Observei com o canto dos olhos, Megan atender ao celular que vibrava no seu bolso.

“Isso é ótimo!” ela murmurou tentando parecer animada. “Talvez amanhã, estou com uns amigos agora” explicou. A voz falou e ela respondeu calmamente “É. Eu te ligo mais tarde”. Ela desligou o celular e voltou a atenção para conversa. Olhou para Kate, que sorriu fracamente. Comunicação sem palavras, bom para os que entendem.

O tempo foi passando e o sol começava a se pôr. Kate e Mike tinham entrado em uma conversa um pouco mais intensa e particular, deixando assim Megan e eu nos bastidores. A partir dos olhares percebia-se a intenção dos dois.

Eu tossi e anunciei “Estou ficando com fome.” Levantei, esticando-me. “Vocês querem alguma coisa?” perguntei.

“Pode ser” Mike murmurou sem tirar a atenção do rosto de Kate ao responder. ”Eu vou te ajudar.” Megan ofereceu.

Desci pelo vão com facilidade e ajudei-a, segurando sua mão. Descemos as escadas em direção à cozinha. Ela sentou-se no bancada de mármore e me encarou “As coisas vão ficar boas lá em cima.” Ela sorriu “Eu espero que fiquem mesmo.” Respondi abrindo a geladeira, retirando latas de refrigerante. Um barulho foi ouvido e o celular de Megan novamente vibrou, só que dessa vez cessou com mais rapidez. “Alguém tem muitos fãns” eu provoquei enquanto abria os armários em busca de pacotes de biscoito e batatas fritas. Ela riu sem humor e revirou os olhos, leu a mensagem e respondeu rapidamente.

“Quem era?” perguntei ao abrir uma embalagem de pipoca e coloca-la no micro-ondas. Ela demorou de responder e eu me virei para fitá-la. Ela tinha um olhar de dúvida, como se decidisse se contaria ou não.

 “Logan.” Ela respondeu brevemente. Busquei no fundo da minha memória, mas não me lembrei de nenhum conhecido com nome Logan. “Eu conheço?” abri uma lata de refrigerante.

“Não... ele é novo no colégio. Senior year como nós, chegou ano passado.” Ela respondeu receosa, medindo as palavras com cuidado. “Ele parece gostar muito de você, em pleno domingo não deixa seu celular parado” brinquei e logo após dei um gole na bebida gelada. A expressão dela mudou drasticamente, como se doesse dizer o que ela diria. “Nós saímos algumas vezes e estamos namorando.” Ela explicou observando minha reação.

As palavras me atingiram como navalhas. Cortando-me internamente, riscando e queimando minha pele. Era como se meu corpo estivesse coberto por gasolina e ela tivesse ateado um isqueiro em mim. Eu reprimi a dor e encarei-a por alguns instantes, sem fala. Meus dedos tocaram a bancada fria e sorri fracamente. “Legal. Sorte a dele.” Murmurei baixo, mas o suficiente para ela escutar.

Ela me olhou parecendo desapontada e trinquei o queixo com raiva. Era eu quem deveria estar olhando para ela desse jeito. Dei as costas  para despejar a pipoca e segurei o recipiente com mais força do que o necessário.

Eu não sabia ao certo o que estava sentido. Mas tentei afastar ao máximo todas as emoções do meu rosto, permanecer apático. Ela me ajudou a carregar as coisas escada a cima, eu a segui até o meu quarto, quando ela repentinamente parou virando-se para mim. Observei seu cabelo preto, era liso e caia ondulado nas pontas, o jeito como ela parecia frustrada e machucada, os olhos de um azul elétrico transmitiam nada mais nada menos que confusão. “Esse silêncio constrangedor vai durar para sempre?” ela perguntou irritada.

Arqueei uma sobrancelha e dei um passo na direção dela, diminuindo consideravelmente o espaço entre nós dois.

 “O que você realmente quer que eu diga?” perguntei insolente e sarcástico. Ela deu um pequeno sorriso difamador e encarou-me “Talvez algo mais do que um ‘legal. Sorte a dele’.” Ela imitou uma voz grossa que não soou nada parecida com a minha.

 Eu era supostamente para ficar sério, mas não pude evitar de rir. Ela me olhou ameaçadoramente. Balancei a cabeça e com um sorriso ainda nos lábios e respondi “Não posso fazer nada se não é o que você esperava, mas eu não vou dar a vocês parabéns nem desejar felicidades”.

“Eu não pedi por isso, Zack.” Ela sussurrou cansada.

“Sem arrependimentos então.” Contornei a silhueta dela e subi novamente passando pelo vão. Ela recusou minha ajuda e chegou ao telhado por conta própria.

Sentamos em silêncio e tanto Mike quanto Kate tinham um sorriso estampado na cara. “Vocês não andaram se pegando por aqui não é?” perguntei rindo. Mike revirou os olhos e Kate bateu no meu braço.

Enquanto comíamos nem eu nem Megan trocamos palavras. Quando a noite caiu, descemos para meu quarto novamente, só que dessa vez todos os quatro.

Mike e Kate levaram as coisas até a cozinha e como nós tínhamos preparado, eles lavariam. Quando digo “nós” quero dizer eu.

Megan caminhou pelo corredor e antes que pudesse chegar a escada, segurei sua mão delicadamente. Ela se desprendeu imediatamente.

“Meg... por favor” supliquei em tom baixo. Ela girou e me olhou cruzando os braços.

 “Você fala as coisas sem querer Zack e machuca sem perceber.” Ela sussurrou. Aquilo sem dúvidas me atingiu certeiramente. A única coisa que eu não queria era machuca-la, mas era como se fosse a única coisa que eu fazia.

Passei a mão pelo cabelo e respondi “Eu não sabia o que dizer. Eu sei que não tenho direito nenhum de sentir o que estou sentindo, porque quem foi embora fui eu e não você, mas falar é tão mais fácil do que fazer.” Coloquei as mãos nos bolsos da bermuda e levei meu olhar ao seu rosto.

“Eu é que pensei que isso tudo não seria tão difícil. Ignorar me parecia a solução.” Ela suspirou, abaixando o olhar, encarando o chão.

Aproximei meu corpo ao dela e levantei suavemente seu queixo. Ela fechou os olhos, meu intuito era beijá-la, mas sabia que não deveria fazê-lo. “Então não ignore” sugeri esperançoso.

Ela abriu os olhos devagar e me fitou ternamente com um meio sorriso nos lábios rosados “Como você disse, fazer é muito mais difícil do que falar” eu sorri e a envolvi em um abraço que foi retribuído com a mesma necessidade. “Vamos tentar fazer com que isso dê certo. Eu quero você mesmo que seja somente como uma amiga. Eu não posso nem vou te perder novamente.” Sussurrei ao ouvido de Megan, que comprimiu as mãos em minhas costas.

Era uma conversa franca, mas isso não a faria terminar com Logan e correr para os meus braços e não era isso que eu queria. Eu a queria feliz, comigo ou com qualquer outro cara.

Descemos as escadas e ficamos na cozinha com Mike e Kate, que lavavam os pratos sorridentes como sempre. O clima não estava mais pesado e voltamos a rir com as babaquices de Mike.

Nos despedimos e as garotas foram embora logo depois, prometendo que iriamos fazer algo essa semana.

“Qual ou quem é o porquê de tanta felicidade?” perguntei a Mike que sorriu radiante em minha direção.

“Eu não vou descansar até não ter Kate de volta.” Eu ri e ele deixou a sala com sua aura iluminada.

Eu não podia dizer o mesmo. Não queria enfrentar o que já estava determinado, mas eu sabia que não seria a mesma coisa comigo e com Megan. Eu a amava e sempre amaria só que eu já havia errado muito com ela e não me permitiria fazê-la sofrer novamente. Não iria. Isso não queria dizer que iria desistir dela. Só digamos que o tal Logan passaria a se preocupar um pouco mais.