Bleeding Again escrita por Kiyuu


Capítulo 9
Change


Notas iniciais do capítulo

Gente, GENTE, eu sei que atrasei uma semana de novo, mas o capítulo veio grande pra compensar! E agora (finalmente) entrei de férias, e vou ter mais tempo pra escrever! ~yay~
Demorei um século pra pensar em um nome que resumisse o capítulo mas nada saiu ¬¬'
Bem, boa leitura ^^



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Era um corredor gelado de hospital, o chão forrado por ladrilhos brancos e reflexivos que espalhavam a mesma cor por todo o local. Havia certo movimento de médicos vestindo batas também alvas e algumas visitas procurando por seus pacientes – familiares e amigos que haviam sofrido algo por estarem ali.

Arthur estava esperando por algum sinal, uma resposta, um resultado. Ele sentava em um dos bancos estofados da sala de espera, tamborilando os dedos com impaciência aparente. Ao seu lado estava uma mulher loira e bem-vestida, sentada em uma posição elegante, as pernas cruzadas e coluna reta. Ela discretamente, ora ou outra, lançava o olhar para o outro loiro, que ficava vermelho no instante que notava e desviava o rosto. Afinal... Ele realmente não sabia se tinha atrações por mulheres. Pouco se lembra de ter admirado uma ou outra de longe, há certo tempo, mas no momento ele só tinha olhos para uma só pessoa.

Sacudindo a cabeça, ponderou que aquele não era definitivamente algo para se pensar naquele momento. Peter havia sido encaminhado diretamente para a emergência, e ele havia ido junto para esperar o resultado.

Aquela cena voltou a atormentar sua cabeça novamente. Ele relembrava do som agudo da borracha daquele carro, que freou bruscamente, e da anterior felicidade do garoto exprimida no sorriso que ele esticava ao saltitar à área de perigo. Além disso, só de imaginar o estado físico dele, que ele presenciou frente a frente, algo lhe apertava o coração, causando uma pontada em seu peito.

Começou a suplicar, pedindo para alguém que ouvisse, que nada tivesse acontecido com ele. Logo agora, que recebera esta chance de cuidar de seu sobrinho o qual nunca deu muita atenção, e que começara a gostar disto, o acidente repentino aconteceu... Estava tudo correndo tão bem.

Uma dor de cabeça suscitou-se, como uma voz aguda e incômoda que gritava dentro de seu consciente, e ele apertou as pálpebras com a ponta dos dedos para tentar aliviar a dor.

– Você está bem?

Arthur abre os olhos e torna-se em direção da voz. Era a loira.

– Estou, sim, obrigado. – Ele assente, mas de modo seco.

Ela ainda parece um pouco desconfiada, mas o ar rabugento dele a fez calar-se pelo bem de sua consciência.

O seu telefone toca novamente, quebrando o silêncio que reinava na sala. Algumas das poucas pessoas que ali estavam desviaram-se para ele, o que o fez, constrangido, retirar o aparelho do bolso e atender discretamente.

– Arthur, cadê você? Eu já estou esperando aqui no cinema há meia hora, e...

– Alfred, meu deus, venha para o hospital. – Arthur mal o espera terminar, mas fala baixo para não chamar a atenção.

– Hospital...? O que aconteceu? – Indaga ele. - ...Não houve nada com você, não, né?

– Não, eu estou bem. É o Peter – Ele responde com uma voz um tanto preocupada. – Apenas venha, por favor... Eu preciso de alguém – Confessa, um tanto envergonhado.

– Tudo bem, já estou indo agora mesmo! – Alfred imediatamente concorda, e trata-se de logo fazer a sua visita ao hospital.

O tom de voz que Arthur usara o deixara preocupado... Nunca o ouvira falar daquele jeito, e a aflição terminou por lhe afetar assim como nele.



Logo que viu Alfred adentrar a sala em passos despreocupados, cerca de quinze minutos após a ligação, Arthur repentinamente levanta-se e corre até ele.

A sala naquele momento estava vazia – todos os presentes, os quais eram apenas a mulher, um senhor idoso e um rapaz – haviam ido para seus respectivos rumos, então ele não ponderou em abraçá-lo com força e subitamente, enterrando o seu rosto sobre a sua jaqueta de couro.

– Artie, o que aconteceu? – Pergunta Alfred, um pouco tocado pela situação do outro. Ele parecia estar mesmo desesperado.

– Alfred... O Peter... Ele... Houve um acidente – Gagueja o loirinho, ainda preso entre aqueles braços. – Ele... Simplesmente correu para o meio da rua, e eu não me precipitei... E daí aconteceu... Eu vi tudo, Alfie... Mas eu não fiz nada. Eu não consegui fazer nada... A culpa foi toda minha, eu poderia... Poderia ter impedido tudo isso... – Ele tentou o mais que pôde, mas os seus olhos já se sentiam embaçados de novo.

– Culpa sua? Arthur, o que você poderia fazer para impedir isso? Se jogar no lugar dele, e acabar sobrando para você? – Alfred não conseguiu evitar a rudez demonstrada em sua franqueza, e logo depois se arrependeu de tê-la dito.

– Sim... Pelo menos, se eu me jogasse, eu levaria a minha própria pena...

– Arthur, o que você tem na cabeça pra pensar em algo assim? – Ele aumenta um pouco o tom repreensivo de sua voz, e desmancha o abraço para poder olhá-lo nos olhos. – E eu? Como eu ficaria sem você?

– Você deveria ficar orgulhoso – Ele funga, armando uma cara de rabugento.

– Arthur, eu não ficaria nada orgulhoso de passar o resto da vida sem você! Se eu te perder, Arthur, eu não sei como... Nem sei o que seria de mim...!

– MAS EU SÓ QUERIA SALVÁ-LO! – Agora ele grita com desespero, em retorno, arrancando as mãos de Alfred que o seguravam para perto pelos ombros num gesto rebelde. – Um herói de verdade não seria assim, Alfred! Um herói de verdade, como este que você quer ser, não deixaria de salvar uma vida por uma outra qualquer! Que tipo de herói é você, então?

Ele não responde. Ambos se silenciam por um longo minuto, mas o inglês o encara, esperando, a respiração ofegante.

– Bem... Erhm... – Ele mirava o olhar para o chão, como se os ladrilhos encerados fossem extremamente interessantes.

Arthur enxuga os olhos com as costas da mão, desviando o olhar com mais uma fungada. Ele também hesita por um minuto, pensando e repensando nas mil coisas que corriam em sua cabeça.

– Alfred – Ele fala de modo baixo e rouco. – Eu... Preciso de uma resposta.

– O que quer que eu responda?

– Erhm... – Ele respira fundo antes de tentar perguntar. - Eu... Alfred, você... Você me chamaria de... Namorado?

– N-Namorado...? – O americano se espanta um pouco com a questão. Ele nunca havia sequer pensado naquilo... Será que eles eram mesmo namorados?

– S-sim, eu fiquei pensando, se... Bem, nós já... É, você sabe, e... Você nunca especificou pra mim o que nós temos... – Ele morde o lábio.

– Ah... É.

– E-Então...?

– Então...–Um pequeno sorriso se forma em seu rosto.

Ele se ajoelha ao chão de repente, diante de Arthur, e pega uma de suas mãos gentilmente.

– Arthur, você... Quer namorar comigo?

Era um pedido tão romântico e excitante quanto um pedido de noivado, e a voz doce dele fez o outro ficar encantado. No seu rosto rasgara-se um sorriso imenso, sendo acariciado por uma sutil lágrima de felicidade que desceu dos seus olhos verde-brilhantes.

– Sim... Sim! Claro que sim! – Arthur aceita, sem conseguir conter a alegria.

Alfred então colocou um beijo gentil em sua mão, de modo cavalheiro, e em seguida olhou rumo aos seus olhos, através daquelas lentes que brilharam com o reflexo da luz branca.

– Eu te amo, namorado.

– Eu te amo mais, namorado.

– Eu amo mais ainda e ponto. – Ele se levanta para fazer a sua pose de líder.

– Pare, idiota – Arthur ri baixinho, acanhado, e toca a ponta de seu nariz de brincadeira. – Estamos num hospital.

– Sabe que eu já tinha esquecido? –Ri.

Arthur fica um pouco desconfiado, e percorre o olhar ao redor para checar possíveis vigiantes. Mas ninguém provavelmente havia os visto, além de um funcionário de costas carregando algumas papeladas em uma mão e uma xícara em outra.

Mas logo uma enfermeira aparece por trás dos dois, chamando o nome do inglês com uma voz de atendente telefônica.

– Sr. Arthur Kirkland?

– Sim, eu –Ele vira-se e dá alguns passos adiante para aproximar-se da moça de cabelos negros e lisos. – É o Peter? Ele está bem? Por favor, diga que ele está bem... – Começa a preocupar-se, e logo sente a mão de Alfred reconforta-lo acariciando seu ombro por trás.

– Bem, pelo jeito o seu sobrinho irá ficar por aqui por um tempinho... Pelo menos até se recuperar das fraturas e algumas lesões, mas nada muito sério.

– Eu posso vê-lo agora?

– Me desculpe, Sr. Kirkland, mas o horário de visitas já acabou. O senhor pode voltar amanhã, próximo das duas da tarde, até às oito da noite.

Ele mal havia notado o tempo passar. Conferindo o seu pulso rapidamente, notou que o relógio já mostrava nove e meia.

Um pouco frustrado, expira o ar com força para cima. A enfermeira de aparência meio asiática trata logo de se retirar com a prancheta nas mãos.

– Ah... Eu queria mesmo vê-lo. Merda de horário de visitas, git. – Resmunga Arthur.

– Tudo bem, Artie, nós voltamos amanhã... – Alfred discretamente passa os braços pela sua cintura, enlaçando-o por trás ao sussurrar em seu ouvido. Conformado com a proximidade, ele morde de leve o lóbulo de sua orelha. – Agora, que tal ir pra minha casa comigo...? Vamos descansar um pouco...

– A-Alfred, aqui não... – Ele pretende contê-lo, tentando afastar as suas mãos de sua cintura, mas ele era forte o bastante. – É sério, Alfred, pare...!

– Arthur, eu não posso mais esperar... – Ele baixa ainda mais o tom de voz, pronto a seduzi-lo.

– Você é mesmo bem imaturo, não é? Agh... – Arthur resiste, mas tem de render-se no final de um instante, com um suspiro. – Ah, tudo bem, idiota... Vamos logo então. Mas só hoje, ouviu?

– Certo, certo, certo – Alfred sorri, logo o libertando de seus braços.

Arthur volta até o banco onde sentara, e empunha quatro sacolas plásticas aparentemente pesadas, as que havia trazido das suas compras. Alfred oferece-se para ajudar, mas por fim acaba por carregar todas elas e deixá-lo livre gentilmente. Ele força o loiro a apertar o passo para irem rumo afora do hospital, devido à sua “urgência” de desejo.

Já estava um pouco tarde, mas como de costume as ruas continuavam cheias de movimento e trânsito, os veículos refletindo a luz combinada dos postes elétricos e das estrelas que dançavam angelicamente no céu escuro.

A casa de Alfred não ficava tão longe dali, pois o hospital também se localizava no centro da cidade, próximo ao shopping center e ao McDonald’s. Arthur não conhecia a área anteriormente, mas logo quando tornou-se mais próximo dele, percorria aqueles quarteirões praticamente todos os dias.

Começou a planejar se visitaria Peter todos os dias - até que saísse do hospital, para certificar-se de seu estado -, e então dormir na casa de Alfred era mais prático, além de que seria também proveitoso se ele tivesse a companhia dele por esse tempo.

Era um bom planejamento, concordou com si mesmo. Decidiu-se então que elaborara sua nova rotina daqui em diante.



Arthur acordou novamente ao lado de Alfred – desta vez, numa cama confortável -, mas notou que havia sido o primeiro daquela vez.

Estranhou o ambiente logo ao abrir os olhos: Aqueles pôsteres e bagunça não eram nada similares ao seu quarto. De onde estava, tinha a visão de uma mesinha de cabeceira com apenas um abajur e aquele par de óculos jogados despreocupadamente. Estava sendo coberto por um dos braços do outro de modo carinhoso e confortável, mas teve que desmanchar a pose para conseguir sair dali, e com cuidado retirou-o sem desejar acordá-lo.

“Ele é tão adorável dormindo”, sorriu.

Levantando-se da cama, lembrou que estava despido de quaisquer peças de roupas. Um pouco envergonhado, seguiu silencioso até o lado do quarto onde ficava um armário embutido na parede, com uma porta espelhada que abria arrastando-se para o lado. O maior sacrifício foi tentar fazê-la não ranger, mas quando foi procurar algo que pudesse vestir, observou que as vestimentas do seu namorado eram certamente grandes demais para ele.

Com esforço e depois de alguns minutos, encontrou um suéter de toque macio que era definitivamente menor de que o restante – provavelmente alguma peça mais velha – e o pôs pela cabeça, em seguida vendo-se no espelho da porta. Ainda assim, o suéter ficou um pouco grande, de modo que cobrisse até parte de sua coxa e que tivesse que dobrar as mangas para liberar as mãos. Mas de qualquer forma, ficou satisfeito.

Checando o dorminhoco, sai porta adiante, fechando-a com a maior cautela possível. Ele já havia visitado a casa uma vez ou outra, mas ainda não conhecia perfeitamente o ambiente com o qual estava desacostumado, afinal era Alfred quem mais o visitava. O quarto saía na sala, e à esquerda no fundo ficava a cozinha.

Ele segue para lá e trata-se de procurar algo para comer – estava faminto, afinal não comera nada desde o dia anterior, logo após o acidente -, e abriu as portas do armário superior à bancada. O seu instinto automático buscou pelo seu potinho de chá natural, mas só encontrou com muita sorte uma caixinha com aqueles tipos de chá em saquinho. Bem, dava pro gasto... Mas pelo que ele sabia, Alfred odiava qualquer tipo de chá... Porque será que aquela conveniente embalagem estaria no seu armário?

Chegando à resposta, ele sorri. Decidiu que logo após terminar a sua bebida, iria preparar um delicioso café com panquecas para agradecê-lo.



Alfred acordou com um aroma leve e doce no ar, que o lembrava de sua infância, como se estivesse tendo um tipo de déjà-vu. Rápido percebeu que Arthur já havia certamente levantado.

“Droga, ele venceu dessa vez”, ele reclama a derrota para si mesmo.

Com um longo bocejo, ele dispõe-se sentado ainda sob os lençóis e espreguiça-se. Repentinamente, é surpreendido por alguém abrindo a porta.

– Ah... Você acordou, dorminhoco. – Arthur cumprimenta, numa voz ainda baixa como um murmúrio. -... Bom dia.

Avaliando-o rapidamente, viu que ele vestia um de seus velhos suéteres, que ainda ficava amplo sobre seu corpo, e o cabelo loiro estava bagunçado, o que denunciava que não deveria ter acordado há muito tempo. Carregava uma bandeja cuidadosamente encostada ao corpo ,de onde emanava o cheiro que ele sentira antes.

– Ahn...? Eh, bom-dia – Alfred estremece preguiçoso, coçando os olhos.

O inglês senta-se na beira da cama e lhe entrega a bandeja com as duas mãos.

– Bem... Eu fiz pra você – Assume um pouco envergonhado. – Provavelmente deve estar horrível, mas se não quiser...

Sem nem sequer esperar – a fome também o atacava – o americano dispõe-se do garfo e pega uma parcela um tanto grande de uma montanha de panquecas com cobertura de chocolate. Elas tinham uma aparência nem tão absurda como ele previa que teriam, com aquele “cozinheiro” à culpa daquilo. Abocanhando-a, ele mastiga por um instante enquanto Arthur hesita sentado ao seu lado, esperando por uma reação.

– Hum, até que não está tão ruim, Artie – Ele é obrigado a assumir. – Pensei que de você, fosse vir algo pior.

– Talvez você já tenha se acostumado, e não esteja sentindo o ruim – Argumenta o loiro, mas depois partindo para uma brincadeira atrevida. -... Ou talvez você esteja tolerando a comida apenas por causa do cozinheiro.

– Depois eu que sou o convencido por aqui. – Relança Alfred, fazendo-o rir de modo envergonhado. O jeito que ele arrumou os cabelos retirando-os do rosto com as mãos o deixou flutuando na realidade. – Mas obrigado. – Agradece, esticando-se para tocar-lhe os lábios com um estalinho.

– Bem – Prossegue Arthur depois de alguns minutos. – Eu irei me arrumar para ir ao hospital, você vem...?

– Que? Mas nós acabamos de acordar!

– Alfred, já é meio-dia. – Ele afirma, fazendo o americano arregalar-se. – Tenho que apressar-me ou não chegarei a tempo.

– Arthur, o horário de visitas vai até oito horas. – Titubeia ele novamente, tentando não afligi-lo.

– Eu sei, mas...

– Argh, tudo bem, vá lá, me deixe sozinho – Ele arma um bico emburrado, fazendo chantagem como sempre, mas agora com uma careta infantil de desgosto.

– Alfie, não é isso, é que... Bem... É, eu posso estar meio apressado mesmo – Suspira, vencido. – Estou me preocupando demais...Desculpe-me. – Arthur engatinha pela cama até emaranhar-se ao lado dele, encostando a cabeça em seu ombro, e fica ali o observando tomar seu café.



Por fim, devido a certas influências com sorrisos chantagistas, Arthur acaba saindo ainda mais atrasado ao hospital. Agora tinha motivos para a pressa, e agradeceu que o caminho até lá não fosse distante.

Alfred o acompanhou por pura obrigação. Não que ele não quisesse saber do “sobrinho”, mas ficar deitado entre os lençóis, assistindo a algum filme com Arthur em seu colo lhe parecia bem mais confortável, já que eles agora não tinham nenhuma obrigação por enquanto.

O tempo na rua já estava frio, mas o americano não se preocupou muito ao vestir sua camiseta sem mangas, ao contrário do inglês que usava um de seus sobretudos pesados – o qual havia passado em casa para pegar – sobre um suéter macio, além do cachecol em volta do pescoço. Alfred estava congelando por dentro, e arrependeu-se de não ter posto nem sequer sua jaqueta de aviador, mas tinha de manter sua pose e fingir que estava ótimo. Afinal, pessoas como ele não se deixam levar por coisas fúteis como o frio.

Além disso, carregava como um bagageiro um cacho de balões coloridos e com formatos estrelados, e uma caixa de chocolates com formato de coração um pouco suspeita – afinal, aquele embrulho parecia um presente de dia dos namorados.

Logo que chegam ao hospital, Arthur adianta-se em mostrar-se como visita e pegar o crachá na recepção, e é indicado para o quarto onde estaria o garoto.

Alfred o segue como um cachorrinho. Chegam a um dos quartos, e Arthur confere o número indicado na porta antes de batê-la.

Na cama lá estava o garotinho, mirando para uma televisão ajustada na parede à sua frente. Um de seus braços estava coberto em gesso, e o outro levava uma agulha com soro. Vestia uma das batas de hospital, mas parecia não gostar muito dela. Apesar de tudo, ele escapava gargalhadas diante de um desenho animado.

– Pete! – Arthur corre até ele, ajoelhando-se à beira da cama.

– Tio...?

– Sim, sou eu. Ah, que bom que você está bem! Eu estava tão preocupado... – Recita, tentando reprimir a voz embargada enquanto acaricia o cabelo loiro dele. Seus olhinhos azuis ainda pareciam assustados, e era como se aquela cena estivesse sendo refletida neles.

– Tio, o que aconteceu? – Indaga, com uma voz inocente. – Eu... Eu tô com medo...

– Shh, não precisa ter medo... Está tudo bem. Você apenas vai ficar um tempinho aqui, mas o titio vai vir te visitar todos os dias, ta certo?

– Mas eu não quero ficar aqui! Eu quero ir pra casa! – Insiste ele com uma voz deplorável, fazendo tocar o coração de Arthur.

– Desculpe Pete, mas você não pode ir...! Você só vai ficar alguns diazinhos aqui, e depois vai pra casa! – Por mais que lhe doesse aquele pedido de socorro, ele tinha de forçá-lo.

– Escute o seu tio, pequeno. Ele tem razão. – Alfred entra na conversa, fazendo o menino surpreso ao vê-lo.

– Tio Alfred?

– Eu mesmo! – Sorri simpaticamente o americano.

– Bem, todos nós estamos torcendo para que você sare logo e volte pra casa, ouviu? Com o tempo tudo vai melhorar, e quando você ver, já vai ter passado! – Aconselha o inglês.

– E olha, eu trouxe chocolate, bem muito, pra você enjoar de tanto comer!

– Alfred! – Reclama Arthur, desaprovando a idéia.

– Ebaa, chocolate! – Anima-se Peter, abrindo um sorriso e esticando o braço livre para agarrar a caixa com esforço. – Obrigado, namorado do tio Arthur!

– Q-quê? – Alfred arregala os olhos, espantado com o garoto. Em seguida olha para Arthur, que desvia o olhar constrangido, escondendo o rosto com as mãos.

– Não precisa ficar com vergonha, não, tio! Vocês estão namorando mesmo, né? Então porque essas caras? – Sugere, parecendo mais maduro que os dois adultos juntos, o que os fez se sentirem duas crianças.

– É... Você tem razão – Suspira Arthur depois de um instante. – Apenas não fique falando para todo mundo por aí, ta?

– Por que não? – Peter abocanha um bombom.

– Erhm... Bem, sabe, eu e o Alfred... É...

– É porque vocês são dois meninos?

– ...É.

– Ah, sim. Mas as pessoas se amam de verdade, não importa o sexo, né? – Ele sorri. – Não sei por que as outras pessoas falam isso, mas eu mesmo acho legal gostar de um menino feito eu.

Os dois namorados ficaram incrédulos. Arthur parecia ter perdido a habilidade de falar. Os seus olhos estavam embaçados, porém impressionados de como aquela criança poderia ter tanto conhecimento, de modo sendo inocentemente sincero e maduro.

– Ah, tio...! Será que você poderia me fazer um favor?

– C-claro que sim, Pete.

– Você liga pro Raivis pra mim? Eu não falei com ele desde o Halloween e seria legal se ele viesse me visitar.

– Quem é Raivis?

– Meu namorado.

– O que? N-namorado? Espere, você tem um namorado? – Arthur surpreende-se outra vez.

– Ahn, tio, eu não posso ter um não? – Ele arma um bico, protestando.

– B-bem... – Arthur hesita por um minuto. - ...Claro que pode, Pete. Eu ligo pra ele. – Vencido, ele suspira. – Mas como é que você namora com esse... Raivis?

– A gente fica de mãos dadas no recreio, mas ele não gosta muito, porque todo mundo fica olhando pra gente, e ele é tímido. – Peter parece despreocupado, explicando tudo casualmente com os lábios já sujos do chocolate.

– Ah – Arthur tenta não rir. -... Entendo.

Alfred estava em pé, concentrado na conversa, insinuando uma gargalhada. Ao receber um olhar repreensivo, ele tapa a boca para conter-se, obedecendo.

– Então fique tranquilo, que tudo vai ficar bem, ouviu? E o Raivis vai vir te visitar. – Apoia Arthur, tentando parecer compreensivo o máximo possível. Ele dá um beijo na testa do sobrinho, antes de se levantar.

– Ebaa! – Sorri o menino. – Ah, e tio Alfred, espero que não fique chateado pelos chocolates... Né?

– Hã? – Alfred fica sem entender, e olha para Arthur, que tenta disfarçar o puxando pelo braço até a porta.

– Não, está tudo bem, né? Hehehe, até amanhã Pete, temos que ir... É... – Atrapalha-se o loiro, acenando com a outra mão.

– Tchau, tio!

Eles voltam a se encontrar naquele corredor gelado e branco. Arthur tenta desviar o assunto, coçando a nuca discretamente.

– É... Esse menino me impressiona cada vez mais...

– Eu notei! Quem imaginaria que ele soubesse de tudo isso... – Concorda o americano, mas ele não quis esquecer o assunto. – Mas Artie, eh... Aquela caixa era pra mim?

– Bem... Erhm... Era, porque... É, era pra você – Ele suspira, vencido. – Mas vamos, Alfie, ele está doente, e...

– Ahhh, que românticoo, Artieee! – Saltita Alfred, abraçando-o sobre os ombros de modo repentino, para depois deixar um beijo estalado em sua bochecha.

– Ei, seu idiota... Pare! Eu só queria... Agradecer... – Confessa, tentando empurrá-lo do abraço. - E achei que chocolates seriam melhor do que flores pra você...

– E são. Mas agora deixa pra lá... Ficarei sem meus chocolates por deixar feliz um pobre garotinho... Que caridoso que eu sou... – Ele suspira, e arma um biquinho magoado, tão falso como a sua pose de herói.

– Eu não caio nessa.

– Eu sei que não, mas quando você quer.

– Hunf.

Arthur o achava o mais idiota do mundo. Mas era isso que amava nele, e poderia fazer tudo para agradá-lo.



O hospital estava vazio naquela segunda-feira. Apenas alguns visitantes diários e certos funcionários transitavam pelos corredores.

Arthur estava esperando-o sair do banheiro, parado numa quina de parede perto daquela sala de visitas.

Ficou tomando aquele tempo para pensar no que faria em diante. Depois de que as aulas haviam terminado, ele não tinha nenhum compromisso. Mas a sua obrigação era encontrar um emprego para manter-se, afinal, ele tinha que entrar na sua universidade, e viver o futuro que planejou para si mesmo. Mas isso trazia à tona muitos problemas que atrasariam tudo.

Ele havia de deixar o seu namorado para trás, para ir estudar em Londres. E aquilo era a pior coisa que ele desejava. Tentou assegurar-se de que falaria sempre com ele por telefone e internet, além de visitá-lo sempre que pudesse, mas de qualquer modo, era tudo muito complicado. Além disso, estava com a responsabilidade de cuidar do seu sobrinho... E não poderia deixa-lo sozinho, até que Scott tomasse novamente a guarda.

Ele refletia e refletia sobre tudo aquilo quando uma figura desesperada passou por sua frente, atenuando os pensamentos.

Era um rapaz de cabelos brancos, como visto de costas. O seu jeito lhe lembrava a alguém, mas quando ele virou-se, conseguiu confirmar de quem se tratava.

“Gilbert...?”

Era mesmo o prussiano. Ele estava aflito como nunca visto, com as mãos na cabeça e andando de um lado a outro desesperadamente.

Trocou algumas palavras inaudíveis daquela distância com uma enfermeira que tentava acalmá-lo, e em seguida deixou-se cair sentado em um dos sofás da sala de espera, tamborilando os dedos impacientemente.

“O que será que ele está fazendo aqui...? Será que falo com ele? Bem, talvez não... Acho que ele iria me recusar, mas do jeito que ele está...”, Arthur fica indeciso.

Mas não adiantou sua decisão: O olhar do prussiano de repente o encontra surpreendido. Ao notar que Gilbert tinha o achado, tenta disfarçar girando o rosto e cobrindo-o com a gola do sobretudo, mas não adiantou.

– Ei, você – Ele chama, numa voz arfante. – Você não é o carinha inglês...?

– Q-quê? Está...Está falando comigo...?

– Sim, sim, você não é... Arthur?

– S-sim, sou eu... – Arthur assume, tornando-se para o outro, mas ainda nasce um pouco de medo dentro dele. - ...O que você quer?

– Kesesese – Ele deixa escapar uma risada, embora forçada. - Eu não vou te bater, cara.

O inglês suspira, e caminha alguns passos adiante para sentar-se no mesmo sofá – embora a um assento de distância. O prussiano não responde. Ele apenas recosta-se no assento, inclinando a cabeça para trás e expirando uma lufada de ar.

Arthur fica alguns instantes articulando o que iria falar, mas simplesmente estar à frente daquele alvo o deixava nervoso.

– Erhm... Bem... O que houve...? – Ele tenta, suando frio e ainda receoso daquela figura à sua frente.

– Ah... – A sua expressão retorna a ser a que seu rosto mostrara antes. - ...O meu irmão sofreu um acidente. Ele foi assaltado e reagiu, então acabou... Levou um tiro no peito, e eu não sei se ele... – Gilbert fecha os olhos por um minuto, talvez para impedir as lágrimas de arruinarem sua imagem.

– Oh... Eu... Eu sinto muito.

Arthur ficou ali o observando. Nunca pôde imaginar de que por trás daquela máscara de dominante e convencido havia um rapaz sensível como aquele. Sentiu realmente pena dele. Sentiu pena de quem o fizera sofrer... Mas pelo jeito, ele também tinha mudado.

Mas porque será que havia o chamado ali, naquele hospital, como se precisasse de ajuda? Era como se aquele bully mandão precisasse de um amigo – como ele precisou antes.

– Onde estão... Hum... Seus amigos? – O loiro procura apenas ajudar. -... E a sua namorada?

– Não tenho notícias... Muito menos da Elizabeta. – Lamenta-se ele. - ...Ela terminou comigo. Parece que desistiu de mim, para me trocar por um carinha austríaco boa-pinta.

Ele não responde – estava ali apenas para ouvi-lo, ao que parecia. E tentou fazer isso de modo mais compreensivo possível.

– E na formatura... Bem... Acabei brigando feio com o Francis e o Antonio, e não venho falando com eles desde então. – Ele cerra os punhos. – Acho que fiquei sozinho nessa, agora.

– Bem, e-eu...

– Olha, Arthur... – Ele corta. - Eu sei que eu te maltratei muito, e agora entendo como você se sente. – Gilbert confessa sinceramente, suspirando de novo. - Acho que mereço isso, depois de tudo que fiz você passar.

– Não, claro que não merece...! Eu... Eu sei que sofri muito por sua causa, mas eu nunca vou desejar o mesmo mal... – Arthur apoia francamente.

– Sério? Cara, nunca imaginei que você fosse tão bacana. – O inglês sente-se satisfeito ao arrancar um sorriso sem-graça do alvo. – Danke! – Ele agradece, pegando de leve em seu ombro.

– A-Ah, que é isso... – O loiro fica sem-graça, as bochechas corando levemente, e desvia o olhar para o chão rapidamente.

Aquela conversa foi interrompida por um som de passos jogados com força ao chão, e em seguida uma voz rabugenta.

– Artie, vamos? – Alfred chega por trás, tomando o lugar de Gilbert ao segurá-lo pelos ombros, fazendo-o tomar um ligeiro susto.

Ao encontrar o olhar vermelho do prussiano, ele semicerra os olhos armando uma expressão intimidadora. O outro manda de volta um sorriso sarcástico, levantando uma sobrancelha.

– A-Alfred...? – Arthur chama, tentando amenizar aquele olhar desafiador que ambos trocavam.

– Oh, vejo que tem que ir – Gilbert fala irônico, sem deixar de perder o joguinho do olhar. – O seu namorado parece bem ciumento...

– H-Hã? – Arthur fica tão vermelho como um tomate. A conversa prendeu a discreta atenção da loira à esquerda.

– Apenas cuido do que é meu. Não irei deixá-lo com alguém como você, depois de tudo que o fez. Passar bem. – Lança Alfred, agarrando o braço de Arthur e puxando-o para se levantar. – Vamos, Artie.

O americano arrasta o inglês pela mão, que estava constrangido ao máximo, levando-o para fora da sala em direção à saída.

Gilbert, sem ser intimidado, solta uma risadinha. A loira intrometida ainda prestava atenção – assim como uma senhora sentada do outro lado da sala -, mas ao virar-se para elas, imediatamente fingiram que nada acontecera.


Ao chegarem do lado de fora, Alfred logo começa a repreendê-lo.

– O que você estava fazendo com aquele cara? – Resmunga, enquanto caminhava ao seu lado, mas com as mãos nos bolsos de modo emburrado como sua careta.

– Alfred, será que dá pra parar? Eu não estava fazendo nada! – Protesta Arthur, tentando fazê-lo crer na sua sinceridade.

– Arthur, esse cara já te fez muito mal, e você sabe muito bem disso. Ele te fez sofrer pra caramba! Olha só o que ele te fez, Arthur! – Ele pega o seu braço repentinamente e afasta a manga do sobretudo para exibir uma cicatriz que ainda estava lá. – Você vai confiar nele, e acabar se dando mal de novo!

– Escuta, Alfred, o Gilbert mudou. Ele é um cara legal, acredite, eu só fui falar com ele porque ele precisava...

– Não precisava falar com ele, ele sabe se virar sozinho, disso eu tenho certeza. – Alfred corta o esclarecimento num resmungo entredentes. Não queria nem olhar para Arthur naquele momento, e mirou os olhos em frente, certo de que a razão era toda sua.

– O irmão dele sofreu um acidente...! – Arthur tenta novamente explicar os seus motivos. - Além disso, ele brigou com os amigos, e a namorada terminou com ele...

– Eu tô me fodendo pro irmão dele, pra os amigos dele, pra namorada dele! – Ele quase grita, interrompendo-o novamente. - Queria que todos fossem pro inferno! Só quero que deixem você em paz!

– Será que dá pra parar de ser ciumento?

– Não sou ciumento. – Mente ele, fazendo bico. - Eu só quero assegurar que você vai ficar bem.

Bloody Hell, Alfred, eu sei me cuidar! – Insiste o loiro, tentando mostrar-se independente.

– Não, você não sabe se cuidar. Se não fosse por mim, você estaria lá ainda, todo machucado, sem ninguém pra te apoiar – Ele rosna, convicto de que era a razão de toda aquela superação.

O inglês freia de repente, parando para olhá-lo frente a frente.

– Eu aguentei isso por anos, Alfred! – Agora Arthur grita de volta, os seus olhos enchendo-se de lágrimas. – Mas eu sei que você me ajudou bastante a superar tudo isso... Mas você não impediu nada, Alfred. Eu me levantei sozinho. Eu – Ele aponta para o próprio peito, agora falando sério e encarando-o nos olhos – que decidi, naquele momento, parar de chorar e enfrentar os meus problemas. Eu descobri que mesmo com todos eles, não há motivos para se lamentar. Porque só o bem de estar vivo já é um motivo para agradecer.

Alfred não retorna mais nada. Continua a fita-lo com seu olhar mais sério possível, sem mostrar-se impressionado, os olhos semicerrados.

Do mesmo modo, o loiro enxuga ligeiramente os olhos. Em seguida vira-se o mais direto possível, e segue em passos retos e sérios - quase esmurrando o chão com a sola de suas botas – o caminho pela rua que levava à sua casa, deixando o americano sem reação aparente para trás.

Não iria dormir com Alfred por hoje.



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Notas finais do capítulo

Cara, perdi a conta de quantas vezes eles já brigaram... Mas é USUK, e de qualquer modo até as brigas são fanservice, não é? XD
Non ligue para os palavrões, porque o Alfie tá #chatiado
Ah, e Raivis é o nome real do Látvia, pra quem não sabe ^^'
E aí gente, reviews? *se mata*



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