"Qual o motivo de jogar um jogo que você perderá?"

Lies - Marina and The Diamonds

Ouvi o estrondo de uma garrafa de vidro se quebrando."Ótimo" pensei "Meu pai deve ter chegado".

Tranquei a porta de meu quarto,só por precaução.Coloquei o volume da música no máximo e voltei a me concentrar no que deveria estar fazendo."Trigonometria,Annabeth.É apenas com isso com o que você deve se preocupar."

Não que eu precisasse de tanto estudo para entender Matemática.Mas,quanto mais estuda,maior é sua nota não é mesmo?Ah por favor,isso é inútil.Vou tirar um dez de qualquer jeito.E não estou me gabando.É apenas a verdade.

Larguei minha caneta na cama.Deitei-me e deixei a música adentrar meus ouvidos.Não gostava de bandas pop,ou qualquer outro tipo de modinhas.Só para você ter uma ideia,nesse momento,estou ouvindo Under Cover Of Darkness do The Strokes

–Don’t go away...I Will wait for you...-cantarolei baixinho.

Minha voz(que não era tão boa assim) foi abafada por um grito feminino.Eu sabia o que estava acontecendo.Uma lágrima indesejada rolou pelo meu rosto.Como eu era fraca.Sempre deixava isso acontecer,e apenas ficava chorandp,com medo do que poderia acontecer comigo.Mas não dessa vez.Juntei toda a coragem que eu guardei durante todos esses anos,e destranquei a porta

Respirei fundo.Aquilo podia ser um dos maiores erros da minha vida.”Ele estava bêbado.Poderia fazer qualquer coisa”.Dei o primeiro passo para fora da minha zona de segurança – meu quarto.A alguns metros de distância de mim,corredor a frente,estavam minha mãe e meu pai,Frederick Chase.

Miserável.Não sei quantas vezes desejei baixinho poder acender um isqueiro perto dele.Ele provavelmente iria pelos ares,devido a quantidade de álcool que ele consegue manter em seu corpo.

A luz estava fraca.Mas mesmo assim,poderia ver a cena com clareza.Meu pai,agarrando minha mãe pelos seus cabelos loiros,com uma garrafa de whiskey praticamente vazia,apontada para sua cabeça,pronta para acerta-la.Já havia visto aquela cena milhares de vezes.Mas nunca me atrevera a ir tão perto.Eu apenas assistia,por uma fresta da porta de meu quarto,enquanto chorava,num misto de ódio e tristeza.

Dei mais alguns passos a frente.Os olhos cinzentos de minha mãe voltaram-se para mim.Sua boca se mexeu,formando apenas a palavra “não”.Ela queria que eu voltasse para dentro de meu quarto como sempre fazia.

Por um segundo,pensei em realmente fazer isso.Porém,era tarde demais.Frederick percebeu o olhar de minha mãe.Virou-se para mim,com os olhos mais vermelhos do que nunca,graças a bebida.Ele franziu as sobrancelhas,confuso.Tentei parecer forte,mas sentia meus joelhos falharem e minha respiração estava mais rápida do que o normal.

–Volte para seu quarto,Annabeth.-ele falou frio,e com a voz rouca.

“Era minha chance” pensei.Poderia voltar a meu quarto e estudar trigonometria.

Cometi o erro de olhar nos olhos de minha mãe.Ela precisava de ajuda.Eu não seria mais fraca:iria ficar ali,e ajudar minha mãe.

–Não-falei nervorsa-Solte-a

Ele se aproximou um pouco mais de mim.Examinou minha expressão,riu debochado,me fazendo sentir seu horrível hálito.Fiquei com uma enorme vontade de vomitar.

–E quem vai me impedir?

–Eu.–respondi

Ele riu ainda mais alto.

–E como pretende fazer isso,querida?

Tentei falar,mas nada saiu.Eu não tinha como enfrentar um homem adulto.Nesses momentos,valentonas como Clarisse são bem úteis.

–Solte-a,seu canalha miserável!-berrei.

Não podia nem acreditar em minhas palavras.Nunca havia falado com ele assim,não era louca.Mas agora eu estava fazendo a maior loucura da minha vida.

Ele lançou-me um olhar furioso,e agarrou meu braço.

–Ah!Então a senhorita está se achando rebelde,por que é uma adolescente estúpida!?Faça um favor a si mesma.Saia da minha frente,ou eu farei por você.

–Não.Eu não irei sair daqui até deixar minha mãe em paz!

Ele segurou meu braço ainda mais forte,me causando uma dor bastante incomôda,mas permaneci com a expressão dura.O ódio em seus olhos pareceu se concentrar exatamente nesse momento.Ele me arrastou com tanta força que eu,infelizmente,não consegui permanecer no meu lugar.A única coisa que eu poderia fazer era andar,para evitar de cara no chão.

Frederick abriu a porta com um chute.Me jogou ali dentro com tanta força,que eu acabei tropeçando,e caindo no chão,mas sentada.Encarei o rosto de Frederick,ali jogada no chão,enquanto ele me trancava em meu quarto,sem nenhum remorso.

Minha mãe gritou novamente.Eu havia falhado,e nesse momento meu pai deveria estar agredindo ela.

Enterrei minha cabeça entre os meus joelhos,e chorei como nunca antes.Eu era fraca.Muito fraca

Beijinhos *-*.Espero que tenham gostado :)]