Lua de Sangue escrita por BiahCerejeira


Capítulo 31
Capítulo 31


Notas iniciais do capítulo

Mais um cap para vcs!!!! Espero que gostem...



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Tudo isso permanecera constante ao longo dos anos. As mudanças junto ao rio eram poucas. O velho pessegueiro morrera havia três invernos, mas deixara meia-dúzia de rebentos que cresceram selvagens até que a câmara decidiu manter os dois melhores e cortar o resto.


    Os frutos, ainda verdes, estavam pendurados nos ramos à espera que as crianças aparecessem e os devorassem e apanhassem dores de barriga.


    A água corria lenta e tranquila, como sempre, com o velho e enorme salgueiro curvado sobre ela, a banhar o rendilhado dos seus ramos verdes.


    E, de vez em quando, se a paciência fosse suficiente, os peixes mordiam a isca.


    Se não mordessem, nenhum dos homens ficava pior do que estava antes de ter deitado a linha.


    Os anos tinham transformado os homens em cidadãos sólidos, pilares de responsabilidade. Homens de família, com hipotecas e papelada. As poucas horas por semana que passavam a afogar minhocas eram a afirmação de que cada um deles continuava a ser tão senhor de si próprio como até ali.     


    Às vezes, discutiam política, e como Jiraya era um republicano convicto e Kakashi um democrata igualmente inabalável, estes debates tendiam para o explosivo e o efusivo. Ambos gostavam imenso do conflito. Em outros domingos, dependendo da época, o assunto era o esporte. Um jogo de futebol dos garotos do liceu podia mantê-los entretidos e apaixonados durante duas horas.


    Mas cada vez mais eram a família, os amigos e a própria cidade que dominavam as suas discussões sinuosas, enquanto a água lambia a margem e o sol era filtrado pelas árvores.


    O que cada um deles sabia era que podia confiar no outro para o que desse e viesse, e que o que conversavam junto ao rio ficava junto ao rio. Ainda assim, havia alturas em que a lealdade era posta à prova. Sabendo isso, Kakashi escolheu as palavras e abordou o assunto cuidadosamente.


    - O aniversário da minha esposa é já daqui a pouco tempo.Aquela fritadeira elétrica que lhe comprei o ano passado continua a ser um pomo de discórdia entre nós.


    - Eu te avisei. – Jiraya tirou uma mão-cheia de batatas do pacote aberto, colocado entre ambos.


    - Sim.


    - Quando oferecemos a uma mulher qualquer coisa para ligar na eletricidade, estamos a pedir confusão.  


    - Ela queria uma nova. Estava sempre a queixar-se de que a velha já não estava em condições.


    - Não interessa. Uma mulher não quer um eletrodoméstico embrulhado e com um laço. Quer antes uma coisa inútil.


    - Tenho andado com a cabeça às voltas, a pensar no que será suficientemente inútil para lhe agradar. Pensei em ir até à loja da tua sobrinha e pedir-lhe ajuda...


    - Com certeza não vai te arrepender. A Saki tem bom gosto.


    - Conseguiu ali uma bela loja. Fartou-se de trabalhar.


    - Sempre gostou de trabalhar. É uma moça séria, com uma boa cabeça em cima dos ombros. É difícil acreditar que veio de onde veio.


    Era a deixa de que Kakashi precisava, mas continuou a avançar com cuidado. Pegou numa nova tira de pastilha e cumpriu o seu pequeno ritual, desembrulhando e dobrando.


    - Teve uma infância difícil. Lembro-me de que quase nunca dizia nada. Ficava a olhar, a observar as coisas com aqueles olhos grandes. O teu cunhado tinha a mão pesada.                           


    - Eu sei. - A boca Jiraya comprimiu-se. - Quem me dera ter sabido antes. Não sei se teria feito grande diferença, mas gostaria de ter sabido.


    - Agora já sabe. Andamos a procura dele, Jiraya, por causa daquela situação em Hartsville.


    - Também gostaria que o encontrassem e lhe desse o que ele está pedindo. A minha irmã, bem, a vida dela é um inferno, seja de que maneira for. Mas pô-lo atrás das grades talvez dê à Saki umas noites mais descansadas.


    - Fico aliviado ao te ouvir dizer isso. E para te dizer a verdade, tem pior do que isso por aqui. Uma coisa tão má que até nos deixa atordoados.


    - De que é que está a falar?                    


    - Do que aconteceu à Matsuri.


    - Meu Deus, isso foi mau, muito mau - repetiu Jiraya, abanando a cabeça com ar sério. - É uma coisa de cidade grande e não de uma cidadezinha como a nossa. Uma mulher bonita como aquela... - Calou-se, endireitou os ombros e ficou ouriçado enquanto virava a cabeça e ficava a olhar fixamente para Kakashi. - Deus Todo-Poderoso, não me digas que achas que o Pain teve alguma coisa a ver com isso.


    - Não devia estar a falar contigo sobre o caso. A verdade é que passei quase toda a noite com isto às voltas na cabeça. Oficialmente, não devia tocar no assunto, mas não vou fazer isso. Não posso. Neste momento, Jiraya, o teu cunhado não está apenas no topo da lista de suspeitos. É o único suspeito.


    Jiraya se pôs de pé. Deu alguns passos junto ao rio, observando o seu curso estreito...


    - Isso não me entra na cabeça, Kakashi. O Pain é um bruto e um grande filho da mãe. Não consigo pensar em nada de bom que possa dizer sobre ele, mas matar aquela moça... Por amor de Deus, matá-la... Não, isso não me entra na cabeça.


    - Tem uma longa história de maus tratos a mulheres.


    - Eu sei. Eu sei. Não estou a arranjar desculpas. Mas vai uma distância muito grande entre maltratar e assassinar.


    - A distância torna-se mais curta com o tempo, especialmente se houver um motivo.


    - E que motivo podia ele ter tido? – Jiraya voltou para trás e acocorou-se junto de Kakashi até os olhos de ambos estarem ao mesmo nível. - Ele nem sequer conhecia aquela moça.


    - Conheceu na loja da tua sobrinha, no dia em que foi morta. Conheceu, falou com ela e, tanto quanto sei, ela e a Sakura eram as únicas pessoas que sabiam que ele andava por aqui. E há mais - disse ele, quando Jiraya abanou a cabeça. - Não vai gostar de ouvir. Nem imagina como lamento ver a tua família envolvida nisto, mas tenho um trabalho a fazer e não posso deixar que isso me impeça de fazê-lo.


    - Nem eu te pediria uma coisa dessas. Mas acho que está a olhar na direção errada, é tudo. - Voltou a sentar-se. - Não posso deixar de pensar isso.


    - Não digo que estivesse a olhar nessa direção, a princípio, mas foi a Sakura que me virou para ela.


    - A Sakura?


    - Levei-a comigo até à cena do crime.


    - A cena do crime? - Os olhos de Jiraya tornaram-se momentaneamente inexpressivos e depois foram tomados pelo choque. - A cena do crime. Meu Deus, Kakashi, meu Deus, porque fez isso? Porque a sujeita a uma coisa dessas?


    - Tenho à minha frente uma moça que passou por uma coisa terrível. Tenho um dever a cumprir, e vou usar tudo o que puder para cumpri-lo.


    - A Saki não tem nada a ver com isto.


    - Está enganado. Está profundamente ligada a isto. Agora me escute durante o raio de um minuto, antes de começar a me dar pontapés. Levei-a lá, e lamento que tenha sido tão difícil para ela, mas voltaria a fazer o mesmo. Ela sabia coisas que não poderia saber. Viu como tudo aconteceu, como se tivesse estado lá enquanto aconteceu. Já tinha ouvido falar em coisas desta, pensado nelas, mas nunca tinha visto. É uma coisa que nunca mais vou esquecer.


    - Devia tê-la deixado em paz. Não tinhas o direito de usá-la dessa maneira.


    - Tu não viu aquela moça. Deus queira que nunca veja nada como aquilo que lhe fizeram. Mas se visse, não me diria que não tenho o direito de usar o que quer que seja para resolver o caso. Foi à segunda vez que vi uma coisa desta. Se tivéssemos prestado atenção à Sakura, da primeira vez, talvez a segunda não tivesse acontecido.


    - De que diabo tu está falando? Nunca tivemos uma mulher violada e assassinada em Progress.


    - Não, da primeira vez foi uma criança. - Viu os olhos de Jiraya abrirem-se muito e o rosto empalidecer. - Da primeira vez não foi na cidade. Mas a Sakura estava lá. Tal como estava aqui, agora. E quando ela me diz que a pessoa que matou a Matsuri é a mesma que matou a Hope Hyuuga Uchiha, eu acredito nela.


    Jiraya sentiu a boca seca.


    - Foi um vagabundo qualquer que matou a Hope Hyuuga Uchiha.


    - Isso é o que diz o relatório. Foi nisso que todos quiseram acreditar. Foi nisso que o chefe acreditou, e não posso dizer que não tenha tido razões para acreditar. Mas eu não vou dizer o mesmo, e já não consigo acreditar no mesmo. Não vou tentar atribuir este crime a um estranho qualquer. E houve mais. A Sakura sabe. O FBI sabe, e vem para cá. Vão atrás dele, Jiraya, e vão falar com a Sakura, com a mãe dela, com a tua irmã. E contigo.


    - Pain Haruno. - Jiraya pôs a cabeça entre as mãos. - Isto vai matar a Konan. Vai matá-la. - Deixou cair às mãos. - Ele vai voltar para lá. Vai voltar para lá. Deus Santíssimo, Kakashi, ele vai ter com a Konan e...


    - Já falei com o xerife de lá. Tem um homem a vigiar o local, de olho na tua irmã.


    - Tenho de ir até lá. Obrigá-la a vir para cá.


    - Acho que se fosse a minha irmã eu faria o mesmo. Vou contigo, para te tornar as coisas mais fáceis com a polícia de lá.


    - Eu trato disso.


    - Eu sei que trata. - Kakashi acenou com a cabeça, e começou a arrumar as suas coisas. Ouvia a raiva, o ressentimento. Estava à espera de ambos. Exatamente como estava preparado para que, o que fizera e o que iria fazer, pudessem causar estragos na amizade de uma vida inteira.


    Não havia nada a fazer se não esperar e ver se os estragos poderiam vir a ser consertados.


    - Eu sei que trata, Jiraya - repetiu. - Mas vou contigo. Preciso falar com a tua irmã e gostaria de fazer isso antes de os agentes federais chegarem lá e me tirarem o caso.


    - Vai como polícia ou como amigo?


    - Sou ambas as coisas. Sou teu amigo há muito mais tempo, mas sou ambas as coisas. - Pôs a vara ao ombro e olhou Jiraya nos olhos. - E quero continuar a ser ambas as coisas. Se não te importa, vamos no meu carro. É mais rápido.


    Foi difícil, mas Jiraya conteve palavras que sabia que ficariam a pairar sobre ambos como nuvens terríveis. Conseguiu esboçar um sorriso leve e forçado.


    - E ainda será mais rápido se ligares a sirene e conduzires como um homem e não como uma velhinha.


    O alívio retirou algum peso do coração de Kakashi.


    - Talvez faça isso, durante uma parte do caminho.


 


    Sasuke tentava controlar a ira, ter cuidado com as palavras. Sempre que pensava no risco louco e inútil que a sua irmã e Saki tinham corrido na noite anterior, sentia a fúria trovejar dentro de si.


    Sermões, ameaças, recriminações teriam aliviado alguma da tensão que sentia, e o teria levado a lado nenhum. E ele não era homem para seguir caminhos inúteis. Sabia exatamente aonde queria ir e tinha de escolher o melhor caminho para lá chegar.


    A pressa não era uma prioridade, por isso não se apressou.


    Havia muito tempo que não se dava ao luxo de passar uma manhã de domingo a preguiçar. Na sua opinião, a melhor maneira de consegui-lo era manter Sakura na cama o mais tempo possível. Era apenas uma questão de prendê-la lá e de mordê-la como e onde quisesse, até ela entrar no espírito da coisa.


    Arranjou o pequeno almoço, porque tinha fome e porque chegara à conclusão de que Sakura considerava que a refeição da manhã podia resumir-se a duas chicaras de café. Levou a conversa para assuntos triviais. Livros, filmes, arte. Tinham a sorte de ter gostos comuns. Era algo que Sasuke não considerava essencial, mas sim um bônus agradável e confortável.


    Imaginou que ela não tivesse reparado que ele a vira olhar inúmeras vezes para a janela, como se procurasse alguém.


    Mas não havia nada em que ele não reparasse. Nas mãos nervosas que ela tentava manter ocupadas, na forma como parava de repente e ficava muito quieta, como se tentasse ouvir qualquer mudança no ritmo dos sons lá fora. Na maneira como ela saltava se ele deixava a porta de tela bater, quando saía para juntar-se a ela enquanto ela tratava das flores.


    Quantas vezes fora ter com a sua mãe enquanto ela trabalhava no jardim? Pensou. E era igualmente incapaz de adivinhar a direção dos seus pensamentos enquanto ela arrancava ervas daninhas e colhia ramos.


    Como eram ambas meticulosas e precisas naquela tarefa! Ajoelhadas, de chapéu e de luvas enquanto preparavam a terra e enchiam um cesto de ervas daninhas e flores murchas.


    E como ficariam ambas furiosas se ele fizesse a comparação em voz alta.


    Ao longo da manhã, a voz de Sakura, o seu rosto, mantiveram-se perfeitamente calmos. E isso o enfureceu. Ela não queria partilhar o seu nervosismo com ele. Continuava a manter uma parte de si própria fechada e inacessível.


    A mãe dele voltou a pensar, sentado no alpendre, a observar a cabeça curvada de Sakura, mantivera uma parte de si própria fechada e inacessível. E ele não podia fazer nada, nunca conseguira fazer nada para chegar até à sua mãe.


 


    Mas iria chegar até Sakura.


    - Anda, vem dar uma volta comigo.


    - Uma volta?


    Ele a puxou, para fazê-la pôr-se de pé.  


    - Preciso ir tratar de umas coisas. Vem comigo.


    A primeira reação dela foi de alívio. Ia ficar sozinha. Podia deitar-se, fechar os olhos e tentar acalmar o turbilhão que tinha dentro da cabeça. Algumas horas de solidão para se endireitar e afastar os tremores.


    - Também tenho muito que fazer. Vai tu.                   


    - É domingo.                                                     


    - Sei muito bem qual é o dia da semana. E amanhã, estranhamente, é segunda-feira. Estou à espera de umas encomendas, incluindo uma da Algodões Uchiha. Tenho papelada...


    - Que pode esperar até segunda-feira. - Descalçou-lhe as luvas. - Quero mostrar-te uma coisa.


    - Sasuke, não estou em condições de ir a lado nenhum. Nem tenho aqui a minha bolsa.                                          


    - Não vai precisar - disse ele, enquanto a puxava até ao carro.


    - Ora aí está uma afirmação que só podia vir de um homem. - Resmungou quando ele a atirou para dentro do carro. - Pelo menos, deixa-me ir passar uma escova no cabelo.         


    Ele tirou-lhe o chapéu e atirou-o para o assento de atrás.


    - Está muito bem assim. - Sentou-se ao volante antes de ela ter tempo de arranjar outra desculpa. - O vento vai despenteá-lo um bocadinho, e vai ficar mais sensual.


    Tirou os óculos de sol do porta-luvas, pô-los e depois engatou a marcha ré.                                                                        


    - E aqui está outra afirmação que só podia vir de um homem. Ficas bonita quando está zangada. - Ele entrou na estrada e acelerou.


    - Então neste momento devo estar linda.


    - E está, querida. Mas eu gosto do teu ar qualquer que seja a tua disposição. Dá muito jeito, não dá? Há quanto tempo nos conhecemos, Saki?


    Ela segurava o cabelo com uma mão.


    - Ao todo? Há uns 18 anos, acho eu.


    - Não. Conhecemo-nos há mais ou menos dois meses e meio. Antes disso, sabíamos da existência um do outro, andávamos à volta um do outro. Talvez tenhamos pensado ocasionalmente um no outro. Mas há cerca de dois meses que nos conhecemos. Quer saber o que aprendi sobre ti durante este tempo?


    Sakura não conseguia perceber muito bem a disposição dele. O tom de voz era ligeiro, o rosto estava calmo, mas havia qualquer coisa.


    - Não sei bem se quero.


    - Essa foi uma das primeiras coisas que aprendi. A Sakura Haruno é uma mulher cautelosa. Raramente dá um passo antes de olhar, e depois ainda faz um estudo exaustivo. Não confia facilmente. Nem sequer nela própria.


    - Se dermos um passo antes de olharmos, temos menos hipóteses de chegarmos inteiros ao outro lado.


    - Aí está outra coisa. Lógica. Uma mulher cautelosa e lógica. Ora, esta combinação pode parecer bastante comum, até desinteressante, a algumas pessoas. Mas essas pessoas não levariam em conta o conjunto completo. Não estariam a pensar na determinação, na inteligência, na perspicácia ou na bondade. Acima de tudo, ignorariam o calor, que é de tudo o mais precioso por ser tão raramente partilhado. E tudo isto envolto num embrulho muito atraente, embora às vezes muito rígido.


    Entrou por um caminho estreito e enlameado e diminuiu a velocidade.


    - Mas que grande análise.


    - Meramente superficial. É uma mulher complexa e fascinante. Complicada e difícil. Exigente, simplesmente porque te recusa a exigir. Difícil para o ego de um homem, porque nunca pede coisa nenhuma.


    Ela não disse nada, mas as mãos tinham-se entrelaçado, num sinal inequívoco de tensão. Ouvia agora a fúria na voz dele.


    - A partir daqui, vamos a pé.                                          


     Parou o carro e saiu. De ambos os lados, os campos estendiam-se em filas contínuas de algodão, que marchavam como soldados. Sakura sentiu o cheiro a terra, a estrume e a calor, doce, maduro e forte. Deviam ter feito o cultivo recentemente, pensou, deitado as sementes a terra.


    Confusa, sem saber o que tinham a fazer ali ou porque tinham vindo ali, seguiu-o por entre as filas de plantas jovens, arranhando as pernas e lembrando-se da sua infância.


    - Não tem chovido muito - disse Sasuke. - O suficiente, mas não muito. Não precisamos de tanta água como as outras fazendas. O solo retém mais água quando não está cheio de químicos. Se o tratarmos como uma coisa natural, cresce naturalmente saudável. Se insistirmos em mudá-lo, em forçá-lo a viver segundo as nossas expectativas, precisa de mais e mais para se aguentar. Daqui a uns meses, as cápsulas vão abrir.                                                                                    


    Acocorou-se, tirando os óculos e prendendo-os na camisa antes de tocar com a ponta de um dedo numa cápsula fechada. 


    - O meu pai teria usado um regulador de crescimento e um produto para queimar as folhas. Era isso que sabia fazer. Era assim que se fazia. As pessoas não gostam muito quando alguém faz as coisas de maneira diferente. Temos de provar-lhes o nosso valor. Temos de querer provar-lhes o nosso valor. - Endireitou-se e olhou-a nos olhos. - Que mais tenho de provar-te, Saki?


    - Não sei o que quer dizer?


    - Acho que as pessoas te trataram de uma certa e determinada maneira. Foi isso que conheceu. Foi assim que foi feito. E eu diria que tenho feito às coisas de maneira diferente.


    - Está zangado comigo.


    - Pois estou. Estou zangado contigo. Mas neste momento estou a te perguntar o que quer de mim. Exatamente o que quer de mim.


    - Não quero nada, Sasuke.


    - Raios! Essa resposta está errada. - Quando ele se virou e começou a afastar-se, ela correu atrás dele.


    - O que há de errado na resposta? Porque haveria eu de querer alguma coisa de ti, ou que fosse alguma coisa, ou fizesse alguma coisa, quando tenho sido mais feliz contigo, tal como é, do que fui a toda a minha vida?


    Ele parou e virou-se para ela. O sol fustigava impiedosamente os campos. Sasuke sentiu o calor sobre ele, dentro dele.


    - Já é um começo. Está a dizer que te faço feliz. Mas eu vou te dizer o que há de errado nisso. Eu quero coisas de ti, e isto não vai funcionar entre nós se for apenas um a querer. Nenhum de nós vai ficar feliz assim, por muito tempo.


    A dor esmurrou-a no estômago e subiu-lhe até à garganta.


    - Quer acabar tudo. Eu não... - O ar faltou-lhe e quebrou-lhe a voz. As lágrimas alagaram-lhe os olhos, queimando-os. - Não pode... - Virou-se, sem saber o que dizer. - Desculpa.


    - É o que deve pedir, por pensar isto. - Não se deixou perturbar pelas lágrimas dela e semicerrou os olhos, pensativo. - Disse que te amava. Acha que consigo deixar de sentir isso, só porque dá muito trabalho? Te trouxe aqui para mostrar que acabo o que começo, que me dou inteiro ao que me pertence. E tu me pertence. - Agarrou-a pelos braços e puxou-a para si. - Estou ficando farto de esperar que compreenda isso. Cuido do que é meu, Saki, mas espero algo em troca. Disse que te amo. Dá-me algo em troca.


    - Tenho medo do que sinto por ti. Consegue compreender?


    - Talvez, se me disser o que sente por mim.


    - Exagerado. - Fechou os olhos. - Tanto, que não consigo imaginar a minha vida sem ti. Não quero precisar de ti.


    - E claro que para os outros é fácil precisar. Claro que é fácil para mim precisar de ti. - Ele a sacudiu um pouco, o que a fez abrir os olhos. – Te amo, Sakura, e isso tem me feito passar alguns momentos muito maus. - Pousou os lábios na testa dela. - Mas não mudaria isso, mesmo que pudesse.


    - Quero sentir isto com calma. - Ela apoiou a face no peito dele, sorrindo um pouco quando ele tirou os óculos e os atirou para o chão. - Só quero sentir isto de uma forma normal.


    - E porque haveria de pensar que é normal alguém sentir-se calmo em termos de amor? Eu não me sinto calmo. - Passou a mão pelo cabelo dela. - Me ama, Saki?


    Ela agarrou-se mais a ele, como se ele fosse uma âncora.


    - Sim. Acho...


    - Sim chega. - Puxou-lhe o cabelo até ela levantar a cara. - Vamos ficar pelo sim - murmurou, cobrindo-lhe a boca com a sua. - Diz algumas vezes para nos habituarmos, ambos. – Me ama?


    - Sim. - Soltou um suspiro trémulo e lançou-lhe os braços ao pescoço.


    - Já está melhor. Me ama, Sakura?


    Desta vez, ela riu. - Sim.                   


    - Quase perfeito. - Roçou os seus lábios nos dela e sentiu os dela suavizarem-se. - Queres casar comigo, Saki?


    - Sim. - Abriu muito os olhos e deu um salto para trás. - O quê?


    - Aceito a primeira resposta. - Pegou-lhe ao colo e manteve a boca na dela até ela perder o fôlego e ficar tonta.


    - Não. Põe-me no chão. Deixa-me pensar.                              


    - Desculpa, acho que deste um passo antes de olhar. Agora, vai ter de viver com isso.                                                        


    - Sabes muito bem que me enganou.


    - Te Manobrei - corrigiu ele, enquanto a levava para o carro. - E bem, se me é permitida a modéstia.


    - Sasuke, o casamento não é nenhuma brincadeira, e é uma coisa em que nem sequer comecei a pensar.


    - Então, vai ter de pensar depressa. Se quiser um casamento com uma festa grande podemos esperar até o outono, depois da colheita. - Deixou-a cair no assento do carro. - Mas se quiser uma cerimônia pequena e íntima, que é o que eu prefiro, o próximo fim de semana está bem para mim.              


    - Pára com isso. Pára! Não concordei com casamento nenhum.


    - Concordou, sim. - Saltou para o assento ao lado dela. - Pode dar o dito por não dito, andar em círculos, mas a verdade é que te amo. E tu me ama. O caminho é o casamento. É esse o tipo de pessoas que somos, Saki. Quero viver a minha vida contigo. Quero construir uma família contigo.


    - Família. - A idéia fez gelar-lhe o sangue. - Não vê que é por isso... Meu Deus, Sasuke.               


    Ele tomou-lhe o rosto entre as mãos.


    - A nossa família, Saki. A família que construirmos juntos será a nossa família.


    - Sabe que não é tão simples assim.


    - Não tem nada de simples. O fato de estar certo não quer dizer que seja simples.


    - Não é a melhor altura, Sasuke. Há algumas coisas a acontecer à nossa volta.


    - Por isso é que a altura é perfeita.                           


    - Vamos falar disto de forma razoável - disse-lhe ela, enquanto ele fazia avançar o carro pela estrada de lama. - Quando a minha cabeça não estiver a rodando.                                               


    - Está bem. Falamos de tudo o que quiser. - Quando o caminho se bifurcou, ele tomou a esquerda. Instantaneamente, Saki afundou-se no assento, com o estômago a doer-lhe.


    - Aonde vai?


    - A Beaux Revés. Preciso ir buscar uma coisa.


    - Eu não vou. Não posso ir.       


    - Claro que pode. - Pousou a mão na dela. - É uma casa, Saki. Apenas uma casa. E é minha.


    Doía-lhe o peito e as palmas das mãos dela começaram a transpirar.                                                      


    - Não estou preparada. E a tua mãe não vai gostar. É a casa da tua mãe, Sasuke.


    - É a minha casa - corrigiu ele, friamente. - E vai ser a nossa casa. A minha mãe vai ter que aprender a viver com isso.


    E Saki também, pensou.      


    Era uma casa maravilhosa, pensou Sakura. Não era grandiosa e elegante, como as casas antigas de Charleston, com a sua fluidez e graça feminina. Mas era vibrante, única e poderosa. Quando era criança, via-a como um castelo. Um lugar de sonhos e de beleza, e de grande força. 


    Nas poucas ocasiões em que se atrevera a entrar, gaguejara e falara em sussurro, como um pagão que entra numa catedral.


    Raramente entrara, demasiado tímida e receosa para arriscar incorrer na desaprovação da boca comprimida de Margaret. E demasiado nova para se proteger das setas afiadas que eram os pensamentos de Margaret.


    Mas vira e cheirara e tocara todas as divisões, através de Hope.


    Conhecia a vista de cada janela, a superfície do chão de mosaicos e de madeira. Sob os seus pés cheirou o aroma que pairava no escritório da torre, a mistura de couro e uísque que indicava a presença de um homem.


    Papai.


    Não podia permitir-se vê-la através dos olhos de Hope, agora, ser arrastada para isso. Tinha de vê-la através dos seus próprios olhos. Agora.


    Era tão desconcertante como fora da primeira vez que a vira. Desconcertante e orgulhosamente erguida contra o céu, com as suas torres em desafio. Beaux Revés. Sim, era exatamente isso. Belos sonhos e flores estendiam-se aos seus pés como uma oferenda, e árvores enormes guardavam-na de ambos os lados.


    Por alguns preciosos momentos, Sakura esqueceu-se de que da última vez que a vira coxeara pelo caminho com o horror estampado nos olhos e a morte no coração.                     


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Notas finais do capítulo

Aeeeee
O q acharam???? Esta bom???
hehehhhh
Deixem reviews nah custa nadinha... XD
Obrigada aqueles que sempre leem a fic e principalmente aqueles que comentam...
Bjx



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