Crônicas do Norte Livro I: a Feiticeira escrita por ririneu


Capítulo 16
Capítulo XV


Notas iniciais do capítulo

Este será um capítulo muito especial para mim, espero que vocês também gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/28340/chapter/16

 O som do meu coração a pulsar no peito só não era maior do que o barulho da chuva, que agora caia como uma pequena tempestade. Eu tinha de tomar alguma decisão... Eu poderia me esconder atrás da árvore, sair correndo, ou confiar que o jovem não me iria fazer mal e revelar-me...

 Os olhos do jovem perscrutavam cada árvore atentamente, procurando a origem do som, com a mesma atenção de úma águia que procura um rato escondido ou um ovo perdido do ninho. Desse jeito ele iria encontrar-me sem dúvida... dei um vagaroso e lento passo, que ao bater nas folhas secas deu mais um leve ruído. Dei outro passo, seguido de mais. o rosto do jovem virou-se lentamente na minha direção.

 Os seus olhos verdes encontraram-se com o meu. Pude perceber que havia surpresa no seu olhar.

 -Quem é você...? - perguntou com uma voz calma e serena, enquanto descia da pedra onde ele estivera meditando. Pude examinar melhor sua aparência do que quando estava olhando pela árvore. Seu traje verde-castanho estava molhado, ele tinha um cabelo castanho longo que chegava até as costas, semelhante a uma trepadeira a enroscar-se numa árvore, que já estava colado as suas costas. Tinha sobrancelhas finas e alongadas, e olhos de uma inteligência realmente muito grande, semelhante ao olhar de falcão ou de um felino. Usava calçados marrons e nas costas tinha uma longa capa marrom. Tinha uma pequena mochila pendurada no pescoço por uma trepadeira.

 Apontei com um dedo a garganta e depois fiz um movimento negativo com a cabeça.

 -Não consegues falar? - disse no mesmo tom calmo, sem nenhum deboche na voz.

 Balancei a cabeça negativamente, fazendo sinais com a mão dizendo que a garganta estava ferida.

 Após essa resposta minha, o jovem começou a procurar na pequena mochila qualquer coisa. Após alguns segundos, tirou de lá uma pequena garrafa.

 -Beba isto. Irá lhe ajudar na dor de garganta.

 Eu ainda estava muito surpresa para esboçar qualquer gesto, mas aceitei a pequena garrafa. O jovem apenas me fitava com um misto de interesse e surpresa. Agradeci com um aceno de cabeça. Eu ainda não tinha certeza se o que estava em minhas mãos era veneno ou alguma "cura" para a minha dor na garganta. Eu já estava começando a tirar a rolha do pequeno frasco quando o jovem recomeçou a falar.

 -Quais são meus modos? - disse, inclinando-se para frente, numa pequena cortesia - Eu me chamo Elmyn, sou o aprendiz de um druida, não tenha medo, a poção que eu lhe dei é feita com raízes e plantas, feita para curar dores na garganta. Ela tem um gosto ruim, mas pelo menos irá melhorar sua garganta.

 Após isso que ele disse tudo ficou explicado. A roupa parecendo uma folhagem com terra, o cabelo, tudo... Mesmo estando com confiança, ainda não podia deixar uma leve ponta de desconfiança. A dor na garganta e a impossibilidade de falar por quase dois meses foi maior, forçando-me a abrir a tampa do frasco. Uma nuvem de cor marrom-esverdeada apareceu logo após puxei a rolha. O cheiro era pouco agradável, juntamente com a cor, marrom. Perante a minha indecisão, Elmyn encorajou-me.

 -Bebe, vai fazer-te bem.

 Depois de uma pequena pausa, tomei coragem e levei o frasco à boca, bebendo tudo de um só trago. Dizer que o gosto era ruim era minimizar ao máximo o que o era na verdade. Primeiramente senti uma forte e aguda no estomago, logo após uma grande tontura, que me teria feito cair, não fosse o braço de Elmyn ter-me pego prontamente.

 -Respiras fundo, deixa a natureza entrar em você, a chuva...

 Fiz como o aprendiz de druida havia me dito. Inspirei e respirei ar para fora e para dentro, tentando ignorar a dor latente, apenas concentrando em sentir a natureza, a chuva. Inspirar, respirar, inspirar, respirar... Apenas concentrar-me em respirar e entrar em harmonia com a natureza. A chuva ajudava muito, o seu toque gelado amenizava a dor na garganta, fazendo eu melhor. Lentamente o braço de Elmyn retirou-se de mim, até ganhar confiança e retira-lo de vez. Comecei a sentir as dores amenizar um pouco. um pouco depois eram apenas uma leve dor, e logo após mais nada.

 -Está passando? - disse com uma voz preocupada e carinhosa.

 Afirmei positivamente com a cabeça.

 -A sua voz voltara em pouco tempo... Talvez um ou dois dias - disse com um meio sorriso franco - eu não posso mais ficar... Tenho de ir para a aldeia.

 Apesar de eu ter sofrido quando bebi o frasco, eu já sentia a voz voltando, e a dor na garganta que me havia atormentado, finalmente havia sumido. Agradeci com um sorriso para o jovem. Embora tudo tivesse acontecido rápido demais, eu sentia que podia confiar plenamente nele. Fiz alguns gestos com a mão, interrogando se ele iria voltar aqui, mas o Elmyn já havia partido, sendo possível ouvir apenas alguns passos distantes nas folhas secas.

 Eu pouco, quase nada conhecia do jovem aprendiz de druida Elmyn, mas sabia que ele era alguém em que eu poderia confiar. Comecei a aperceber-me da chuva que caia já como uma tempestade. Eu estava ensopada e congelada, mas isso pouco importava. Os meus cabelos negros estavam grudados nas minhas costas e a roupa branca colada no meu corpo...

 Decidi voltar para a Enseada da Fortaleza. Depois de algum tempo caminhando, avistei algumas luzes alaranjadas, quase totalmente ocultas pelo nevoeiro que se formara por causa da chuva. Caminhei mais um pouco chegando à porta da fortaleza. Apenas dois guardas estavam na porta.

 -Vais pegar um resfriado assim, Pequena - gracejou Jolir. O jovem guarda, juntamente com seu irmão Orir eram os dois guardas que ficavam de guarda na porta da enseada. Ambos já me conheciam há bastante tempo, devido as minhas constantes idas ao jardim para pegar plantas.

 O primeiro, Jolir, era um homem de estatura média, olhos castanhos e um cabelo marrom. O segundo. Orir era um pouco mais alto que seu irmão, de olhos amendoados e cabelos dourados. Ambos envergavam armadura prateadas, lanças, um elmo que quase lhes cobria a face com uma pena azul no capacete de Jolir e uma rubra no de Orir.

 -Entre e troque essas roupas - ajuntou seu irmão.

 Os dois guardas deram passagem e abriram as portas. As lâmparinas tremeluziam perante o vento, formando sombras. Já era noite... Quase todos os habitantes estavam dormindo, com exceção dos dois guardas, e provavelmente Trinor. O jovem Trinor era sempre muito dedicado no que fazia, estando quase todo o tempo que estive aqui preparando defesas contra os Urstragars. O grupo que havia emboscado Kraym, eu, e os outro soldados, estava atacando quase todos os vilarejos costeiros, sempre sumindo por um tempo e logo após retomando seus ataques. A jovem que havia vindo  na enseada já dava amostras de vida.

 Avancei pelos corredores com lâmparinas a tremeluzirem sempre que eu passava por elas, produzindo sombras que pareciam imagens. Abri a porta do quarto que Kraym havia me dado com o habitual cuidado, embora não fizesse grande diferença, considerando que a porta quase sempre rangia ao ser aberta. Troquei as roupas, fechei a janela e deitei-me. O som da tempestade era alto, mas sempre me acalmava e trazia-me segurança, fazendo-me dormir relaxadamente.

 Fechei os olhos e tentei dormir, embora não conseguisse. O som da chuva começou a aumentar primeiro lentamente, até tornar-se num grande som com trovões a romperem o céu. Levantei-me. Talvez não fosse a hora certa para dormir... decidi treinar e aperfeiçoar a Arte. O som dos trovões tornou-se um gigantesco e atordoante som, até eu começar a perceber que algo estava estranho...

 Subitamente um som calmo veio-me a mente, juntamente com uma imagem que estava a desenrolar-se a minha frente até ganhar forma. Uma jovem de cabelos negros e um olhar cristalino estava a minha frente. Seus olhos cristalinos eram poças de sabedoria e experiência, e seus cabelos negros estavam com alguns fios brancos. Mesmo sem jamais tê-la visto eu sabia o seu nome: Arawen, minha bisavó.

 "Minha querida bisneta, preciso informa-lhe algo de extrema importância. Uma feiticeira, mestra da Arte Obscura virá e destruirá tudo que foi criado. Você precisa impedi-lha ou ela destruirá a todos. Peço desculpas por não poder explicar quem, mas não há tempo. Treine a Arte, por que quando ela chegar, não haverá defesa para os que você ama, você será sua única esperança. Eu lhe explicarei melhor o que estou falando quando tiver tempo, mas agora não há tempo. "

 Uma nuvem azul apareceu no lugar da minha bisavó, sumindo após pouquíssimo tempo. Reparei que a roupa que eu havia pegado estava coberta de sangue; um sinal de que eu já não era mais uma menina, mas já uma jovem com a responsabilidade de salvar os que amava de uma feiticeira. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Quero agradecer a todos que estão lendo e a todos que estão comentando, até por que os seus comentários, sejam elogios ou críticas, me incentivam mais do é posível imaginar!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Crônicas do Norte Livro I: a Feiticeira" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.