37 edição dos Jogos Vorazes escrita por bruno


Capítulo 22
Consequências


Notas iniciais do capítulo

Aaaaaaaaaaah gente, aqui estou eu. Pois é. Então, né Ç_Ç okn
Bom, aí vai o último capítulo D:



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– Você deveria tê-la matado logo, Kala. Não deveria tê-la feito sofrer. Agora, nós a vingaremos.
Rastejei para trás numa tentativa desesperada de fugir, mas não havia saída. Eu estava presa. Observei, horrorizada, aos pais e irmã de Arany aproximando-se de mim. Seu pai segurava uma lança, sua mãe uma foice e sua irmã segurava um... O que era aquilo? Forcei meus olhos a enxergarem no escuro, mas nada parecia fazer sentido. A mão da garotinha brilhava em tons de vermelho, como se estivesse coberta com purpurina à luz do Sol. Quando ela se aproximou, porém, pude distinguir as formigas. Os bestantes que haviam matado Arany calma e dolorosamente. Eles pularam de sua mão e logo estavam por todo o meu corpo, picando e ferroando-me. Novas delas saíam de buracos do chão, das paredes e até mesmo de meus ouvidos. Debati-me inutilmente enquanto elas passeavam pelo meu corpo como cidadãos caminhavam pelas ruas de um distrito. A irmã de Arany, que algo me dizia ser chamada de Diana, estendeu um pequeno espelho para mim. Segurei entre meus dedos inchados e, ao olhar meu reflexo, gritei como nunca havia gritado antes. O que eu via no espelho não era minha imagem, e sim de Arany. Seu rosto tinha as veias avermelhadas saltadas pelo rosto e seus olhos estavam incrivelmente profundos. Eu olhei para frente a tempo de avistar os pais de Diana levantarem as armas acima de suas cabeças e, sem piedade, cravá-las em meu peito.
– Kala? Kala! Você está bem?
Abri os olhos e senti meu corpo suado por debaixo das cobertas. Olhei para a porta e avistei Uranie, em sua ridícula camisola laranja neon, caminhando em minha direção.
– Você estava gritando! O que aconteceu?
– Eu tive um pesadelo, só isso.
– Quer um chá? Uma água? - Ela perguntou, passando a mão pelos meus cabelos.
– Não, eu estou bem. Só preciso descansar mais um pouco.
– Logo chegaremos à Capital. Só temos mais duas horas de descanso.
– Provavelmente não vou dormir de novo, então não vou me atrasar.
– Quer que eu fique com você? - Ela perguntou, envergonhada.
Sua pergunta me surpreendeu, já que a maioria dos habitantes da Capital são mimados e egocêntricos. Uranie, por outro lado, se importava comigo.
– Obrigado, mas... não. Eu vou ficar bem.
– Tudo bem. Boa noite, querida. - Ela beijou minha testa e saiu do quarto, fechando a porta atrás de si.
Ajeitei o travesseiro na minha cabeça e, pelo resto da noite, revirei-me na cama. Meus olhos pesavam, mas eu não conseguia dormir. Observei o teto enquanto pensava nos acontecimentos que, de uma forma ou outra, tinham mudado minha vida. Eu tinha matado uma pessoa pela primeira vez, tinha vencido os Jogos, tinha deixado... Meu cérebro parou de funcionar e, então, adormeci.


– Kala, acorde! O dia já amanheceu e estamos chegando à Capital. Venha se arrumar!
Levantei da cama e logo fui abordada por Mana 1, Mana 2 e Sionc. Eles me maquiaram, rasparam, esfregaram e depilaram por mais de duas horas e, por fim, vesti-me com um vestido curto amarelo que parecia de outro planeta. Acredito que Sionc havia separado aquela peça para a Capital porque ela era realmente... diferente. Ombreiras gigantes e uma espécie de aba que se abria a partir de minha cintura faziam parte dele. Logo que saí do trem, a população aplaudiu e gritou. Eu realmente era famosa por lá.
Acenei para a multidão e fomos, de carro, até a praça central, onde o presidente Hallit discursou sobre os Jogos e convidou todos a irem à festa de comemoração que aconteceria naquela noite.
– Quero ver todos vocês lá! - Ele concluiu. Acenou com a cabeça para mim e, relutante, dei um passo a frente. A população me olhou, ansiosa e, sem saber, eu disse a coisa mais estúpida possível.
– Oi, meu nome é Kala.
Todos, inclusive o presidente, riram. Coriolanus olhava para mim com um olhar curioso e, naquele instante, algo me disse que ele era perigoso demais. Alguma coisa naquelas misteriosas crises e intoxicações alimentares de Hallit era ideia dele e, por um momento, ponderei se não era meu dever denunciá-lo. Decidi, por fim, deixar as coisas como estavam. Afinal, o presidente não faria o mesmo por mim.
Com muito esforço, consegui pensar em um discurso digno de um Vitorioso e, no fim deste, a população aplaudiu como eu nunca havia visto antes. Recebi mais alguns prêmios, recordações dos Jogos e, por fim, acenei mais uma vez antes de deixar o palco. Entrei em um carro muito mais luxuoso que os anteriores e, nele, fui até um hotel, onde descansei o resto da tarde. Assisti aos programas humorísticos da Capital, descansei e tomei banho na banheira de hidromassagem. No fim do dia, quando a lua já se erguia no céu, Sionc me produziu novamente. Desta vez eu vestia um vestido inteiramente branco que ia até o chão e tinha um caimento leve, flutuando até mesmo com o menor movimento. Ele era bordado com inúmeras lantejoulas e outras pedrarias que davam brilho ao vestido e, em minha cintura, havia um pequeno laço prateado. Segundo Sionc, eu estava mil vezes mais bonita do que qualquer outro dia.
– Obrigada. Este vestido é realmente lindo. - Comentei, olhando-me no espelho.
Mana 1 e Mana 2 me maquiaram levemente, apenas com sombra prateada e, para diferenciar, unhas e batom negros.
Esperei até que eles se arrumassem e, então, descemos as escadarias do hotel. Um motorista abriu a porta de uma limusine para mim e, relutante, embarquei. Olhei para trás, incrédula, quando Sionc, Mags, Uranie, Mana 1 e Mana 2 embarcaram em um carro simples que, durante todo o percurso, ficou próximo do qual eu estava. Atravessamos a Capital e, finalmente, chegamos à mansão do presidente. Logo na entrada fui atacada por fotógrafos e, sorrindo, respondi a algumas perguntas. Pude ouvir suspiros e comentários sobre meu vestido, o que me deixou envergonhada. Adentrei na mansão e fui recebida pessoalmente pelo presidente, que fez questão de colocar comidas típicas do Distrito 4 no banquete. Havia salgados e sobremesas em todos os lugares que eu olhava, o que me fez perguntar se seríamos capazes de comer tudo aquilo. Por um momento pensei nas pessoas que morriam de fome no Distrito 12. Elas saberiam como aproveitar aquela comida.
Eu estava conversando com um Idealizador dos Jogos quando, com o canto do olho, avistei minha mãe indo até um local quieto da mansão. Aproveitei a oportunidade, pedi licença ao Idealizador e fui até lá. Ela andava de um lado para o outro e murmurava algo. Aproximei-me silenciosamente e, por fim, consegui distinguir as palavras que saíam de sua boca.
– Eles não podem escolhê-la. Não podem.
Tive a sensação de que ela estava falando de mim e, por isso, não consegui ficar calada.
– Mãe? O que está acontecendo?
Ela se virou rapidamente, com os olhos arregalados.
– Kala? O que faz aqui? Ele não pode nos ver juntas! Não pode!
– Mãe, acalme-se! O que aconteceu? Quem não pode nos ver juntas?
– Ele! O presidente!
Ela parou de gritar e, então, curvou o rosto em direção ao salão onde todos estavam. Voltou a arregalar os olhos e, então, puxou-me até uma sala que parecia ser de reuniões. Corremos até lá e, quando fechamos a porta, ela a trancou. Olhei ao redor e avistei uma lareira acesa em frente a uma grande mesa retangular. Havia pelo menos cinquenta cadeiras ao seu redor e, por um segundo, perguntei-me que tipo de reunião era realizada naquele cômodo.
– Ele não pode. Ele não pode. Todos esses anos tentando proteger você...
– Mãe, pare com isso! O que está acontecendo? - Segurei seu rosto e obriguei-a a olhar para mim. Seus olhos se encheram de lágrimas e, então, ela sentou no chão.
– Oh, Kala, eu sinto tanto...
– Mãe, responda! O que está acontecendo?
– O presidente. Ele quer te trazer mais vezes à Capital, assim como fizeram com o seu...
Ela parou de falar e olhou para mim, espantada.
– O quê? Continue!
– Assim como fizeram com o seu pai.
Aquelas palavras me chocaram e simplesmente fiquei sem reação. Sentei-me em uma cadeira e encarei uma parede enquanto ela explicava.
– Eu nunca contei a você, mas seu pai também era um Vitorioso. Ele venceu na edição posterior a minha, e foi assim que nos conhecemos. Admirávamos um ao outro.
As palavras saíam de sua boca rapidamente, como se ela as tivesse decorado ou ensaiado por toda a vida.
– Nós começamos a morar juntos e, então, você nasceu. Estávamos tão felizes, Kala. Tão felizes. Mas então aconteceu.
Olhei para ela, séria, incentivando-a a continuar.
– Eles nunca me chamaram, olhe só para mim. Não sou bonita. Mas ele... Seu pai era muito bonito, Kala. Eles o escolheram.
– Para satisfazer os cidadãos mais ricos. - Concluí, gélida.
– Isso. Ele negou, afirmando que tinha esposa e uma filha. Você tinha oito anos quando aconteceu. Ele tinha somente vinte e cinco anos, seu corpo estava no auge. Eles disseram que estava tudo bem, mas...
– Eles o mataram? A Capital matou meu pai? - Perguntei, levantando-me da cadeira.
– Sim. Eles não nos mataram porque tinham interesses futuros em você, e a maioria dos distritos preferia eu a seu pai. Minha vitória foi... Memorável. Eu nunca te contei isso porque fiquei com medo que arruinasse tudo. Desde então eu tenho tanto ódio da Capital que...
– E por que você me fez vir para os Jogos, então? - Perguntei, deixando as lágrimas escorrerem pelo meu rosto - Para que vendessem meu corpo como um objeto? Ou para que me matassem caso eu recusasse? Isso é o que você sempre quis, não é? Sempre quis ser livre de mim!
– Não! Isso não é verdade, Kala. - Ela agora chorava desesperadamente, e suas mãos tremiam - Logo que você nasceu... Eu soube que, caso não fosse voluntária, eles sabotariam a Colheita. Sorteariam você.
– Uma filha de Vitoriosos. - Pensei, em voz alta.
– Exato. A Capital adora isso e, sem outras opções, tive que treiná-la para os Jogos. Para proteger você.
Ela segurou uma de minhas mãos entre as suas, mas eu logo a tirei de lá.
– Se você realmente queria me proteger... Por que nunca me tratou bem?
– Aquilo tudo era apenas um disfarce, Kala! É por isso que não podem nos ver juntas.
– Como assim? - Perguntei, confusa.
– Você sempre foi muito bonita, Kala. Seu rosto... é simplesmente incrível. Você discorda, mas é verdade. E com esta cirurgia que a Capital fez, você só está mais bonita!
– Conte-me o que isso tem a ver com a nossa relação! - Exigi, aos gritos.
– Não grite! Eles podem nos ouvir. - Ela disse, olhando para a porta - Sempre soube que escolheriam você, Kala. E eu temia que, assim como o seu pai, recusasse a ordem.
Cruzei os braços, esperando que continuasse.
– Eles não a matariam. Acabou de vencer os Jogos, toda Panem perceberia. A Capital prefere Vitoriosas mulheres mais novas e homens mais maduros. A maioria das Vitoriosas, assim que saem dos Jogos, são requisitadas. Não seria diferente com você.
– E como eles não poderiam me matar... - Disse, concluindo o raciocínio em voz alta.
– Eles viriam atrás de mim. - Completou Mags, sombria - Eu sou a sua única família, Kala. Viriam me matar.
– E Lauren? - Perguntei, num pulo.
– A Capital nunca mata os amigos dos Vitoriosos, apenas familiares e laços amorosos.
– Mas por que nunca se aproximou de mim, afinal?
– Todos me conhecem por ser uma terrível mãe. Por que me matariam para fazê-la sofrer? Seria muita pouca dor.
– Eles não teriam a quem matar. - Concluí, percebendo a genialidade de minha mãe.
– E poderiam fazer nada além de aceitar sua decisão. É por isso que não podem nos ver juntas, Kala. Não podem saber que eu realmente... amo você.
Aquelas palavras chegaram em meus ouvidos rapidamente e pensei que estivesse sonhando. Limitei-me a olhar para Mags, que ainda chorava.
– Como é? - Perguntei, para ter certeza do que havia escutado.
– Eu amo você, Kala. Minha filha.
Ela abriu os braços e sorriu intensamente, convidando-me a abraçá-la. Fui até ela e lá ficamos por mais de dez minutos, apenas sentindo nossos corações batendo.
– Vá, vá embora. Não podemos ser pegas. - Ela disse, levantando-se rapidamente.
Minha mãe abriu a porta rapidamente e, antes que eu pudesse sair atrás dela, uma mão agarrou seu pescoço.
– Ora, quanto carinho. Não pensaram que fossem esconder toda esta história de mim por muito tempo, acharam? Você tem muitos compromissos na Capital pela frente, Kala. - Ele disse, entre gargalhadas.
Era Hallit Snow, o presidente. Seu olhar era raivoso, em uma ira causada pela sensação de ter sido enganado. Uma ideia passou rapidamente pela minha cabeça e, sem pestanejar, empurrei o velho homem para o lado. Corri até o banheiro e lá me tranquei. Pude ouvi-lo batendo na porta, mandando-me sair. Minha mãe gritava algo que eu não conseguia distinguir, provavelmente estava dizendo para eu fugir. Mas eu não iria. Olhei ao redor, procurando algo que me ajudasse. Com a ajuda do cotovelo, quebrei um espelho. Peguei um grande caco e cortei meu braço, fazendo sangue jorrar pelo chão e pelo meu vestido, que agora tingia-se de escarlate. A cor do arco que usei durante os Jogos. Molhei o dedo com o sangue e, em outro espelho, escrevi em letras grandes e legíveis: Meu dinheiro para o Distrito 12. Retirei o laço da minha cintura e olhei para o lustre que iluminava o cômodo. Eu sabia que logo arrombariam a porta e, por isso, eu precisava ser rápida. Retirei meus sapatos, subi na pia e amarrei o laço no lustre. Encaixei meu pescoço em um círculo que havia feito com o tecido e olhei para a porta. Eu tinha certeza de que não matariam minha mãe. O escândalo da Vitoriosa suicida seria demais para a Capital. E era essa a minha intenção. Queria acabar com eles e, caso isso não acontecesse, torcia para que um dia esse desejo se tornasse realidade. Torcia para que meu dinheiro realmente fosse mandado para o Distrito 12 e, lá, em algum ano, em algum lugar, alguém corajoso o suficiente nascesse e mostrasse à Capital que os distritos têm, sim, poder. Até mesmo o mais fraco deles.
– Desculpe, Lauren. Você vai ter que se virar sozinha a partir de hoje.
Deixei meus pés escorregarem da pia sem rancor, sem hesitação. Sentia o ar deixando meus pulmões enquanto fazia uma prece silenciosa para que a Capital pagasse por tudo o que havia feito. A morte de meu pai, de Arany, de Verizon e até mesmo de Cihla. A morte de todas as pessoas inocentes que lutavam por uma vida melhor.
Desejei que minha última decisão mudasse o rumo da história de Panem e, quando a porta finalmente se abriu, meus olhos se fecharam para sempre.


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Notas finais do capítulo

Leiam o próximo capítulo o/



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