My Germany escrita por UmGreyjoy, Florita


Capítulo 3
Adena Devet


Notas iniciais do capítulo

Oi, people! Mais um capítulo pra vocês!
Eu sei que eu demorei, acontece que eu estava sem internet, então não rolou postar. Mas a partir de agora, as postagens serão regulares, palavra de escoteiro :3
Espero que gostem e nos vemos lá embaixo!
PS: O começo desse capítulo é em terceira pessoa, mas vai ser o único, já que o formato oficial da história é em primeira pessoa.



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“Dena, largue essa boneca, e venha logo para a mesa!” – a mãe da garota chamava. Adena não respondeu, e fora desobediente. Suas três irmãs mais velhas já estavam diante da mesa, e seu pai deixava de lado no sofá as folhas bagunçadas de um jornal. “Vamos, Dena” reforça ele, enquanto a garota largava a boneca de porcelana no chão, e virava o pescoço para ler as palavras impressas no jornal. Uma foto do Führer em branco e preto estampava a matéria, que era repleta de palavras boas á seu respeito. Adena não era burra. Nem um pouco. Reconhecia as mentiras. E sabia que sua família estava naquela situação por culpa daquele homem. 
 Adena se levanta, e ouve gritos vindos da cozinha. Seus olhos se voltam para lá, e lentamente, ela caminha para diante da porta, sem deixar a sala. 
— Não devemos nada á ninguém! Deixem-nos em paz! — seu pai gritava para pessoas do outro lado da porta. 
— Abra, judeu maldito! Abra essa droga, seu verme!
 O pai não obedeceu. Continuou contrariando a patrulha alemã, que irada, arrombou a porta. Os cacos de vidro das janelas quebradas da cozinha caíram sobre as irmãs de Adena. Os homens as imobilizaram em segundos, empurrando seus rostos contra o vidro quebrado sobre a mesa, sem se importar com os ferimentos que surgiam. A mãe correu para a sala, e olhou Adena com urgência, que se escondera em baixo de uma mesa de centro. Assistiu enquanto um patrulheiro a trazia de volta para a cozinha, arrastada pelos cabelos. O pai tentou lutar, mas desistiu ao ver a arma de fogo apontada para a cabeça de sua esposa.
— Onde está a quarta? — gritava um patrulheiro.
— Do que esta falando? — o Sr. Devet questionou, e uma coronhada fora desferida em sua cabeça por um outro patrulheiro.
 Adena escondeu os olhos no tapete nesse ponto. O sangue jorrando dentre os cabelos escuros de seu pai, era a coisa mais aterrorizante que já vira na vida. Até ali.
— A sua quarta filha! Onde aquela praga judia está?
— Ela voltou para a França — respondeu seu pai. Adena ouviu o som de outro golpe forte, e um chiado de dor emitido por seu pai.
— Desgraçado! Mentiroso! Revistem essa casa inteira! — ordenou o patrulheiro líder. — Os armários, os cantos, qualquer lugar onde essa maldita praga possa estar se escondendo!
 Adena soube que precisava agir. Ergueu os olhos para a cena vaga que sua visão do esconderijo podia capturar. Sua mãe no chão, ainda presa pelos cabelos pela mão de um alemão, suas três irmãs com rostos ensanguentados, e seu pobre pai, também ensanguentado, olhando para os patrulheiros revirando tudo, e com visível angustia em suas feições, temendo que sua filha caçula também fosse capturada. Lentamente, a garota magra, pequena e silenciosa se arrastou para o outro aposento depois da sala: Seu quarto, e de suas irmãs. A janela aberta fora a única opção. Pulou do segundo andar do cortiço, adquirindo grandes ferimentos pela queda. Demorou até poder ficar de pé, e procurar pela ajuda dos vizinhos – mas não havia nenhuma porta aberta. Passou a noite jogada em um beco, sem conseguir fechar os olhos por um misero segundo sequer, com medo que os alemães a encontrassem a qualquer momento. 
 Fora a noite mais longa de toda sua vida. Depois dela, a garotinha judia jamais viu sua família outra vez.
 Cinco anos se foram, e aquela noite ainda vive. 
 Acordo encharcada de suor, gritando e me debatendo entre os lençóis do quarto que divido com Milla. A menina de cabelos negros, pele pálida e olhos verdes estica a mão para agarrar meu braço, e me conforta, dizendo pela milésima vez que está tudo bem, e é só um pesadelo. Milla é minha melhor amiga, e por minha sorte, quem á vê fisicamente, não duvida que eu seja sua irmã. Diria que sou mais magra e menos definida que ela. Há á diferença no tom dos meus cabelos, castanhos claros. No entanto, consegui me camuflar com perfeição na família Savinna, de origem Russa. Além de Milla, a família é composta pela Sra. Gisella Savinna, que é uma dona de casa, e o Sr. Alek Savinna, um comerciante comunista que costumava ser um dos melhores amigos de meu pai. Também há Dimitri, nosso irmão mais velho, um ano mais velho que eu, e dois anos mais velho que Milla. Enquanto Milla puxou suas características físicas do pai, Dimitri recebeu os genes maternos, e é um perfeito alemão: Pele clara, olhos azuis e cabelos muito loiros. São pessoas extremamente boas, que me deram abrigo quando eu perdi tudo.
 E para contar sobre meu ingresso na família Savinna, tenho de reviver, pela milésima primeira vez, a noite mais longa de toda minha vida. 
 Os patrulheiros alemães invadiram minha casa. Renderam minhas três amigas e irmãs mais velhas, minha admirada mãe, e meu querido pai. Estavam em busca da quarta filha, Adena Devet, que há dois anos saíra da França para a Alemanha, movida pela falha esperança de seus pais de que, com a família reunida, o perigo de separação seria menor. Pobres coitados. Para Hitler e os nazistas, pouco importava se o Sr. Devet havia lutado com honra e veemência pela Alemanha na Primeira Guerra. Pouco importava seu sangue derramado por aquela nação. O que lhes era de interesse, eram suas atividades no gueto junto á outros judeus, que ameaçavam liderar revoltas e protestos em busca da liberdade que lhes fora arrancada. 
 Adena Devet, a pequena e frágil garota judia, jamais foi encontrada. 
 Para os alemães, seu pai, que fora duramente espancado e torturado com a finalidade de parar de mentir estava, afinal de contas, dizendo a verdade quando afirmara desde a primeira vez que a garotinha estava de volta á França. 
 Para os poucos e solidários encontros da menina após a queda na fuga do segundo andar do cortiço onde vivia, a verdade sobre seu presente estado era bem mais sombria. Com talvez, uma ou duas costelas quebradas, suando frio e com hematomas expressivos em sua pele pálida e gélida, Adena pôs-se de pé, e vagarosamente, saiu do beco úmido e sujo onde passara a noite inteira. Havia destruição visível nas janelas e portas de algumas casas, indicando a passagem das patrulhas nazistas por ali. Além de Adena, não havia sequer uma única alma viva vagando pelas ruas do gueto, e a garota sentia que sua família não fora a única a ser desintegrada na noite que se passou. Após caminhar e caminhar sem destino algum, reconheceu uma porta em uma rua sem saída, onde estivera com sua irmã Ashira, de idade e cumplicidade mais próxima á ela, quando a mesma teve um resfriado forte há um tempo atrás. A prece silenciosa de Adena fora ouvida, quando a Sra. Weiss abriu a porta, arregalou seus grandes olhos azuis para a menina, e puxou-a para dentro do aposento. A família Weiss estava completa naquela manhã, com os cinco filhos do casal na casa, e com o Sr. Weiss, que era médico, e cuidou das costelas e ferimentos de Adena com muito cuidado e afeição. Todos ouviram a história da garota e se sensibilizaram. As crianças dos Weiss, de cabelos loiros e olhos azuis, mais pareciam pequenos alemães. Ajudavam o pai com o que ele pedisse, e pareciam muito preocupados com a saúde da garotinha. 
 Um mês se passou, sob os cuidados dos Weiss. Um mês onde um telegrama foi mandado para parte da família Devet que vivia na França, avisando sobre o estado de Adena, e da captura dos outros familiares. A resposta chegou algumas semanas depois, de uma das várias tias de Adena, que agradeceu profundamente a família Weiss, e ditou o próximo lugar onde a garota chamaria de lar: A casa da família Savinna, em Berlim. A menina não podia arriscar sair do país, não por enquanto… E Alek Savinna estava disposto a cuidar da pequena Devet, já que seu pai, para ele, era como um irmão. Adena deixou a casa dos Weiss, com intensa angustia, sabendo em seu intimo que jamais veria sua família outra vez, e com a certeza de que fora a única que pôde ser salva.
 Hoje, com vinte anos de idade, Adena é Ivy Savinna. 
 Prazer, sou Ivy Savinna. Uma pessoa totalmente renascida que fora a única a ter tido uma segunda chance, e que se sente culpada por ter tido tal chance. Ainda sou atormentada por Adena Devet, que não importa o quanto, nem como eu tente esconder, ainda é a garotinha frágil e indefesa que aparece em meu espelho todas as manhãs. Uma garota nascida na Alemanha, criada na França, de sangue Judeu, escondendo-se em uma família de nome Russo. 
 Não pense, nem por um segundo sequer, que não tenho orgulho de quem sou.
 Eles podem oprimir o meu povo, condenar-me, perseguir-me… Mas jamais mudarão o sangue que corre em minhas veias. Vivo como Ivy Savinna desde os quinze anos de idade. E cinco anos depois, continuo mantendo viva e escondida em mim a menina judia, Adena Devet. 
 A opressão contra meu povo só aumentava com o passar dos anos. O nazismo, só crescia. A cada dia, o movimento cruel e mortal tomava mais força, despertando os sentimentos mais obscuros de uma nação á beira do caos, pronta para seguir qualquer um que lhes apresentasse a mínima possibilidade de esperança, e que aceitasse jogar a culpa de sua desgraça em quem quer que fosse. Eles só precisavam de um líder, e o tiveram. O Fuhrer despertou a irá, manipulou uma nação quebrada em busca de um crescimento rápido e inconsequente. Fez com que os alemães acreditassem que eram melhores por natureza, e que havia algo, ou melhor, alguém, uma praga que se espalhava entre eles, responsável pela queda de sua nação. E o que era essa praga? Toda e qualquer pessoa que fosse diferente. Judeus, Negros, Ciganos, Homossexuais. Os impuros.
 Assim, com o ódio instalado dentro e fora de seu próprio país, a Alemanha mergulhava na Segunda Guerra mundial. 
 Será que existe alguma chance de Adena Devet voltar a viver totalmente ou, literalmente, morrerá de vez? O futuro aparentemente sombrio tem todas as respostas já escritas.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Deixem reviews, hein?
Beijos!