A Casa Dividida escrita por Redbird


Capítulo 2
O garoto de Nova York


Notas iniciais do capítulo

Então, está ai mais um capitulo. Espero que gostem. Bjuuus



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Assim que chegou em São Francisco, Peeta percebeu que a cidade do oeste não tinha nada a ver com sua Nova York. A cidade Californiana não era tão quente como as outras cidades do oeste, na verdade, havia uma neblina fria de verão que envolvia a cidade. O comércio era frenético também. E, assim como em Nova York, pessoas de todos os tipos passeavam na rua. Embora ela estivesse muito atrás de Nova York em termos de progresso, São Francisco, uma pequena cidadezinha mineira, crescia a olhos vistos.

Mas havia algo na cidade que definitivamente lembrava Peeta de que ele não estava mais em Nova York. O jeito como os senhores algodoeiros brancos passeavam com seus escravos, sempre prontos para lhe servir, o jeito como os chineses do centro olhavam desconfiados para todos os lados e economizavam palavras, como se falar com alguém de outra etnia pudesse ser algo perigoso ou um pecado mortal.

Além é claro dos latinos, que agiam como se todos os outros fossem inimigos. Os poucos negros libertos viviam em guetos, comandados por perigosas gangues. Uma eficaz forma de proteção contra alguns mercenários que eram capazes de sequestrar crianças, mulheres e homens e vendê-los novamente, como se eles já não tivessem conseguido a duras penas sua liberdade.

Aquilo, ele tinha de confessar, o estava deixando aterrorizado. Ele tinha passado metade da vida num internato na frança, como um bom burguês que era. Lá não havia negros logicamente, mas quando ele lia as noticias do seu país um leve tremor de vergonha o assaltava.

Depois, mais velho quando voltou para Nova York, ele tentara se acostumar com algumas injustiças, mas ficara extremamente satisfeito ao saber que a escravidão tinha sido abolida em seu estado. Embora as gangues ainda agissem para deixar que as raças permanecessem separadas. E ele tinha certeza que elas estavam fazendo seu trabalho muito bem.

Assim que soubera de um pequeno movimento para ajudar na libertação dos escravos e para conseguir a abolição definitiva da escravidão, Peeta resolvera que era seu dever ajudar. As palavras do pai, um bom homem, dono de uma indústria sapateira, vieram a sua mente na hora.

Peeta ainda se lembrava do dia em que o pai o levara para visitar a sua fábrica, cheia de trabalhadores, mulheres e homens pobres, que viviam nas zonas mais afastadas da cidade.

Ele deveria ter uns 10 anos e estava prestes a ir para o internato Clarion para meninos, que ficava em Lux na frança. Peeta sabia de algumas histórias sobre patrões que maltratavam empregados, mulheres que morriam nos teares dando a luz, crianças famintas trabalhando 18 horas por dia para conseguir alguma comida.

Ele sabia que a fábrica do pai não era assim, obviamente, mas mesmo assim, ainda estava lotada de miseráveis. Alguns que mal tinham condições de trabalhar, mas que o pai empregava por caridade.

—Está vendo essas pessoas meu filho? Elas são diferentes de você?

Peeta olhou bem para os empregados do pai. Todos eles tinham dois olhos, dois braços (alguns tinham um só, o que era comum por causa dos acidentes de trabalho, mas Peeta fingiu não reparar),duas pernas, uma mente e um coração, assim como ele.

—Não pai, não são.

O pai assentiu aprovadoramente.

—Exato. Mas eles são diferentes de você sim. Você tem mais sorte que eles. Nasceu branco, com uma família em condições de lhe sustentar e lhe educar. Por que isso Peeta?

O menino apenas baixou a cabeça envergonhado.

— Você nasceu com mais sorte para que possa ajudá-los Peeta. Aqueles com as maiores bênçãos são aqueles com maiores responsabilidades para com os seus semelhantes. Nunca esqueça isso. Muitos homens esquecem Peeta, eu não quero que você seja um deles.

E Peeta nunca esqueceu disso. Por isso, assim que ele ouviu falar que precisavam de ajuda para libertar alguns escravos em São Francisco, ele decidiu que era hora de esquecer o fantasma da mulher morta e de sua cidade natal e partir para ajudar.

Quando pisou na ensolarada cidade da Califórnia ele era um jovem viuvo e idealista de 24 anos, com um bom emprego como professor de Inglês e francês na escola mais requintada da cidade. E é claro, sem que ninguém soubesse, um agente dos 19 estados do norte, a procura de libertação dos escravos.

A primeira pessoa com que ele teve contato foi Haymitch Abernathy, um notório bêbado da cidade. Para quem visse de longe, Haymitch era um homem inútil. Mas assim como a maioria dos abolicionistas, Peeta sabia que o bêbado da sua frente era um guerreiro hábil e muito inteligente. O mestiço de um branco e uma india era um homem duro, forte, endurecido pelos anos de combate na Europa.

Depois de alguns insultos, Haymitch finalmente parou para ter uma conversa normal com Peeta. O primeiro conselho do homem foi que arranjasse um assistente. Mas não qualquer assistente. Alguém que entendesse do assunto que ele lecionava, que fosse inteligente, um guerreiro e alguém com interesse em ajudar escravos. Haymitch até tinha um nome em mente

—Katniss Everdeen.

—Uma mulher Haymitch? Não, eu não vou deixar uma mulher se arriscar desse jeito.

Haymitch deu uma gargalhada.

—Docinho, acho que eu teria mais medo por você do que por ela. Além disso- ele parou para beber mais uma dose de rum- Precisamos de alguém como ela. Uma garota, acima de qualquer suspeita. Quem suspeitaria que uma mulher, pequena e de feições tão doces esteja envolvida com algo como ajudar a libertar um escravo por exemplo? Além disso, ela é a única dessa região que consegue falar espanhol e francês tão bem como o inglês.

Peeta passou uma semana remoendo o que Haymitch disse e pensando numa forma de encontrar Katniss. Numa terça pela manhã ele finalmente teve coragem. Procurou por todos os cantos da cidade.

Segundo Haymitch, a moça tinha a estranha mania de se esconder. Peeta não entendeu bem essa parte. Ele já estava perdendo as esperanças quando deu de cara com uma pequena livraria bem no centro da cidade, no território dos Chinas. Ele entrou e não pode deixar de ficar aliviado ao perceber a moça que Haymitch descrevera. Ele poderia estar enganado, mas algo lhe disse que não e Peeta não pode evitar soltar um suspiro de exasperação.

—Graças a Deus, finalmente te encontrei- disse ele se sentando na frente dela.

A garota levantou os olhos do livro que estava lendo confusa. Peeta observou diferentes expressões tomarem conta do seu rosto. Confusão, raiva, medo.

—Ah desculpe, eu deveria estar em casa uma hora dessas- diz Katniss- eu já estou indo.

Peeta reparou que Katniss tinha uma voz doce. Seus cabelos pretos estavam presos com uma fita vermelha e seus olhos cinzas estavam tempestuosos e pareciam dizer “Eu posso ser mulher, mas sei muito bem sobreviver sozinha, por favor, mantenha a distância”. Além disso, a garota tinha uma postura defensiva. Peeta não pode deixar de pensar que nunca antes tinha visto uma mulher tão forte, mas tão vulnerável ao mesmo tempo. E tão... linda.

— Casa? Não eu não estou aqui para falar sobre isso- Peeta se obrigou a dizer algo. – Eu vim lhe oferecer um emprego.

Katniss o olhou desconfiada. Provavelmente sua mente estava trabalhando a todo o vapor tentando decidir se o desconhecido a sua frente era confiável. Peeta então rapidamente começou a falar sobre as aulas que daria, o movimento abolicionista, a eminente guerra entre os estados. Katniss ouvia tudo com atenção.

No fim a garota piscou.

—Eu não sei. Nunca quis me envolver nesse tipo de conflito – diz ela pensativa. Então ela respira fundo -Você pode garantir que minha família não vai ser afetada por isso? Quer dizer pelo meu trabalho?

—Katniss, eu sei que você é uma moça decente. Prometo que sua família não vai ficar falada. Além disso, vamos agir mais às escondidas, você sabe.

Katniss suspirou novamente. Olhou para o livro em suas mãos.

—Eu aceito o trabalho. Pela minha avó, eu aceito o trabalho.

—Sua avó?

Pela primeira vez Katniss sorriu. E isso deixou suas feições tão suaves que Peeta teve vontade de abraçá-la.

—É. Ela era negra.

Ao dizer isso a menina o olhou desafiadora. Peeta apenas sorriu.

—Que bom. Haymitch disse que você fala três línguas.

—Sim e também sei caçar, conheço bem a região, e sei atirar com arco e flecha. Acho que podem ser habilidades bem úteis.

—Com certeza- Peeta disse impressionado.

E os dois conversaram por mais um tempo. Peeta tentou se oferecer para levar Katniss para casa, mas a garota apenas lhe lançou um olhar que deixou claro que isso não era boa ideia.

—Eu não sei como era em Nova York, mas aqui as coisas são diferentes –disse Katniss abrindo a porta para ir embora da livraria- É melhor você ser mais cuidadoso.

E no restante daquele dia Peeta não pode deixar de pensar em Katniss Everdeen.


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Notas finais do capítulo

Então é isso pessoal, espero que tenham gostado. Beijooos



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