O lápis parecia cair em câmera lenta, o professor parecia falar o mais devagar possível, os pássaros pareciam flutuar enquanto batiam as asas lentamente. Tudo isso era culpa do tempo. Sim, aquele dia estava passando de forma tão lenta que tudo à sua volta parecia mais lerdo. Não importava quantas vezes olhasse para o relógio, os minutos demoravam horas para passar.

Olhou discretamente para o lado e encontrou apenas uma Alexia com um sorriso bobo no rosto enquanto não prestava atenção alguma na aula, não muito diferente de sí mesma mas tinha certeza que não tinha aquele sorriso no rosto. Pelo visto tudo estava bem entre ela e Connor...

-Alice... - Alexia disse baixinho.

Apenas olhou na direção da amiga. Sinal de que havia escutado.

-Eu preciso te contar uma coisa depois... - ela sussurou.

Apenas afirmou com a cabeça e voltou a virar para frente, ainda sem escutar uma palavra que saia da boca de seu professor.

Ao ouvir o sinal bater depois de três aulas, finalmente pôde se levantar e esticar um pouco os braços. Quando olhou para o lado, Alexia já se encontrava ao seu lado com aquele mesmo sorriso de antes ou até maior ainda.

-Alice! O Connor disse que vai se transferir para nossa sala! E ele tinha dito logo depois que eu disse que ele especial para mim.

-Em outras palavras, você se confessou?

-Não! - disse vermelha - Como amigo... - disse olhando um pouco para baixo.

-Sei...

-Não acredita em mim Alice?

-Acredito... - disse com um tom de irônia.

-Não está sendo sincera! - disse fazendo bico.

-De qualquer forma, vamos sair da sala? Quero andar um pouco. - disse se levantando.

-Vamos chamar o Connor?

-Vai lá, apaixonada.

-Ei! - disse brava.

-Oh? Estou interrompendo algo? - Connor surgiu de repente.

-N-não, é... c-claro que-que...! - Alexia disse nervosa.

Connor como sempre se divertia olhando a reação de Alexia. Ele sorria enquanto via a garota se enrolar enquanto tentava formular alguma frase. Quando Alexia finalmente conseguiu dizer que não era nada Connor voltou sua atenção para Alice, mais uma vez sorria docemente da mesma forma que no dia anterior. Alice mais uma vez sentiu aquele frio percorrer pelo corpo todo.

-Bom dia Alice.

-Bom dia. - respondeu.

Agora que o observava melhor conseguiu perceber alguma coisas diferentes nele, fora do comum mas que estavam de certa forma bem escondidas por trás daquela personalidade perfeita e amigável. O sorriso parecia verdadeiro mas Connor sorria com tanta facilidade que Alice passou a achar um pouco estranho e mais uma vez estava carregando uma caneta vermelha.

-O que houve Alice? - Connor perguntou.

-Nada.

Por um momento sentiu que Connor a observava de forma diferente mas quando olhou em sua direção, o garoto sorria como sempre como se nada estivesse fora do lugar.

-Vamos comprar um suco? - Alexia perguntou.

-Vamos. - Connor respondeu.

-Tá. - Alice disse enquanto olhava para Connor.

Os três foram até a cantina mas deixaram Alexia na fila, enquanto os dois esperavam em uma mesa. Afinal não iriam comprar nada.

-Alice, tem certeza de que não há nada de errado? - insistiu mais uma vez.

-Não é nada, apenas uma pequena preocupação.

-Com o que?

-Os assassinatos que estão ocorrendo.

Obviamente não iria dizer que ele a estava preocupando e o achava estranho.

-Oh? Isso? Acho que não deveria se preocupar. - disse enquanto olhava para a enorme fila.

-Acho que você também deveria se preocupar, todos têm ocorrido aqui perto.

-É, acho que sim. Talvez eu deva mesmo me preocupar...

-Então eu também preciso, não?

-Talvez, eu não sei.

-Como não sabe?

Ele não respondeu, sorriu ao ver que Alexia voltava e logo se sentou à mesa.

-Do que estavam falando? - perguntou abrindo a lata.

-Que deveriamos tomar cuidado.

-Por que?

-Os assassinatos. - respondeu ainda pensando na forma estranha que Connor agia.

-Não acho que pode acontecer com a gente. - Alexia disse.

-Esse é o pensamento de qualquer pessoa descuidada. - Alice disse.

-Alice está certa, Alexia. Não ande sozinha nas ruas.

Agora ele concordava? Não entendia o porque daquele comportamento ou a facilidade em mudar de opinião. Alice cada vez mais sentia que deveria se afastar o mais rápido do garoto e de alguma forma fazer com que Alexia faça o mesmo, sua amiga era muito ingênua.

-O sinal já vai bater, acho melhor voltarmos para as salas. - Alice disse.

-Vou deixar vocês em sua sala.

-Muito obrigada, Connor. - Alexia agradeceu.

Connor deixou as duas na sala e voltou para a própria. Quando não sentia mais a presença de Connor, Alice pode finalmente se acalmar. A cada segundo que passava ao lado dele sentia uma pressão enorme sobre sí, como se observasse todos os seus movimentos o que era assustador , como se estivesse a perseguindo. Nunca pensou que acharia a sala de aula um bom lugar para ficar.

As horas passaram e a aula finalmente acabou. Alice disse à Alexia que ela podia ir na frente, tinha assuntos para resolver ali na escola. Alexia concordou e foi para casa antes obviamente procurando por Connor.

-Que cansativo... - ela disse suspirando - Espero que ela esteja aqui ainda...

Alice saiu da sala, foi para os fundos da escola onde parecia estar abandonado exceto pelo pequeno animal ferido em uma cesta feita de palha. Aquele era o seu importantíssimo assunto.

-Parece melhor. - disse sorrindo - Comeu a comida que deixe e tomou um pouco de água... Espero que melhore logo...

Quando havia a encontrado, estava toda ferida provavelmente havia sido atropelada mas sobreviveu por pouco, haviam arranhões em todas as partes do corpo e mal conseguia se mexer esperava o pior chegar lentamente mas Alice a encontrou e a levou para a escola, tinha certeza que sua tia não deixaria cuidar de um animal em casa. Desde então todos os dias ia até os fundos da escola para cuidar do animal ferido.

Acariciou a cabeça da gata e ela fechava os olhos apreciando o carinho. Mas, de repente ouviu um barulho alto logo seguido de um grito.

-Por favor! Eu juro que não fiz nada! Por que está fazendo isso?!

Ouviu mais um barulho então tudo ficou em silêncio. Sabia que não deveria se intrometer, sabia que podia ser perigoso, e sabia por cima de tudo que podia ser o assassino. Alice se levantou e foi até onde havia escutado os barulhos com cuidado tentando fazer o menor barulho possível.

-Eu realmente não sei porque tenho essa vontade, mas fazer o que?

A voz era familiar. Se aproximou um pouco mais e pode ver um garoto de costas olhando para o corpo sem vida no chão com um sorriso satisfeito no rosto. Segurava um cano na mão direita e a esquerda uma caneta vermelha. Era Connor...

Ele se abaixou ficando próximo do corpo do jovem. Retirou a tampa da caneta e começou a escrever em seu braço algo que não conseguia ler de longe. Quando terminou se levantou ainda observando o corpo.

Alice sente uma enorme vontade de gritar mas não podia. Não conseguia pensar em mais nada. Deu passos para trás e sem querer derrubou algumas caixas, percebendo a bestira que fez, rezava mentalmente para que ele não tivesse escutado mas ao olhar para ele viu que ele olhava em sua direção...