Mulher América escrita por Lady Snow


Capítulo 4
Capítulo 4- Espelho da vida.


Notas iniciais do capítulo

N/A: Ufa! Terminei! IUAHEIHAEIUHAIE. Eu espero que esteja bom, tenham uma ótima leitura! ♥



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Na manhã seguinte, Chris acordou com a corneta anunciando a hora de acordar, seu corpo estava dolorido, nunca dormira tão mal em toda sua vida. Parecia ter sido atropelada, ou levado uma surra. Depois de descobrir todas suas dores musculares, o seu primeiro pensamento foi que tivera uma conversa desagradável com Peggy Carter e em seguida, outra com Steve Rogers, também nada saudosa, exceto pelo fim quando os dois já estavam mais calmos e com os pensamentos um pouco mais organizados. Droga, estava fazendo tudo errônea e precipitadamente demais. Levantou de péssimo humor e juntou suas coisas, andou pelo acampamento com a roupa de ontem completamente amassada, precisava trocar de roupa, mas onde?!


– Venha comigo, soldado. - Chris olhou rapidamente para Peggy, autora da fala. Ela limitou-se a apenas segui-la, pararam em frente à um banheiro, Peggy indicou com a cabeça. Mesmo com o ato quase gentil, ambas sabiam que o desconforto e a antipatia ainda fazia-se presente entre elas.


– Vá em frente, pode usar. - Chris deu um mínimo aceno de cabeça e adentrou no banheiro, não superou suas expectativas, mas era limpo, ao menos. Que estranho, mesmo depois da discussão com a agente, ela ainda tinha lhe feito um favor. Será que estava mesmo louca? Ou a agente estava apenas com pena? Fosse o que fosse, agora já não importava mais, ou simplesmente, não fazia deiferença. Ainda podia notar-se o olhar desgostoso de Peggy em relação a ela e isso não a afetava, não tanto. Pegou sua mala e colocou a farda que Nick depositara em suas coisas de forma misteriosa, no bolso da farda tinha apenas uma plaquinha com o seu sobrenome. "Wright". Ela era agora um oficial como qualquer outro, sem nem ao menos querer.


Vestiu-se demoradamente, adiando os acontecimentos seguintes, escovou os ralos cabelos e os dentes, seus olhos lacrimejaram ao ver sua aparência, nunca fora fútil, mas como toda e qualquer garota, o cabelo era fundamental. Olhando melhor seu reflexo, pôde finalmente entender o motivo de Nick ter levado-a para cortar os cabelos. Ela adquirira expressões mais rígidas e maduras com o corte. Então era isso, funcionava como um sistema de defesa, para que não mexessem com ela, com aquele corte, ela não parecia tão frágil. Sorriu, isso era ao seu ver, uma mínima demonstração de preocupação. Saiu do banheiro com uma áurea melhor, o ódio - temporariamente -, ficou guardado em algum lugar em seu interior, que parecia não ter muita importância agora.


Andou até o local onde seria servido café da manhã e comeu sozinha, em silêncio. Nick já não estava mais no acampamento. Ele era um homem de palavra, tinha deixado-a sozinha como fora avisada.


Vez ou outra, ela arriscava dar uma olhada em volta, alguns soldados olhavam para ela e cochichavam entre si, não queria saber o que estavam falando, por isso abaixou a cabeça sentindo-se envergonhada, não era acostumada a ter tantos olhos lhe observando, isso era tão... Desconfortável.


Após o café, retirou-se da mesa e andou pelo campo, não tinha nada para fazer até que o furgão chegasse, voltou ao córrego, mas não sentou-se como fizera na noite anterior, ficou parada observando a água fazer seu percurso escorada no tronco de uma grande árvore. Viu seu reflexo turvo novamente, e de repente, o córrego tornou-se um espelho da sua vida, ela via-se pequena novamente, sem sorrir, andando pelos corredores do orfanato quietinha com a expressão vaga...


*Flash Back on*

"Havia uma garotinha nos corredores de pedras cinzas e frias, ela usava um uniforme cinza e preto já gasto do orfanato, porém, era limpo e passado, ela tinha duas tranças bem feitas, onde seus cabelos ruivos estavam presos. Suas feições eram sérias, sem emoção, pálida e magricela. Andava com as mãozinhas entrelaçadas atrás do corpo, era uma manhã fresca de um sábado comum, mas para o orfanato, era um dia alegre para muitas crianças. Geralmente, em alguns sábados do mês, pessoas adultas estéreas ou voluntárias, vinham para passar o dia com algumas crianças e fazer atividades recreativas, proporcionando, assim, uma ilusão de que aquelas crianças tinham uma família, com pessoas que se preocupavam com elas e que as amavam de verdade e incondicionalmente.

A garotinha nem se deu o trabalho de correr desesperadamente pelos corredores e tentar ser o mais apresentável e agradável possível, ela tinha na média de 9 anos, já tinha passado sua época de ser alvo de procura de casais, aliás, mesmo quando fora menor nenhum adulto se interessara por ela. Vendo-se no espelho, ela podia tirar uma base do motivo. Era muito frágil, não era simpática e receptiva como a maioria das outras crianças. Era fechada, nada sorridente e tão apática! Que adulto iria querê-la?! Com o tempo, aprendeu a ignorar isso, a ignorar a necessidade de laços afetivos, tinha de se contentar com seu amor próprio. Algumas vezes ela tentou buscar algo sobre a família, mas ninguém nunca forneceu nenhuma informação e quando descobriu, não foi algo que a deixou feliz. Sua família lhe abandonou logo após o seu nascimento, alegando ao orfanato que não tinham condições de cuidar dela, e simplesmente sumiram de sua vida. Passou a infância sozinha, não tinha amigos, simplesmente dedicava a maior parte de seu tempo estudando, buscando melhorar e ser uma boa cidadã americana. Não era muito sonhadora, fora um dia, mas isso passou. Christine Wright era uma menina solitária e inteligente, sem família, que sempre buscou o seu melhor, que passou por humilhações, por dificuldades e principalmente, por um experimento, que mudara toda sua vida."

*Flash Back Off*

Uma enxurrada de lágrimas inundou seu rosto, Chris não podia contê-las, sentia que toda solidão que ignorar por tanto tempo voltando, assolando e tomando seu corpo por inteiro. Em um ato impensado ela bateu com o punho na árvore que se encontrava em seu lado esquerdo, seu corpo curvou-se para frente e o choro tornou-se intenso, várias lembranças encheram sua cabeça, nunca eram boas. Todas suas lembranças, ou a grande maioria delas lhe traziam dor e sofrimento.


De repente, uma cena tomou conta de sua cabeça, era de quando ainda adolescente, na fase em que começa-se a despertar interesse por garotos e que na maior parte das vezes, eles nunca correspondem, ou ainda, iludem as pobres garotas para fazê-las sofrer sem motivo aparente, ou para tentar atingir a garota que eles gostavam, ou por pura diversão, e também aqueles que não faziam propositalmente, mas o caso de Chris, era o mais doloroso: fora usada.


*Flash Back On*


Lá estava Chris, sentada em um banco da escola, ela juntara as mãos e mechia os dedos frenéticamente. Tentou ao máximo sentir-se apresentável, usando uma calça, all star e uma regata branca com os cabelos ruivos soltos e ondulados, seus olhos azuis procuravam sem descanso Thomas Brown, um garoto de sua classe que por incrível que pareça, não era jogador de futebol. Ele era quieto, loiro de olhos azuis e um amor de pessoa, não tinha um porte atlético como a maioria dos rapazes da sua idade tanto buscavam, mas também não era franzino como ela era.


Quando Chris viu-o pela primeira vez na oitava série, seu coração disparou e borboletas voaram livremente pela extensão seu estômago, simplesmente colocou na cabeça que ele era o príncipe encantado que viria salvá-la deste mundo horrível que a afligia, ele a tomaria nos braços e a protegeria de tudo e todos, que a amaria tanto quanto ela o amava. Como todo e qualquer adolescente, ela sonhava na quietude de seu quarto do orfanato quando eles estivessem juntos, desenhava nas estrelas seu nome, ouvia músicas românticas imaginando os dois dançando e trocando sorrisos bobos. Ilusão, é isso que resume a adolescência, ilusão.


Depois de quatro meses gostando de Tommy, Chris fez algo que jamais se julgaria apta a fazer: foi até o garoto para conversar com ele. Vez ou outra, ela já tinha notado Tommy lançando olhares para Brianna Johnson, mas achava que aquilo não significava nada, ela engoliu em seco enquanto seu estômago dava mil cambalhotas e foi até ele.


– O-Oi... - Disse ela gaguejando. Tommy desviou o olhar de seu caderno de Física e olhou para a garota perto dele.


– Olá. - Quando ela ouviu o "olá" de Tommy quase desmaiou, ele realmente tinha dirigido a palavra a ela. Ele tinha falado com ela. Deus, isso era fascinante!


– Eu... Eu sou Christine Wright. - O garoto franziu as sobrancelhas rapidamente, sem que ela pudesse notar, até porque, no estado eufórico e entorpecido que Cris encontrava-se, não seria espantoso ela não ter percebido.


– Sou Thom... - Tommy mal pôde terminar de dizer seu nome, que com um riso nervoso, Chris interrompeu e respondeu por ele.


– Thomas Brown. É, já ouvi muito falar de você. Somos da mesma série, não? - Ela despejava as palavras como água de torneira, ora, estava fazendo um papel ridículo. Mas, como se controlar diante do garoto que se está apaixonada por quatro meses?


– Ahn. É... - O silêncio veio. Chris admirava-o insistentemente, e isso intimidava Tommy, que garota estranha! O que a magricela da oitava série estava querendo com ele? Mas foi apenas Brianna passar por ele acompanhada de Gregory Morris que uma ideia brilhou em sua cabeça. Ele sorriu para Chris, ela quase teve um colapso e seu rosto tingiu-se em uma cor avermelhada de vergonha.


– E então... Qual sua matéria preferida? - Pobre Chris. Com um sorriso bobo, ela continuou conversando com Tommy, dessa vez conseguia controlar-se e não falar tanta besteira. Por dias isso persistiu, e até meses. O fato era que Tommy era apaixonado por Brianna, porém, a mesma não retribuía os mesmos sentimentos. Para ela, Tommy era apenas um colega, um amigo e nada mais. E quando o garoto percebeu que a garota mais esquisita da sala lhe dava alguma atenção, isso poderia ser extremamente útil a ele. Bem, Wright não era tão feia... Só era esquisita e sem corpo, além de anti social. Quem sabe, se ele começasse a falar com ela, não despertaria ciúmes em Brianna e ela finalmente lhe desse a atenção tão desejada? Não era uma má ideia, e de certa forma, até a Wright se sairia bem, pois ela teria alguém ao seu lado, mesmo que fosse uma farsa e ela não soubesse disso.


Como dito, os meses se passaram e Chris já julgava amá-lo. Sentia algo muito forte, os dois eram extremamente dóceis um com o outro, ela sentia-se como se pertencesse a ele e a ninguém mais, ele era seu amor de adolescência, o único, quem lhe tratara como uma legítima princesa e ele sendo seu príncipe, ninguém dizia nada em relacionamento, eram apenas... Amigos bastante íntimos. Mesmo com o passar dos meses, com a convivência e com a doçura, Tommy jamais aprendera a gostar de Chris como ela achava que ele gostava, do mesmo modo, ele continuava sonhando com Brianna e longe de Chris, vivia correndo atrás dela. Mas isso mudou em um certo dia.



Com o decorrer de mais um mês, eles marcaram de saírem juntos, porém, nada ocorreu como Chris esperava. Os dois foram até uma festinha escolar e Brianna estava lá. Tommy disse que iria pegar um pouco de ponche e a iludida Chris ficou lhe esperando, contente por achar que finalmente ela conseguira o garoto com quem tanto sonhou aquele ano. Minutos foram se passando e a garota achou que para um ponche, havia se passado tempo demais. Levantou-se de onde estava sentada ajeitando o vestido preto que trajava, passou pelo tumulto de pessoas do ginásio, olhava com pressa para achar Tommy, procurou e até que encontrou. Mas não encontrou aquilo que esperava encontrar. Tommy estava sentado ao lado de Brianna conversando animadamente com o ponche deles sob a mesa, eles pareciam muito bem, quase um... Casal. A visão de Chris tornou-se turva e seu estômago embrulhou, sua cabeça girou e ela se sentiu mal, correu do ginásio até o ponto de ônibus, mas não havia nenhum naquele horário. Voltou para o orfanato a pé mesmo, e depois daquele dia, cada vez que Tommy vinha falar com ela, sentia-se enjoada, ele era um idiota, ele a usou, chorou durante semanas pelo ato cruel e frio da parte do garoto, mas nunca na frente dele e em sua última conversa, ela disse firmemente, olhando dentro de seus olhos.


– Um dia a vingança chega, Thomas Brown. Doa em quem doer. Jamais duvide disso, ela sempre vem.


*Flash Back Off*



Outro soco. Chris não se importava se alguém estava ali e tivesse visto aquilo, estava transtornada demais. Por que tão repentinamente todas aquelas lembranças vieram-lhe em mente? Por que estava sofrendo tanto? E por que é que aquilo só tinha vindo agora e não antes?


Nada fazia sentido. Até que ela endireitou-se e aos poucos, foi parando de chorar. As peças foram se encaixando, Steve Rogers lembrava Thomas Brown fisicamente. Seria esse o motivo de tanto ódio? Não, não poderia ser, mas de certa forma, parte disso tinha fundamento. Lógico que já sabia que não gostava de Steve por ele ser bem visto sendo como era e ela não, e achava agora que algumas das características físicas de Steve recordaram-lhe de seu amor de adolescência e Peggy talvez podia ser Brianna? Era tudo tão rápido! E sem sentido, é claro. Como em questão de dois dias tudo que ela ignorou por uma vida vieram à tona? Isso não era normal, com certeza não era normal.


Seu punho foi de encontro ao tronco novamente, contudo, dessa vez fora com mais força e isso resultou em um buraco de uns quatro centímetros de profundidade. Arregalou os olhos, ninguém podia ver aquilo!


– Soldado Wright? - Aquela voz, outro arrepio, um misto de raiva, frustração e nervosismo tomou conta dela.


– Pois não, senhor? - Ela virou seu rosto para encarar o Capitão América. Ele fitou o buraco feito recentemente ao lado dela, os olhos inchados e vermelhos. Perguntas inundaram a cabeça do loiro, sentia uma tentação muito grande em perguntar o que houve e como aquele buraco foi parar ali. Teria sido ela? Mas como?


– Andou chorando? - Disse ele em uma voz próxima ao tom de consolação.


– Não, quer dizer... Sim, mas é porque me machuquei. - Steve mirou novamente o buraco e apontou com o dedo indicador.


– Deduzo que foi isso. - Ela engoliu em seco.


– Não, eu machuquei meu dedo com uma pinha. - Dito isso, ela disfarçadamente apertou uma das mãos na árvore e a arranhou com força, sentiu o sangue quente saindo e escorrendo sua pele, engoliu uma exclamação de dor.


– Deixe-me ver. - Ela estendeu a mão ensanguentada, Steve correu.


– Além de briguenta, também é ingênua demais à ponto de achar que uma pinha não machuca. Ande, vamos cuidar disso antes que seu furgão chegue.


Chris paralisou onde estava, por que ele estava agora tão educado? Pelo visto, não era rancoroso como a agente Carter.


– Está esperando o quê? Desmaiar? - É, estava bom demais pra ser verdade. Ela o seguiu até a enfermaria, onde colocaram um curativo em sua mão e disseram que não era nada grave, apenas um arranhão e que isso não a impediria de viajar para a base militar. Steve ficou em silêncio esperando os enfermeiros acabarem. Depois, saiu sem mais nem menos. Por algumas frações de segundos, Chris pensou em ir até ele, mas subitamente a raiva voltou e ela deixou o impulso para lá.


O horário do almoço chegou e nada do furgão ainda, então Chris teve que almoçar no acampamento. De vez em quando, ela e Peggy trocavam alguns olhares furtivos e a agente voltava a conversar com o Capitão, Chris revirou os olhos e retirou-se após terminar de almoçar. Assim que saiu do refeitório improvisado, ouviu um barulho de motor se aproximando, era o furgão! Ela sorriu, finalmente! Pegou suas coisas e entrou na fila de espera, o motorista abasteceu o furgão, pegou alguns mantimentos necessários e organizou os soldados, quando chegou a vez de Chris, seu braço foi puxado levemente.


– Boa sorte, agente Wright, cuide-se e adeus. - Steve olhou dentro dos olhos de Chris por alguns segundos e depois soltou seu braço fechando a "porta" do furgão. Chris assentiu com a cabeça e o furgão começou a movimentar-se, Steve ficou parado olhando-os partirem, e Chris olhava de volta. Antes de sumir, Peggy apareceu de braços cruzados e depois, não foi mais possível avistar Steve Rogers, nem Peggy Carter nem mesmo o acampamento.



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Notas finais do capítulo

N/A: Mereço os reviews preciosos de vocês? *O*