Lua de Sangue escrita por BiahCerejeira


Capítulo 32
Capítulo 32


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoallll... Mais um cap de pouco mais de 8 pag do word!!!! Espero q gostem...



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    - Não muda - murmurou.


    - Hã?


    - Aconteça o que acontecer à volta dela, ou mesmo dentro dela, continua igual. É um mistério.


    Era importante para Sasuke ouvir a satisfação na voz dela quando falava da sua casa.


    - Os meus antepassados tinham ego e humor. Ambos são características importantes para a construção. - Parou o carro e desligou o motor. - Entra, Sakura.


    O sorriso que lhe moldara os lábios sem ela dar por isso desapareceu.


    - Está  pedindo confusão.


    Ele saiu do carro e deu a volta para abrir a porta.


    - Estou convidando a mulher que amo para entrar em minha casa. - Pegou-lhe na mão e ajudou-a a sair. Ela recordou-se de que, por mais gentil que fosse ele era também muito teimoso. – Vai haver confusão.


    - É mais fácil para ti. Sempre esteve sobre uma fundação sólida, esta casa. Eu sempre pisei terreno movediço, por isso tenho de ver onde ponho os pés. - Olhou para ele. - É tão importante para ti que eu dê este passo?


    - Bem, lembra-te disso se eu me afundar.


    Subiram os degraus. Ela recordou-se de estar ali sentada com Hope, a jogar as três marias ou a estudar um dos mapas de piratas que tinham. Copos altos, cheios de limonada e bolachas com cobertura. O aroma das rosas e da lavanda.


    Aquela imagem entrou e saiu da sua mente. Duas meninas, de braços e pernas bronzeados pelo sol, as cabeças muito juntas. A murmurar segredos, embora não houvesse ninguém para ouvi-los.


    - Aventura - disse Sakura, calmamente. - Era a nossa palavra-passe. Nós íamos ter tantas aventuras.


    - Agora, vamos ser nós a tê-las. - Pegou-lhe na mão e beijou-a. - Ela gostaria, não acha?


    - Sim, acho que sim. Embora não gostasse muito de rapazes. - Sakura conseguiu esboçar um sorriso quando ele abriu a porta. - São tão chatos e tão palermas. - O coração dela batia depressa, e o grande hall com os seus lindos mosaicos verdes estendeu-se à sua frente como uma armadilha. - Sasuke.


    - Confia em mim - disse ele, e a fez entrar.      


    O ar estava fresco. Estava sempre fresco e cheirava sempre bem. Sakura recordou a magia disso, do contraste que fazia com o calor abafado da sua casa, de como os cheiros do jantar da noite anterior nunca sujavam o ar aqui.                                                   


    E lembrou-se de já ter estado ali com Sasuke.


    - Era alto. - Fez um esforço para manter a voz firme. – Te achava tão alto e tão bonito. O príncipe do castelo. Continua a ser. Mudou tão pouco aqui.


    - A tradição é uma religião para os Hyuuga Uchiha. Somos criados nela desde que nascemos. É simultaneamente um conforto e uma armadilha. Vamos para a sala. Vou buscar qualquer coisa fresca para beber.


    Não a deixavam ir para a sala. Quase disse isso sem pensar. Podia sentar-se na cozinha. Kurenai dava-lhe chá gelado ou Coca-Cola, uma bolacha ou um doce. E se ela ajudasse a varrer, um quarto de dólar para meter no frasco que guardava debaixo da cama.                                                                                                                           


    Mas não podia ir para as divisões reservadas à família.


    Com esforço, bloqueou as imagens antigas que queriam se intrometer e se concentrou no presente. As primeiras coroas imperiais estavam em flor e havia uma jarra cheia delas sobre uma mesa espantosa, que se estendia por baixo da curva das escadas.


    O cheiro que exalavam era feminino. Ao lado deles havia velas brancas em castiçais azuis. Ninguém as acendera, por isso continuavam puras, intocadas e perfeitas.


    Como uma fotografia, pensou. Cada peça mantida no mesmo lugar absoluto, como se assim tivesse permanecido durante décadas.


    E agora ela estava a entrar na fotografia.


    No momento em que ela se encaminhava para a porta, Margaret apareceu nas escadas.


    - Sasuke. - A voz soou ferino. A mão ia começar a tremer quando agarrou o corrimão, mas ela não o permitiria. De cabeça levantada, desceu alguns degraus. - Gostaria de falar contigo.


    - Claro. - Sasuke conhecia o tom, a atitude, e não se deu ao trabalho de mascarar a sua resposta com um sorriso educado. - Vou levar a Saki para a sala. Porque não se senta conosco?


    - Preferia falar contigo sozinho. Por favor, venha para o andar de acima. - Começou a virar-se, segura de que ele a seguiria.


    - Receio que tenha de esperar - disse ele, alegremente. - Tenho uma convidada.                                                                                   


   


    Ela estacou e virou a cabeça no momento em que Sasuke fazia entrar Sakura para a sala.                            


    - Sasuke, não faças isto. - A tensão, as pontadas de animosidade estavam a atingi-la. - Não vale a pena.


    - Claro que vale a pena. O que quer beber? Tenho a certeza de que a Kurenai tem chá gelado na cozinha, e há água com gás no bar.


    - Não preciso de nada. Não me use como arma. Não é justo.


    - Querida. - Ele baixou-se para lhe beijar a testa. - Não estou a te usar.


    - Como te atreve? - Margaret estava à porta, o rosto pálido e sério, os olhos tomados pela fúria. - Como te atreve a me desafiar desta maneira, e com esta mulher? Deixei os meus desejos perfeitamente claros. Não a quero nesta casa.


    - Talvez eu não tenha deixado os meus desejos suficientemente claros. - Sasuke se mexeu e pôs a mão no ombro de Sakura. - A Saki está comigo e é bem-vinda. E eu espero que qualquer pessoa que eu traga a minha casa seja tratada com cortesia.


    -Já que insiste em ter esta conversa na presença dela, não vejo motivo para preocupar-me com questões de cortesia ou boas maneiras.


    A imagem voltou a mudar com a entrada de Margaret. O cenário, pensou Sakura, era perfeito e estático. Apenas as personagens se moviam.


    - É livre de dormir com quem quiseres. Não posso impedir que passe o teu tempo com essa mulher ou que de azar a mexericos sobre ti e sobre esta família. Mas não vai trazer a devassa com quem anda para debaixo do meu teto.


    - Tenha cuidado, mãe. - A voz de Sasuke era agora suave, perigosamente suave. - Está a falar da mulher com quem vou casar.


    Como se ele lhe tivesse batido, Margaret vacilou e deu um passo atrás. A cor desapareceu ao rosto, manchando-lhe as faces.


    - Perdeu o juízo?


    Onde está a minha deixa? Perguntou-se Sakura. Devo ter alguma nesta peça estranha. Porque não consigo me lembrar dela?


    - Não estou a lhe pedir que aprove. Embora lamente que isto a deixe transtornada, vai ter de se adaptar.


    - Sasuke. - Sakura encontrou a voz, já enferrujada devido à falta de uso. - Estou certa de que a tua mãe preferia falar contigo em particular.  


   


    - Não ponha palavras na minha boca - lançou-lhe Margaret. - Vejo que talvez tenha esperado excessivo tempo. Se insistires neste caminho, com esta mulher, está a arriscar Beaux Revés. Vou usar a minha influência para convencer a administração da Algodões Hyuuga Uchiha a te demitir de presidente.


    - Pode tentar - respondeu ele. - Não vai conseguir. Vou enfrentá-la, e estou em vantagem. E mesmo que consiga minar a minha posição na fábrica, nunca tocará na fazenda.


    - É esta a tua gratidão? A culpa é dela. - Os saltos de Margaret soaram nas tábuas do chão quando ela correu na direção de Sakura. Sasuke deu um passo para o lado, interpondo-se entre Sakura e a mãe.


    - Não, a culpa é minha. É comigo que tem de lidar.


    - Mas que bela festa. - Com a cadelinha a correr junto aos calcanhares, Hinata entrou. Tinha os olhos brilhantes e um sorriso algo diabólico. - Olá, Saki, está bonita. Quer um pouco de vinho?


    - É uma excelente idéia, Hina. Serve um pouco de vinho à Saki. É comigo que tem de lidar - repetiu para Margaret.


    - Está a desgraçar a tua família e a memória da tua irmã.


    - Não, a mãe é que está a fazer isso. É uma vergonha culpar um filho pela morte de outro. Uma vergonha tratar uma mulher sem culpa com desrespeito e maldade tendo apenas como motivo a sua própria culpa e a sua própria dor. Lamento que tenha deixado que elas a impedissem de olhar para os filhos que lhe restavam, para a vida que podia ter construído fora dessa bolha onde se fechou.


    - Atreves-te a falar comigo desta maneira?


    - Tentei de outra. Se fez o que fez por si própria, não a censuro por isso. Se continuar a viver como tem vivido ao longo destes últimos dezoito anos, a escolha é sua. Mas a Hinata e eu temos vida própria. E a minha vida vai ser vivida ao lado da Sakura.


 


    - Bem, parabéns. - Hinata ergueu o copo de vinho que acabara de servir e bebeu-o. - Acho que isto pede champanhe. Saki, deixa-me ser a primeira a te dar as boas-vindas à nossa família feliz.


    - Fica calada! - falou Margaret, ao que a filha respondeu com um mero encolher de ombros. - Acha que não sei porque está fazendo isto? - disse ela a Sasuke. - Para me magoar. Para me castigar por erros imaginados. Sou tua mãe e como tal fiz o melhor por ti desde o dia em que nasceu.                                              


    - Eu sei.


    - Deprimente, não é? - murmurou Hinata. Sasuke olhou para ela e abanou a cabeça.


    - Não tenho por que magoá-la, ou castigá-la. Não estou a fazer isto para atingi-la, mãe. Estou a fazer isto por mim. Tive um milagre na minha vida. A Sakura entrou nela.


    Voltou a pegar-lhe na mão e encontrou-a gelada. Manteve-a junto a si.                                                                       


    - E descobri que sou capaz de mais do que imaginava ser. Sou capaz de amar alguém e de querer fazer o melhor por ela. Sou eu quem fica a ganhar. Ela não pensa assim, nem vai pensar mesmo depois disto. Mas eu sei. E tenciono preservar isso.


    - Amanhã, o juiz Purcell já terá o meu novo testamento redigido. Vou deixar ambos fora dele, sem um tostão. - Apontou o seu olhar furioso a Hinata. - Nem um centavo, está a entender? A não ser que fique ao meu lado agora. Não tem nenhum interesse pessoal nesta mulher - disse ela a Hinata. - Vou te dar a tua parte e a do Sasuke, a começar pelo valor patrimonial da Casa do Pântano e da propriedade de Market Street.                       


    Hinata contemplou o vinho.


    - Hummm. E qual será esse valor patrimonial?


    - Perto de cem mil - disse-lhe Sasuke. - Não sei bem qual seria a minha parte da herança da nossa mãe, mas acho que deve estar bem perto de alguma coisa com sete dígitos.


    - Oh! - Hinata arredondou os lábios. - Imagina só. E tudo isso vai ser meu se eu lançar o Sasuke aos lobos, por assim dizer, e fizer o que quer que eu faça. - Fez uma pausa. - Vejamos, alguma vez fiz o que a mãe queria?


    - Seria sensata, se pensasse na proposta.                  


    - Segunda pergunta: alguma vez fui sensata? Queres vinho, Sasuke, ou prefere cerveja?


    - Não vou voltar a fazer esta oferta - disse Margaret, friamente. - Se insistir em levar esta farsa adiante, deixarei esta casa e tu e eu não teremos mais nada a dizer um ao outro.


    - Vou ter muita pena. - A voz de Sasuke manteve-se calma. - Espero que mude a sua maneira de pensar, com o tempo.


    - Escolhe a ela em vez da tua família? De quem tem o teu sangue?


    - Sem hesitar um só minuto. Tenho pena de que nunca tenha sentido isso por ninguém. Se tivesse, não levantaria essa questão.


    - Ela vai te arruinar. - Controlando-se, Margaret olhou para Sakura. - Acha que foste esperta em ter esperado e insistido. Acha que ganhaste. Mas está enganada. Ele vai acabar por ver quem tu é e vai ficar sem nada.                                              


    De súbito, ali estavam as palavras, e ela compreendeu que estivera à espera do momento certo para dizê-las.


    - Ele vê quem eu sou. Esse é o meu milagre, Senhora Hyuuga. Por favor, não o obrigue a escolher entre nós. Não nos faça viver com isso.


    - Tive outra filha que te escolheu, e pagou um preço elevado por isso. Agora, vai levar-me o meu filho. Vou preparar as coisas para sair desta casa imediatamente - disse ela a Sasuke. - Tem a decência de mantê-la longe de mim até eu ir embora.


    - Muito bem. - Hinata voltou a encher o copo enquanto a mãe se afastava. - Foi agradável.


    - Hinata.


    - Ora, não olhe assim para mim - disse ela, abruptamente. - Imagino que nenhum de vocês estivesse a se divertir particularmente, mas eu estava. E muito. Deus sabe que ela estava a pedi-las. Toma. - Meteu o vinho na mão de Sakura. - Está com ar de quem precisa disto.


    - Vai falar com ela, Sasuke. Não pode deixar isto assim.


    - Se ele tentar fazer isso, perco todo este novo respeito e esta admiração que tenho por ele. - Pondo-se em bicos de pés, Hinata beijou-lhe a face. - Parece que afinal não nos deixou na ruína.


    Ele pegou-lhe na mão e segurou-a nas suas.


    - Obrigado.


    - Ora, querido, o prazer foi meu. - Erguendo o copo, se deixou cair numa cadeira, sorrindo quando a Abelha lhe saltou para o colo. - E pretendo festejar.                                                                            


    - O quê? O fato de o Sasuke ter anunciado que pretende casar comigo ou a infelicidade da tua mãe?


    Hinata inclinou a cabeça enquanto observava Sakura.


    - Posso fazer as duas coisas, mas parece que tu não. Tem muita sensibilidade. E bondade. Ai, ela detestaria isso. Mais uma coisa para festejar - decidiu, bebendo o vinho.


    - É de mau gosto, Hina - murmurou Sasuke.


    - Ora, deixa-me sentir a satisfação por um minuto, está bem? Nem todos têm um espírito tão elevado como o seu. Meu Deus estão mesmo bem um para o outro. Quem haveria de pensar? Estou feliz por vocês. Imaginem! Estou sinceramente feliz por vocês. Acho que me sinto um bocadinho emocionada.


    - Tenta controlar esta explosão de sentimento embaraçosa. - Impaciente Sasuke voltou-se para Sakura e passou-lhe as mãos pelos braços, primeiro subindo até aos ombros e depois descendo até aos pulsos. - Preciso ir buscar uma coisa no escritório, e depois vamos embora. Fica bem?                               


    - Sasuke, fala com a tua mãe.


    - Não. - Deu-lhe um beijo de leve. - Não demoro.


    - Bebe o teu vinho - sugeriu Hinata, quando ficaram sozinhas. – Vai te trazer alguma cor de volta à cara.                         


    - Não quero vinho. – Sakura pousou o copo e depois foi até à janela. Queria ir lá para fora, para onde pudesse respirar.


    - Se insistir nesse ar infeliz, só vai estragar este momento ao Sasuke. Ele fez isto porque te ama.


    - E tu, porque fizeste isto?


    - Pergunta interessante. Há um ano... Que diabo, se calhar a um mês! Eu teria ficado ao lado dela. É um monte de dinheiro e eu gosto mesmo do que o dinheiro pode comprar.


    - Não, nunca o terias feito, nunca, e vou dizer-te por que. - Sakura olhou para trás. - Primeiro, para lhe atirar o dinheiro à cara, e segundo, e mais importante do que o primeiro, por causa de Sasuke. Porque o ama.


    - Sim, e o amor não é fácil para nenhum de nós. A minha mãe encarregou-se de fazer com que assim fosse.


    - Vai culpá-la de tudo?


    - Não, apenas por aquilo a que tem direito. Dei cabo da minha vida sozinha. Mas ele não. Ele nunca fez mal a ele próprio, nem a ninguém. Amo-o tremendamente.


    Surpreendida, Sakura olhou para cima. Os olhos de Hinata continuavam brilhantes, mas havia lágrimas neles.     


    - Ele não disse o que disse para magoar a mãe, disse-o porquê é verdade. Eu teria dito para magoá-la. Sente pena dela, se achar que deve ter, mas não espere que eu sinta o mesmo. Ele tem a oportunidade de ser feliz contigo e quero vê-lo aproveitá-la.


    - Porque não lhe disse isso?


    - Estou a dizer-te. Vejo o que ele sente por ti, e gostaria de conseguir sentir o mesmo por alguém. Não para me tornar uma pessoa melhor. Gosto de mim como sou. Mas se alguém é tão importante... - Contemplativamente, observou o vinho no copo, a luz que brilhava através dele, vinda da janela. - Se alguém é tão importante, tem de vir te roubar uma parte de ti. - Olhou para Sakura. - Não é assim?


    - Sim. Mas estou a começar a pensar que é uma parte de que já não precisamos. Não precisamos dela porque há alguém que nos ama.


    - Interessante. É idéia para ficar a remoer. - Olhou para a porta quando Sasuke entrou. - Suponho que queiram ficar sozinhos agora.


    - Sim.


    - Então, a Abelha e eu vamos nos retirar, não vamos?


    Esfregou o nariz na cadelinha e pousou-a no chão.


    - Para dizer a verdade, acho que vamos lá para fora até o ar desanuviar. - Tocou na face de Sasuke quando passou por ele. - E sugiro que faça o mesmo.


    - Ainda não. - Esperou até ouvir a porta fechar-se atrás da irmã, e depois estendeu a mão a Sakura. - Quero fazer isto aqui. Podemos considerá-lo o fechar de um círculo.


    - Sasuke, isto foi difícil para ti, para todos nós. Eu...


    - Não, não foi. E está feito. Tu e eu estamos apenas começando. - Tirou uma caixa do bolso e abriu-a. O diamante refletiu a luz do Sol e explodiu. - Era da minha avó e eu o herdei.


    O pânico ameaçou sufocá-la.


    - Não. - Puxou a mão, mas ele manteve-lhe os dedos firmemente agarrados.


    - O herdei - repetiu - na esperança de que um dia o desse à mulher com quem quisesse casar. Não o dei à Deborah, nunca me ocorreu dá-lo. Acho que sabia que estava a guardá-lo para outra pessoa. Que estava à espera de outra pessoa. Olha para mim, Sakura.


    - Está a ser tudo tão rápido. Devia esperar mais tempo.


    - Vinte anos ou dois meses. O tempo nunca foi problema para nós. Se não consegue acreditar e confiar no que digo, se isso não é suficiente para te tranquilizar, olha para o que sinto. - Levou a mão dela ao seu coração. - Olha para dentro de mim, Saki.


    Ela não conseguiu recusar nem resistir. E o calor entrou nela. Calor e força. E esperança. O coração dele batia com firmeza sob a palma da sua mão, os olhos dele mantinham-se fixos nos dela. Confiança pensou. Ele estava a confiar nela com todo o seu ser. O próximo passo era dela.


    - Quem me dera que pudesses olhar para dentro de mim, porque não sei como diabo vou te dizer o que sinto. Assustada, porque é tanto o que está envolvido. Nunca quis voltar a me apaixonar. Mas não sabia que podia ser diferente. Não sabia que podia ser tu. É tão tranquilo, Sasu. - Sorrindo agora, estendeu uma mão para brincar com o cabelo dele. - Me dá tranquilidade.


    - Casa comigo.


    - Oh, meu Deus. - Respirou bem fundo e precisou de um momento. - Sim. - Olhou para baixo enquanto ele lhe metia o anel no dedo. - É lindo. Fico tonta, só de olhar para ele.


    - Está um bocadinho grande. - Passou o polegar pelo aro de ouro. - Tem umas mãos delicadas. Vamos mandar cortá-lo à medida.


    - Ainda não. Quero me habituar a usá-lo, primeiro. - Fechou a mão e depois soltou um suspiro. - Ela o amava. - Tinha os olhos líquidos quando voltou a erguê-los. - A tua avó. Amava-o. Chamava-se Laura e foi feliz.


    - E nós também seremos - prometeu ele. E ela acreditou.


 


    Kakashi manteve a sirene ligada e o velocímetro nos cento e trinta, seguindo pela estrada. Claro que não era preciso, mas dava-lhe algum gozo. E divertia Jiraya.


    Desligou-a quando se aproximaram da saída.


    - Talvez devêssemos passar a fazer isto aos domingos, em vez de irmos pescar.


    - Mantém o sangue em movimento - concordou Jiraya. - É difícil sentirmos um trapo velho quando estamos a rolar assim pela estrada.


    - A quem está a chamar trapo velho? Vamos fazer o seguinte, Jiraya, se achar que é mais fácil para ti: te deixo na casa da tua irmã e depois vou falar com o xerife e acertar tudo com ele. Isso te dá tempo para lhe falar e para ela falar algumas coisas.


    - Obrigado. - Jiraya sentia alma pesada, mas fez o possível para não mostrar. - Ela não vai querer sair daqui, por isso vai demorar um pouco. Acho que vou dizer-lhe que temos quase a certeza de que o Pain ainda está nos arredores de Progress, por isso ela vai ficar mais perto dele se vier comigo.                           


    - Pode mesmo ser verdade. E, se for esse o caso, vou pôr mais patrulhas na tua rua. Quero que ligues o sistema de alarme que a Tsunade te convenceu a instalar, há uns anos atrás.


    - Está ligado desde que a Matsuri foi descoberta. A Tsunade diz que só consegue descansar se o tivermos ligado. - Pensou na sua cidade, nas ruas onde poderia caminhar de olhos fechados, nas pessoas que conhecia pelo nome. E em todas as que o conheciam. - Não devia ser assim.  


    - Pois não, mas às vezes é. Tu e eu, Jiraya, crescemos juntos. Vimos à mudança chegar a Progress, e essa mudança foi quase sempre boa. Habituamo-nos a ela, e talvez percamos alguma coisa quando plantam casas num campo onde costumávamos jogar à bola. Mas nos habituamos. E há outro tipo de mudança a que temos de nos habituar também.


    Jiraya sorriu um pouco.                                                            


    - Que diabo quer dizer?


    - Diabos me levem se sei. É este o caminho que vai dar a casa dela?


    - Sim. A estrada está mal. Vai ter pena do teu motor. Tenho vergonha que veja como ela vive, Kakashi.


    - Não te preocupe com isso. Somos amigos há tempo para ligarmos a merdas dessas. - O carro bateu por baixo e raspou. Estremecendo, Kakashi desacelerou e começou a avançar a passo de caracol. Depois, olhando para o que tinha à sua frente, semicerrou os olhos. - Que diabo é isto? Raios partam. Há confusão. Raios partam - repetiu, e acelerou, pelo que fizeram o resto do caminho aos solavancos.


    Havia dois carros da polícia estacionados frente a frente, diante da casa. A fita amarela da polícia delimitava o quintal em desalinho. Mal freiara e o guarda que se encontrava no alpendre em ruínas já vinha ao seu encontro.


    - Chefe Hatake, de Progress. - Tirou a identificação do bolso e mostrou-a ao guarda. - O que aconteceu aqui?


    - Tivemos um incidente, chefe. - O rosto do agente estava pálido e sério, os olhos escondidos atrás de óculos escuros. - Vou ter de vos pedir que fiquem aqui. O xerife está lá dentro. Precisam da autorização dele para entrarem.


    - Esta é a casa da minha irmã. - Jiraya puxou pela manga do polícia. - A minha irmã vive aqui. Onde está a minha irmã?


    - Vai ter de falar com o xerife. Por favor, mantenha-se atrás da fita - ordenou, avançando na direção da casa.


    - Aconteceu alguma coisa à Konan. Tenho de...


    - Espera. - Kakashi agarrou-o pelo braço antes de Jiraya conseguir dar um passo. - Espera. Não pode fazer nada. Vamos esperar.


    Já reparara na mancha escura na lama, diante do galinheiro, e numa segunda, que cobria uma parte do terreno junto à erva crescida.


    O xerife Bridger era um homem enorme e possante, com um rosto onde as marcas dos anos e do sol eram visíveis. Os olhos eram de um azul mortiço, enquadrados por linhas que pareciam ter sido queimadas na pele pelo sol. Quando saiu olhou em volta, parou um momento para limpar as gotas de suor da testa, e depois caminhou na direção dos homens que se encontravam à espera.


    - Chefe Kakashi.


    - Sim. Xerife, trouxe Jiraya, que vinha buscar a irmã. Konan. Que aconteceu aqui?


    Bridger volveu os olhos pálidos para Jiraya.


    - É irmão de Konan Haruno?


    - Sim. Onde está a minha irmã?


    - Lamento dizer-lhe, senhor. Houve problemas aqui, hoje de manhã cedo. A sua irmã está morta.


    - Morta? De que é que está falando? Não pode ser. Ainda não há dois dias falei com ela. Ainda não há dois dias. Kakashi, disse que a polícia estava aqui, a tomar conta dela.


    - É verdade, estávamos. E também perdi um homem, esta manhã. Um bom homem, que tinha família. Lamento a sua perda, Senhor, e lamento a deles.


    - Jiraya, vem sentar-te. Quero que te sente até sentir as pernas. - Kakashi abriu a porta do carro, baixou a cabeça do amigo e fê-lo sentar. O rosto de Jiraya estava assustadoramente vermelho, e a sua enorme figura começara a tremer.


    - Xerife, importa-se de pedir a alguém que lhe traga água?


    Com um aceno de cabeça, Bridger virou-se e fez sinal ao guarda.


    - Purty, traz um copo de água ao senhor aqui.           


    - Deixa estar aqui sentado. - Os joelhos de Kakashi estalaram como foguetes, quando ele se sentou. - Senta-te aqui e recupera o fôlego. Eu vou fazer o que puder.


    - Pode dizer-me o que aconteceu aqui? – kakashi perguntou ao guarda.


    - Há umas horas que andamos a tentar descobrir. O Flint ficou com o turno das duas às dez. Só soubemos que havia confusão quando o agente que o vinha render o encontrou. Ali. - Bridger apontou para o galinheiro.   


    - Levou um tiro nas costas. Caiu. Ele era jovem e forte. Tentou chegar ao equipamento, aqui, rastejou mais de cinco metros depois de ter levado o tiro. Tinha a pistola na mão. Alguém lhe pôs a pistola na mão, apontada ao ouvido, e puxou o gatilho.


    - Tinha trinta e três anos, chefe. Tem um filho de dez anos e uma menina de oito. A responsabilidade de já não terem pai é minha. Fui eu que o mandei para aqui. Sabíamos que o Pain era perigoso, mas não sabíamos que ele estava armado. Nunca usou armas de fogo nos outros crimes que cometeu. O filho da mãe matou o meu homem pelas costas.


    Kakashi passou com as costas da mão pela boca.


    - E Konan?


    - Acho que ela sabia que ele vinha. Tinha a mala feita. Há uma lata de café vazia no quarto, e parece-me que seria ali que ela guardava o dinheiro que tinha em casa. Desapareceu. A porta estava aberta, sem sinais de arrombamento. Ou ela o deixou entrar, ou ele entrou, simplesmente. Deu-lhe dois tiros. Um no peito, outro na nuca.


    Kakashi deixou de lado a dor e olhou para a casa, para a terra. - Já fizeram o reconhecimento, não?


    - Sim. Falei com os vizinhos. Houve um que acabou por dizer que ouviu o que podiam ser tiros, por volta das cinco, cinco e meia da manhã. As pessoas não querem saber da vida dos outros, aqui. Ninguém prestou atenção.      


    - Como diabo chegou ele aqui?


    - Não se sabe. Talvez tenha apanhado uma carona. Roubado um carro. Estamos investigando.


    - Pelo dinheiro que estava na lata de café? Não faz sentido. Ela tinha a mala feita?


    - Sim. Com as roupas dela e algumas dele. Sabia que ele vinha. Estamos verificando os telefonemas. Ele deve ter-lhe telefonado e ela disse-lhe o que se passava. Não pode dizer-se que se tenha mostrado muito disposta a cooperar com a polícia.


    E, embora estivesse morta como Eva, ele a culpava pela morte do homem que perdera.                   


    - O senhor Jiraya vai estar em condições de identificá-la?


    - Sim. - Kakashi voltou a passar a mão pela boca. - Ele vai fazer isso. Já informaram a mãe da falecida?


    - Não. Ia agora tratar disso.                                   


    - Gostaria que me deixasse fazê-lo, xerife Bridger. Não quero intrometer-me no trabalho, mas ela me conhece.


    - Até agradeço que o faça. É algo que dispenso.


    - Muito bem. Vou levar o Jiraya para a casa da mãe. Será mais fácil para eles.                                         


    - Está certo. Ele matou um polícial, chefe Kakashi. Se isso dá algum conforto ao seu amigo, diga-lhe que aquele filho da mãe não vai conseguir escapar.                                                                      


    - Mantenha-me informado, xerife, que eu farei o mesmo. Os agentes federais chegam amanhã ou depois de amanhã. Vão querer lhe telefonar.


    - Fico à espera. Mas esta terra é minha e foi o meu homem que levaram num saco, esta manhã. - Bridger cuspiu no chão. - É melhor o Haruno rezar a Deus Todo-Poderoso para que os agentes federais o encontrem antes de mim.


 


 


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Notas finais do capítulo

Nohhhhhhhhh e aeee o q acharam????
Soh para avisar a fic esta chegando ao fim... Os misterios começarão a ser revelados. Quem foi que matou todas estas mulheres???? De sua opinião, mande reviews!!!!
Bjux



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