POV Sirius

Sabe aqueles filmes que a Lily sempre gostou, melosos e de colegiais fictícios que têm patricinhas, populares, nerds deslocados e tudo mais? Eu me senti com um DVD desses num lugar muito inoportuno. Argh, tô ouvindo demais o vocabulário da ruiva! O fato é que: era a cena de um desses filmes bobos. Mas era horrível. E, no momento, muito real.

-Bom dia, Black – ouvi a voz da Marlene se arrastando enquanto ela passava, num salto maior do que precisava e suficiente pra ficar maior que eu; um vestido azul no meio das pernas, fazendo aqueles estúpidos virarem a cabeça pra acompanhar aquele rebolado; o cabelo ondulado e toda arrumada, mal parecia que ia à escola.

Meu Deus, eu estou me corroendo de ódio por dentro. Eu dormi com uma garota linda, que me dá bola e que eu dou bola (!) bêbado. Eu não posso ter feito uma burrada dessa. Quer dizer, se fosse qualquer vagabunda como a Marie ou a Mel, dane-se! Mas era a Lene, droga! A menina que teima que vai me vencer no basquete, que joga vídeo game comigo desde que o James os compra e coleciona no hábito mais nerd dele. Eu, realmente, sou um cachorro.

-Você é um imbecil – Doe disse e foi lá pular nas costas de Remus, que nunca arranjava a coragem pra falar com ela.

-Eu esperava mais, Six, desculpa – Ali disse, passando com Frank abraçado. Tudo me lembrava daqueles filmes estúpidos.

-Nem falo nada, Black – Lily foi a última, e estava mais discreta, mas tão bem quanto Lene. Assim que ela disse, James saiu do meu lado, deu dois tapinhas no meu ombro e a seguiu até seu armário. De acordo com os murros que eu levei ontem, ele ia tentar recuperar o tempo perdido.

Dei um murro de ódio no meu armário e a droga da porta entortou. Escola corrupta! Já abri logo e peguei o maldito maço de cigarros, coloquei-o no bolso e peguei um caderno e uma caneta, só. Pra quê prestar atenção na aula, né?

Estava indo pra sala de aula, quando passei pelo armário da Lene. Ela tinha acabado de fechar e sair, eu sabia que no próximo horário ela tinha que voltar ali, como sempre fazia. Rasguei uma folha, destampei a caneta e escrevi um bilhete garranchado.

“Embaixo da arquibancada 3. Depois de 10 minutos de almoço. É importante.”

Sem beijos, sem assinaturas ou qualquer coisa do tipo. Ela precisa me ouvir agora, direito.

POV Lily

E, como era de se esperar do babaca do James, ele colou no meu sapato que nem um chiclete cuspido e veio atrás de mim. Meu Deus, o que eu fiz nessa vida pra ter um vizinho gostoso e insuportável?

-Bom dia, Lily – OPA. PAUSA. ESPEREM UM SEGUNDO. Isso não é tom de James Potter! Isso não é fala de James Potter! Só faltou me chamar de Evans! – Desculpa, Evans. – “Meu mundo caiu...” Ok, sem brega music.

-Bom dia, Potter – disse, inabalável e linda pegando os meus livros das duas primeiras aulas e sem nem olhar pra ele, porque é certeza que ele vai estar exibindo aquele sorriso fofo e tímido que melou meu coração e, PARA! – Eu não vou ouvir nenhum “Tá gostosa, ruiva” ou “Posso te agarrar?” hoje? – olhei pra ele, que deu uma risada de canto e me mediu.

-Evans, você não está, você é gostosa – eu fechei a cara, fingindo que não gostei de ouvir (porque é isso que as boas e difíceis moças fazem – aprendam) – E é linda também. Muito inteligente, esperta, muito chatinha, mas até que eu aturo.

-O que você quer, Potter? – ele foi chegando mais perto e eu travei a minha respiração, já pegando o livro pra dar no saco dele com toda a minha força ruiva (ai, senhor, muito tempo com a Alice!).

-Te agarrar – ele sussurrou no meu ouvido e saiu, andando daquele jeito que ele faz.

E eu? Fiquei parada feito uma anta, ainda pensando no perfume, na voz rouca dele e de como os cabelos dele são macios. E de como ele foi gentil e atencioso comigo depois da festa. E de... ARGH, QUE INFERNO! EU ME PROIBO DE FICAR COM O POTTER! CHEGA!

Saí em direção à sala de matemática. Pra ajudar, meu primeiro período inteiro era com Potter e amiguinhos do Potter. Pelo menos tinha as meninas... Ou não. Droga. Cheguei na sala e uma parte dos alunos estavam lá, inclusive as minhas amigas!

Lene e Dorcas se sentaram juntas, na frente porque não estavam entendendo bulhufas da matéria. Alice e Frank se sentaram no fundo pra se pegarem sem o professor ver. E Sirius e Remus se sentaram juntos e estavam conversando sobre qualquer coisa. Eu torci o rosto e sentei numa mesa do meio, abri o livro e esperei que qualquer um que não fosse Severus (com quem eu estaria eternamente brigada) ou Potter a se sentar do meu lado.

E não foi. Todos os alunos chegaram, sentaram, e quando eu percebi que estava sozinha foi quando o professor chamou pelo nome de James.

-James Potter – silêncio. Olhei pra trás e vi Sirius e Remus com cara de interrogação pra mim, afinal, eu tinha sido a última a falar com ele – Potter? Se isso for mais uma das brincadeiras infantis do Sr.Potter e vocês estiverem me enrolando, Black e Lupin...

-Professor, em minha defesa eu não sei de nada! – Sirius gritou – Eu estava remoendo meu tremendo peso na consciência quando vi o James pela última vez – olhei pra Lene, que só abaixou a cabeça e bufou.

-Professor, nós não vimos James depois que ele se dirigiu a sua convencional conversa com a Lily pra tentar fazê-la cair em seus braços – Remus disse, fazendo teatro e voz de poeta, o que causou risos em todo mundo e um olhar sarcástico em mim.

-Srta. Evans? – o professor perguntou, depois de conter um riso abafado – A Srta. sabe aonde James está?

-Com sorte, no inferno.

-Srta. Evans! Isso é muito sério. Ou James está matando aula e será suspenso, já que sua cota de detenção estourou, ou algo de muito sério aconteceu a ele.

-LILY EVANS! LILY EVANS, SALA DE MATEMÁTICA B2, OLHA PRA MIM! – ouvimos lá de baixo, e todos os alunos correram pra janelas.

Os prédios davam pra cantina, o espaço do nosso intervalo, onde mais pra frete havia o campo e as arquibancadas. Abri espaço entre as meninas e fui até a janela. Não foi legal ver aquilo. Meu queixo caiu!

James estava em cima de um do muro circular bem alto que tinha ali, com um megafone na mão direita e uma rosa vermelha na outra. Tinha uns panos brancos e vermelhos pendurados na cantina, nas mesas, nas janelas, tudo que desse pra alcançar. Parecia uma decoração de casamento. Havia lírios em vasos em cada mesa e ele estava com o violão pendurado na parte de trás do corpo enquanto eu rezava mentalmente pra que ele não o tocasse.

-LILY, ME RESPONDE!

-É EVANS, POTTER! – eu gritei e todos os alunos riram, até os dos outros prédios da escola, que tinham corrido pras janelas e se amontoavam.

-LILY, OLHA O QUE EU FIZ PRA VOCÊ! – ele sorria de orelha a orelha e eu suspirei. Não era assim, Potter... – EU PRECISO TE PERGUNTAR UMA COISA, RUIVA, POR FAVOR!

-SE VOCÊ FALAR QUE VAI ME AGARRAR, EU ENFIO ESSA ROSA NUM LUGAR QUE VOCÊ VAI SENTIR ESPETAR! – de novo, todos riram, mas eu não estava brincando! Eu não queria um circo.

-LILY, ESCUTA...

-POTTER, ESPERA.

Eu abri caminho entre todo mundo e desci correndo até o pátio, era um andar. Logo que cheguei, ele desceu do muro sem dificuldade e sorriu pra mim, caminhando na minha direção.

-Potter, não era isso o que eu queria – eu falei devagar.

-Olha, Lily – ele começou, largou o megafone, ignorando Sirius aos berros que queria ouvir; me entregou a rosa, que eu peguei e olhou nos meus olhos – Nem eu queria isso. Eu não sei se é amor, talvez não seja, mas é muito forte. Eu... Precisava chamar a sua atenção.

-James, olha o que você fez! Se eu disser não agora, vão me trucidar. Eu não queria um circo, eu nunca quis. Você chamou a minha atenção cuidando da minha ressaca e me deixando com o seu moletom – ele deu um sorriso.

-E foi suficiente pra um sim?

-Pra um “talvez” – eu disse e ele torceu a expressão. – Não acha cedo demais?

-Cedo seria se você tivesse chegado de NYC hoje. Mas já são quase 3 anos e nós vamos nos formar em alguns meses!

-Eu sei, mas... – ele se aproximou de mim, perto o suficiente pra que eu pudesse sentir sua respiração.

E, nessa maldita hora, o diretor apareceu. Ele tinha que lembrar que trabalha justo agora?! Chegou pra mim, olhou pra James e me disse algo que realmente não fazia sentido nenhum.

-Srta. Evans! Sabe onde está o Sr.Potter? Ele vai ficar suspenso! – eu torci a expressão e ele repetiu – Srta. Evans! Onde... Ah, aí está!

Então eu pisquei com força. E eu preferia pagar aquele mico na frente da escola do que perceber que eu tinha dormido de olhos abertos, sonhado com uma declaração de amor do Potter e agora estava sendo encarada por uma sala que prendia os risos abafados.

E Potter? Tinha acabado de chegar atrasado. E de se sentar ao meu lado.