à cobra que havia sido afugentada pela naftalina. Se não o pai usaria a arma para matá-los e depois teria que jantar aqueles animaizinhos mesmo que isso lhe deixasse nauseada. Lembrar dos pobres bichos mexendo as orelhas pontudas e fofas a deixavam mal.

Mexeu-se na cama ajeitando o corpo sob o piso duro. Nunca mais precisaria preocupar-se em comer os coelhos ou qualquer outra coisa que não gostasse por medo de apanhar. Ninguém levantaria a mão ou faria mal a ela por motivos banais.

Estava no comando agora.

Sonhou que estava no pântano sentado ao redor de uma fogueira. Assava um mashmellow deixando-o torrado por fora e macio por dentro. Tirou-o do fogo assoprando as chamas que estavam ao redor do doce.

- Isso que chamamos de mashmellow super torrado. – Riu Hope enquanto o seu estava dourado e começando a derreter.

Sakura levou o doce à boca queimando levemente esta. Gostava de sentir o contraste do doce com o gosto do queimado.

- Fico feliz por ter voltado Sakura.

- Eu sempre quis retornar. – ela tinha voltado há ter oito anos. – Mas sentia medo. Na verdade ainda tenho.

- Você voltou e isso que importa.

- Naquela noite não vim.

- Eu acho que você não deveria ter vindo.

- Mas havíamos combinado e eu não vim. Nem tentei vir.

- Mas você precisa tentar agora Saki.

O peso em seu peito aumentou. Estava com dificuldades para respirar.

- Esta acontecendo. Vai continuar acontecendo.

- O que?

Ela viu os olhos azuis da amiga a encarar apavorada.

- Ele continua fazendo como naquele dia. – Sorriu. – Haruno Sakura a ninja espiã. Precisa fazer o que deve ser feito!

- Não sou mais uma menina Hope.

- Por isso mesmo. –Olhou ao redor. – Agora você pode fazer o que é certo.

Se encararam nos olhos, azul no verde. Derrepente os azuis se arregalaram.

- Tem alguém no escuro.