O céu anunciava uma poderosa tempestade chegando. Para arrastar o resto de vida que tinha naquela cidade esquecida. Raios dançavam em sincronia, esperando a música do trovão chegar de surpresa. Vidas esquecidas, jogadas no asfalto como um lixo. E pelas estradas do inferno permanecia uma pessoa de pé. Entre uma multidão cega ela era apenas uma pessoa surda que perambulava até o fim da linha. Ela não tinha um propósito. Ela não precisa se curvar aos ídolos do mundo, ela não pertencia às pirâmides. Ela não tinha controle de si mesma, e era isso que ela sempre procurava e sabia que no final de tudo, todos ali eram apenas comprados, embalagens sem conteúdo, uma mentira.

Ela esteve por dois mil anos acordada a esse tormento. Ligada ao mundo da mentira. Era como a gravidade puxando ela para dentro de um buraco em fundo. Eles queriam que ela se afundasse no mundo, a única alma que lutava para se libertar estava sendo encurralada. Ela não sabia para onde ia. Ela planejava acordar aqueles que um dia esteve ao seu lado. Seria o dia em que ela iria abalar o reino. Iria fazer todos caírem apenas com a força de vontade de viver livre. A liberdade dela não estava à venda essa noite.

E aqueles que a injustiçaram por ela ter uma opinião, por ela saber o que queria fazer com o resto de sua miserável vida. Todos eles caíram. E a garota iria esmaga-los com seus próprios pés sujos. Ela estava caminhando para a direção certa. Como um zumbi faminto, ela seguia sem descansar. E eles tentavam e tentavam fazer a cabeça da garota. Mas era tarde demais. Ela lutava com todas as suas forças. Aquela força que ninguém mais tinha. O quanto eles tentaram puxá-la para um caminho onde só a escuridão habitava, eles queriam jogá-la aquele buraco, onde ela cairia e morreria.

Canos por toda a parte e fumaças tóxicas. Ela mal podia respirar. Cicatrizes sobre sua pele clara e suja. Beije minha cicatriz e se infecte com a verdade que lhe foi roubada. E ela andava e andava, perdida. Sem direção, apenas esmagando as mentiras alheias. Apenas seguindo em frente sem um rumo. O destino não fazia mais parte dela. Ela era seu próprio futuro com manchas do passado. Deixando as pessoas para trás, pessoas que um dia esteve ao seu lado. E que agora não passam de inimigos desejando que sua alma queime no inferno. E agora tudo que ela vê são apenas zumbis, mudos e cegos. Escravizados pelo hoje, sentenciados pelo amanhã. Sem vida, sem futuro. Esperando a morte.