Bleeding Again escrita por Kiyuu


Capítulo 5
Truth


Notas iniciais do capítulo

Omg, capítulo gigante! Mas não diminui pois não queria tirar a última - e emocionante - cena, e se eu a cortasse iria ficar sem sentido...
Bem, não sei se terão paciência neste então me desculpem ~se esconde~
Queria agradecer a todos os reviews e favoritos na fanfic, que emoção aqui ;w;
Enfim, está aí o capítulo do Halloween como prometido!



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A terça-feira renasce, reluzindo raios de sol para despertar o mundo, tentando agradar com um sorriso de bom-dia. Todos iam ao trabalho, à escola e às suas atividades, e como de costume, as ruas estavam completamente congestionadas – em plenas sete da manhã. Aquele clima anterior, que a natureza queria cumprimentar o dia, era sempre arruinado pelo estresse daquelas concentrações de carro e agonia.

Bem, era apenas mais um dia.

Também como nenhuma exceção, Arthur parte para a escola, chegando primeiro que todos – apenas naquele dia da semana de antes, o milagre do moreninho chegar primeiro havia se realizado – e sentando-se normalmente. Mas Alfred não demorou muito a pôr os pés na sala, e logo seguiu para o lugar de sempre – ao lado do loirinho inglês.

Alfred sabia que sempre que voltava para casa, já sentia a falta dele, e encontrava-se ansiando para o próximo dia logo chegar, apenas para vê-lo novamente. Só ao entrar na sala, seus olhos assumiam um brilho cintilante, ao notar que ele já estava lá, sentado, o esperando.

- Bom-dia, Artie! – Ele cumprimenta, animado.

- Bom-dia. – Arthur responde secamente, mirando-se para o outro lado sem se preocupar com ele.

Sem estranhar a frieza – isso já era comum a quem lhe era próximo - , Alfred acomoda-se em seu assento, pensando em que investiria no assunto para “quebrar o gelo” daquela vez.

- Hey, Artieee... – Ele começa a lhe cutucar o ombro com o indicador de modo irritante. Bem, essa era sua especialidade.

O loiro olha de canto para ele, com certo desprezo forçado. Seus olhos verdes estavam pesados de cansaço, e haviam grandes círculos escuros dispostos na pele abaixo deles.

- Hã...? – Alfred grunhe, indagando ao observar o rosto dele. – Arthur... Você dormiu esta noite, por acaso?

- Uh – Ele expira com força, enfiando a cabeça – que antes pendia para o lado, sonolenta – entre os braços sobre a mesa, gemendo preguiçosamente. O americano encara aquela situação por alguns minutos, meio confuso.

- A boa, Al... É que vou ter que cuidar de uma criança, e só de pensar nisso tenho dor de cabeça... – Arthur confessa, depois de um instante hesitante.

- Oi? – Ele franze as sobrancelhas, intrigado. “Como assim, uma criança?”, ele pergunta a si mesmo uma resposta plausível, uma amargura lhe incomodando internamente. Sente suas mãos começarem a transpirar de nervosismo, e encara Arthur esperando um retorno.

- É, é. – Resmunga. – O meu sobrinho, Peter, vem passar um tempo comigo... E eu estou muito ansioso, e... Preocupado – Agora, ele inspira fundo o ar o qual pairava na luz solar fraca que ofuscava da janela.

- A-ah! Seu sobrinho, entendo... –Alfred pisca repetidamente, como que para apagar uma imagem que enxergava. “Ufa... Eu... Eu pensei que fosse um... Um filho, Argh!” Ele sente-se idiota e repulso ao mesmo tempo, mas depois tende a rir de seu próprio raciocínio bobinho. – Poxa, isso é realmente um peso!

- Pois é. Aquele garotinho, além de tudo, é um importuno completo... – Rosna Arthur, relembrando da personalidade hiperativa e irritante de Peter Kirkland.

Ao ver-se sem resposta ou qualquer ruído, Arthur olha confuso para um rosto lhe encarando atentamente. Ele sempre o encarava tanto assim, com um olhar que cintilava como as estrelas que ele havia admirado na noite anterior. Elas lhe lembravam muito daquelas orbes azuis.

Sem escolha, prossegue:

- Então, Peter, meu sobrinho, vai ficar comigo por aproximadamente um mês... – Ele explica. – E eu... Ficarei bem ocupado... Talvez não dê mais pra almoçar com você... E...

- O quê? Não, Artie, por favor, isso não, não me deixa almoçar sozinho, eu não consigo mais sem você – Alfred se desespera, ajoelhando-se subitamente no chão ao lado do assento de Arthur, como se implorasse algo terrível - e tagarelando suas insistências esperançosas sem respirar. Ao dar de cara com aquela face manhosa, uma pontada aguda atinge-lhe o coração. – Artie, eu... Eu me sinto sozinho, agora, quando você vai embora...

- E-eu... Me desculpe, Al... – Tenta acudir Arthur. – Mas realmente ficará difícil...

- Agh... – Ele grunhe com um bico, e põe sua máscara mais insistente e completamente adorável no rosto. Parecia até uma criança pedindo um docinho, com manha e voz dócil. – Tudo bem... Mas vou sentir muito a sua falta, Artie.

- E-eu também... Al... – Ele confessa, tornando o rosto para o lado rapidamente, para voltar a encará-lo, corando. Alfred fica ali, face a face com ele, em um nível mais baixo que a cabeça oposta – devido a estar ainda de joelhos ao piso -, a qual o fazia inclinar o rosto para cima levemente. Para tentar aliviar o vermelho cobrindo o rosto encantador do loirinho, o moreno abre o seu sorriso sincero, e fica ainda mais feliz em receber – mesmo que muito discreto – um outro de volta.

“Porque será que isso acontece tantas, inúmeras vezes, sempre que nos encaramos..?”, a mesma questão de costume surge na mente dos dois.

Enfim, a sexta-feira, véspera de Halloween, surge a brincar com as luzes faiscantes do astro solar, cintilando alegre o céu em pleno azul vivo. Pelo jeito, a festa ia ter um ótimo tempo este ano. Anteriormente, vez ou outra, a chuva ou a ventania forte quase impedia as crianças de pedirem suas gostosuras pelas ruas – mas nada que os o deixassem fora disso, é claro.

Cedo chegando como sempre, cedo teve de sair. Foi um pouco difícil de deixar Alfred sozinho depois de terem se acostumado a almoçar juntos – além de que teve de encarar o desafio de arrancar um par de braços fortes agarrando a sua perna, a propósito de não deixá-lo ir -, mas era preciso.

A sua casa ficava numa esquina bem tranquila do bairro, longe do centro e de trânsito, como ele preferia. Era toda num estilo vitoriano e rústico, com tábuas brancas de madeira cobrindo o exterior de o único andar térreo, as janelas e portas eram todas de madeira branca, e à dianteira crescia um jardim muito bonito, com ramos tenros de rosas e orquídeas, além de arbustos verdejantes bem podados, tudo sendo cercado por uma cerca clássica de madeira, também branca. O caminho que ele seguia até a porta era formado por pedrinhas circulares calçando a grama verde-viva, depois de entrar através do portão da cerca que protegia o lar.

Girando a chave sem pressa, Arthur abre a porta indiferente, mas quase leva um susto com o que se depara.

Um garotinho loiro, carregando sobrancelhas acentuadas como a dele sobre orbes azuis, debruçava-se no sofá da sala, esparramado enquanto atacava um pacote de biscoitos finos - que Arthur costumava degustar junto com seu chá das cinco - sem parecer se preocupar com nada, assistindo a alguma coisa barulhenta na televisão à sua frente.

Ao dar de cara com aquela criaturinha folgada despachada em seu impecável estofado, Arthur estica uma expressão de agonia e ao mesmo tempo de irritação.

O menino, ao ouvir o barulho da porta sendo aberta, nota a presença de alguém e gira a cabeça preguiçosamente para trás.

                - TIO! – Ele arregala-se ao ver o parente entrar, e imediatamente dá um pulo do sofá onde deitava para agarrar-se a ele, deixando o pacote de biscoitos cair de seu colo e esparramar farelos pelo tapete felpudo que cobria o chão da sala.

                - Ah, Peter! – O inglês é pego de surpresa por aquele abraço infantil e adorável, mas a saudade que sentira internamente daquele garotinho o fez devolver o abraço, logo depois pegando-o pela cintura e o suspendendo no seu colo, de modo que seus rostos ficassem ao mesmo nível. Ele solta uma risada alegre, infantil e deliciosa.

                Arthur se surpreendeu ao notar como seu sobrinho Peter, aquele pequeno bebezinho, havia crescido tanto e tão rapidamente. Todavia, ele era baixinho de qualquer jeito, mas mesmo assim tentava ficar nas pontas dos pés ou fazer uma pose de herói para parecer maior e mais “poderoso”... Lembrava-lhe alguém. Bem, agora eram dois daqueles na sua vida.

                - Tio, tio, tio – Ele repete, impacientemente contente. – Você não sabe tudo que eu tenho pra te contar, tio!

                - Nossa, que demais! – Ele ri, carregando o garotinho com esforço até o sofá, dispondo-o sentado como um rapaz educado. Então, dá uma olhada pela sala e tenta reprimir ficar irritado ao encontrar os biscoitos pelo chão, livros que teriam sido retirados da estante e lá deixado um buraco, sapatos jogados pelo corredor e uma bagunça estressante. Ele ia ter que dar muito, muito duro... – Vou ouvir tudo que tem a dizer, me deixe só...

                - Mas tio Arthur! Eu preciso te contar sobre a nota que tirei no colégio! Eu tirei um B, tio, um B! E a minha professora ficou muito orgulhosa de mim, meus amiguinhos também, e eu também fiquei muito orgulhoso de mim, né? Mas o tio Scott não pareceu se importar muito, porque pra ele tem de ser tudo perfeito, e ele queria porque queria que eu tivesse tirado um A+! Mas um A+ é muito difícil, né, tio? Acho que é quase impossível de se tirar uma nota tão grande assim, feito A+. – Peter dana-se a tagarelar fatos alheios sobre as suas notas sem nem sequer respirar, e mil coisas mirabolantes que lhe haviam acontecido, deixando Arthur com dor de cabeça só de prever o que ele iria ter de aguentar.

                Fingindo prestar atenção aos papos realmente irrelevantes daquele garotinho orgulhoso de si mesmo, Arthur vai providenciando a arrumação, agachando-se para desvirar o par de tênis no chão e pegar os livros para leva-los aos seus devidos lugares. Mas logo ao voltar à posição original, sente a sua coluna soltar um estalo seguido de uma pontada de dor.

                Ah, isso ia ser bem difícil...

                Finalmente, nasce o sábado com uma brisa assoprando as folhas pousadas nas ruas, e um tempo agradável como o previsto. O sol reinou brilhante pelo céu durante toda a manhã e a tarde, e então lentamente voltou a esconder-se entre os cumes das montanhas no horizonte, erradicando uma luz alaranjada que climatizou a noite que chegava, como que preparando aquela noite de Halloween.

                Arthur já nem se lembrava daquilo, descansando calmamente na sua cama, sobre uma manta macia de algodão, enquanto saboreava um bom romance e vez ou outra, sorvia goles de seu chá preferido, disposto na cabeceira à sua esquerda. Ele merecia aquele momento – que havia perdido desde então – depois de ter passado a tarde inteira buscando por uma bendita fantasia para Peter, e acabou também gastando seu dinheiro. Além disso, ainda teve as tarefas de arrumar o rastro de bagunça que ele saía largando pela casa durante o único tempo livre que teve desde que chegou.

                Porém, para sua decepção, o mesmo garotinho surge de supetão no quarto, o chamando repetidamente e impaciente.

                - Tio! Tio! Acorda, tio, levanta daí! Já é noite de Halloween! – Ele saltita agoniado até o lado de Arthur, e começa a sacudi-lo pelo ombro.

                - Ai, já? – Ele resmunga, mas é obrigado a aceitar com um suspiro à insistência do garoto. – Tudo bem, tudo bem, já estou indo – Ele levanta-se preguiçosamente do colchão após marcar o livro com uma rosa colhida daquele seu jardim, a qual ele costumava usar para isso, e já estava bem seca devido ao uso.

                Teve-se obrigado a ajudar Peter com a fantasia, a qual representava um vampiro de capa preta muito do bobinho, e a lhe fazer uma maquiagem, com grandes olheiras escuras borradas sob seus olhos.

                A ponto de saírem de casa, a tarde se tornava noite, com o alaranjado se tornando azul-escuro e estrelas cintilantes pairando no céu negro, juntamente com a lua, que seguia uma forma meio-circular, como se fosse um sorriso brilhante no meio do céu.

                - Eu estou vampírico, tio? – Ele olha para cima, esperançoso, exibindo o par de presas falsas que Arthur havia colado em seus dentinhos caninos.

                - Claro que está, Pete. – Ele não consegue reprimir o riso, e logo sai com o vampirinho sedento por doces, que carregava uma cestinha de caveiras, vazia.

                Todas as crianças e adolescentes estavam no mesmo clima. Viam-se bruxinhas, vampiros, zumbis, lobisomens e outras criaturas assustadoras implorando por doces nas portas das casas enfeitadas com morceguinhos e abóboras luminosas, e quem não tivesse, ameaçavam trelas que iriam lhe atormentar.

                “Gostosuras ou travessuras?”, ecoava em vozes infantis a mesma frase, e doces eram despejados nas cestinhas que carregavam, o que os deixavam com um sorriso aberto, mostrando, na maioria, dentinhos pontudos.

                Arthur acompanhou Peter até a entrada de cada casa, e o deixou ir até a porta sozinho – o vampirinho queria bancar o independente até naquilo – enquanto esperava na calçada desta mesma. Ele quase sempre voltava saltitando alegre, a capa preta tremulando no ar, carregando os seus chocolates, balas e diversas gostosuras preenchendo a caveirinha.

                Assim passou-se aquela noite, contente e “assustadoramente” doce. Arthur já estava exaustado de tanto perseguir o garotinho – que aparentava não cansar nunca – por todas as portas. Talvez eles já tivessem visitado toda a vizinhança, pois Arthur já notara que estavam praticamente no centro da cidade. Sem noção do tempo, ele olha instintivamente para o relógio disposto no pulso, e quase se surpreende: Os ponteiros mostravam vinte e uma horas, três desde o momento que saíram porta afora do lar.

                Peter voltava alegre de uma casa de primeiro andar, com um jardim bem-cuidado, após receber de uma mulher bondosa uma grande quantidade de balinhas de chocolate. Nesse momento, Arthur decide avisá-lo que a hora já deu.

                - Peter, já está tarde para pedir mais doces, não está? – Ele apela, tentando argumentar para convencê-lo. – E acho que você já conseguiu de toda a vizinhança por aqui... Olhe só, já estamos até longe de casa, de tanto que você pediu...

                - Ah, tio... – Ele grunhe com um bico, titubeando mais um pouco. – Mas... Só mas uma, tio, por favor, uma só!

                - Ah... Tudo bem. – Ele não conseguia enfrentar aquela carinha adoravelmente insistente... É, ele era bem vulnerável a insistência de modo “fofo”.

                Eles, então, caminham até a casa mais próxima que ainda não tivesse sido visitada. Era uma casa com estilo moderno, bem arquitetada, guardando um carro – que ele não conseguiu identificar – bem caro reluzente às luzes das ruas na garagem ao lado da porta de vidro. Nenhum jardim de flores na frente, apenas arbustos rigidamente podados em forma quadrada contornando o caminho de entrada até a porta.

Tudo bem diferente da sua casa, simples e confortável.

Dessa vez, Arthur insiste em ir com ele até a porta – mesmo com resmungos e reclamações sobre “micos” e “vergonhas” -, porque realmente não aguentava mais ficar parado como se grudado no chão, esperando-o voltar. Tocando a campainha, Peter arruma a sua pose assustadora  para surpreender o que abrisse a porta, e assim ganhar mais doces. Esse som parece alertar o alguém que estava lá dentro, e assim escutam-se passos caminhando com calma até a porta, abrindo-a.

- Gostosuras ou travessuras? – Peter recita, com um sorriso macabro, expondo seus dentinhos perigosos.

- Ah, vampirinho! Aqui está, cara – Entrega os doces um rapaz de óculos, cabelos loiro-escuros e olhos azuis, vestindo uma camiseta larga azul, que exibia um coração preenchido com a estampa da bandeira dos Estados Unidos, e a palavra “HERO” escrita abaixo dele, em letras garrafais.

“Não pode ser... Espere.”

- Alfred? – O inglês arregala-se, e logo depois que recebe o olhar igualmente surpreendido de volta, cerra as sobrancelhas, meio duvidoso.

- Oh my God, Artie! – Alfred cumprimenta com um sorriso de boca inteira e olhos arregalados. – O que você está fazendo aqui...?

- Eu só vim pedir alguns doces com o meu sobrinho... – Ele explica, tentando não corar por algum motivo, disfarçando o olhar que trocavam fixamente virando o rosto rápido. – Ah, eu lhe falei, não é? Este é o Peter.

- Ah, oi, tio! – O garotinho se precipita, fazendo pose de independente com as mãos na cintura e a cabeça erguida, apenas para recitar seu nome. – Eu sou o Peter. O vampiro mais assustador do mundo, muahahaha!

Arthur tenta lançar um olhar que dizia “Não se importe, ele é uma criança muito bobona”, mas Alfred nem o notou, e começou a conversar com o garoto extrovertidamente, abaixando-se para ficar em seu “alto” nível.

- Cara, que legal sua fantasia! Eu curti mesmo.

- Pois é, eu sei – Exibe-se ele, nada inocente. – Mas o tio Arthur me ajudou com a maquiagem, também.

- A-Ah, foi? – O americano infla as bochechas prendendo o riso, olhando o inglês de canto, que corou irritado. – Enfim, - Ele tenta desfazer o que o estressou. – Não está tarde pra pedir mais doces por aí, Peter... E Arthur?

O inglês ignora, pondo sua máscara de rabugento.

- É, eu sei. O tio queria ir pra casa logo, acho que ele quer deitar lá, e ficar lendo como ele sempre faz, fica bebendo chá, também – Começa a tagarelar tudo sobre o tio, inocente, fazendo-o corar mais ainda, irritando-se. – Não sei como ele acha graça, de ficar tomando água quente, lá deitado, no tédio, é tão chatooo...

- Peter! – Arthur exclama, cerrando os punhos, quase enforcando o garotinho.

- N-não, ahaha, tudo bem, Artie – Alfred acode o inglês, tentando reprimir a risada. – Então... Não querem entrar e tomar um cafezinho? Já que estavam indo mesmo... – Ele oferece, piedoso.

- Não, não, vamos pra casa. Obrigado mesmo ass...

- Você tem videogame? – Indaga afoito o vampiro.

- Claro que tenho, cara! Os melhores jogos do mundo, ó... – Ele já vai entrando, conduzindo o garoto saltitante para dentro da sua casa.

- E-ei! Eu disse... – Titubeou Arthur, mas ao se ver sem resposta e sozinho, apenas com o ar – que havia se tornado gélido e desconfortável – tocando sua pele, se dá por vencido e acaba entrando junto, ficando com a missão de fechar a porta.

A casa era tão bonita no interior quanto no exterior.  Tacos de madeira clara cobriam o chão, reluzindo como se recentemente tivessem sido encerados, e a mobília era toda moderna; Sofás brancos e angulosos mobiliavam a sala, junto com uma televisão enorme presa à parede, disposta de um videogame de última geração. Haviam pôsteres pregados com fitas adesivas, de games e animes, por toda parte.

Arthur entra lentamente, avaliando o novo espaço o qual entrara detalhadamente. Seguindo os dois garotos, ele se encosta-se à parte de trás de um sofá. Os encontra ligando o videogame, e Alfred trata-se de colocar um CD retirado de uma caixa, rodando um jogo recém-lançado e caramente divertido – sem contar na dificuldade de tudo. Depois de algumas lições básicas com troca de controles, Peter pega o jeito de como se joga, e se distrai tanto que nem presta atenção ao que os outros diziam.

- É isso aí, Pete! – Apoia Alfred. Ele sabia que o inglês estava ali, debruçado no encosto que ele se sentava, com o olhar fixo nele, e não na televisão ou em Peter. Tentando lhe surpreender de propósito, ele levanta de repente, encarando seu olhar de volta.

O loiro abre um bico de desgosto falso, o olhar sarcástico desviando para o lado. Sem se dar por ignorado, o de camisa azul contorna o estofado até perto dele. Sem se preocupar ou ser afetado por seu sarcasmo rabugento, curva a cabeça o fitando com atenção e lhe subitamente belisca a bochecha, como uma provocação.

- Ai! – Ele estremece, franzindo a testa. – O que é, idiota? – Resmunga depois de um tempo acariciando a própria bochecha vermelha - de vergonha e de dor.

- Você deveria sorrir, seu besta. – Aconselha ele numa voz mansa.

- Porque eu sorriria?

Alfred não responde. Apenas ri baixo, petulante, lhe encarando com um sorriso desafiador. Arthur aceita aquele desafio, e o encara despreocupadamente sério, tentando ao máximo manter sua expressão. E ficaram ali, se desafiando, por um minuto.

De repente, Alfred agarra seu pulso com força, e vai caminhando para fora do cômodo, arrastando-o sem piedade. Arthur tentava teimosamente livrar-se daqueles dedos agarrando-lhe o braço, mas ele era realmente forte. Então ele começa a espernear e reclamar, insistente e irritado, mas o americano continua lhe puxando até um cômodo que ficava ao lado da sala, e estava convenientemente de porta aberta. Ao entrar, ele a fecha rapidamente, sem dar chance alguma de fuga ao inglês. Mas ele não desiste, e tenta correr para abri-la e sair fora, porém Alfred termina por agarrar-lhe pela cintura, o impedindo.

- Ah, bloody hell...! IDIOTA, ME LARGA! – Ele esperneia, mais do que uma criança como Peter faria. – Me larga, me larga, me larga, git!

- Shh-shh-shh... – Ele sussurra, com a voz mansa, e leva uma de suas mãos ao cabelo loiro do inglesinho teimoso, bagunçando-o sutilmente. – Fique calmo, eu não vou te prender ou te matar, Artie.

- O que você quer, então? O Peter está lá, sozinho, e...

- Apenas sente aí – Ele literalmente lança o corpo do loirinho, suado de tanto reclamar, sentado na cama de molas do quarto, que sacudiu para cima e para baixo ao toque imediato.

Arthur fica sem entender, mas a fase de rebeldia havia passado. Vê-se arfar, a garganta ardida por ter gritado, sentando inocente naquela cama sobre um lençol também estampado dos EUA.

 O americano, sorrindo com os olhos semicerrados, o observa se recompor por um segundo, em pé à sua frente. Então ele senta-se ao seu lado na cama, casualmente, fazendo-a balançar os dois novamente. Aquilo deixava o inglês nauseado, e ele olha ignorante para o rapaz ao seu lado.

O seu rosto se torna um pimentão de tão vermelho, e seus olhos arregalam-se completamente, ao sentir a sua mão ser envolvida por dedos quentes e ágeis, cada espaço entre seus próprios fora preenchido pelas mãos dele, de repente.

- A-Alfred, o que você... – Ele tenta, suando frio de preocupação com aquela face adorável na qual ele se perdia o encarando novamente. O que ele o levaria a fazer? -... Está fazendo, git...

Arthur não tem mais tempo de criticar ironicamente, pois seus lábios foram preenchidos, de supetão, por uma boca quente e calorosa, lhe envolvendo por completo. Foi um beijo “de superfície”, até então sem contato interior, mas isso era o que ele desejava conseguir, pelo menos aquela noite. Por enquanto, apenas poder tocar os lábios – macios e deliciosos, como ele previa só de vê-lo todas as vezes – com os seus próprios, mesmo que ele não lhe desse a chance.

- B-bloody... – Como previsto, Arthur o empurrou para longe dele o mais forte que pôde, e tomou-se a quase gritar: - ALFRED, seu idiota, o que foi isso? Você ficou louco?

Alfred suspira e deixa os braços desabarem sobre a cama, bufando impaciente sem nem olhar para ele. Ele hesita ali por um minuto longo, que mais pareceu uma hora inteira, com a respiração entrecortada e rápida do loiro repetindo-se ao no ar. Seu rosto estava tão vermelho que parecia estar queimando, e ele tapava a boca com a própria mão trêmula.

- Olhe para o idiota, aqui... – Grunhe Alfred rudemente. – Será que sou eu, mesmo?

- H-hã? O que quis insinuar com isso? Está me chamando de idiota? – Torna Arthur, enraivecido.

- Isso mesmo. – Ele levanta desafiadamente a sobrancelha.

- Ora, seu... – Ele rosna cerrando os punhos, e de repente se levanta, protestante, erguendo-se à frente daquele ousado. – Como você ousa, Alfred? Eu pensei que você... Que você gostasse de mim! Que você fosse me ajudar... – A sua expressão revoltosa muda para uma que demonstrava uma sincera decepção, já sentindo os olhos úmidos. - ...Você disse que era o meu amigo, disse que ia me ajudar quando eu me machucasse, e... Você já me fez sofrer bem menos com isso, pois eu... Eu acreditei... EU ACREDITEI EM VOCÊ! – Vê-se esgoelando, sem conseguir reter as lágrimas de jorrarem de seus olhos. – Agora eu vejo que não posso realmente acreditar em mais ninguém, não é... É a triste verdade... Eu estava certo, mesmo...

- Escuta aqui, Arthur. Será que dá pra parar? – Alfred reclama, com uma expressão tão furiosa quanto a de Arthur.

- Parar com o que? – Resmunga, fungando o nariz.

- Com isso. Você só pensa em você, Arthur. Você só pensa no que você sente. – Ele assume, vacilando ao desviar o olhar para o chão, mas depois o ergue novamente para fixar naqueles olhos verdes. – Você, alguma vez, já pensou no que eu sinto...?

Arthur arregalou os olhos, hesitante, fitando aquele garoto perder-se nas palavras, corando a face adoravelmente. Ele continuou, brincando com os próprios polegares de modo tímido.

- Arthur, eu... Toda vez que eu te via, sentia alguma coisa faiscar dentro de mim... Desde a primeira vez que eu te vi, lá, sendo maltratado... Era como se um sentimento estranho tivesse brotado, aqui – Ele leva a mão ao lado esquerdo do seu peito. - Alguma coisa que eu jamais havia sentido. E era... Por você... É. Por você.

Seu rosto torna-se vermelho, e ele espreme as pálpebras para tentar evitar enxergar a reação do inglês à sua frente. Um longo silêncio possui o momento, e ele espera algum sinal, alguma palavra. Nada.

E então abre os olhos lentamente. Arthur está de costas para ele, diante da parede do seu quarto, mirando o nada. Ele solta um longo suspiro e funga, para logo depois levar o dedo aos olhos e sutilmente enxugá-los.

- Ei – Alfred chama-o, que toma um susto de repente. – Me responda uma coisa... Aquele dia, semana passada. Você... Você pensou mesmo que eu ia... Ia beijar você...?

O outro curva-se bruscamente e dá alguns passos à frente, pronto para encarar a provocação omitindo a verdade que ele sentia realmente, de novo.

- Cla...Claro que não! – Ele mente, franzindo as sobrancelhas ao sacudir a cabeça, negando. – P-porque eu pensaria is...

- Arthur, chega de gracinhas. – Ele exige, o mais sério que seus limites conseguiam manter. – Responda-me à pergunta agora, com a verdade. Por favor.

- E-eu... – Estremece o loirinho, com um certo medo surgindo dentro dele. – Tudo bem... Eu pensei mesmo que você fosse... Fazer isso.

- Muito bem. – Suspira Alfred.

Arthur não entendeu se aquela resposta foi um alívio ou uma angústia, e o que ela levaria a acontecer em seguida. Ambos silenciaram por um longo tempo, ali naquela mesma posição, sem nem sequer se encarar fixamente. Mil coisas rondavam em suas mentes, atormentando seus pensamentos de modo que ficaram sem saber o que fazer.

Até que Alfred ergue o rosto, e põe-se a fitá-lo desta vez, recebendo o olhar de volta. Ele estica as os braços acima para alcançar o rosto de Arthur e segurá-lo, apoiando as mãos nas suas bochechas quentes. Então o puxa para baixo, fazendo-o flexionar os joelhos para ficar ao nível do que sentava. Levanta a cabeça completamente para cima – seu cabelo dependurando para trás -, encontrando-se perfeitamente com aquela face que lhe mirava, com uma expressão inexplicável. Fecha os olhos antes do loirinho, e aproxima-se ainda mais, sentindo-se reconfortado ao sentir a respiração quente dele tocar-lhe. E sutil, encontra-se novamente em seus lábios, tão prazerosos como ele se recordava há alguns minutos. Sente-se satisfeito e vitorioso ao receber de volta aquele beijo. A sua boca pedia mais e mais, desejava nunca mais desencontrar-se daquele local. Seu coração batia em passadas leves, despejando todo o sentimento que ele carregava ali na sua mente, que também apenas sonhava em ficar ali para sempre.

Arthur deixa-se cair ajoelhado ao chão, mas sem desgrudar dele de modo algum. Seus braços elevam-se o envolvendo por completo, num abraço aconchegante. Por dentro, sua mente também gritava mil vozes, mil sentimentos, e seu coração cantava uma melodia marcante em sincronia com aquele outro - que ele desejava para si mesmo - colado ao seu corpo. Ele tinha de assumir, uma hora ou outra, aquela emoção enérgica e excitante que ele sentia em relação àquele americano idiota. Eles talvez não soubessem ainda o que era aquilo, mas não queriam se importar com nada ali, naquele segundo. Apenas desejavam mergulhar naquela sensação de êxtase, sem impedi-la de fluir, e deixar todo o resto do mundo espairecer à sua volta.

As mãos fortes de Alfred largaram o rosto - que agora atacava ferozmente como sua presa – de Arthur, percorrendo pelo seu corpo até escorregar os dedos para a borda do suéter macio que ele vestia graciosamente, trazendo-o para cima sem pressa alguma, enquanto a sua outra mão contentava-se em lhe acariciar a parte das costas nuas.

Agora as línguas brigavam por um espaço nas respectivas bocas violentamente, e um fio de saliva unia-as como aquela ligação enérgica dos corações. Aquilo mal tinha começado e mal parecia ter um fim. Contudo nenhum deles ansiava esse fim. Apenas queriam nunca cessar.

O suéter importuno já estava ao nível de seu pescoço – mas seus braços ainda estavam cobertos – quando um barulho repetitivo e surdo bate na porta fechada com impaciência.

- Tio Alfred, você tá aí? – Uma voz de criança acompanhou o som das batidas na porta, agoniadas.

Arthur, que posicionava a sua testa apoiada na dele, as bocas a alguns centímetros, começa a rir de jeito abobalhado, os olhos fechados acima do sorriso tolo.

Alfred é o que se preocupa desta vez. Rapidamente ele abaixa de volta o suéter do inglês – que ainda ria como um doente mental – e o põe sentado como uma criancinha na borda da cama, devidamente alinhado, ordenando-o a ficar ali. Em seguida, levanta-se - e quase tropica em qualquer coisa que estivera jogada no chão - enquanto avança para a maçaneta ao mesmo tempo em que arrumava o cabelo bagunçado com os dedos.

- A-Ah... Ah, oi, Peter. O que foi? Alguma coisa com o jogo? – Ele pergunta para um garotinho brincando com um joystick nas mãos, ao abrir a porta.

- É, você pode me ajudar ali? Eu acho que não vou conseguir passar... – Ele aponta para a televisão que exibia o jogo, do outro lado da sala onde estavam.

- Claro! – Abre um largo sorriso, e segue Peter até a sala, sentando-se no sofá junto com ele para lhe ensinar algumas lições e truques daquele jogo.

Arthur ergue-se de modo preguiçoso, e teimoso, caminha silenciosamente - os pés descalços há um tempo antes fazendo um surdo som na madeira do chão – até o lugar onde esteve antes, apoiado às costas do encosto do sofá branco e anguloso daquela sala sem nem sequer ser notado. Pelo menos até antes de levar os dedos por entre os fios loiro-escuros à sua frente, acariciando o couro cabeludo de agora um assustado Alfred.

Agora travesso, recebe um olhar repreensivo, mas abre o mesmo sorriso tolo que rasgara em seu rosto há alguns minutos atrás, e volta a brincar de puxar a mecha saliente na franja do americano.


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Notas finais do capítulo

AHAHAHAHA, não falarei nada dessa vez por aqui. Quero ver as reações de vocês.
Fica à vontade pra me enforcar, ok?



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