Lily Evans.

Eu vou entrar em depressão, e isso é sério.

Acho que Petúnia está levando a sério demais o apelido “carinhoso” que dei a ela, mas oque eu posso fazer se ela tem mesmo cara de cavalo?!

Mas para me provar o contrário, ela alugou dezenas de filmes de cavalos. E me obrigou a assistir a todos.

Acabamos de assistir um filme que a protagonista era perfeita. Não sei se outra palavra seria tão adequada como essa para descrevê-la.

Como se já não bastasse ser linda, rica e popular, o pai dela era dono de uma fazenda no subúrbio da cidade. E o lugar era simplesmente magnífico, talvez não tanto quanto a garota, mas continuava sendo magnífico.

Na fazenda tinha tudo oque você pode imaginar, de flores até fontes de água doce. E claro, muitos cavalos bonitos e bem cuidados. Provavelmente, mais bonitos e bem cuidados do que eu.

E como todo cavalo requer um tratador novo, bonito e sarado cuidando dele, você já pode adivinhar oque aconteceu.

É uma história totalmente clichê, eu sei. Mas eu tenho certeza que você já pegou se imaginando como seria se isso tivesse acontecido com você, no lugar daquela menina bonita, rica e popular do filme.

Afinal, qual é a garota que nunca sonhou com seu príncipe vindo em um cavalo branco?! E quem nunca sonhou em cavalgar com braços fortes circulando sua cintura?!

E não, o pai não conta nessa história de “cavalgar com braços fortes circulando sua cintura”.

E todos esses filmes de garotas perfeitas, cavalos bonitos e bem cuidados, tratadores sarados, e todos esses finais felizes me deram náuseas. Afinal, até mesmo os filmes fazem questão de jogar na minha cara o quanto minha existência é patética e totalmente inútil.

Somando tudo isso e mais as provocações sem fundamentos na escola, meu dia pode ser resumido em apenas uma palavra = Normal.

Sim, por que só se ele tivesse sido bom que seria uma surpresa.

Mas não foi nada que eu não pudesse aguentar...

Flashback On.

– Ei, Evans, espera aí.

Eu fiz o máximo que pude para acelerar o passo, afinal, não queria ter que ouvir mais uma das piadinhas do Black.

Mas, como pareço uma tartaruga manca, ele me alcançou como uma rapidez que impressionou até mesmo a mim.

– Oque você quer Black?

– Eu? E porque diabos eu iria querer alguma coisa com você?! É James que quer.

E que droga Potter poderia querer comigo?!

Cedo demais para perguntar, afinal, quando vi Potter chegando logo atrás de Black, vi o “sorriso proibido” no canto de seus lábios. E isso é o aviso que ele dá quando vai fazer algo “engraçado” nos padrões dele.

E, por um motivo mais que óbvio, eu estava com um pressentimento nada bom.

Potter ainda estava com aquela “mascara do diabo” nos lábios quando desviou a atenção para meus livros.

– Que livro é esse?

Isso foi um tanto quanto descarado, afinal, aquele era o livro de biologia, e nós já estávamos na metade do ano letivo.

E o pior de tudo é que ele parecia não saber mesmo.

– Tire suas mãos das minhas coisas.

– Ops caiu. Mas pelo menos eu tirei as mãos.

Honestamente, eu fiquei em dúvida da idade de Potter. Aquilo era tão... tão... Medieval!

– Francamente Potter, você não tem mais oque fazer não?!

– Uou James, vai deixar ela falar assim com você?

Eu já comentei com vocês que Black fica melhor de boca fechada?!

Potter fez um movimento suspeito, e no segundo seguinte todos os meus livros estavam no chão.

– E esses livros aqui Evans? Opa caíram.

Esse Potter é muito original. Realmente, bato palmas pra criatividade dele.

Só que ao contrário.

Flashback Off.

Ontem eu vi alguma coisa sobre bullying na televisão.

Não que eu sofra bullying, mas a “dica” que a jornalista deu resolveria mais da metade dos meus problemas, e isso seria suficientemente bom.

Ela falou que no caso de você não poder se mudar, ou não quiser pedir ajuda, o bom seria que você se afastasse por um tempo, pois, quando você voltasse eles não teriam mais motivos pra te irritar, e na maioria das vezes até sentiriam sua falta.

Ok, eu tenho certeza que Black, Potter e nenhum dos outros sentirá a minha falta, mas até que é uma boa ideia, sair por uns tempos... Só pra viver um pouco.

Ela disse que para quem está em idade escolar e tira notas altas é bem mais fácil de conseguir algo, como um intercâmbio.

Eu poderia pedir de aniversário, visto que faltam algumas poucas semanas para ele. E também para o natal.

Eu nem reparei as horas passando, afinal, estava assistindo mais um daqueles filmes de cavalos e escutando Petúnia falar no telefone sem parar, não sei como ela não fica com dores no ouvido.

Já era noite quando meus pais chegaram, e acho que Deus gostou da minha ideia, por que por incrível que pareça, eles estavam de bom humor!

Quando estávamos jantando fui puxando o assunto de leve, só pra ver se eles percebiam. Mas como eles são rápidos como uma lesma paraplégica, eles não perceberam.

– Mãe, pai... Meu aniversário está chegando.

– Idaí? Você só vai ficar um ano mais próxima da morte. Grande coisa.

Meu pai é tão sensível quanto uma mula dando a luz. Se bem que as mulas são estéreis...

Minha mãe por outro lado, captou a informação e lançou olhares irritados ao meu pai, por sua falta de tato.

– Lily querida, oque você quer de aniversário?

– Ir pra bem longe daqui.

As palavras praticamente fugiram da minha boca antes que eu pudesse pensar nelas.

– Como?

– Um intercâmbio. É isso que eu quero.

Isso foi como música pros meus ouvidos, sinceramente, achei que eu não fosse ter coragem de pedir.

– Um intercâmbio?

– Sim. Quero dizer, eu sei que é meio caro e tudo o mais, mas pode ficar como sendo presente de Natal e Aniversário, e eu posso fazer uma prova pra conseguir um bom desconto...

–... E sem contar que conhecer uma cultura estrangeira eleva seu currículo em níveis superestimados.

Acrescentei rapidamente e senti que foram aquelas palavras que fizeram toda a diferença. A palavra ‘currículo’ e ‘superestimados’ sobressaltaram meu pai de uma forma previsível.

– Acho que mais tarde podemos conversar sobre isso, agora, coma seus legumes.

E pela primeira vez na vida, comi meus legumes felizes, como se fossem brigadeiros.

Ok, não vamos exagerar. Como se fossem balas grudentas e sem gosto, define de uma maneira mais adequada.