Mulher América escrita por Lady Snow


Capítulo 3
Capítulo 3- "Pequeno" desentendimento.


Notas iniciais do capítulo

N/A: Desculpem a demora, mas primeiramente queria agradecer a Miz Lara pelo apoio e a ajuda, hehe. Demorei demais reescrevendo este aqui e revisando, desculpem!
Um beijo e uma ótima leitura! :*



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Assim que Chris colocou os pés sob o chão forrado de folhas secas, começou a caminhar curiosamente pelo acampamento, vasculhava com os olhos rapidamente o local, muitos soldados passavam por ela atarefados, outros passavam feridos, e mais ao longe, ela pôde avistar um homem alto, loiro, corpulento e altivo ao lado de uma bela moça, ela era escultural, branca, possuía lábios rubros, trajava uma veste militar e seus cabelos eram negros e bem cuidados. Neste momento, Chris não pode evitar sentir uma pontada de inveja das madeixas conservadas da mulher.


– Aquela é Peggy Carter, e ao lado, Steve Rogers, nosso Capitão América. - Chris olhou indiferente para os dois, não tinha simpatizado com a mulher, não sabia o motivo, e Rogers... Bem, Rogers era o caso a parte, ele era a peça mais bonita e valiosa do jogo, ele era o que usufruía do soro, enquanto ela tinha de ser trancafiada mais uma vez, como um penitenciário esperando apenas a hora de ver o sol, de iludir-se com a liberdade, de voltar a ser quem era, sem interferência de nenhum mal. A sonhar com a livre verdade.


– Hm. - Disse apenas. Ela ia passando reto e Nick, num ato gentil e surpreendente, levava sua mala. Talvez lhe perguntaria mais tarde o motivo, mas agora o assunto em questão era apenas instalar a garota temporariamente no acampamento.


– Senhor Fury. - Soou a voz do loiro, era uma voz tão bonita, tão firme e melodiosa, que um arrepio subiu a sua espinha. Não, o que ela estava pensando? Flertar ocultamente com o cara que justamente estava impedindo-a de viver? Ou de estar no lugar dele? Ser o que ela era? Estava louca!


– Olá, Steve. Como foi na última missão? - O loiro sorriu e aproximou-se, a moça Peggy cruzou os braços e olhou inquisitiva para Chris, esta apenas firmou o olhar com uma das sobrancelhas erguida. Algum problema? Peggy desviou o olhar, não por medo, mas por pensar em algum método mais fácil de obter respostas, em especial, o que aquela garota estranha estava fazendo ali? Bem, estranha ela se referia ao ser desconhecida, porque em aparência, Chris tornara-se muito bonita após o experimento, apenas o que tornava-a desproporcional à sua beleza, era seu cabelo ter sido cortado sem dó nem piedade e igualado ao de um homem.


– Bem sucedida, senhor. Alguns feridos, e dois mortos, infelizmente. Mas creio que agora com mais cuidado conseguiremos realizar a próxima e... Quem é? - Disse Steve curioso, ao notar finalmente, a presença de Chris. Ela ficou calada, não tinha a mínima pretenção de fazer as honras. Nick fez pouco caso, o que não era nenhuma novidade.


– Um novo soldado. Quando sai o próximo furgão para a base de máxima segurança? - Steve franziu o cenho, o soldado tinha expressões femininas demais, o que é que iria fazer em uma base militar de alta segurança?


– Sai amanhã, após a recuperação de alguns outros soldados. Desculpe a pergunta indelicada... - disse Steve olhando atentamente a bela moça a sua frente, e não era Peggy à quem se referia, e sim, a Chris. - O que fará lá, soldado?


Neste momento, Peggy parou para prestar atenção também, mas Chris nada respondeu, esperou que Nick fizesse isso por ela. Ao perceber que ela nada falaria, ele tomou dianteira e respondeu da forma mais curta possível.


– Ela precisa de treinamento, só isso. - Steve encarou a moça firmemente, algo nela lhe chamava atenção, mas não sabia o quê. Ela parecia esconder muitos segredos, que tão de repente, despertaram a curiosidade de Rogers, era tão estranho uma mulher entrar no Exército, tinha como exemplo a própria Peggy, às vezes esquecia como ela era uma boa atiradora, estrategista e dentre outras coisas. Mas ali, parecia ter mais coisas por trás daquele silêncio.


Nick depositou a mala de Chris em uma barraca, e disse baixo, apenas para ela ouvir:


– De vez em quando irei até lá, não pense que conseguirá fugir ou algo relacionado, estou de olho em você. Um passo fora da linha, e já sabe o que te acontece. E não é algo que eu gostaria de fazer, pois é muito desperdício - Disse ele olhando atentamente seu rosto - . Daqui um tempo eu vou até lá, uma hora ou outra você vai sair, isso só depende do que eu conseguir aqui fora. Mas sugiro que seja paciente, porque senão, terá de aprender a ser. Adeus, Wright, até algum dia.


Nick deu um breve aceno e saiu, Chris paralisou, não tinha como reagir, ele era tão imprevisível, que não conseguia acompanhar o homem. Ele era tão frio, tão... Duro, seco e grosso. Ela se sentia um lixo, uma inútil, uma aberração diante as palavras de Nick, e tudo por culpa da aparição heróica do belo Capitão América. Belo? Pensara isso mesmo? Definitivamente, a solidão devia ter lhe consumido os neurônios, pois nem raciocinar direito mais raciocinava.



Entrou na barraca e deitou-se no colchonete de espuma que estava instalado para ela, não era nada confortável, mas não era isso que estava a incomodando e impedindo do sono vir, estava ansiosa num sentido negativo de ir para a tal base, estaria sozinha, mais vulnerável do que sozinha. Não sabia para onde ia, não sabia a localização do lugar, não aguentava mais esse sigilo. Queria ser uma cidadã americada comum, queria nunca ter tomado esse soro, queria não ter conhecido o Capitão América, e mais ainda: não queria que ele existisse. Sim, ela sentia ódio do que vivia, sentia ódio do que estava vivendo, isso a consumia, tornava sua energia, a deixava sufocada a ponto de querer enlouquecer. Tudo isso por causa da maldita aparição repentina de Nick Fury. Quando percebeu, já tinha amassado o cabo de uma lanterna que estava ao seu lado. Encheu o peito de ar buscando calma, ficar dentro daquela barraca não iria ajudar o seu humor a melhorar, resolveu então sair para tomar um ar e pensar, teria muito tempo pra isso, mas agora a ideia lhe parecia agradável. Ouviu um ruído de água corrente, teria ali um córrego? Caminhou por entre os pinheiros sorrateiramente, o que menos precisava agora era chamar atenção de alguém. Olhou para os lados verificando se ninguém tinha lhe seguido ou perto, ao concluir que estava sozinha, continuou seu caminho até encontrar um pequeno córrego como deduzira que fosse. Sentou na beirada e retirou os sapatos, mergulhando seus pés na água fria, um arrepio passou por seu corpo, fazendo seus pelinhos eriçarem, era uma sensação ótima e relaxante. Fechou os olhos, ali parecia que nada nem ninguém iria lhe atrapalhar, um momento único de liberdade, de uma solidão imaculada e consoladora ao lado das árvores.


– O que faz aqui sozinha? - Uma voz feminina soou atrás de si. Já sabia quem era. Peggy.


– Apenas molhando os pés. - Chris ouviu Peggy movimentar-se no pequeno bosque, fazendo barulho ao pisar com seus sapatos nas folhas e gravetos do chão.


– Então você também é um "Projeto Supersoldado"... - Chris absteve-se de arregalar os olhos, provavelmente, Nick já teria contado a ela por medidas de segurança, talvez.


– Sou. E o que que tem? - Disse Chris com um tom levemente grosseiro. Aquela mulher tinha uma pose prepotente demais, e isso começava a provocar Chris, mais um pouco e as duas teriam uma briga.


– Nada. Só quero lhe informar que precisamos apenas do Steve. Então, evite se meter naquilo que não é chamada. Não interfira em nada, aliás, suma. - Peggy olhava furtivamente para Chris, não era que Chris anteriormente tivesse sido grosseira com ela ou algo do tipo, mas ela sentia-se ameaçada. Ora, de repente, uma bela mulher surge misteriosamente e é sobrevivente ao mesmo soro que o homem que ela estava apaixonada. Isso eram razões boas o suficiente para Steve deixar de prestar atenção nela e dar olhos para Chris, até porque ele sentiria-se mais compreendido com alguém igual a ele. Ela não podia correr esse risco, era forte sem precisar de qualquer soro, era bonita naturalmente, não era dependente de um soro para ser o que era como a esquisita da Christine Wright. Porém, para evitar que Steve tivesse uma aproximação "perigosa" do novo soldado, Peggy pediu a Nick para que não contasse a Steve que Chris também era modificada. Usou como desculpa que Steve iria querer uma ajuda em combate, e ela era totalmente despreparada e desconhecida, podia ser arriscado e de fato, fora uma mentira com sentido. Chris deu uma risada fria.


– Olha, não é como se eu realmente estivesse interessada em contribuir em alguma coisa. Eu só quero viver em paz. - Peggy estalou a língua.


– Eu acho ótimo, e acho melhor ainda que fique bem longe do Steve. - Chris parou de olhar Peggy pelo reflexo da água e a encarou virando o pescoço lentamente, uma expressão séria com um leve toque de deboche.


– Fala como se eu estivesse interessada no soldadinho perfeito. Pf, ele não é nada, não quero nada dele. - O sangue de Peggy ferveu, concluiu que Chris era uma mulher ignorante e sem noção dos fatos, ela não via o noticiário? Não via o quanto Steve lutava para manter a vidinha medíocre dela intacta? Não via o quanto ele fazia pelo próprio país, arriscando a própria vida? Ela soltou um som indignado em resposta a Chris.


– A senhorita não passa de uma ignorante de escombros, que não sabe qual é a realidade em que seu país vive, que não reconhece quem luta pra te manter viva, não passa de uma experiência inútil! - Ela pegara pesado, sabia disso, mas era algo que julgava necessário Chris ouvir. Era isso que ela achava que ela era, uma inútil, uma experiência apenas para exames, um rato de laboratório que deveria ter sido exterminado há muito tempo.


Chris não aguentou o desaforo e levantou rapidamente da beirada onde estava sentada. Peggy Carter era intragável ao seu ver.


– Escute aqui, "agente", eu não sou sua filha pra você ficar me dizendo o que devo ou não devo fazer, não se meta você no que não é chamada. Inútil? Eu inútil? Eu posso fazer o que quiser!


– O que quiser? É? Então por que não me enfrenta? - Chris balançou a cabeça negativamente rindo sarcasticamente.


– Agente... Não brinque com fogo... Você pode sair gravemente queimada. - A expressão de Chris repentinamente tornou-se séria e sua voz pausada e ameaçadora. Peggy Carter podia ser uma agente renomada, mas não era ninguém para apontar-lhe o dedo e dizer o que ela era sem ter conhecimento de nada, no fim das contas, a ignorante e arrogante era a agente.


– Oh, sério? Então, que tal tentar a sorte? - Chris deu um passo à frente com o punho cerrado, mas antes que ela pudesse desferir o ataque e antes mesmo da própria Peggy posicionar-se em defesa, uma voz grossa ecoou sobre os ouvidos de ambas.


– O que está havendo aqui? - As duas olharam em direção ao norte do bosque, e lá estava o Capitão parado na clareira, com o cenho franzido. Peggy pigarreou.


– Nada de mais, Capitão, apenas uma conversa civilizada entre mim e a soldado... Wright. Não é? - Disse ela encarando Chris fixamente. Chris tinha uma vontade insaciável de entregar aquela "agente", mas no fim, ela sairia perdendo. O melhor era submeter-se à farsa e depois continuar de onde pararam.


– É claro, Peggy. - Steve deu uma risada nasal.


– Como se eu não tivesse ouvido o tom nada simpático de vocês duas. - Chris bufou.


– Ache o que quiser, Capitão! Contamos o que houve, se quer ou não acreditar, isso é um problema inteiramente seu!


Steve quase ficou boquiaberto com tamanha ousadia da soldado. Ele era uma autoridade, podia mandar prendê-la, mas não pretendia fazer isso. Mas um castigo não seria tão ruim.


– Peggy, vá indo, quero conversar depois sobre os planejamentos.


– Mas e a Wright? - Disse ela olhando com desdém para Chris.


– Eu cuido disso. - Disse ele firmemente sem tirar os olhos da garota misteriosa. Peggy olhou de um para outro umas duas vezes, e ao notar que era um beco sem saída, retirou-se do bosque sem dizer mais nenhuma palavra, ela teria outra oportunidade mais cedo ou mais tarde para uma afronta, e além disso, Wright estaria indo embora amanhã e nunca mais lhe traria problemas. Ou assim esperava. Contanto que Steve não desconfiasse de nada, tudo estaria bem.


Nick realmente fora rápido para poder contar-lhe a real condição de Christine, aproveitou o mínimo momento que Steve saiu para fazer isso e ela pedira o silêncio de Nick alegando ser o melhor a ser feito.


Assim que Peggy sumiu por entre as árvores, Steve falou.


– Como uma mulher, que vira soldado, consegue me arrumar problemas logo no primeiro dia?! - Chris sequer se deu ao trabalho de fitá-lo, apenas calçou seus sapatos novamente.


– Não está satisfeito, Capitão?! Fique calmo, à partir de qualquer horário de amanhã, não será mais obrigado a me ver. - Chris saiu caminhando calmamente, mas Steve segurou seu braço. Isso a deixou nervosa, os homens do Exército deviam ter alguma preferência em fazer esse ato com ela.


– Você é muito mal criada pra uma mulher. Devia dobrar essa língua. O que fazia sozinha discutindo com a agente Carter? - Perguntou ele inquisitivo, Chris não alterou sua expressão facial.


– Como o senhor disse, discutindo.


– E qual o motivo?


– É feio bisbilhotar o assunto alheio, senhor.


– É feio pessoas como você demonstrarem tanta antipatia em tão pouco tempo.


– Creio que isso não lhe é conveniente, Capitão.


– Se não fosse, eu não teria mencionado.


– Eu responderei se quiser ou se puder.


– Só me diga a razão para ir até àquela base militar.


– Pergunte ao Fury, ele saberá responder.


– Ele não me disse nada, nem pretende. Por que não me conta você?!


– Porque é o melhor.


– E que melhor seria esse?!


– Quem sabe um dia, o senhor saberá. Se não souber, foi o melhor a ser feito. - O rosto de Steve estava extremamente próximo ao de Chris, eles respiravam rapidamente, os olhos apertados e brilhantes de raiva, os músculos tensos do stress, embora os lábios estivesse a uns dois ou três centímetros de distância, não era uma cena romântica. Definitivamente, não era. A troca de respostas fora imediata, as vozes firmes e cortantes, um buscando respostas e a outra fugindo delas. Ele achava-a tão atrevida, parecia que sua língua tinha respostas prontas para tudo que ele dissesse, ela era tão... Infantil. E isso o irritava, e irritava mais ainda concluir que uma pessoa que ele mal sabia o nome despertar-lhe tudo isso em questão de horas. Ele não tinha razões pra ser simpático com ela, uma vez que Chris não fizera o mínimo de esforço para ser. Ela não era receptiva, e como ele, não tinha motivos para ser. Até porque, não faria diferença nenhuma, pois amanhã mesmo estaria fora do acampamento rumando para uma base militar desconhecida. O mais estranho daquela noite foi que ao invés de Chris ir embora, ela sentou novamente na beirada e retirou os sapatos, mergulhando de novo os pés lá dentro do córrego. Ela via seu reflexo turvo na água, o reflexo da lua cheia e o reflexo do Capitão atrás de si, imerso em seus próprios pensamentos. Minutos se passaram, nenhum disse nada. Aquilo era tão estranho, mas... Tão certo. Como uma discussão podia parecer algo certo? E pior ainda: como uma discussão de duas pessoas desconhecidas, mas ao mesmo tempo similares e quase conhecidas por ironia do destino, podia parecer certo?


– Como está a água? - A voz dele mudara para um pouco mais calma, arriscando a ser afável.


– Fria. - Disse ela sem emoção. "Como seu comportamento" completou ele mentalmente.


– Não vai mesmo me contar, não é? - Disse ele retomando a palavra. Argh. Ele era insistente, como qualquer outro militar renomado e prepotente que não descansava enquanto não obtinha as respostas desejadas.


– Não. - Disse ela ainda friamente, porém, mais calma. Ficaram mais alguns minutos ali, nenhum dos dois se encarava ou dizia algo, era como se estivessem presos em seus próprios mundos, imersos em seus pensamentos.


Depois de um tempo, ela levantou-se do chão quando o sono veio e saiu andando descalça até a sua barraca, enquanto Steve permanecia sentado, pensativo com sua última resposta, observando sua silhueta sumir por entre as árvores. Chris caminhou o mais rápido que conseguiu, queria sair logo de perto do Capitão. Ele era de fato, muito atraente, isso era inegável, mas desde que o vira pela primeira vez, um sentimento de antipatia pairou sob sua cabeça. E ficar perto dele, só contribuiria para ficar ainda mais confusa com os acontecimentos rápidos de sua vida. Deitou-se sob o fino colchonete e fechou as pálpebras, torcendo para dormir logo. E o Capitão, voltou para sua barraca pensar em estratégias do próximo ataque, mas depois daquela conversa, tornou-se uma tarefa quase impossível, então resolveu deitar-se e deixar para pensar depois.


O pior ainda viria: falar com Peggy sobre a cena anterior no bosque.


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Notas finais do capítulo

N/A: E então, o que acharam? *-------* reviews? ♥