"Viver sem problemas é impossível. O sofrimento nos constrói ou nos destrói."

Augusto Cury

Acordei com o som alto de meu despertador.A semana havia começado do melhor jeito possível,comigo acordando em cima da hora.Levantei-me de minha cama aos tropeços,e encontrei a chave de meu quarto no chão,bem em frente a porta.Minha mãe deve tê-la recuperado,depois que meu pai me trancou dentro do quarto.Da última vez que isso aconteceu,tive que descer pela janela,usando um lençol torcido como corda.Não foi uma das melhores experiências de minha vida.

Tomei um banho apressado,não gostava de me atrasar.Mas isso não me importava,quando a questão era meu pai estar em casa.Eu preferia me trancar no banheiro,e me atrasar,ao andar pela casa enquanto aquele louco estivesse ali.

Finalmente,ouvi a porta da frente batendo.Coloquei uma roupa e me dirigi até a cozinha para tomar café,e encontrei minha mãe fazendo panquecas.Olhei para seu rosto e me aliviei ao perceber que ela não parecia estar muito machucada.Um cortezinho aqui,um arranhão ali,mas nada muito sério.Dei nela um beijo na bochecha,sentei-me e comi em silêncio.

–O que você estava pensando?-minha mãe perguntou.

Larguei minha panqueca no prato.

–Eu não sei.Eu simplesmente não podia deixar meu...aquele homem-corrigi,evitando dizer que ele era meu pai-fizesse algo com você.

–Você deveria ter ficado em seu quarto.Viu o que ele fez com você?

–Ei,mãe.Eu estou bem.Ele não me machucou.

–Não é isso...é só que...-minha mãe,não pode completar,por que desabou em lágrimas.

Dei nela um abraço apertado,e sussurava coisas acalmadoras como “Vai ficar tudo bem”,”Não fique assim” e coisas do gênero.

Minha mãe conseguiu se acalmar,e resolvi que era melhor eu ir embora logo.Faltavam exatamente 1 minuto para o ônibus escolar passar em minha casa.

Agarrei minha mochila,dei uma última mordida na panqueca,e me despedi de minha mãe.Nesse momento,tive a sensação,de que meus únicos problemas,eram apenas a escola.

POV Thalia

–Thalia!

Jason gritou meu nome.Estava em meu banheiro,escovando meus dentes e me preparando para ir a escola.Bem,deixe-me explicar minha atual situação:meu pai está viajando por uma semana a negócios,e agora sou obrigada a ficar sozinha em casa com meu irmão mais novo Jason Grace.

Na maioria das vezes,eu gosto de Jason.Ele é uma pessoa legal e divertida,mas tem seus defeitos.ENORMES defeitos.Jason tem um fetiche pelo perigo.Gosta de viver em constante adrenalina,pelo menos é isso o que ele diz.Eu só o vejo como um viciado em cigarros ,bebidas e um assaltante de lojas de conveniência.

Andei apressadamente até a cozinha,de onde a voz viera.Me surpreendi ao ver que estava cheia de fumaça,vindo do fogão.Corri para desliga-lo,enquanto tossia bastante.

Me dei conta,de que o “café da manhã” que eu havia preparado,já estava ali a mais de meia hora.Agora era só um pedaço carbonizado em uma frigideira.

Fiquei tão aflita em tirar a frigideira dali,que acabei tocando-a com as mãos nuas,o que deve ter me rendido uma bela de uma queimadura.Abri a torneira e enfiei minha mão ali,enquanto Jason pegava uma luva,e jogava a frigideira em cima da mesa.A essa altura,a fumaça já havia se dissipado.

Encarei os olhos azuis de Jason,e depois a comida carbonizada que estava em cima da mesa.Jason puxou uma cadeira para mim,como se soubesse que eu estava prestes a cair.E ele estava certo.Me joguei sobre a cadeira,meus olhos há um milhão de quilômetros dali.

–Então...o que era para ser isso mesmo?-Jason perguntou,se sentando na cadeira a minha frente.

–Ovos.-respondi curta e grosso,ainda com os olhos distantes.

Houve alguns segundos de silêncio,até que eu senti meus olhos marejarem.Sustentei minha cabeça com minha mão que não estava queimada,e olhei para baixo,envergonhada.

–Thalia...você está está chorando?-

–Eu não estou chorando Jason.Eu não choro.

Jason reposou sua mão sobre a minha.

–Ei,não há por quê se envergonhar.Eu sei que tem sido difícil para você.Também tem sido difícil para mim,mas temos que seguir em frente.Estarei sempre ao seu lado para te ajudar Thalia.

–ME AJUDAR!?Quando você me ajudou Jason!?Tudo o que você sabe fazer é se meter em confusão e sair com uma garota diferente por noite!Quando você vai cair na realidade e começar a notar o que está acontecendo?!Mamãe está morta!Estamos sozinhos Jason!SOZINHOS!-berrei

Jason abriu a boca para falar algo,mas tudo o que saiu foi ar.Não aguentei,simplesmente desabei em lágrimas.Jason me abraçou,enquanto eu chorava em seu ombro.O momento melodramático foi interrompido,pelo som do telefone,avisando que o ônibus escolar já estava lá para nos pegar.

Caminhei pela escola,com minha maquiagem levemente borrada por causa das lágrimas,qual eu não consegui ajeitar no caminho.Parecia um zumbi numa multidão de garotas loiras e bronzeadas.Na verdade,isso nunca me incomodou.Mas agora estava começando a ficar difícil de ser ignorado,principalmente por que elas não hesitavam em fazer pequenos comentários para me relembrar disso.

Fui atrás da única pessoa qual eu tinha vontade de falar.Annabeth.A mesma estava sentada em um banquinho,lendo um típico livro de arquitetura.Sentei-me ao lado dela,e a cumprimentei.

–Oi Annie.Novidades?

–Nada que você vá achar interessante.Apenas coisas sobre livros,arquitetura...

–Ei,não sou uma líder de torcida.Eu gosto de ler também

Compartilhamos uma risada.Era uma de nossas típicas risadas,que só serviam para mascarar a dor e o sofrimento.Sabia que Annabeth tinha seus próprios problemas em casa.

Estava prestes a falar algo,até que meus olhos se voltaram para um garoto loiro,que estav virado de costas,guardando livros em seu armário.Não sei por quanto tempo o fiquei o encarando.Só sabia que parecia ter sido uma eternidade.

–Thalia você está bem?-Annabeth seguiu meu olhar-Ah não...Thalia,você sabe que ele...

–Não é nada Annabeth!Eu não estava olhando para ele.

Annabeth me lançou um olhar desconfiado,e resolveu não discutir.Voltou a tagarelar sobre o novo livro que ganhara de Stephen King.Sempre que ela começava a falar demais,era como se meus ouvidos se tapassem.E a única coisa que eu conseguia prestar atenção era na pessoa que estava a poucos metros de mim.

Me peguei sorrindo para mim mesma,ao pensar nele.Seus olhos,seus cabelos,seu senso de humor...tudo nele era estupidamente perfeito.E o melhor de tudo era que ele era a única pessoa,qual conseguia me fazer sorrir verdadeiramente,em meio a tanta tristeza,apenas guardando livros em um armário.]