Ponto de vista – Megan

Porque eu tinha que ser tão estúpida? O que ele tinha de tão especial para me fazer me sentir impotente desse jeito? Como se quanto mais eu me esforçasse para não me importar e trancafiar esses sentimentos no fundo da minha alma, ele conseguia encontrar o caminho das minhas fraquezas, como só com um olhar ele podia quebrar a barreira que eu demorara tanto tempo para construir no intuito inútil de parecer forte e inabalável, mas com ele por perto, as coisas não eram bem assim.

Lá estava ele. Apoiado na parede, próxima ao arco da sala de estar. Reprimi o desejo de sorrir feito uma idiota ao vê-lo. Não sabia o que ao certo me atraia a ele, se era o sorriso irônico ou o sarcasmo evidente no fundo dos olhos azuis. Olhos como o oceano, escuros e agitados, que me prendiam e me faziam ficar perdida, perdida num jogo que ele controlava.

É claro que eu evitava o máximo transparecer essas sensações e com a prática de dois longos anos eu já estava mais do que boa nisso. Mas de fato não podia afastar o brilho dos meus olhos ao encontrar os dele.

Ele caminhou calmamente em minha direção com um sorriso torto que faria qualquer garota se derreter imediatamente. Eu não. Ao menos não mais. Eu tentava me convencer, mas fracassava cada vez mais. Ele me conquistava mesmo sem tentar.

Senti a sua pele quente ao passar um dos braços pelos meus ombros. Fitei o rosto de Zack e só agora pude observá-lo realmente de perto já que na festa minha cabeça estava muito confusa para reparar nele detalhadamente. Confusa não só por revê-lo, pelo álcool também.

O cabelo macio e de cor castanho claro estavam bagunçados como sempre. A pele alva e a barba mal feita davam a ele um ar charmoso e elegante. Zack era alto, deveria ter por volta de 1,75 a 1,80 de altura. Tinha um corpo bonito, com os músculos esguios e bem definidos, mas nada muito exagerado. Os traços eram tranquilos e os dentes brancos formavam um sorriso encantador.

Ele separou-se de mim e deu um abraço carinhoso em Kate. “Eu senti tanta falta de vocês.” Kate murmurou com a voz embargada. Zack riu levemente e beijou o topo da cabeça dela, que se aconchegou mais ao seu peito.

Quando se desvencilharam, Kate exigiu saber tudo sobre a Inglaterra e eu a acompanhei no pedido, já que na sexta, as poucas horas que passamos juntos não resumiriam dois anos em Londres.  

Mike fez menção de nos sentarmos no jardim, mas Zack negou com um sorriso nos lábios. “Já que estamos todos nós aqui depois desse tempo todo, nada mais que justo que o lugar seja mais que especial.” Ele disse indo em direção as escadas. O acompanhamos, com risos ecoando pela enorme casa. Todos nós já sabíamos para onde estávamos indo. Zack abriu a porta de seu quarto e estava do jeito em que eu havia visto da última vez em que estivemos todos os quatro aqui. A cama bagunçada, roupas pelo chão e papeis espalhados por todo canto. “Faz dois dias que você chegou e isso já está nesse estado?” Kate perguntou fazendo-nos rir. “Não sou um exemplo em organização como se pode ver” Zack sorriu e puxou a grande cadeira preta de rodinhas do computador.

Ele a posicionou abaixo de um fundo de madeira e subiu retirando com pouco esforço o fundo que se abria para o telhado da casa. Desceu da cadeira e colocou a peça no chão. “Vão subindo que eu vou pegar uma coisa antes.” Ele falou, indo em direção à mesa do computador.

Não foi tão difícil de subir já que Mike nos ajudava e o teto não era tão alto assim. Aquele lugar era sem dúvidas o mais marcante da nossa amizade. Lembro-me das longas tardes e noites que passávamos no telhado da casa de Zack, rindo e conversando, bebendo cervejas roubadas da geladeira e observando a vista da cidade.

O sol estava ameno, não muito quente pelo horário. Lá de cima, podíamos observar as ruas com diversos carros circulando, as pessoas que iam de um lado para o outro e a paisagem de Los Angeles. Era uma cidade linda com seus prédios imponentes, as casas com seus jardins gigantes, as palmeiras altas em todos os cantos nas praias cheias de moradores e turistas, o mar e seus surfistas que nunca se cansam das ondas da cidade mais populosa da Califórnia.

Nos sentamos em uma parte não tão inclinada do telhado e Mike nos contou de uma das viagens que eles haviam feito pela Europa, fazendo música para conseguir dinheiro, dormindo nas estações de trem e caminhando na madrugada pelas ruas das cidades europeias. Sorri com a imagem, era bem típico dos dois algo desse tipo. Lembrava-me vivamente das minhas viagens, de como era bom sentir a liberdade que aquelas cidades proporcionavam.

Zack apareceu pouco tempo depois se sentando ao meu lado e ligando a caixa de som, deixando assim a playlist de seu Ipod preencher o silêncio que nos cercava.

“Eu tinha me esquecido de como era bom ficar aqui” eu murmurei deitando-me calmamente. “Nem fale” Mike completou.

“Kate, você estava na casa de John sexta? Não te encontramos em lugar nenhum.” Zack perguntou, espreguiçando-se.

“Eu até fui, mas não passei mais de trinta minutos por lá. Passei mal, não sei por quê.” Ela respondeu olhando o horizonte a nossa frente. “E a proposito, o que rolou de bom por lá? Quero saber das histórias” ela exigiu.

“Nada demais. Nick estava lá.” Murmurei desinteressada, observando o céu azul e suas nuvens brancas como algodão.

“Como ele está?” ela perguntou indiferente. “Bem... eu acho. Não falei com ele.” Respondi. “Você é ridícula.” Ela riu e Mike me olhou com a sobrancelha arqueada. “Quem é esse?” ele perguntou.

“Um amigo de Megan” Kate me olhou maldosa e eu sorri cinicamente, revirando os olhos. “O amigo é seu.” Nick era um garoto que havíamos conhecido em um café e tentara algo com Kate e comigo no mesmo momento que passamos pela porta. Mike continuara com uma cara confusa e a conversa fluiu. Era como se aqueles dois anos nunca houvessem acontecido. Quatro amigos escutando música no telhado, contando piadas e se divertindo. Acho que todos nós tínhamos sentido falta disso.

Falávamos sobre a vez em que eu e Kate paramos na delegacia por estarmos bebendo em uma festa clandestina. Mike ria enquanto Kate contava que depois do episódio, os pais dela a trataram como uma presidiária, que só tinha direito a comer, ir ao colégio e dormir.

Meu celular vibrou no bolso do short e parei de rir para atender a ligação. Era Logan. Meu namorado.