My Germany escrita por UmGreyjoy, Florita


Capítulo 4
Gretel Barns


Notas iniciais do capítulo

Hey, people! Esta é a última protagonista a ser apresentada a vocês: Gretel Barns, a filha do monstro. Creio que vão gostar dela.
PS: O início, assim como o do capítulo passado, é um flashback, ok?
Espero que gostem e nos vemos lá embaixo!



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“Arrumei o vestido vermelho com a mão, tirando o amassado pacientemente. Era bonito, mas eu tinha apenas dez anos, não me importava em sujá-lo, e naquela noite já havia deixado marcas de vinho, terra e até mesmo molho de batatas. Era um jantar beneficente, ou sei lá como se chama, meus pais, nazistas extremos, organizaram-no, convidando um bando de homens vestidos de ternos e poucas mulheres, com longos vestidos de festa.

Comemos às oito em ponto, havia mais de 20 pessoas ali. Tudo bem, a casa de minha família era grande, uma antiga construção de madeira escura. No hall de entrada havia sofás de veludo vermelho, o orgulho de minha mãe, e alguns quadros coloridos. Logo em seguida vinha à sala de jantar, um espaço amplo e iluminado, enfeitado com um lustre de cristal e uma enorme mesa de carvalho. Era uma casa bonita.

Foi servido um saboroso pernil assado com molho de batatas. Estava uma delicia, ainda me lembro do gosto, e acompanhado por suco de morango. Bem, todos brindaram alegremente o começo de uma nova era, minha mãe havia me explicado enquanto enchia a bacia do banho. Nossa revolução tornaria o mundo em um lugar melhor. Era isso.

- Brindemos ao National Sozialistische Deutsche Arbeiterpartei. A salvação de uma raça pura. – gritos animados e extasiados. As mulheres sorriam. Os batons vermelhos se destacando entre o mar de homens com bigodes grisalhos. – brindemos também ao primeiro médico oficial da principal enfermaria do campo de Birkenau. Heil Hitler. – mais múrmuros entusiasmados. Todos pareciam esperançosos. Eu não sabia o que tudo aquilo significava, mas nunca havia visto meus pais tão felizes. Aos poucos os convidados foram indo embora até sobrar somente a meus pais e a mim.

Meu pai era  Josef Mengele, um famoso médico, conhecido por seus estudos com crianças gêmeas. Ele salvava milhares de pessoas por dia. Mas nunca me deixou brincar com as crianças que tratava, acho que suas doenças eram contagiosas, mas eu nunca as via sair do consultório. Na verdade eu nunca havia entrado lá. Mas era meu pai. Era meu herói.

-Gretel! Já para a cama. Isso são horas de uma mocinha estar acordada? – guinchou minha mãe da cozinha. Seus cabelos estavam presos em um penteado lindo, seu vestido era azul, ela estava uma verdadeira princesa. Saí rindo e correndo pela escada, não estava com sono, mas abri a porta de meu quarto e peguei uma camisola rosa e um casaco da mesma cor. Fui até a sala e me escondi atrás de uma parede, apenas observando meus pais.

- Oh querido, já não é hora de parar com estes experimentos? – minha mãe pousa as mãos sobre os ombros de meu pai. Massageando-os.

- Pare com isso Verona! Acha mesmo que causará algum mal? São judeus, causaram a desgraça de nosso país. – censurou meu pai- Qual é o problema em matar algumas centenas? Não existe nenhum só ser bom desta raça. Entenda por uma vez. – ele movimentava as mãos enquanto falava nervoso e certeiro. Minha mãe soltou um leve gemido, e deu a volta na cadeira, parando á frente de meu pai.

- Gretel está crescendo, Josef. Acha mesmo que conseguirá esconder seus experimentos e estudos de sua própria filha?- afagou lhe a perna – isso não tem sentido, querido.

- Você não entende. Claro que contarei tudo a ela quando completar 15 anos. A esta altura, ela conseguirá ver que isso causará a salvação de nossa amada pátria. Não me julgue por fazer o certo. – pediu sempre sério e convicto.

Ela inclinou-se e o beijou de leve.

- Tudo bem, meu amor. Confio em você. – ele sorri.”

Acordo com um grito abafado. Estou suada, a franja grudada na testa, a boca seca, e lágrimas correndo pelos olhos. Era sempre o mesmo sonho, poucas distorções da mesma cena. Era tortura, lembrar de tudo aquilo me dava dor de cabeça.

Meu pai não havia cumprido sua promessa. Não havia me contado, ele escondeu toda a verdade sobre o que fazia, sobre quem era, até o dia em que precisei ir até seu consultório.  Era no centro de Berlim, perto do quartel dos soldados. Achei que não precisava bater na porta, era sua filha afinal, entrei por uma abertura na parte de trás do edifício. Eu não me lembro muito bem do que vi, crianças, corpos, judeus.

Pelo que me contaram quando acordei, eu havia andado até em casa sozinha, e aparentemente consciente. Mas eu não me lembrava de nada, só sabia que tinha medo do meu pai. Eu tinha mais do que medo, tinha nojo.

Não era hora para pensar nisso, tinha que trabalhar. Depois que descobri toda a verdade, meu pai começou a ser caçado e fugiu para a América latina, abandonando a mim e minha mãe. Ela morreu enferma logo depois, e me virei sozinha, trabalhando como babá, até então.

Levantei da cama, e rezei enquanto colocava minha roupa, era rotina. Outro dia da vida de babá na casa do rico soldado. Mal sabia que aquele dia não seria como os outros. Era o dia em que eu seria demitida, o dia em que minha vida tomaria outro rumo. O meu destino estava traçado. Era apenas questão de tempo.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam da filha (fictícia) de Josef Mengele? Ela não usa o sobrenome do pai, como deu pra perceber.
Deixem reviews, hein?
Beijos!