Gostosuras Ou Travessuras? escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 1
A aposta




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DUAS SEMANAS ANTES DO HALLOWEEN

DC acompanhava o cortejo fúnebre junto com seus pais e seu irmão. Sua mãe chorava muito pela morte da tia dela, assim como outros parentes. Ele e Nimbus permaneciam sérios apenas para respeitar o momento. Sua mãe tinha lhe dito que se fizesse piadas no velório, ele ia ficar sem poder tocar baterias por pelo menos três meses.

“Fala sério, que coisa chata! Por que em todo velório o povo tem que ficar tão deprê desse jeito?” ele foi pensando com os próprios botões, imaginando que em seu velório não ia ter nada daquilo. Nem pensar, ele não queria saber de choradeira, depressão e narizes assoados em seu velório. Ao invés disso, ia ter festa, música, boa comida e bebida e todos dançariam alegres celebrando sua passagem para a outra vida. Talvez até algumas strippers, por que não? Ia ser um velório totalmente Do Contra.

Antes de descerem o caixão, as filhas da falecida resolveram fazer um discurso, entre lágrimas e lamentos e ele procurou disfarçar o seu tédio. Será mesmo que elas lamentavam a morte da mãe? Ele não sabia. Sabia apenas que elas estavam falando mais do que sua paciência podia agüentar.

Para tentar distrair um pouco, ele começou a olhar para os lados a procura de algo mais interessante e deparou-se com um vulto preto andando por entre os túmulos junto com uma turma bem singular. Ele firmou um pouco a vista e viu que era um fantasma, uma múmia e um vampiro caminhando com uma mulher alta, vestida de preto e segurando uma foice.

“Ih, olha só! É a D. Morte! Há quanto tempo eu não vejo ela!” A última vez que o rapaz viu a ceifadora foi quando ela levou Bianca embora. Embora parecesse assustadora, ela até que foi bem simpática ajudando-os a salvar a Mônica que tivera seu corpo invadido pela Bianca.

DC olhou de novo para seus parentes e viu que todos estavam muito distraídos com o discurso. Ou só estavam entediados demais com tanto falatório e acabaram se perdendo em seus próprios pensamentos para ajudar a passar o tempo, não havia como saber. O rapaz aproveitou-se desse momento de torpor coletivo e saiu dali sorrateiramente para seguir o estranho grupo.

Ele seguia os quatro tomando cuidado para não ser visto. E para sua sorte, eles pareciam bem distraídos, rindo e conversando entre eles.

“Poxa, será que ela vai levar alguém agora? Essa eu quero ver!” para sua decepção, eles pararam em frente a uma casa que tinha o aspecto meio assustador, como se fosse daquelas que apareciam em filmes de terror e ficaram conversando por mais um tempo até que o vampiro, a múmia e o fantasma se despediram da D. Morte e seguiram seu caminhos enquanto ela entrava na casa. E mais nada de interessante aconteceu.

Ao imaginar que aquela devia ser a casa da D. Morte, DC resolveu dar uma espiada pela janela só para matar a curiosidade. Contrariando suas expectativas, os vidros das janelas estavam bem limpos e ele pode ver seu interior, também limpo e bem arrumado.

Ele até que ficou bem intrigado porque pensava que a casa dela devia ser toda suja, repleta de teias de aranha e móveis velhos e estragados. O que ele via ali, no entanto, era um cenário um pouco diferente. O estilo da decoração era gótico sim, meio assustador, mas não da forma como ele esperava.

Preocupado em não demorar demais e acabar sendo castigado pela sua mãe, ele resolveu voltar logo prometendo a si mesmo que um dia voltaria para entrar e explorar o local com mais calma. Ia ser totalmente emocionante!

Com a ida de Bianca, a casa ficara abandonada e tinha perdido toda a graça para ele. E para piorar, alguém tinha comprado o terreno e estavam demolindo para construir um prédio todo moderno e luxuoso. As pessoas pensavam de forma tão pequena e limitada!

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UM DIA ANTES DO HALLOWEEN

A turma toda estava em polvorosa com a festa de Halloween que daquela vez ia ser dada na casa da Carmen. Assim não teria como Mônica, Cebola, Magali e Cascão errarem o endereço como tinham feito no ano anterior. O assunto deles girava sempre em torno da festa e das fantasias que cada um pretendia usar.

As garotas tagarelavam alegremente entre si, e Denise era a que mais falava, descrevendo como ia ser a sua fantasia de diabinha.

– Eu vou ficar um arraso, vocês vão ver só! Vai ter rabinho, chifrinhos, tridente e tudo!

Mônica deu um sorriso maldoso e alfinetou.

– Puxa, vai combinar direitinho com você!

As outras riram enquanto Denise acompanhava tudo com aquela cara de “o que será que ela quis dizer?”

– Eu vou de Morticia Addams! Sempre quis usar essa fantasia! – Maria Mello falou também empolgada com sua fantasia. Ela tinha feito regime durante semanas para ficar bem linda e esbelta com aquele vestido justo.
(Carmen) - Pois eu vou de gatinha! Minha fantasia é toda preta, tem orelhas bem fofas, uma cauda com um laço na ponta...
(Marina) – A minha é de feiticeira!
(Mônica) – Esse ano eu quero ir de vampira. Minha fantasia já tá pronta e ficou um luxo!
(Denise) – Perfeito! E você nem vai precisar colocar dentes postiços. Só espero que sua fantasia seja plus size!
(Mônica) – COMO É QUE É?

As garotas deram uma risada e Denise saiu correndo dali, também morrendo de rir da cara que a Mônica tinha feito.

No outro lado da quadra, os rapazes também conversavam sobre a festa, cada um querendo exaltar a própria fantasia e provar que ela era a mais assustadora de todas.

(Cascão) – A minha vai ser toda preta com ossos desenhados pra parecer um esqueleto!
(Cebola) – Eu vou de vampiro, vai ter até sangue falso em volta da minha boca!
– Maneiro! – os outros falaram e Cascão acabou soltando a língua.
– Ele fez pra combinar com a fantasia da Mônica.
– Cascão!

O resto do grupo caiu na risada, com a exceção do DC que não tinha gostado nem um pouco daquilo. Aquele careca infeliz vivia rodeando a Mônica mas não fazia nada para ficar com ela. E para piorar, Mônica estava com a cabeça virada por causa dele, o que atrapalhava a sua aproximação.

– Sua fantasia tá muito previsível, que coisa mais sem graça! – ele falou torcendo o nariz.
– Blé! Você tá é com inveja!

Ele notou que Cebola não estava se referindo somente a própria fantasia quando disse que ele estava com inveja e aquilo o irritou um pouco mais.

– Hunf! Você fica aí se fazendo de valente, mas quem praticamente salvou a Mônica da Bianca fui eu!
– Vai começar isso de novo? Você sabe muito bem que não fez nada sozinho!
– Ah, é? E quem foi que teve a brilhante idéia de convencer o Mauricio falando que o Toni poderia ser descendente dele? Se dependesse só de você, tanto a Mônica quanto ele estariam mortos hoje!

Os outros rapazes acompanhavam a discussão, ora olhando para um, ora para outro e calculando o tempo que levaria até os dois rolarem no chão trocando socos.

– Grrr! Até quando você vai ficar por aí se exibindo?
– Quem pode, pode, careca.
– Grande porcaria! A Bianca quase me matou e eu acabei sobrevivendo! Você não teria aguentado nem a metade!
– Eu teria aguentado muito mais! Você é que não passa de um banana que vive choramingando por causa das coelhadas que a Mônica te dava (e com razão)!
– Banana? Eu? Pois fique sabendo que eu sou muito mais corajoso que você!

DC deu um sorriso perverso ao ver que Cebola estava chegando ao ponto em que ele queria.

– Corajoso mesmo? O quanto?

Toni percebeu a jogada e resolveu jogar lenha na fogueira.

– É mesmo! Se você diz que é corajoso, tem que provar! – Felipe não ficou atrás.
– Quero ver se você tem coragem mesmo! Prova pra gente!

Eles estavam tão empolgados que acabaram contagiando os outros rapazes, que também pediram provas de coragem para o Cebola.

– Aff! Tá bom! O que vocês querem que eu faça pra provar que não sou nenhum bundão?

O grupo ficou em silêncio, cada um pensando em algo bem assustador para testar a coragem do careca. Cascão logo ficou apavorado com o rumo que os acontecimentos estavam tomando porque sabia que Cebola ia acabar colocando metade da batata quente em suas mãos.

Depois de um tempo, cada um foi dando uma sugestão, mas nenhuma parecia boa o suficiente. Quando todos terminaram de falar, DC tomou a palavra.

– Pois eu sei de uma boa maneira de você provar que tem coragem, Cebola.
– E qual seria? – ele perguntou olhado direto para o rival e estufando o peito. O resto do grupo ouvia tudo com expectativa.
– Você tem que ir ao cemitério.

Cebola deu uma risada.

– Fala sério! DC, eu achei que você fosse mais criativo do que isso! Ir ao cemitério pra provar minha coragem? Que coisa mais antiquada!
– E quem disse que eu terminei?
– Ah, tá. Deixa eu adivinhar, tem que ser de noite segurando somente uma velinha, acertei?
– Não, pode ser de dia mesmo, o horário você escolhe.

Todos olharam para a cara dele sem entender nada. Que graça tinha em ir ao cemitério durante o dia? DC resolveu acabar com o suspense e falar logo qual era sua idéia.

– O que você precisa fazer é ir até a casa da D. Morte.

O susto foi geral, Cascão começou a tremer nas bases, mas Cebola nem se alterou.

– Bah, você conhece a D. Morte e sabe que ela não faz mal a uma mosca! A pior coisa que ela poderia fazer é me expulsar dali a vassourada!
– Bom, se é assim, então acho que você não teria nenhum problema em entrar ali e trazer uma lembrancinha pra provar seu feito.
– Que lembrança?

DC olhou para os outros rapazes e perguntou de forma maliciosa.

– Aqui, será que ninguém nunca se perguntou o que a D. Morte usa por baixo daquele vestidão preto?

Titi esfregou as mãos enquanto várias imagens passavam pela sua cabeça.

– Rapaz, essa eu queria ver!
(Tikara) – Sei lá, será que ela usa mesmo alguma coisa em baixo do vestido?
(Lucas) – Até eu fiquei curioso!
(Nimbus) – Aposto que deve ser tudo preto, cheio de caveiras, morcegos e teias de aranha!
(Jeremias) – Que irado!
(DC) – É isso aí, galera! Só tem um jeito de saber, certo Cebola?
– Pffff! Você tá muito fraquinho hoje, heim? Tá bom, eu vou fazer o desafio.

Todos bateram palmas, deram alguns assovios e tapinhas nas costas do Cebola. Quando os ânimos se acalmaram um pouco, ele voltou a falar.

– E o que eu ganho se cumprir o desafio?
– Vamos fazer assim: quem perder, vai ter que fazer aquilo que o outro mandar, qualquer coisa.

Outra risada.

– Essa vai ser ótima! Então se eu ganhar e conseguir trazer a roupa íntima da D. Morte, você vai usar como fantasia na festa de amanhã!

Por pouco não houve um infarte geral entre os rapazes. DC usando lingerie durante a festa? Na frente de todo mundo? E ainda sujeito a ser filmado e fotografado pela Denise? Aquele ia ser o acontecimento do ano! Ainda assim ele não se alterou.

– Beleza. Mas se você não conseguir trazer nada, vai ter que fazer o que EU mandar.
– Sei, e o que seria? Vai me mandar usar calcinha e sutiã na festa?

DC deu um sorriso tão perverso que Cebola sentiu arrepios desagradáveis pela espinha.

– Não. Minha ordem é simples: você vai desistir da Mônica e deixá-la em paz.

O silêncio foi tão grande que eles até puderam ouvir uma mosca voando ali perto. Cebola desistir da Mônica? Aquilo era mesmo possível?

– Aí você tá pegando pesado, cara! – ele falou com os olhos arregalados e a respiração alterada. – isso não depende só de mim! E a Mônica, como fica? Quer que ela fique magoada?
– Eu darei um jeito de consolá-la, não se preocupe. Pelo menos eu não vou ficar enrolando ela por uma eternidade. Ué, que cara é essa? Você quer que eu use as calcinha e sutiã na frente de todo mundo, então eu tenho que pedir algo a altura, certo? E aí? Você tá dentro ou vai amarelar?

Ele estendeu a mão para o Cebola com a intenção de selar o trato. Os outros olharam para o desafiado esperando alguma reação. Por fim Cebola aceitou a mão que DC lhe ofereceu e o trato foi selado. Não tinha mais volta. Ou ele cumpria o desafio, ou teria que desistir da Mônica.

(Toni) – Peraí! Como é que a gente vai saber se ele entrou mesmo na casa da Morte e pegou as calcinhas dela?
(Felipe) – É mesmo! Ele pode trapacear comprando em alguma loja e depois falar que pegou na casa dela!

Todo mundo concordou com aquilo e DC voltou a falar.

– Eu sei onde fica a casa da D. Morte, então vou te seguir de longe (bem de longe) pra garantir que você foi pra lá e entrou de verdade. E você vai tirar uma foto dentro do quarto dela, segurando as roupas íntimas, pra provar que as tirou de lá.
– Tá bom! E quando eu trouxer as roupas íntimas dela, você vai usar na festa amanhã pra todo mundo ver! Hahaha, vai ser o mico do século!
– Não cante vitória tão cedo, Cebola. Você ainda não cumpriu o desafio e muita coisa pode acontecer!


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