A semana foi passando e os dias se arrastando lentamente. Era uma quarta-feira quando resolvemos ir à praia com alguns amigos.

Levantei da cama pesarosamente e estiquei os braços, tentando afastar o sono. Olhei no relógio digital que com seus números vermelhos marcavam 14:10 PM.

Caminhei até a mesa do computador e chequei o celular por mensagens. Kate perguntava-me que horas sairíamos. Digitei agilmente que em 15 minutos estaríamos saindo de casa. Tomei um banho rápido e vesti uma bermuda preta e uma camisa regata de tecido fino verde escura cortada nas laterais.

Encontrei Mike na cozinha bebendo água e ele me cumprimentou com um balançar de cabeça. Peguei minha sandália de dedo e avisei a uma atarefada Marie que iriamos sair. “Você chamou Carly para ir com você?” Mike perturbou ao entrar no banco do passageiro do carro. Revirei os olhos e ri sem humor “Se ela estiver lá... irei apresentá-la a você” disse ligando o motor e retirando o carro da garagem. “Acho que ela vai estar muito ocupada se insinuando para você.” Ele riu escolhendo uma estação no rádio.

Chegamos à praia sem muita demora, Santa Monica ficava a 30 minutos do centro de L.A. A praia não estava muito cheia. Fazia um belo dia, o sol estava disposto e o céu sem muitas nuvens, mas era uma quarta à tarde e muitas pessoas deveriam estar trabalhando.

Estacionei o carro e caminhamos pelo píer de madeira. As lojas na costa estavam com seus letreiros ligados e com seus clientes gastando rios de dinheiro em suas mercadorias. Mike telefonou para John dizendo que já estávamos na praia. “Eles estão perto um pouco mais na frente” Mike comentou, guardando o celular. Andamos por alguns minutos e vimos ao longe um grupo sentado em cadeiras de praia e toalhas, com dois sombreiros coloridos e uma caixa de som.

Deixamos o passeio onde bicicletas circulavam de um lado para o outro e descemos rumo a areia. Um grupo com cinco garotas passou ao nosso lado e lançaram olhares sedutores, flertando. Mike sorriu para as garotas e eu revirei os olhos com um sorriso nos lábios. “Onde está aquele papo todo de não irei descansar até ter Kate de volta?” perguntei rindo. “Eu não desisti dela, mas isso não quer dizer que enquanto insisto eu não posso me aventurar com outras garotas. Belas garotas por sinal” ele disse olhando para trás. Elas eram realmente bonitas. Tinham uma cor bronzeada e as curvas bem definidas. “Em Londres, as mulheres não se mostravam tanto assim” ele completou referindo-se ao clima e ao biquíni mínimo que usavam.

Jason beijava Mandy calorosamente quando chegamos. “Vocês vão se engolir ou o que?” Kim riu. “As moças chegaram, mas que demora!” John bradou. Abracei-os e me sentei ao lado de Chase que afinava um ukulele velho e com marca de adesivos no tampo. “Isso nunca vai afinar!” ele murmurou frustrado. Puxei o instrumento de sua mão e sem muito esforço o entreguei afinado. Kate sentou-se ao meu lado e abraçou minha cintura, passei o braço por seus ombros e ela perguntou “Ainda vamos sair à noite?” lembrei de que nós quatro havíamos combinado de ir ao shopping. “Sim, acho que continua certo.” Respondi.

“Onde está Megan?” Mike perguntou, servindo-se do refrigerante de Jason. Kate hesitou “Deve estar chegando por ai. Vocês dois vão conhecer alguém... especial hoje” ela sorriu sem graça.

Maravilhoso! Revirei os olhos. Nosso amigo Logan iria se juntar conosco. Kate percebeu o olhar no meu rosto e apertou um pouco as mãos sobre minha cintura. Eu sorri e ela me deu um sorriso vacilante.

John apareceu com um potinho com ursos de gelatina. “Aceitam?” ele riu travessamente. Mike caiu na jogada e pegou um punhado das balas coloridas. Era tendência nos EUA alcoolizar os ursinhos. Eram colocados em vodka e a gelatina absorvia o liquido, recheando-o com a bebida.

Kate levantou-se e deitou-se ao lado de Mandy. Ela usava um biquíni realmente curto e provocativo. E eu não tinha sido o único a perceber, já que Mike olhava fixamente para as pernas de Kate. Eu ri com a imagem e pedi o ukulele a Chase.

 Cantamos algumas músicas ao som calmo e tranquilo do instrumento, eu observava o mar extenso e agitado quando Megan e um garoto apareceram de mãos dadas não tão distantes de nós.

 Observei o cara que tinha um sorriso displicente no rosto. Era alto, moreno, o cabelo preto e exibia o corpo malhado com prazer.

Direcionei meu olhar para Megan e meus olhos se perderam por alguns instantes em seu corpo. Ela usava um short jeans curto e esfiapado, pondo à mostra as longas pernas e bem torneadas panturrilhas. Tinha o cabelo preso em um coque desajeitado, a parte de cima do biquíni era listrada, misturando branco com azul marinho, a barriga lisa e com as curvas acentuadas na pele alva de sempre. Ela encontrou meus olhos que subiam pela sua silhueta e corou levemente. Eu sorri e ela com as bochechas ainda vermelhas, trouxe Logan pela mão.

“Oi pessoal” ela cumprimentou com um aceno. “Pensamos que não viriam mais” disse Mandy sorrindo. “A culpa é minha, acordei tarde.” Logan assumiu. “Sem problemas, o importante é que chegaram!” John o abraçou e em seguida abraçou Megan.

Mike que estava sentado ao meu lado cutucou minha costela. Eu o olhei e ele ofereceu uma lata. Coloquei o ukulele sobre a toalha e abri a bebida com um estampido.

 Pouco tempo depois, ao terem terminado de falar com todos Megan e Logan pararam em frente a mim e a Mike.

“Logan, esses são Zack e Mike, aqueles amigos que voltaram da Inglaterra que eu te disse” ela nos apresentou. “Ouvi falar muito de vocês, caras.” Ele disse apertando a mão de Mike que retribui o aperto.

Ele estendeu a mão para mim, que a olhei e respectivamente apertei. Megan me olhava de cima, com um sorriso sem graça nos lábios. “A vida em Londres é muito diferente da daqui?” ele perguntou tentando ser amigável. “Você não imagina o quanto” Mike respondeu educadamente. “Faz muito menos calor por lá” eu brinquei e Logan riu. “Vou me sentar com as garotas” Megan murmurou apertando levemente o braço do namorado que balançou a cabeça em aprovação.

Logan puxou uma cadeira e sentou-se ao lado de John, em frente a mim e a Mike. “Vocês jogam alguma coisa no colégio?” ele perguntou. “Além de videogames? Não.” Eu respondi, ajeitando-me na cadeira de praia. Ele riu novamente e Mike perguntou “E você?” John sorriu e pousou a mão no ombro do garoto “Esse daqui, é o quarterback principal no time de futebol americano” ele disse orgulhoso do amigo. “Seria bom se ele jogasse lacrosse, mas...” John sorriu.

A conversa prosseguiu sem maiores acontecimentos, conversávamos sobre os jogos da temporada e da vitória do time no campeonato do ano passado.

“Zack chega aqui” Jason gritou, sentado ao lado das garotas. Levantei e sacudi a areia da bermuda com as mãos. Quando sentei ao lado dele recebi um olhar curioso de Megan. “Diga” falei, encarando Jason. “Estou com umas pranchas ai. Ainda lembra como se surfa?” ele riu. “Não, mas estou dentro.” Sorri.

Fomos até o estacionamento e tiramos as duas pranchas da caminhonete prateada de Jason. “Só vê se não vai quebrar” ele debochou. “Estou sem prática, mas não cheguei ao nível Mike não” rimos com a lembrança do dia em que Mike quebrara uma de suas pranchas ao meio quando batera em uma pedra.

Voltamos à praia e nos sentamos nos mesmos lugares. Jason parafinou as pranchas e pouco tempo depois disse que já estavam prontas. Levantei e retirei a fina camiseta, colocando-a ao lado da bolsa de Kate. “Tem andado na academia hein?” Kate perturbou, com o olhar em mim. Eu a olhei, revirando os olhos. “Você também não está nada mal” disse enquanto abaixava-me para pegar a prancha. “Eu sei” ela riu e eu a acompanhei. Megan sorria para nós dois e ao encontrar seus olhos, sorri levemente.

Eu e Jason descemos em direção ao mar e pude ouvir Mike gritar “Vão ser esmagados.”

A água estava gelada e estremeci com o contato. Nadamos sobre a prancha até estarmos mais distantes da costa, próximo aos outros surfistas que se divertiam entrando nas grandes ondas da praia de Santa Monica.

 “Isso vai ser bom!” Jason gritou. As ondas vieram grandes e avassaladoras. A sensação era incrível, como se esquecer-se do mundo e de tudo fosse a coisa mais fácil a se fazer. Depois de vários caldos e tubos, resolvemos voltar e nos sentar.

Largamos as pranchas e eu me sentei na toalha ao lado de Kate que conversava animadamente com uma Megan rodeada pelos braços do namorado. Se eu estava com a garganta seca e um ciúme que corroía meus órgãos? Claro que sim. Olhei para o chão e passei as mãos pelo cabelo molhado. E eu que me considerava forte o suficiente para aguentar de cabeça erguida ter a garota que eu amara por tanto tempo nos braços do quarterback do time de futebol americano. Sorri para mim mesmo e me senti patético. Não podia culpa-la ou a Logan. Ela fez o certo e seguiu em frente já que quem a deixou sofrendo fora eu, o mesmo cara que teimava em ceder aos próprios sentimentos e continuar amando-a incondicionalmente quando já deveria ao menos ter tentado esquecê-la. Mas, ela era boa demais para ser esquecida assim tão facilmente e por mais que eu quisesse simplesmente não conseguia.

Levantei-me repentinamente, irritado. Peguei minha camiseta e larguei as chaves do carro no colo de Mike que me olhou confuso. “Ei Zack! Aonde você vai?” ele perguntou. “Já volto” respondi friamente enquanto caminhava pela areia fofa da praia. “Qual é o problema com ele?” pude ouvir John perguntar-se.

Eu sabia bem qual era o meu problema: culpa.