Bleeding Again escrita por Kiyuu


Capítulo 3
Stake


Notas iniciais do capítulo

Estou postando bem rápido isso porque já estava tudo pronto, como eu disse. Só precisei dar uma revisada e corrigir alguns errinhos de concordância e pequenos detalhes. E também estou fazendo eles bem grandinhos... Se estiverem achando muito grande ou cansativo, me digam, assim posso encurtar em mais e menores capítulos.
Bem, boa leitura!



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Estava uma tarde ensolarada, ao contrário do dia anterior. Uma brisa agradável soprava os cabelos loiros daquele estudante nervoso, que caminhava pela calçada ao lado de um americano alegre. Os carros transitavam à sua esquerda, causando uma camada de fumaça e ar quente dar com a suavidade daquele vento natural, além de um barulho irritante de buzinas, que atormentava a sua cabeça.

Tudo que ele queria era estar em casa, com seu livro e sua xícara de chá, sozinho, como sempre. Mas ao olhar para a sua direita e dar de cara com Alfred, sente aquela ideia sumir da sua mente e tende a se divertir com as caretas daquele garoto engraçado, que lhe contava mil histórias mirabolantes.

Ele estava se divertindo? Aquilo era bem raro.

De repente, Alfred dá uma freada e Arthur fica sem entender. Demora um instante para perceber que estão diante de uma edificação vermelha e amarela, naquela esquina das maiores avenidas da cidade. Haviam carros estacionados ao todo o redor da famosa lanchonete – que por sinal estava lotada de crianças e adultos saboreando hambúrgueres calóricos após a escola e o trabalho.

Sem nem o inglês ter tempo de piscar, o americano já sai correndo degraus acima, saltitando alegre como uma daquelas crianças prontas a ganhar um brinde do pacote infantil, enquanto soltava uma risada vibrante.

– Arthuuuur, vamos! – Ele chamou-o, que ainda estava preso ao chão no mesmo lugar lá embaixo, o observando.

– Ooh, claro... Desculpe – Ele nota e sobe escada calmamente, degrau por degrau, até chegar a uma criança impaciente à frente da porta.

Alfred entra saltitando alegremente, e vai direto rumo ao balcão para fazer o pedido de costume. Arthur entra atrás, meio acanhado e sem saber o que fazer ou para onde olhar, e então apenas o segue.

– Boa-tarde, Al! – A mulher morena que trabalhava atrás da caixa registradora o cumprimenta calorosamente.

Seus cabelos castanho-escuros estavam arranjados em marias-chiquinhas jogadas sobre o ombro, e presas com laços grandes e vermelhos, que combinavam com o boné de trabalho sobre a sua cabeça.

– Boa, Chelles! – Alfred sorri de volta, reconhecendo-a.

Seychelles então percebeu o loirinho ao flanco esquerdo dele, que estava encolhido como um gatinho indefeso enquanto mirava o chão, envergonhado.

– Ué, tem companhia hoje? – Ela se estica para o lado do garoto, que toma um leve susto ao provavelmente ser mencionado.

– Heheh, é sim – Ele sorri amigavelmente, sem se preocupar em tentar abafar a timidez dele. – É um amigo do colégio. Hey, Artie! – Ele chama-o, que vem se arrastando lentamente até seu lado.

– Oi, rapaz! Qual seu nome? – Pergunta a morena.

– Um... É... Arthur. Arthur Kirkland. – Ele estica um meio-sorriso forçado.

Ao ouvir seu sotaque, Seychelles olha de canto para Alfred, que faz o mesmo, como se estivessem trocando mensagens telepáticas. Aquilo deixa o loirinho mais nervoso ainda, e sente a sua face queimar. Ao parecer ter entendido o recado, ela retorna à sua posição e põe-se a tamborilar os dedos sobre as teclas da caixa registradora.

– Então, Alfred, vai ser o mesmo de sempre?

– Claro que sim! – Ele assente.

– Ok, então. – Seychelles fixa a atenção à tela e dita num murmúrio o que ela mesmo está digitando. – Big Mac com molho extra, double de queijo, uma batata grande, refri de 600ml, e Top Sundae misto, certo...

– Certo! – O americano confirma, e em seguida olha para o garoto à sua esquerda, e espera alguma resposta fitando-o. – E você?

– E-eu? – Arthur se arregala, obviamente sem saber o que pedir. – Ah... Não sei... Vocês têm algum tipo de... Peixe... E batatas?

O americano revira os olhos, sarcástico, o que faz o inglês esconder o rosto nas mãos.

– Hm, nós temos o McFish, mas...

– Deixa eu pedir pra você – Alfred se adianta. – Põe o meu em dobro, ok?

Arthur arregala os olhos, espantado ao já prever a quantidade de comida que aquele cara conseguia ingerir apenas num almoço.

– Eeh? C-calma aí, você come muito mais que eu aguento... – Ele tenta argumentar. – Eu não vou conseguir...

– Shh – O outro o interrompe, sinalizando com o indicador sobre seus lábios. – Você vai gostar da comida americana, Arthur. Aliás, vai se surpreender. Sério. E mesmo que você não coma, eu não vou desperdiçar dinheiro, entende? – Ele faz piada.

O loiro, vencido, põe-se a fazer pose de rabugento, mas não adiantava nada desde que o moreno soubesse que isso era apenas de fachada.

Pedido feito e confirmado, os dois seguem rumo a uma mesa, aparentemente a qual Alfred sempre sentava, localizada numa quina, onde o sol não batia forte e se tinha uma vista agradável das violetas vibrantes da floricultura ao lado oposto da rua.

Ambos se sentam frente a frente no estofado vermelho. Arthur fica envergonhado novamente ao perceber que ele o encarava, e mira o olhar para a “paisagem” afora do vidro.

– Ei, Artie – Ele chama casualmente, e o outro o olha de volta com certo esforço.

“Artie... Ninguém me chamou de Artie antes.”, ele pensa. “Caraca, eu tenho um apelido... Será que é... Especial?”

– A-Artie? – Ele cora, diante daquele tratamento carinhoso.

– Bem... Posso te chamar assim, posso? – Agora Arthur conseguiu enxergar as bochechas fofinhas dele ficarem vermelhas.

– C-Claro... Claro que pode! – Ele dá um riso de nervoso. – Só se eu te chamar de... De... Alfie, também, ok?

– Okey, Artie – Ele estica um meio-sorriso.

– S-Sim, Alfie...

– Enfim... Me desculpe se fui grosso com você, eu... Só estava querendo ajudar – Alfred se desculpa, tentando não se envergonhar. – Você não ficou chateado, ficou...?

– Eu...

– Não se chateia comigo, Artie, por favor! – O garoto pede, novamente com aquela face que deixava Arthur tonto.

– ... Não estou chateado! Está tudo bem. – Ele solta com uma lufada de ar, desviando o rosto, e recebe um sorriso amigável.

– Ufa, que bom... – Ele confessa. – Um herói como eu sujaria sua imagem se isso acontecesse.

A voz muda de Arthur teve vontade de gritar, lhe chamando de convencido, e reclamar até não acabar mais. Por causa daquilo? Porque ele queria ser o heroizinho do mundo? Ele nem havia saído do colegial, e só se importava em se empanturrar de porcaria...

Mas ele não disse nada mais.

Para tentar manter sua pose séria, Arthur se força a não olhar para ele. Era estranho ainda como ele o tratava como se fosse especial... E o inglês era muito desconfiado para acreditar em alguém rápido desse jeito – Ele não havia ninguém mesmo para que pudesse confiar, afinal. A sua mente recitava repetidamente para não confiar em qualquer um, e acabar caindo num buraco fundo novamente.

Mas aquele garoto alegre, convencido e meio irritante, sempre lhe conseguia torturar a cabeça e bagunçar seus pensamentos até lhe fazer mudar de ideia.

– Ah-ha-ha! Finalmente! – A figura daquele mencionado na sua mente aparece de repente com duas bandejas vermelhas, uma em cada mão, e as dispõe sobre a mesa sem nenhum cuidado.

Sobre cada uma delas havia um hambúrguer – gigante e calórico, aos olhos do garoto inglês –, um copo enorme de Coca-Cola tão gelada, que exalava uma fumaça congelante, além de um sundae com muita cobertura de chocolate, e uma caixinha cheia de batatas fritas.

Ele realmente se impressionou, mas não com o sabor, e sim como aquele cara conseguia comer algo daquele tamanho.

Sem nem ter tempo de respirar, ele já abocanha o sanduíche como um predador quando finalmente consegue a sua presa.

– Ué, Artie, não vai comer? – Ele pergunta de boca cheia, e Arthur quase não conseguiu entendê-lo.

– Oh, sim – Arthur assente, e pega com cuidado (ou talvez com medo) aquele tão endeusado Bic Mac.

O americano o observa atentamente enquanto ele tentava retirar o saquinho de plástico que envolvia a comida, e levava-a à boca desconfiado, dando uma mordida pequena. Esperou até que ele terminasse de mastigar para ver a sua reação.

– E aí? Então, gostou? É delicioso, não é? – Alfred indaga, curioso para saber o que ele achara.

– Hum, é... Bem gostoso – Arthur assume, enquanto avalia o objeto que ele tinha abocanhado nas mãos. – Eu nunca havia comido algo assim, mas confesso que tem um sabor ótimo.

“Embora seja por causa disso que você esteja desse jeito aí”, ele quis acrescentar, mas manteve esse comentário sarcástico silenciado.

– Eu disse que você ia gostar! Ah-ha-ha! – Ele se anima, feliz por ter agradado o loirinho, para depois manter-se em sugar o canudo do copo ao seu lado.

E era incrível como ele conseguia, mesmo com suas idiotices e importunos, deixar aquele garotinho deprimido mais feliz. O dia de ontem era algo esquecido. A questão do porquê daquilo ainda pairava na sua mente, procurando uma resposta, mas ele não ligava muito para ela naquele momento que estava com Alfred.

E tudo que ele queria ali ficar assim, pelo menos por enquanto estava com ele.


Após o almoço com Arthur, Alfred se sentia mais leve e alegre, talvez porque tivesse cumprido a promessa que fez a si mesmo. Ele havia feito sua caridade ao mundo: Ajudou alguém que precisava de uma animação. E a fórmula secreta para isso era apenas um hambúrguer!

Arthur pareceu até mais corado após aquela tarde animada. Mesmo desconfiado e meio emburrado, ele ria ao ouvir as palhaçadas que o outro fazia a esse propósito. Alfred se separou dele numa esquina perto da casa de ambos, onde achariam seus próprios caminhos, e logo ao se ver sozinho novamente, soltou um suspiro realizado.

“Pronto. Consegui!”, ele parabeniza a si mesmo mentalmente.

Mas enquanto caminhava pela rua, uma ideia caiu na sua cabeça: Porque ele o tinha ajudado?

Alfred não queria assumir, mas era como se algo magnético o fizesse ter vontade de agir tão... Gentilmente assim. Ele se sentia confortável ao poder diverti-lo, e chamá-lo de “Artie”, mesmo logo após terem se conhecido certamente. Ele queria ser o amigo dele.

Riu de si mesmo ao perceber que estava viajando em pensamentos em vão, e balançando a cabeça para espantá-los, focou-se e caminhou determinado de volta ao apartamento onde residia.



Os gentis raios frescos da manhã sorriem para a face daquele pequeno anjo, lhe desejando um bom-dia. Logo ao abrir os olhos, ele mira fixo o olhar no teto vazio e branco, no qual ele poderia pintar seus mil pensamentos... Mesmo que eles não fossem coloridos.

Ele não se sentia tão destruído como no dia anterior, talvez devido a certo americano que havia passado a tarde tentando animá-lo. Mas mesmo assim, ainda havia uma estaca presa no seu peito internamente, que não o incomodava, mas se alguém a tocasse feria ainda mais.

Arthur não era forte o suficiente para lutar contra aqueles que o fazem sofrer. Era dócil e fraco, embora não quisesse assumi-lo. A sua pose de “frio” e “introvertido” se quebrava ao tocarem naquela estaca, revelando o seu verdadeiro eu – Alguém que apenas precisa de outro alguém, em quem ele possa confiar, e que lhe apoie sempre, sempre ao seu lado. Ah, como ele seria feliz!

Todavia, era um sonho tão distante e inalcançável, que ele riu de seus próprios devaneios. Tudo era uma ilusão, longe, apenas desenhada no teto vago do seu quarto...

E essa era a pior parte da realidade.

E também, um dos motivos porque ele preferia viver no mundo irreal.


– Artie! Bom-dia!

Logo ao por os pés na sala, chegando no seu horário de costume como mais adiantado da sala, Arthur Kirkland escuta aquela voz dócil lhe saudando alegremente. Alfred lhe acenava, sentado na mesma cadeira do dia anterior, com um sorriso no rosto.

“Não acredito...” Ele murmura consigo, ao ver o garoto.

Arthur teve vontade de rir dele. Alfred parecia ter acabado de acordar naquele instante; Tinha os cabelos completamente desconsertados, os óculos tortos no rosto, a gravata mal amarrada e os cadarços desatados, além da falta da jaqueta de couro de costume. Era como se ele tivesse levantado e vindo o mais rápido que pôde.

– Bom dia, Alfie... – Ele caminha lentamente até o seu lado e senta-se, dispondo a mochila dependurada no encosto da cadeira. – ...Porque chegou tão cedo?

Alfred tentou ser o mais discreto que pôde, mas o loiro conseguiu ver seu rosto corar levemente com a pergunta.

– Eu... – Ele deixa escapar um bocejo. - ...Só queria chegar antes de você. Por isso vim voando como um herói, pois sabia que você chegava mais cedo que todos.

Dessa vez Arthur não conseguiu reprimir uma risadinha, achando graça de como aquele garoto era impetuoso.

Alfred o aprecia sorrir com um olhar atencioso e terno. O sorriso dele lhe agradava, sem motivo algum. Bastava apenas ele sorrir.

– Você parece bem melhor, Artie. – Ele murmura, ainda olhando fixo para o inglês sorridente.

– M-melhor? – O outro imediatamente muda de expressão, agora transitando para uma assustada e corada. - ...Eu não estava c-com nada, ué.

– Falando sério. – A expressão do americano se torna séria. – Até quando você vai enrolar essa história pra mim?

– Q-que história, Alfred? Eu não tenho n-nada pra te cont...

– Então me explique com detalhes o que deixou o seu braço desse jeito - Ele exige, o interrompendo.

Arthur sente o mesmo nervosismo e angústia de ontem, e olha automaticamente para o braço direito, devidamente coberto com seu uniforme escolar azul-marinho.

– Meu... Braço? – Ele sussurra roucamente. – Como... Você sabe do meu braço?

– Eu percebi isso desde ontem, Arthur. Agora, por favor, será que pode me explicar o que foi isso?

– E-eu não... – O garoto sente a voz ficar embargada, juntamente com a visão turva. - ...Posso.

Arthur faz o seu maior esforço para conter as lágrimas que agonizavam em saltar dos seus olhos, ao se ver mentindo. Mas era o devido a fazer. Ele realmente não poderia contar tudo que sentia para alguém que não confiasse. Tentou usar isso para se auto ajudar, mas não funcionou bem.

Alfred olha para o teto de jeito impaciente, respirando fundo, e depois expira uma lufada de ar quente pela boca. De repente, lança um soco na sua própria mesa, não muito forte, mas mesmo assim consegue assustar o pobre loirinho, fazendo-lhe começar a derramar as lágrimas presas.

– Arthur, me diga sinceramente uma coisa. – Ele recita as palavras uma por uma, tentando manter o controle. – Porque... Porque você não confia em ninguém? Uma pessoa sequer! Eu... Eu quero ser seu amigo, Artie, mas... Pra isso você tem de acreditar em mim!

– M-me descul... – Arthur tenta, mas a sua voz já sumira.

– Eu estou apenas preocupado com você, Arthur! Eu vi...Vi o que os caras fazem com você, com meus próprios olhos! Tive... Pena de você... E... E eu quero te ajudar, mas parece que você mesmo não quer aceitar ninguém para isso!

O loirinho sente tocarem na sua estaca novamente, e não consegue manter a sua pose, desabando com a cabeça na mesa, abraçando-a com os braços enquanto arranhava a própria com as unhas, com força. Deixou as lágrimas jorrarem sem querer, encharcando as mangas do seu blazer colegial. Não conseguiu falar mais nada, e teve ódio e vergonha de si mesmo por não conseguir controlar suas próprias emoções.

Alfred então pisca e enxerga a dor dele, como se estivesse sentindo-a ele mesmo. A sua situação era constrangedora e tocante ao mesmo tempo, e ele não sabia se dava as costas ou o ombro. O jeito era fazer o que lhe viesse primeiro à tona.

– Artie... Ei, Artie, não chore. – Alfred murmura carinhosamente, como se acalmasse um bebê, enquanto encosta de leve a mão em seu braço. - Me desculpe mesmo, de verdade...

“Eu sou mesmo um completo idiota” Ele se auto critica mentalmente. “Eu fiz um garoto... Chorar. E o pior, esse garoto era o Arthur...”

Mas o pensamento que pairava some quando, de supetão, ele sente a mão do inglês agarrar a que lhe tocava o ombro, e puxar seu braço, encontrando-se reconfortado ao deitar desesperadamente no peito do americano.

Ele toma um susto imediato ao loirinho enterrar sua cabeça em seu ombro, procurando consolo. Então fica indeciso devido ao que fazer, e acaba por levar os próprios braços em torno do garoto, tendendo a cantarolar uma canção de ninar.

Ficaram ali, abraçados por uns bons minutos. Pelo menos até o momento de Arthur esgotar todas as lágrimas, e chegar na fase dos soluços e voz embargada. Lentamente, ele o põe de volta na sua devida cadeira, esticando um sorriso acalentador ao enxergar a face tão indefesa daquele garoto. Os olhos verdes estavam com aspecto molhado, e o rosto, tão vermelho que se assemelhava a uma marca de uma tapa.

– E-eu tenho m-medo... D-de confiar em alguém... Porque... Eu nunca tive... Alguém que eu pudesse... C-chamar de... Amigo – Arthur confessa, com a voz falhando entre soluços. - E... Que me ajudasse de verdade... M-me desculpe por isso...

“Ele parece um anjo... Um anjo frágil, a ponto de quebrar-se a qualquer hora, mas que apenas precisa de uma companhia...”.

Mirando bem no fundo das órbitas do pequeno anjinho, Alfred recita lentamente o seu juramento:

– Não se preocupe. Eu lhe ajudarei, com certeza. Pode confiar em mim. Eu te prometo, Arthur.

Aquelas palavras tão sinceras tornaram toda a cabeça do loirinho uma confusão a ponto de explodir, teve a sensação de borboletas pairarem em seu estômago. Um largo sorriso aparece rasgando a sua face, e seus olhos agora assumem um brilho esperançoso, mirando de volta para aqueles olhos azuis.

– O...Obrigado! – Ele exclama, sem tentar conter sua felicidade.

Não tinha mais para que ter medo dele, pois ele sabia que aquilo era verdade. Não entendia como, mas tinha certeza que aquela pessoa à sua frente era em quem ele poderia acreditar... Era o seu amigo.



As aulas iam se sucedendo comumente normais. O professor graduado, carregando um par de lentes enormes no nariz e com o cabelo devidamente arranjado para trás, explicava lições algébricas para os quase formandos.

O garoto americano não estava compreendendo absolutamente nada, e decidiu distrair-se mastigando a tampa de uma caneta aleatória. Então mira discretamente o olhar para a sua esquerda, deparando-se com um perfil do loirinho atentamente concentrado às palavras daquele educador – que estava meio estressado, pois o garoto era talvez o único que estivesse a fazer isso – ao mesmo tempo que anotava-as no caderno.

Além daquelas equações dispostas no quadro à sua frente, Alfred não entendia até si mesmo. Porque ele tinha aquele desejo de... Simplesmente olhar pra ele? E o que lhe levava a sentir uma ansiedade que se intensificava cada vez mais perto de Arthur? Era como se eles fossem sempre ligados – uma ligação profundamente forte, como se dependessem um do outro - mas apenas não haviam descoberto isso.

Apesar de bobo e convencido, ele era bastante inteligente. Mesmo assim, não conseguia entender que fantasia os ligava daquele jeito.

Nesse momento, interrompendo suas abstrações e raciocínios lógicos para tentar descobrir aquele tão misterioso porquê, um grito ecoa martelando as paredes da sala de aula do último ano. O professor havia perdido o controle novamente. Dessa vez, aquele trio havia interrompido a aula por conversas alheias. Como se fosse novidade.

– EU PEDI SILÊNCIO! – O professor se esgoelava diante de todos nós. – Que exemplo vocês, estudantes do último ano da Academia Mundial e prestes a se formar, estão dando para os restantes E à nossa instituição? – Ele apela, dando ênfase na última citação.

Os três alunos pareciam indiferentemente despreocupados ou amedrontados pelo professor. Ele era conhecido em todo o colégio por “O professor que faz pose de durão mas na verdade nem tem coragem de mandar os alunos para fora da sala”, e raramente alguém acreditava em suas ameaças ou sequer o levava a sério.

– E você, professorzinho, como vai ser o educador exemplar se descobrirem que você sempre perde o controle com os alunos, hein? – O garoto atrevido, de cabelos branco-pálidos lança uma indireta que fez toda a classe reagir com um chiado agonizante.

– O quê? Gilbert, como você ousa me desrespeitar assim? – O professor insinuou a sua ameaça, mas ninguém ficou preocupado. Aquela reação o deixou com raiva, por não ter nenhuma moral com sua classe, e teve que assumir para si mesmo que não estava sendo nada exemplar, mas em não puni-los pelos seus erros. – Já chega. Gilbert, pra fora. – Ordenou, decidido diante das expressões espantadas.

– Q-quê? – O alvo reclama com a voz estridente, suando frio. Ninguém sabia se ele sentia mais medo do professor ou vergonha da classe – pois a sua pose de durão era bem famosa pelos corredores. – M-mas... Mas...

– Isso mesmo, garoto. Aliás, saiam vocês também, Francis e Antonio. – O professor ergue o rosto, intimidando o trio com o olhar. - Detenção. Os três. Agora.

Ouviram-se resmungos, chiados e gemidos derrotados enquanto o prussiano, o francês e o espanhol saíram se arrastando pela porta da sala. Os alunos ainda estavam surpreendidos com o professor pela sua ação (ou orgulhosos dele, por ter chutado fora os maiores encrenqueiros da aula).

Alfred vê um sorrisinho vingativo surgir de leve nos lábios de Arthur, mesmo sem ter aparentemente prestado atenção à cena ocorrida enquanto anotava com inocência suas matérias. Mas logo depois a sua boca se descurva, como se um choque de decepção tivesse estourado na sua cabeça. Cerra os punhos como que para ferir as palmas com as unhas. E morde o próprio lábio, os olhos úmidos, que ainda fingiam distrair-se naquela folha pautada.

Aquele era o trio que o fazia sofrer. O que o tinha feito derramar tantas lágrimas e gotas de sangue, e brotado em si a vontade de morrer. O trio que merecia uma boa e igualmente violenta vingança.

Mas como se sempre diz, a vingança é um prato que se come frio. Mas só pra quem tenha paciência.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acham que o Alfred vai fazer pelo Arthur? Afinal, ele quer ser realmente o herói dele... E o que pensaram também sobre a "estaca" do inglês? Me contem o que gostaram (e o que não)! ^v^



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