My Germany escrita por UmGreyjoy, Florita


Capítulo 8
Gretel Barns.


Notas iniciais do capítulo

Segundo chap de Gretel ^-^
Espero que gostem, vai ficar mais emocionante depois.



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Apertei a mala com os dedos, era leve, não havia muitas coisas ali. Fui andando até o portão, devagar, olhei para trás uma ultima vez, para a casa que me acolheu durante três anos, a casa que trabalhei por todo esse período, a casa que me mandou embora. No pescoço levava um terço, no rosto uma expressão seria que não me era normal, e por dentro, só a duvida.

Caminhei até o entardecer, e as ruas foram esfriando cada vez mais frias, mais escuras e mais vazias. Quando o sol se cansou e desapareceu atrás do horizonte, homens de farda, meretrizes e bêbados invadiram as ruas. O meu lugar não era ali, todos sabiam disso, era claro. Estava vestida com um longo vestido azul marinho, o cabelo castanho preso em um coque, sapatilhas discretas.

- Ei garota, essa é a minha área, se quiser clientes é melhor usar uma roupa mais legal, e sair daqui. Essa é a minha área. – uma prostituta de peruca negra gritou para mim. Assustei-me e tropecei no chão, levando a mala a se abrir, e derrubando todas as minhas coisas no cimento. Nunca agradeci tanto por ter tão poucos pertences. Juntei as roupas e corri dali, o mais rápido que podia, enquanto ela e suas amigas riam.

Corri a franja cortada á navalha atrapalhava minha visão, soprei e continuei, estávamos no meio da grande guerra, o mundo estava tão nazista que nem percebiam o quanto tudo aquilo era estúpido. Era contra a guerra, mas não anunciava publicamente. Tinha medo, me sentia uma covarde, mas a guerra era covardia maior.

Senti um cheiro bom, cheiro de churrasco, minha boca se encheu de saliva e o estomago roncou. Fechei os olhos e me lembrei mais uma vez que não tinha dinheiro para comida. Não tinha dinheiro para nada.  Andei até uma parede de tijolos vermelho e me encostei, tentando pensar onde passaria a noite, peguei o terço e rezei mais algumas vezes antes de uma velha senhora aparecer. Era gorda e lenta, com uma blusa combinando com a saia, um batom vermelho e cabelos brancos. Ela olhou para mim.

-Guten Abend, Miss. – ela passa, eu apenas aceno com a cabeça. Ela dá mais alguns passos pequenos e depois olha para trás, com pena. Ela espera alguns segundos para logo depois dizer em um tom apreensivo – tens onde dormir, garota?

Faço que não com a cabeça, o batom na boca da senhora era forte e sua pele extremamente pálida, de modo que na escuridão que ali se instalava, parecia um fantasma. Ela bufa, e olha para mim, a incerteza e a duvida em seus olhos. - por deus, vamos ande, te levarei para um bom lugar. – murmurou, apressando-me com tapinhas um tanto fortes nas costas. Andei rapidamente, com sérias dificuldades para não andar muito rápido, ultrapassando a velha.

Em cerca de meia hora percorremos o caminho que uma pessoa normal faria em cinco, mas finalmente chegamos a uma casa escura, as paredes pintadas de cinza e uma enorme porta de vidro escuro. Porem, quando olhei para cima, havia uma enorme placa de neon, com a palavra ‘bordel’ reluzindo em letras garrafais. Olhei assustada para a senhora, mas ela pouco se importou, me deu um empurrão e praguejou alguma coisa.

O ambiente era escuro, as poucas luzes que ali existiam estavam quase apagadas. Em um canto havia um bar, uma mulher loira, com uma roupa terrivelmente curta e uma tatuagem no braço servia homens barbudos, um tanto alterados pelo efeito do álcool. A atenção destes, porem, estava no centro do que deduzi ser um bordel. Em um enorme palco, Dançavam diversas garotas, algumas muito mais velhas do que eu e outras até mais novas. Elas usavam roupas provocantes e apertadas, e dançavam ao ritmo de uma musica animada.

Ao entrar naquele lugar de pecadores, travei e não consegui andar, foi preciso uns nos dois minutos para que conseguisse perceber que estava em um bordel. A senhora me puxou pela mão e olhava com nojo para as garotas ali, o sentimento era o mesmo que elas demonstravam pela velha, nojo.

Fui levada até um corredor mal iluminado, com varias portas e baratas nas paredes e pelo chão. Os gemidos vindos das portas chaveadas eram ouvidos por todo o lugar, as pessoas agiam tão normalmente como se aquilo ali fosse parte integral do cenário. Talvez realmente fosse.

A senhora me dá uma chave tirada do fundo da bolsa. Era pequena e prateada, cabia perfeitamente na palma da velha mulher, tive a impressão que ela conhecia aquela chave há muito tempo, pensei como seria deprimente e humilhante viver naquele ambiente. Eu não tinha muita escolha, era passar a noite ali ou na rua.

- Deixe suas coisas ai, Schätzchen. Você trabalha para nós, a partir de hoje. - meu queixo caiu. Eu jamais trabalharia em um bordel. Ela percebeu meu espanto e completou com desdém – você trabalhará no bar esta noite, amanhã iremos ver o que fazemos com você. – ela sai com certa dificuldade, arrastando os pés no cimento sujo.

Abro a porta sem maiores dificuldades, porém quando a abro um forte odor de cigarros, bebida e outros cheiros irreconhecíveis para mim. Deixo minha mala em um canto, perto de uma cama de metal gélido e fecho. Achei que teria que sentir odores desagradáveis suficientes para uma noite. Andei pelo corredor ouvindo os gritos e gemidos vindos de detrás das portas, queria fingir que não sabia o que era. Queria que tudo ali fosse mentira. Eu havia conseguido ser demitida, me perder em Berlim, passar frio e fome e ainda arranjar um emprego em um bordel em uma única noite. Era demais para a minha cabeça.

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- dose tripla, gostosa. – um homem bêbado e gordo gritou para Lessie. Ela, que vestia uma lusa cor-de-rosa que cobria menos que um terço do que deveria e uma saia que continha pouquíssimos centímetros de tecido negro, atendeu prontamente, mascando um chiclete de menta com a boca bastante aberta. Ela empurrou o pequeno copo em direção ao homem e já se virou novamente para atender ao próximo. Os cabelos loiros claros prendidos em duas marias chiquinhas, com alguns cachos pendidos aos ombros.

Eu observava tudo por trás de uma cortina de tecido fino. Ainda não tinha tomado coragem para sair, a roupa que me deram era escandalosa, um vestido preto e branco que cobria muito menos que a menor das minhas lingeries, com babados, laços e tiras que mal cobriam meus seios. E eu não poderia me esquecer do salto altíssimo que Lessie havia me entregado com um sorrisinho no rosto, sabia que eu iria cair de nariz no chão, provavelmente estava certa.

E tudo isso apenas para trabalhar como garçonete por uma noite. Respirei fundo, minhas mãos tremiam, contei até dez, podia sentir minhas bochechas corando. Sai da cabine do vestiário improvisado e tentei andar discretamente até a loira, ela se virou e sorriu para mim, os dentes podres e negros que apareciam não me assustaram, havia coisas piores naquele lugar.

Lessie dá uma bandeja com alguns drinks coloridos e me manda passar entregando para todos os que estavam ali. Comecei a andar, meio trôpega e desequilibrada por causa do salto alto. Meus joelhos tremiam e eu tinha serias dificuldades para carregar a bandeja, os copos balançavam sobre o metal e faziam um tintilar agudo. Servi cerca de 20 doses, sendo que dessas derrubei pouco menos da metade. Eu não servia para isso.

Entre gritos excitados, elogios vulgares e tapinhas indiscretos a noite finalmente acaba. Estou cansada, e todos começam a ir embora. Coloco as ultimas dezenas de copos sobre a pia e desabo no chão. Choro compulsivamente por algumas horas até conseguir me controlar o suficiente para levantar e andar lentamente até o meu quarto. Eu não sabia que horas eram, mas poderia supor que haviam se passados semanas desde que entrara ali. Meu corpo estava cansado, minha mente exausta.

Não me lembro  bem como consegui achar qual era o meu quarto entre tantos outros, lembro apenas que adormeci rapidamente. Embrulhada em cobertas velhas e nada cheirosas, com a roupa que havia me dado para trabalhar ali. Era isso que eu seria agora? Garçonete de um bordel? A resposta com certeza viria no dia seguinte, portanto adormeci sem maiores temores. Esqueci-me de rezar aquela noite. Não tive sonhos, nem pesadelos, apenas a imagem de uma criança brincando entre flores, logo após, escuridão.


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Notas finais do capítulo

Reviews? *-*