Bleeding Again escrita por Kiyuu


Capítulo 6
Pain Rain


Notas iniciais do capítulo

(ESSE TÍTULO RIMA, É ESTRANHO.)
Enfim o capítulo 5. Bem... Não irei dizer sobre ele ou perderá a graça. ewe
Só digo que ele veio com #feels em massa dessa vez. Então prepara o coração XD



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A segunda-feira, retomando a rotina comum, reaparece no horizonte, alegre e cintilante.

Arthur já acorda exibindo um sorriso bobo, e ele continua fixo em sua face até que chegasse à escola e se reencontrasse com o seu heroizinho idiota. De alguma forma estar com ele o deixava motivado e de bem com tudo, pouco se estressando com futilidades como de seu costume. Nem aquele engarrafamento agonizante conseguiu o abater e arrancar-lhe a alegria e excitação.

- Wow, tio! – Exclama Peter durante o caminho que seguiam na rua movimentada, pelo qual Arthur o levava à sua escola para depois seguir para a sua própria. – Você tá muito feliz mesmo, né? Não tira esse sorriso da cara! – Ele denuncia, fazendo-o envergonhar-se.

- É... Bem, acho que estou bem feliz mesmo – Assume ele, corando enquanto mirava o sol que pairava baixo no céu, floreteando raios luminosos em seus olhos.

- Que legal! – Ele ri. – Você sempre vive mal-humorado com tudo... Deve ter acontecido algo muito bom mesmo, né tio?

- Eh? – Agora ele começa a suar frio, arregalado. Não, não seria nada devido falar àquela criança sobre o que tinha acontecido. - ...Não, bem, eu só estou feliz porque o fim de ano está chegando... E eu irei me formar, além de gostar muito do Natal e de neve, entende? – Disfarça Arthur, soltando um suspiro discretamente aliviado ao perceber que o garotinho havia caído. E bem, era a verdade mesmo. Ele apenas havia omitido algumas coisinhas...

Era capaz de Peter nem entender o que seria uma formatura direito, mas aparentemente ele estava feliz por Arthur estar feliz. E isso o deixava ainda mais.

Após deixa-lo em seu colégio e despedir-se, segue para o seu. Provavelmente chegaria atrasado, mas não tinha problema. Nada irrelevante lhe abalaria, como prometeu para si mesmo. Nada acabaria com sua felicidade, sorrindo sempre. Ele merecia isso após tudo que tinha passado. Merecia ser feliz.

Logo ao por os pés no edifício, checa o relógio e alivia-se ao perceber que sua previsão de atraso não havia se realizado.

Segue para o corredor onde ficava posicionado o seu armário para pegar alguns livros devidos à aula de hoje. Com o sorriso esticado, gira a fechadura e abre a portinha, retirando um par de livros e um caderno e carregando-os no braço direito.

Porém, enquanto fechava, sente algo lhe socar violentamente por trás, fazendo-o derrubar os livros e chocar com a cabeça contra o armário à sua frente.

- Kesesese... – Um riso estridente e agonizante para qualquer ouvido ecoa daquele alvo atrás dele. – Ei, seu idiota, porque está sorrindo tanto? – Indaga em voz provocativa.

- E-eu... – Ele tenta, sentindo o corpo tremer ao ver-se novamente diante daquele trio que lhe aterrorizara.

- Tão burro! – Grunhe o loiro, rindo futilmente para apoiar o alvo. – Sorrindo que nem um doente mental... Como se ele tivesse algo pra sorrir!

- Calma, deixe-me fazer esse favor pra você. – Gilbert sorri, levantando a sobrancelha de modo desafiador. Em seguida, rápido como um raio, leva o braço para trás e o empurra com força direto na boca sorridente do inglês, que desmorona no chão.

“Ai, isso doeu”, ele afirma, gemendo ao tocar os dedos nos lábios e enxergá-los encharcados de sangue, pingando daquela anterior felicidade que exibia sua boca.

Não, eles não haviam desistido. Continuavam a machucá-lo gravemente, tanto no interior como no exterior. A dor apenas piorava mais e mais, agravando-se como uma bola de neve.

Ele apenas rezou naquele momento para que seu herói aparecesse ali, e bravamente o salvasse, o levasse das mãos daqueles vilões. O seu amigo - ou bem mais que amigo - que havia prometido em lhe ajudar, lhe apoiar, lhe salvar das trevas que lhe aterrorizavam. Aquele que lhe prometeu com toda a sinceridade do mundo de lhe ajudar a parar a dor, e o sangue que escorria a cada nova ferida.

Cerrando os dentes com força, as lágrimas começam a escorrer no momento em que ele toma-se a recitar num sussurro inaudível, mais um pedido de socorro:

“Alfred... Por favor... Preciso de você, Alfred...!”

- Ah, está chorando... Coitadinho... – Uma voz que ele não reconheceu, pois resistia em olhar para aquele trio, fala numa voz de pena falsa. – Bem-feito, por ter dedurado a gente pra a direção, seu filhinho de uma...!

Ao mesmo tempo, ele recebe um chute certeiro no topo da cabeça, fazendo-o dar de rosto com o chão, sujando-o da mistura de lágrimas e sangue que jorrava deste.

Sua esperança ainda existia, a que lhe fazia reprimir de levantar-se por si próprio. Mas nenhum sinal, nenhuma aparição, nada sequer lhe trouxe a salvação que ele esperou.

“Não... Você tem que vir, você vai vir...”, insiste sua subconsciência, implorando para o acaso. “Eu acreditei em você... Você falou a verdade...”

Uma nova pressão de vários chutes seguidos sobre o seu corpo desabado no chão ressurge a lhe ferir, mas ele ainda pedia. Mesmo sabendo que seria impossível – pois o acaso nunca ouvia seus pedidos –, o que ele sentia por Alfred o fazia forçar-se a acreditar.

Talvez devido ao pior chute que ele acabara de levar na cabeça – ou apenas o tormento de seus sentimentos interiores -, seus olhos então começam a pesar, e sua mente confunde-se num distúrbio, fazendo-o incapaz de pensar ou nem sequer movimentar-se.

“Não... Eu não posso vacilar novamente... Tenho que ficar... Tenho que...”

                Logo então, a força mais insistente lhe obriga a apagar-se do mundo alheio, levando-o com suas garras para a escuridão.

“Ali... Eles estão ali...!”, a voz paralela e muito distante sussurra no escuro negro onde ele residia sob as pálpebras. Claro que seu consciente não conseguia ouvi-la, mas mesmo assim esta insistia em penetrar ali.

O americano vê-se desesperado, quase em prantos. Correndo em direção ao corpo, um arrepio atormentador percorre-lhe a espinha fazendo-o tremer ao dar de cara com o seu anjinho daquele jeito, e seu olhar paralisa assustado.

Uma poça de sangue despejada no chão, escorrendo de sua boca e de um corte na sua bochecha, além das feridas de chute na cabeça e nas costas. Sua expressão era dolorosa, mas os olhos fechavam como se ele dormisse graciosamente, viajando num sonho agradável.

Com mil dores de espadas penetrando em seu coração, ele esmaga os joelhos contra o chão sangrento, agarrando o corpo pelos braços e pegando-lhe o rosto pelas bochechas, como no dia anterior. Mas desta vez ele não se deparou com um sorriso nervoso, ansiando por um beijo – E sim deu de cara com a pura dor, sangue e lágrimas poluindo aquele rostinho tão lindo.

- N-não... A-Arthur...! O que eles... O que fizeram com você, querido...? – Alfred sussurra roucamente para ele. E então sentiu as lágrimas tornarem sua visão turva, transbordando de seus olhos.

Agarrando-o, ele o abraça calorosamente, o mais forte que pôde, quase fundindo os dois em um só, e murmura em seu ouvido como uma canção melódica e fantasiosa:

“Me desculpe... Me desculpe muito, querido... Mas por favor acredite em mim...” Ele faz uma pausa para piscar e deixar as lágrimas o permitirem de enxergar, mas não desiste em assumir com a voz embargada, pressionando-o ainda mais.

“Eu te amo muito, Arthur... Muito...”

Ele voava naquele céu negro, sem quaisquer definições de órbita. Ninguém, nada, apenas ele, ali, naquele escuro a flutuar. Ah, como era bom fugir daquela realidade, mesmo que a condição fosse ficar preso, ali naquele poço sem fundo.

Mas a escuridão foi se dissipando em fade, até o loirinho erguer lentamente as pálpebras e encontrar-se em um quarto completamente branco, ao contrário do ambiente que convivera anteriormente. Haviam persianas impedindo a invasão da luz solar no quarto, e ele demorou um segundo para perceber que deitava numa cama de hospital serenamente.

- Artie... – Uma face preocupada infiltra seu campo de visão turvo. – Artie, você já acordou...?

- Ahn... O que houve? – Ele grunhe, gemendo ao sentir o corpo inteiro doer, latejando constantemente.

Alfred, ajoelhado ao lado da cama, abre um sorriso com uma pincelada de pena. Leva então os dedos até seu rosto e lhe acariciando sutilmente a bochecha, aproxima-se gentil de seus lábios, já semicerrando os olhos.

- Que bom que você está bem, queri...

- Me responda à pergunta – Corta Arthur, sério. – O que aconteceu?

- B-bem... – Começa ele, afastando o rosto corado. – Aqueles três brutamontes te atacaram, e...

- Sim, isso eu sei, idiota. – Resmunga secamente. – Eu quero saber o que você falou pra eles. O que você fez, Alfred? – Ele exige já enraivecido.

- Q-quê? Eu não falei nada...

Arthur deixa escapar um rosnado entredentes, arrancando a mão do outro do seu rosto com rudeza. Ele se senta bruscamente na cama e torna a encará-lo, o intimidando diretamente.

- Ah, vamos, isso de novo? – Ele diz ironicamente. – Sinceramente!

Ele espera, o encarando com os olhos. Alfred então engole em seco, não conseguindo aguentar a pressão – dele e de sua própria consciência.

- Ah...! Tudo bem, me desculpe, me desculpe! Eu apenas fui lá... E... E eu estava muito preocupado com você... – Ele dá ênfase ao “muito”, pressentindo exprimir a sua relevância. – E eu... Falei para a diretora, que eles... Eles estavam te machucando, Artie! M-mas eu só fiz isso porque queria que eles fossem pegos, eu queria o seu bem...

- Ah, é? Então muito obrigado pelo “bem”, gênio! – Exclama, irônico e duro como uma pedra. – Pelo menos você poderia ter me avisado!

Arthur espera uma resposta, mas o Alfred à sua frente estava completamente vermelho, suando frio e desviando o olhar – para não evidenciar que ele se esforçava para conter as lágrimas.

- Olhe para você! O que você me disse agora há pouco... Aquele papo todo de “confiança” e “verdade”... E como você me pediu para não mentir! – Ele lança o seu próprio argumento de volta para ele. – Você exigiu que eu falasse a verdade, e agora está cometendo o mesmo erro! E eu? Eu que só penso em mim? – Ele para para respirar fundo, tentando se conter. – Pensei que isso fosse uma troca de nossas verdades, de confiança entre nós mesmos, mas... Realmente... Não dá pra confiar nem nisso, nem nada do que você diz!

- Mas eu... Eu...

- Já chega, Alfred. – Agora os seus próprios olhos insistiam em derramar lágrimas de raiva e decepção. – Depois que... Que... Aquilo aconteceu, e você me falou tudo aquilo, eu... Pensei que, de verdade, pudesse confiar em você novamente, e aí pimba! – Ele faz um gesto socando a própria palma. – O Arthur idiota aqui cai de novo nessa sua história falsa...

- N-não... V-você pode confiar em mim, com toda a certeza do mundo... – Ele tenta justificar-se, a voz embargada e falhando. – O idiota aqui sou eu, que sempre vacilo sério com você, a culpa é minha, não sua...

- Exatamente. A culpa – Ele enfia o dedo indicador no meio do nariz do americano. – é sua. Toda sua!

- E-Eu... Eu... – Ele gagueja atrapalhado, tentando não tropeçar nas palavras que ainda buscava.

Mas de repente, um ruído corta a cena. Alguém abriu a porta lentamente, como a propósito de não incomodar o paciente. Ambos tornam o olhar para lá e dão de cara com uma enfermeira.

- Senhor Alfred? – Ela chama, recebendo a atenção deste. – É melhor você voltar para a sua devida aula, mocinho. – Ela aconselha, embora em tom de certa ordem.

Ao voltar com a cabeça para Arthur por reflexo, nota que ele havia se virado de lado com o propósito de ignorá-lo.

- Ah... Tudo bem – Suspira, enxugando o rosto e logo se levantando. – Até mais... Arthur.

                O loiro apenas rosna baixo em resposta, e mantém uma expressão emburrada até ouvir novamente o barulho da porta. E a sua resistência só durou até voltar a ver-se sozinho de novo, naquele quarto vazio e iluminado de branco da enfermaria. As lágrimas jorraram de seus olhos, lamentando-se – por ele, e por si mesmo – enquanto ele se encolhe deitado sob os lençóis.

                De relance, depara-se com um pequeno bisturi disposto na mesa perto da cama. Ele refletia firme a luz que erradicava do lustre acima dele. Então estica os dedos tremulantes para pegá-lo, e leva-o até o seu campo de visão, a ficar manuseando estático o objeto cortante. Um minuto após, solta um suspiro, mas logo respira fundo o ar que perdera. Decidido, ele mira a extremidade afiada na linha daquela sua cicatriz, traçando a mesma reta na sua pele, até o fim do antebraço.

                E sangrava, sangrava as lamúrias provindas das desavenças do seu amor. Doía.

                De novo.

Dias sóbrios seguiram-se, espalhando angústia da causa daquela discussão por toda e cada ação do dia de ambos. Lágrimas rolaram, a ponto de criar mares. Palavras ofensivas foram lançadas como facas amoladas. E sangue havia escorrido, sangue havia ressangrado.

Arthur às vezes perdia a noção de sua certeza. Ele havia realmente se apaixonado por aquela pessoa, a qual jurara ser a sua chave de ouro. Então como se diz, o amor vem acompanhado de dor, e agora ele entendia isso. Ele o havia pedido confiança, e confiança havia sido entregada em presente. Agora ele apenas exigia um pouco desta de volta, de modo justo.

Haviam passado três dias sem trocar uma palavra sequer. Entretanto, alguns olhares - ora frios, ora flamejantes – não conseguiram ser reprimidos durante os momentos de cabeças tontas e confusas em aulas entediantes.

Alfred também sentia a dor. Mas a sua era o peso da culpa, a consciência lhe mostrando o errado. Pelos sentimentos que lhe suscitavam do coração em respeito àquele inglês ali, magoá-lo era a última coisa que ele desejaria.

Pelo menos aquela dor machucava igualmente. Era justa.

O americano estava desesperado. Uma semana inteira se passara. Era uma quarta-feira, solitária outra vez. Ele não aguentava mais ficar longe dele, sem seus lábios, sem sua voz, sem seus olhos, sem respirar o mesmo ar.

Ele debruçava-se sobre a mesa daquela lanchonete vazia, a cabeça enterrada entre os braços, tentando não esbarrar na bandeja do lanche já consumido. Estava observando distraído os pingos da chuva forte grudarem na janela, escorrendo como lágrimas pelo vidro transparente.

E imaginou o reflexo de um lindo loirinho de olhos verdes, com um sorriso estonteante, surgir ali através da chuva em prantos. Por um momento observou-o atentamente, levado pela energia da sua paixão por este. Mas ao notar que era apenas um reflexo – uma ilusão da sua própria imaginação – ele desaba novamente, tentando conter-se para não derramar as lágrimas ali publicamente.

- Alfred? Tudo bem com você?

Ele curva-se de lado e se depara com a funcionária moreninha – agora de cabelos soltos, jogados sobre os ombros – o examinando com a cabeça pendente para o lado.

- Ahn... Sim... Sim, está tudo bem. – Ele mente, tentando não parecer tão rude.

Ela não responde. Conhecia quando alguém mentia sobre seus próprios sentimentos, e então decide esperar um segundo até vê-lo confessar-se.

Mas Alfred torna o rosto para a janela larga que cobria toda a parede, e volta a prestar atenção à chuva pluvial que chorava das nuvens. As ruas erguiam uma camada fina de água, atrapalhando o trânsito que rodava por ali. Podia ser estressante, mas ele gostava da chuva. O motivo apenas não sabia, mas aquele fenômeno sempre o deixava tranquilizado e sensível.

O que ele tinha vontade era de correr até ele, no meio daquela chuva, ajoelhar-se e pedir mil desculpas desesperadamente. Mas o seu heroísmo não era tanto a ponto de assumir aquela coragem, e isso abaixava a sua própria autoestima e consciência.

Mas então, fitando a rua chuvosa afora, ele dá de cara com um borrão colorido do outro lado da rua. Era aquela floricultura.

Conseguiu ver as rosas que brotavam de uma vitrine externa, junto com violetas, margaridas e belas pérolas da natureza de todas as cores do arco-íris. A chuva as molhava completamente, mas elas pareciam não se importar. Afinal, a chuva era revigorante – apenas as deixavam mais vivas e cintilantes, prontas para arrancar um sorriso de alguém amado.

- É isso! – Exclama ele, a ideia surgindo de repente na sua cabeça. Bruscamente, ele se levanta da mesa, deixando o restante da Coca-Cola para trás, seguindo em passos largos e agoniados para a porta envidraçada.

- Espere, isso o que...? – Indaga confusa a garota, ainda parada no mesmo canto. – Alfred! O que...

- Apenas vou salvar... Vou salvar a minha última chance! – Ele responde, tendo que gritar, pois já estava a metros de distância dela, já do lado de fora da lanchonete. – Até mais, Chelles!

- Mas Alfred, a chuva...

E ele nem presta atenção à indicação quando vê-se correndo desesperado pela calçada. A chuva desabou sem dó por cima dele, encharcando-o por completo. Mas ele não se importou, pois ela seria para ele agora como era para aquelas flores as quais corria rumo do outro lado da rua.

Passando por brechas entre carros parados na rua, ele chega à loja e já sai entrando, fazendo o som de um sininho ecoar e despertar a atenção de um funcionário que lia um livro na bancada da loja vazia. Ele possuía cabelos castanhos que se estendiam até alguns centímetros acima dos ombros, e olhos da cor dos seus – um azul vivo. Ele parecia ser do tipo simpático e prestativo.

- Boa-tarde! O que deseja? – Cumprimenta ele devidamente, dispondo o livro marcado sobre a superfície para não distrair-se.

- Por favor. Me faça o melhor buquê que consiga. É uma emergência. – Ele pede arfando, encarando fixamente o rapaz para tentar mostrar a relevância do caso.

- Ah, claro que sim! Que tipo de flor desejaria?

Ele olha de relance para trás. As rosas vermelhas estavam lá, brilhando sob a chuva gelada.

- Rosas. Rosas vermelhas. – Afirma então, decidido.

Ele espera alguns minutos, debruçado na bancada de atendimento enquanto o funcionário prepara, com um alicate de podar e dedos ágeis, um emaranhado de flores vermelho-vivas, com outras pequenas brancas e amarelas de enfeite saltando aqui e ali. Ele então embrulha o monte com um plástico trabalhado em detalhes, e amarra com uma fita vermelha no mesmo tom das rosas, fazendo um laço.

- Aqui está, senhor. – Ele fala ao entregar o ramalhete cuidadosamente nas mãos do americano.

Surpreendendo-se com o tamanho daquilo, ele o segura firmemente, mirando naquelas rosas. Encantadoras, mas não mais que aquele sorriso. Talvez com esse fascínio, elas conseguissem fazer renascer a felicidade naquele olhar que ele tanto desejava. Talvez incendiasse novamente a chama daquele amor que eles eram obrigados a admitir.

Diante daquela expectativa, ele sorri de modo tolo e feliz para aquele buquê em suas mãos. Era mesmo perfeito.

- Hã... Senhor?

- Oh, me desculpe. – Ele perdoa-se pela distração, um pouco envergonhado. – Enfim, aqui está – Ele estende uma nota de cinquenta dólares sobre a mesa, para a surpresa do rapaz.

- Não, apenas são vinte dólares no total, senhor – Avisa, arregalado. – Porque eu utilizei rosas mais finas e novas, fica um pouco mais caro... Mas não é para tanto assim.

- Não, não – Ele balança a cabeça. – Pode ficar com tudo. Você fez um trabalho maravilhoso.

Sem dizer mais nada, ele sai da floricultura, recebendo a camada de chuva sobre os seus ombros novamente. Já sabendo para onde ir, retoma a quase correr, andando em passos largos. Seu rosto exibia um sorriso largo e definido, cerrando os olhos que brilhavam esperançosos para o céu choroso e vazio composto por nuvens acinzentadas.

E ele sabia o rumo que devia seguir. Ir atrás do amor que tanto procurou.

O tempo estava tão cruel como os sentimentos que lhe atormentavam. Dizem que a chuva vinha para lavar os males, mas para Arthur, apenas piorava toda a confusão gerada em seu consciente.

Por dentro, ele sabia que certa parte da culpa era sua. E se Alfred tivesse dito tudo aquilo para realmente lhe proteger, por pura preocupação? Ou se ele estivesse... Com medo de contá-lo, e acabar o magoando?

Seu subconsciente mais narcisista o dizia que a razão era sua, e ele apenas estaria criando tudo isso para não ter de odiá-lo mais ainda. Por outro lado, o seu lado com menos autoestima colocava todo o peso sobre ele, por ter sido tão rude com alguém que queria lhe ajudar.

Ele caminhava se arrastando sob um guarda-chuva, com esse turbilhão de tormentos a girar e girar em sua mente. Mesmo protegido, os pingos que derramavam do céu lhe molhavam os ombros. Sua testa e todo o seu corpo estava um pouco febril, talvez por causa da batalha que ocorria em sua cabeça. Caminhava vagarosa e desanimadamente pelo caminho até a sua casa. Ao finalmente chegar ao seu refúgio, ele logo pula as pedras do caminho até a porta e entra rapidamente, jogando o guarda-chuva para um lado e o casaco para outro. Sem nem sequer prestar atenção ao garotinho deitado no sofá a assistir televisão, ele dá passos largos e bamboleantes até chegar ao encontro dos seus lençóis macios e quentes. De algum modo, eles o lembravam de certo abraço o qual adorava, mas chegou à conclusão que não era comparável.

E lá ficou deitado, aconchegado ao travesseiro, enquanto mirava aquele teto vazio o qual sempre criava seus cenários perfeitos.

Não muito tempo após a chegada do inglês, o garotinho que se divertia com um programa na televisão, igualmente agarrado a um lençol grosso e quente, é interrompido por um barulho repetitivo da porta.

“Quem será uma hora dessas?”, pergunta-se o garotinho, curioso. “Tá o maior toró lá fora!”

O barulho se repete, agora mais desesperado e constante.

- Arthur! – Seguiu-se uma voz agoniada vinda de fora. – P-Por favor... Abra...!

Bufando impaciente, Peter larga o lençol e vai até a porta, calçando um par de pantufas para proteger a pele do chão gelado. Tendo de esticar a mãozinha para alcançar a maçaneta, ele a gira e abre o portal com certo esforço.

Seu rostinho torna-se surpreso ao dar de cara com o “Tio Alfred” que conhecera outro dia ajoelhado ao batente de entrada, a tempestade caindo inteira sem piedade sobre ele. Estava visivelmente tremendo de frio, os dentes chocando-se uns contra os outros repetidamente, e não possuía proteção alguma. Segurava um buquê de rosas amarrado com uma fita igualmente vermelha, e sua expressão era uma mistura de medo, arrependimento e paixão.

O garotinho era bem novo e inocente demais para compreender o que estaria acontecendo, e curva a cabeça indagando:

- Tio Alfred? Porque você tá aí na chuva?

- H-hã? – Agora ele levanta o rosto corado, arregalando-se ao ver o garotinho a lhe fitar interrogativo. – Ah... E-Eu... Só... – Ele tenta, gaguejando sem conseguir continuar.

Peter ainda espera uma explicação, mas o que ele recebe é aquele buquê jogado com força em suas mãos.

- A-Apenas... Entregue isso ao seu t-tio... – Pede à criança encarecidamente, mesmo sabendo que era muita informação para sua cabecinha.

- Ah, sim! Mas porque você não entrega, ele está ali...

- Não – Interrompe Alfred. – P-Por favor, entregue a ele... E... E não diga nada sobre mim, ok...?

- Uh – Ele faz bico, mas depois assente com a cabeça. – Tudo bem, então.

E fecha a porta de repente, fazendo Alfred assustar-se com o choque. Ainda estava ajoelhado, a chuva já mais fraca grudando as roupas ao seu corpo. Ficou ainda um instante lá, tentando trazer a si mesmo de volta à realidade. Quando consegue, um sorriso abre-se instantâneo em seu rosto, e ele mira para o céu nublado, internamente rezando suas expectativas.

Decidiu levantar-se, de repente, motivado. Ele não ia ficar ali parado.


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Notas finais do capítulo

Suspense é essencial às vezes então não me enforque XD
Próximo capítulo deve demorar um pouco mais que o normal, pois eu já tinha escrito os outros antes de postar aqui tudo junto... E agora ainda tenho que escrever essa continuação. E além disso, meu aniversário (E FEIRA DE CIÊNCIAS PARA NOSSA ALEGRIA) é esse sábado, então estarei meio ocupada u.u'
Reviews, kawaiis? *w* /morre/



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