Negros escrita por Kalhens


Capítulo 3
Ainda


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura~



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Era deprimente aquilo.

Eventualmente, poderia sentir-se grato por estar na escuridão, tendo a certeza de que, assim, Mello não poderia lhe ver, nem lhe atingir.

Só que.

Também não enxergava nada.

E, por ser desesperador, era deprimente.

Não é que tivesse algo como... ‘’medo do escuro’’.

Francamente, já tinha idade e mente mais do que suficiente para não precisar desgastar-se com esses temores infundados e infantis.

Mas é.

Apesar de toda a certeza e discurso, suas pernas ainda não haviam se resolvido a mexerem-se.

Parado, limitava-se a ouvir a cadencia arrastada e folgada de passos obscuros que Mello produzia diretamente dos confins daquela desagradável escuridão.

A certeza infundada de que o loiro sabia exatamente onde estava, imóvel, fazia com que sentisse o firo apoderando-se lentamente de seus membros cada vez mais pálidos, dando passagem para um calafrio que prontamente aninhou-se em seu pescoço, debochado.

Dedos suaves roçaram por seu braço, tateantes. Afastou-se apenas para ser atingido, certeiro, por uma risada que bailava entre o puro desdém e uma escarlate malícia.

- Fugindo, de novo, Near? Quanto tempo? Dois dias inteiros se escondendo?

Por ai.

-Descobrir esse seu medo besta do escuro até que seria divertido...

A impaciência juntou-se ao coro.

E ele ainda parado.

Ainda esperando.

- Ainda mais daquele jeito patético...- a risada que ainda pairava, ácida e agourenta, morreu- mas não.

Lembranças piscavam pela cena, deixando rastros de sombras coloridas, moldando os corpos e as faces que as vozes denunciavam.

- Que droga foi aquela?

Os olhos endureceram. Escureceram, buscando misturar-se a todo o resto.

Não é que não quisesse admitir.

Não podia.

- Eu estava assustado, apenas. Não passou disso, como você não hesita em lembrar.

Não assim.

- Então você agarraria qualquer um que tivesse passado por ali?

Não.

- Provavelmente.

Os passos voltaram.

- Do mesmo jeito?

Não.

- Talvez. É incoerente tentar prever nossas atitudes quando assustados.

Mais perto.

Podia sentir a distancia se desfazendo entre seus corpos.

- Ah, desculpe. Esqueci que eu estava lidando com uma porcaria de uma criancinha.

Não. Não mais.

Uma mão caiu pelo vazio, direto em sua roupa. Agarrando o tecido, necessitada.

Dedos subiram, desajeitados, tentando adivinhar seus cabelos, puxando-os pelo caminho.

Tentou mesmo se desvencilhar, mas quando os fios alvos foram dominados e a cabeça guiada de modo a manter-se para trás, saindo do caminho que levava direto ao pescoço tenso, todo o corpo se retesou de modo tal que não podia sequer pensar em agir.

Ao menos, enquanto sentisse a pele quente de Mello serpenteando por seu resto, aspirando o ar carregado.

Os lábios rasgavam-lhe o pudor e as mãos destruíam qualquer privacidade.

Sanidade.

O ar saiu em susto quando a mão incendiaria espalmou-se em suas costas, exigindo proximidade.

Forçando.

Os dedos que antes puxavam-lhe os cabelos, agora enfiavam-se vigorosamente por entre estes, passando pela orelha para tomar na palma a nuca sensível, atacada por arrepios desesperados.

A boca seca abriu-se uma vez mais, deixando escapar um suspiro que não lhe pertencia, como se pedisse para ser invadida.

Como o foi.

Inescrupulosamente.

Violentamente.

Deliciosamente.

Não conseguia corresponder aquela língua atrevida e faminta que passeava, extasiada, por sua boca..

Tentou se soltar, mas a proximidade impedia.

Tentou findar aquele beijo insano, mas o calor que lhe inebriava destruiu-lhe a vontade.

Tentou empurrar Mello de volta para a escuridão de onde ele saira, mas seus dedos o traíram vergonhosamente, agarrando-se a blusa negra empesteada de chocolate.

Mas não conseguia correponder...

Mesmo depois de findo o ataque e o sequestro de todos seus pensamentos, ainda era mantido cativo, as mãos sentindo a pulsação acelerada dele enquanto seu próprio peito era golpeando freneticamente.

A circulação ensandecida corava-lhe a face e o fogo das respirações se misturava, despudorado.

Lascivo, quase.

Um resmungo se enfiou por ali, desgostoso.

- Qualquer um...

Insatisfeito.

Uma exclamação de dor foi presa na garganta quando os cabelos se viram puxados com vigor.

Agarrou-se com mais força a Mello em puro reflexo.

Aquela mesma boca que a instantes saboreava-lhe agora devorava, descendo faminta por seu pescoço, os dentes nus na pele virgem fazendo questão de marcar o caminho.

As mãos libertaram a cabeça para afastar aquela blusa intrometida.

Botões estouraram quando o ombro foi desnudo e, sem sinal de consentimento, voluptuosamente mordido.

Sentiu as presas tentarem rasgar-lhe a pele, mas não bastasse o braço, possessivo, que mais e mais o estreitava contra o corpo de Mello, tinha ainda aquela mão afoita em livrar-lhe de sua  camisa, já completamente aberta e inútil.

Contorcia-se em vão, apenas conseguindo tocar mais  fundo no corpo debruçado sobre si.

Dedos subiram por dentro da blusa já quase rasgada, seguindo por sua coluna e deixando arrepios por onde passavam.

- Mello- chamou no escuro, o rosto virado, nem sabia se por vergonha, pudor ou apenas medo- Mello, me solte.

 Unhas curtas desceram reto pelo caminho que os dedos haviam subido, ardidas e firmes.

- Cala a boca.

A chuva se jogava contra cada tijolo daquela  enorme mansão, mas isso não parecia importar.

Não enquanto um Near era jogado de mal-jeito, as cegas, contra o tapete que jazia ai, inocente, num quanto qualquer do breu.

Perderam-se uns instantes antes que as mãos de Mello conseguissem se fechar ao redor de seus pulsos.

Aquilo não podia mais ser chamado meramente de ‘’beijo’’.

Seus lábios estavam sendo arrombados, sua pele, rasgada, afoitamente.

Descontroladamente.

Mas, quando os quadris de Mello colaram-se aos seus, percebeu.

Mello, Mello.... Nunca toma jeito.

E era por isso que estavam ali.

- Mello- a voz saiu mais com caras de gemido que qualquer outra coisa. Mas depois de tudo aquilo não pretendia esforçar-se em fingir um mínimo de dignidade.

Inútil.

Se ainda tivesse algum fôlego para chamar de seu, poderia até mesmo dignar-se a suspirar, impaciente.

Mas não deixava de ser interessante.

O quanto Mello estava se contendo.

- Vai mesmo continuar com isso?

Precisou juntar todas as suas forças para formular essa frase tão curta, a garganta seca e o peito continuamente espancado pelo coração em disparada.

Mas deu certo. O corpo de Mello desvencilhou-se um pouco de si, curioso.

Mil pensamentos deviam ter corrido por baixo dos fios loiros, os quais Near apenas podia supor.

Apenas um interessava. E precisava urgentemente amplia-lo.

- Porque, se vai, deveria ao menos fazer direito.


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Notas finais do capítulo

É. Estou picotando os capítulos mais por falta de coragem do que por qualquer outro motivo~
Até~
Kalhens.