My Germany escrita por UmGreyjoy, Florita


Capítulo 5
Thomas Roys


Notas iniciais do capítulo

Hey, people ^^ Mais um capítulo do Roys. Eu, pessoalmente, curto muito esse capítulo.
Espero que vocês também gostem, nos vemos lá embaixo ^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/285846/chapter/5

A chuva me pegou desprevenido. Era por volta das três horas da tarde, e eu havia acabado de sair do meu quinto dia de patrulha. Estava voltando para casa, onde provavelmente Strauss me esperava tomando conta de Anoy, sua filha bastarda, que causava diversos problemas. E deixá-la em uma espécie de creche-escola não estava dando muito certo.

A chuva apertou e acabei entrando ligeiro em uma cafeteria. O lugar era muito bonito, diversas paredes de vidro atuavam como divisória. E havia um bom número de pessoas. Cheguei no balcão, e pedi uma xícara de café, que foi rapidamente providenciada. Engoli aos poucos, enquanto o calor da bebida contrastava com o frio que vinha das roupas. E me pus a olhar os clientes. Uma mulher de meia idade com o filho pequeno, um casal de velhos que se abrigava da chuva, duas crianças que provavelmente eram parentes do dono da loja.

E meus olhos correram para o fundo da loja, onde uma única mesa estava ocupada ao lado de uma janela. A ocupante era uma garota, que me era estranhamente familiar. Passei alguns minutos observando-a para finalmente lembrar de onde eu a conhecia, ou achava que conhecia. Ela lembrava minha mãe. E dai foi fácil identificar sua aparência.

Ela quase idêntica a uma judia que certa vez passara uma noite em meus aposentos. Ashira Devet era seu nome. Eu lembrava da minha conversa com Ashira. Ela se parecia com minha mãe Lara Roys, e estava a caminho de Auschwitz, um dos maiores campos de concentração, e um dos mais cruéis também. Participei da equipe que fez a transferência.

No começo pensei ser mera coincidência, mas o próprio comportamento da garota não era tradicional. “Escondida” naquele canto, assistindo a chuva fria que caia sobre Berlim, com o olhar desfocado de quem conhece a perda. O mesmo olhar de Ashira…

Comprei outro café, e paguei ambos. Andei até o fim da mesa

- Ela é bonita, não é? – Digo assim que chego, me referindo à chuva que a possível judia olha sem parar.

Ela sorri um pouco, toma o café, e permanece sem olhar para mim.

- Dizem que Deus está na chuva. – É a resposta.

“Você tem um nome?”

“Ashira D…Devet”

- Eu ouvi dizer que Deus está na Alemanha. E por isso ela é sagrada. - Espero uma reação.

Ela olha para mim agora, mas está completamente segura, e diz:

- Discordo. Deus está em todo lugar.

Dou um sorriso e tomo o café:

- Talvez esteja certa, eu não faço ideia. Não sou muito apegado à religião.

- Entendo.

“Então Devet, que crime você cometeu para ter sido capturada?”

“Ser judia, e estar na hora errada no lugar errado.”

“É realmente uma pena.”

- Por que está tão isolada? - Digo olhando o canto em que ela se “escondeu”. Imagino que é justamente para evitar contato com a população, que poderia desmascarar seu disfarce.

- Estou acostumada a ficar sozinha. - Então olha para mim, e acrescenta gentilmente: - Mas gosto quando estou acompanhada, também.

Dou um sorriso, embora esteja sério por dentro. Não me lembro totalmente da minha conversa com Ashira na estalagem de beira de estrada, mas lembro que senti pena da garota, e que realmente desejei que ela vivesse. Mas com o tempo, fui me esquecendo da infeliz judia. Agora tinha uma intuição, algo me dizia que a menina a minha frente era parente de Ashira.

- Bom, deixe eu me apresentar. Sou Thomas Roys. - Digo esticando a mão.

- Ivy Savinna. - Ela aperta minha mão. - Prazer em conhecê-lo.

“Por que você me trouxe aqui para conversar? Que interesse tem em mim? Eu sinceramente não entendi, pensei que…”

“É uma boa pergunta. Você me lembra muito minha mãe. Ela morreu por causa da guerra. Acho que quis conversar com você por isso. Talvez me lembre um pouco ela.”

Sento-me no banco a seu lado.

- É um bonito nome, Ivy Savinna. Seus pais escolheram bem. - Digo, despreocupado, esperando sua reação. Strauss descobriria rapidamente, e provavelmente a mataria aqui mesmo se tirasse suas conclusões. Ele possuía uma grande capacidade de análise, e se gabava de ter a capacidade de identificar qualquer judeu com algumas trocas de palavras, se não pelos traços do rosto. Até agora ele ainda não tinha errado.

- Obrigada. Também gosto do meu nome. Se tivesse que escolher por meus pais… Continuaria sendo chamada assim.

Pela primeira vez senti a incerteza na voz. A insegurança no final. É natural, afinal a verdade é a primeira coisa que vem na mente, e nem sempre é fácil segurá-la sem deixar o menor indício. Mas finjo não perceber. Continuo agindo como um jovem, interessado na garota de beleza estonteante a minha frente.

- Russo… É russa, Ivy?

“Tem família, Ashira?”

“Sim. Vivíamos na França, até sermos capturados por uma patrulha. Minhas irmãs e meus pais foram transferidos para não sei onde, todos separados.”

“Todos eles são prisioneiros?”

“(…)”

- Nasci na Alemanha. Mas sim, minha família tem origem russa.

Termino o café, mas estou longe de tirar uma conclusão verdadeira a respeito de Ivy, ou qualquer que seja seu verdadeiro nome:

- Estava bom. Nenhum tempero melhor que o frio. – Ele realmente estava bom, mas nem de perto se comparava ao café que eu havia bebido na manhã anterior.

- Sim. Não há combinação melhor…

As respostas dela são sempre padronizadas, sempre tentando emitir o “eu”. Talvez esteja começando a pensar como o Strauss pensaria.

“Então realmente não há escapatória?”

“Bem, tudo é muito relativo, você pode ter uma chance se for indispensável para o campo de concentração.”

- Bom, eu estou todo molhado, e já acabei meu café. Estou de retirada, senhorita Savinna. - Ela tem a educação de agradecer, mas não me convida a permanecer, e utiliza outra resposta padronizada.

- Tudo bem. Obrigada pela companhia, senhor Roys. Cuidado para não pegar um resfriado…

Saio da cafeteria na chuva mesmo e corro para casa o mais rápido, sem parar em lugar nenhum. Por sorte estou bem perto.

Não consigo tirar essa dúvida da cabeça, nem parar de me perguntar porque eu me importo tanto. Terei tempo para isso mais tarde. Abro a porta:

- STRAUSS, ESTÁ AI?

Ele desce utilizando uma roupa comum. Perfeito.

- Preciso de um favor…

Descrevi a garota e dei todas as recomendações necessárias para que Strauss localizasse Ivy.

“Boa sorte, Devet. Espero que sobreviva.”

Sem dúvida Ivy, ou qualquer que fosse seu nome, fora bem treinada pela vida. Mas não o suficiente. Mesmo assim ele demorou muito a voltar.

- E? - Perguntei.

- Você tinha razão, é uma judia mesmo, está melhorando seu faro Roys. – Ele disse rindo. – Ela me é familiar.

Explico para ele, sobre o nosso transporte para Auschwitz. Ele sempre fora bom de memória, e de rostos, uma habilidade que nunca tive, exceto caso a aparência fosse muito gritante ou me lembrasse de algo.

- Quer dizer que ela foi tão inesquecível assim? Como era mesmo o nome dela?

- Ashira…

- Agora você pode ter a irmã dela. Quase não tenho dúvidas que são irmãs. Vamos lá?

- O que? – Então me lembrei que Strauss era Nazista, e eu também. – Não.

Ele pareceu surpreso.

- Não, como assim? Temos que prende-la.

- Não. – Disse firme. Eu já tinha mandado a irmã da garota para o inferno na Terra, não queria lhe dar o mesmo destino. Além disso eu sinceramente me sentira mal por Ashira no começo. Eu sabia que não podia salva-la, mas após meu envolvimento com ela naquela noite, não fora tão fácil esquecer a garota que queria tanto viver, ao menos não nas primeiras semanas.

Expliquei a Strauss. Disse que não podia fazer aquilo, e lhe contei meus motivos.

- Você tá de brincadeira. Só pode ser brincadeira.

- Não Strauss, por favor. Eu mesmo vou resolver, só me dê tempo ok?

Ele olhou para o chão, sem confirmar nada.

- Até porque está me devendo… - Falei.

- Esse ponto não conta.

- Strauss, é claro que conta. É só uma judia, que esteve vivendo aqui escondida a muito tempo. Ninguém morreu nem o Nazismo foi ameaçado por isso.

- Só dessa vez Roys… – Ele disse me olhando como se dissesse: Agora você está me devendo, e muito.

- Obrigado parceiro.

- Prometo não contar nada para o general, apenas isso.

Assenti com a cabeça e me pus a pensar sobre o que fazer.

- Agora me mostre onde ela mora, ok?

Strauss sorriu, e fomos para a chuva.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!