Nem um minuto havia se passado e a anarquia era geral. Todos discutiam hipóteses e mais hipóteses sobre a mudança de quartos, a organização das tarefas e... Com quem eu dormiria.

- Espera aí, gente – Simon interferiu – Isso é uma república, temos que resolver as coisas de acordo com todos os moradores!

- Mas isso não vai dar certo! – contradizia Gus, o garoto com olhos de husky siberiano – Nós somos sete e já arranjamos problemas o suficiente. Ela não pode ficar!

Dei uma recuada, me sentindo um pouco envergonhada. Todos os outros olharam para Gus com censura, e em seguida olharam para mim. E de novo, de novo e de novo.

- Por mim, ela pode ficar – disse Freddie, sorrindo marotamente – Não vejo problema algum em morar com ela. Ah, isso se chover seguidamente.

Tentei não sorrir, mas estava sendo quase impossível. Freddie concordava que eu ficasse, mesmo que fosse só pela minha blusa molhada. E isso era bom, eu acho. Pelo menos em algum sentido.

- Ah, por favor! – interferiu Gus, de novo – Não seja ridículo. Nós nem a conhecemos!

- Posso saber o motivo da gritaria? – um outro garoto, o único que eu ainda não havia visto, ia descendo as escadas. Era Nate, o soneca. Ele tinha cabelos loiros e braços fortes. Com certeza lutava boxe ou algo assim.

- Nate! – Gus subiu alguns degraus e foi até ele, passou o braço em volta do seu pescoço e continuou – Você não acha isso uma loucura? Ela não pode ficar!

Nate piscou os olhos por alguns segundos, certamente não entendendo nada. Simon pediu que ele descesse e explicou toda a situação.

- Eu não vejo problema – disse Nate, por fim – Ela pode ficar.

Sorri, agradecendo-o. Ele sorriu de volta e deu um longo bocejo depois.

- Bem... – Simon tomou a palavra novamente – São seis contra um, Gus.

- Não são nada! – Gus contraiu a barriga e alguns gominhos do seu abdômen definido afundaram – O Louis ainda não votou!

- Eu vou falar com ele – Simon ajeitou os óculos sobre a curva do nariz e deu um tapa na orelha de Gus enquanto passava por ele. Logo ele já havia desaparecido pela escada.

- Becca, eu voto para você ficar – disse Joe, meio aflito – Mas se você não se importa, eu preciso ir lá em cima colocar uma camisa seca. Não é bom ficar molhado em um dia assim, frio. Certamente vou ficar com a garganta inflamad...

- Tudo bem – eu concordei, antes que ele tivesse a oportunidade de falar mais sobre o assunto da garganta – E obrigado, Joe – acrescentei -, por me deixar ficar.

Ele sorriu amigavelmente e subiu a escada correndo, deixando marcas do tênis molhado sobre os degraus.

Pablo havia ido até a cozinha e se entretinha com um pacote de biscoitos. Nate tinha apagado no sofá da sala, aparentemente hipnotizado pelo barulho da chuva lá fora. Já Freddie, ainda sem camisa, falava com alguém no celular. Obviamente era uma garota, não havia motivos reais para falar com a voz rouca e baixinha se conversasse com um amigo.

Enquanto isso, Gus me encarava. E não encarava de um jeito bom, devo dizer. Era algo quase intimidador, meio arrogante. Ele estava praticamente me fuzilando com aqueles olhos azuis, enrijecia e relaxava o maxilar de segundo em segundo.

- Boas notícias – anunciou Simon, pulando os três últimos degraus e aterrissando em um tapete felpudo.

- Boas para quem? – questionou Gus – Para mim ou para ela? – ele me apontou, inclinando a cabeça na minha direção.

- Falei com o Louis – prosseguiu Simon, tirando os óculos e limpando as lentes na camisa do Super-Homem. – E, desculpe Gus, mas ele também concorda que Becca fique.

Gus bufou, irritado, e me lançou mais um olhar fulminante.

- Certo, certo – disse ele, contrariado. – Mas só me diga uma coisa, super-herói – ele deu dois passos e ficou na frente de Simon – Onde é que ela vai dormir?

Simon não pareceu recuar diante do moreno sem camisa, e até mesmo expressou um sorriso irônico antes de dizer:

- Ela vai dormir no seu quarto.