O mundo realmente dá grandes voltas, não é mesmo? Há algum tempo atrás eu era apenas uma mulher estrangeira que trabalhava com documentos para o Hokage, e agora... Agora olhe onde eu estou. O mundo parece estar se destruindo em meu redor, pessoas, mais que todas as últimas, querem me matar. Mas eu e o Kakashi finalmente estamos juntos e eu acabei de dar a luz àquilo que faria um novo começo para nós, e bem na minha frente, olhando com os olhos em pura ira e desejo de me matar, está o meu melhor amigo. Aquele que considero até mesmo um irmão. Mas agora ele não me olhar mais com aqueles olhos gentis e brincalhões, e não mostra um belo sorriso contagiante que todos os dias me dava tanto animo para seguir em frente.

Não...

Esse Ryo simplesmente desapareceu da minha vida, e em seu lugar está esse cara completamente estranho, pensando em mim nada mais como um alvo que não pode deixar escapar. Pelo menos não com vida. E seu alvo, eu, se vê em completo caos e cansaço que parece consumir suas pernas a cada segundo. Os membros tremem, não só com o frio insuportável, mas com um verdadeiro medo de ser morta por esse cara em especial, mas não pode correr. Não tem energia o suficiente para escapar, já que todas foram gastas ao dar a luz ao seu único filho que agora fugia em segurança nos braços do futuro Hokage daquela vila atacada.

Enfim, o alvo não tem absolutamente nenhuma força física para usar, e então só lhe restam as palavras.

- O que pensa que está falando Ryo? Você mais que qualquer um, devia saber que tudo isso é uma grande armação!

- Não! – Sua voz trovejou como um relâmpago quando alcança a terra e isso me fez tremer mais ainda – Eu... EU mais que ninguém devia saber o quanto você é falsa! Sempre... Sempre foi, não é a toa que todo mundo daquela vila odeia você!

- Não sou falsa, droga! O Lance armou tudo para por todos contra mim, e agora até você caiu na armadilha dele – O rosto dele se endureceu mais, minhas palavras pareciam provocar nada – Ryo, pelo menos pense em mim antes de tudo isso acontecer e me diz agora se algum dia eu fui capaz de praticar uma calamidade dessas?!

- Não sei, agora eu não te conheço mais como pensava. Agora, por nós dois Mitsue, vamos acabar com esse falatório todo e encerrar isso de uma vez.

- Foi mal, mas não posso. E não falo isso por minha vida, é pela a vida do meu filho, do Naruto, da vila e até a sua. Só eu posso acabar com tudo isso.

- É mesmo é? – Me olha de cima para baixo e bufa – Você não está em condições de desviar de minha katana, então como acha que pode acabar com todo esse inferno sozinha?

- Não estou sozinha – Respondi com convicção – Tenho pessoas do meu lado por incrível que pareça, então eu tenho que me manter viva.

Ryo soltou uma risada tenebrosa, me abalando de medo por dentro, mas então ele volta a me olhar.

- É realmente uma pena. Agora você parece estar sozinha e não viverá muito tempo – Num segundo assustador, Ryo aparece de frente para mim, tão perto que consigo sentir seu cheiro. Senti-me um pouco feliz por ser o mesmo cheiro de sempre e meio que fiquei mais tranquila. Mas então sinto a lâmina azul de sua katana encostar na minha nuca e volto a me assustar – Adeus Mitsue – Os olhos dele me observavam por cima sem arrependimento e sombrios como os do Lance. Talvez piores. E então sinto a lâmina se afastar para dar o golpe final.

Estou prestes a reagir de alguma forma, mesmo sabendo que é idiotice e que minha cabeça irá voar pelos ares inevitavelmente, mas mesmo assim, deixo meu corpo tombar para impedir de ser acertada e quanto sinto que chegou a hora, me surpreendo com um barulho metálico e então caio de quatro no chão sem ser ferida.

- Já chega Ryo, já fez seu trabalho, agora é a minha vez – Escuto o barulho das duas lâminas passando uma na outra, e então a Katana no Ryo finca novamente no chão.

- Porque agora? Não era o que queria Lance?

- Como eu disse, já fez seu trabalho. Agora se junte aos outros na vila e impeça qualquer “problema” que queira se aproximar.

Ouvi Ryo falar nada, e quanto me virei para onde estava ele já havia sumido. Ouvi dois passos na neve por trás e então cravei os dedos na neve sob minha palma e virei meu rosto para onde ele se aproximava. Soltei uma lufada de ar e me afastei.

- Então você resolveu aparecer... – Murmurei numa voz quase inaudível, evitando bater os dentes de frio, mas o Lance parece ouvir claramente.

- Eu precisava vê-la viva antes de tudo – Falou com a voz natural e então se agachou para manter nossos rostos quase na mesma altura enquanto passava um o olhar por mim totalmente despido de pudor algum – Você me desconcerta, sabe?

- Devia me sentir lisonjeada? – Perguntei com completa secura. Odiava aquele olhar que me fazia sentir completamente despida.

- Devia – Respondeu como se fosse uma pergunta comum – São poucas as mulheres que me deixam desconcertado. Geralmente eu as uso até que não sobre mais nada que me interesse e então jogo fora como o lixo que são – Apertei mais a mão na neve, acumulando uma grande quantidade na minha mão – Mas você... Eu nunca me cansei de você – Ele se aproximou de mim e eu me afastei mais ainda, enojada, mas ele segura a minha perna e me para ali.

- Me solta Lance. Eu tenho nojo da sua presença.

- E eu devia me afastar apenas por isso? – Um meio sorriso malicioso surge no rosto dele e ele pousa a sua mão livre na minha outra perna. Cerrei os dentes quando vi seu corpo se inclinar para mim até ficar praticamente por cima de mim – Soube que estava grávida Mitsue... Mas pelo jeito já deve ter dado a luz – Ele olhou meu abdômen liso – Quando foi isso...? Há poucos minutos? Só pode ser.

Não respondi. Apenas encarava-o enquanto ele continuava a me despir com o olhar, e então voltou aos meus olhos, alargando mais o sorriso.

- Impressionante – Falou numa voz baixa, como que deliciado com alguma coisa e então a mão direita dele sobre pela minha perna devagar – Você acabou de dar a luz e mesmo sem assistência continua mais bela que nunca... – Fico rígida quando a mão dele passa pelo meu joelho e continua a subir lentamente – Quantas mulheres dariam tudo para ser como você. Pena que as que usei até agora não tem a mesma sorte. Basta usá-las pela primeira vez... – A mão dele alcançou a metade da minha coxa e eu tremi sobre seu toque, e com um sorriso maior que os últimos ele encerrou a frase – e já se estragam como uma prostituta já muito usada.

- Para com isso... – Grunhi, mas então ele se inclina mais e a mão dele para quase no fim de seu trajeto.

- O que foi? Tem medo que eu continue com isso? – Perguntou, cínico – Não se preocupe. Como eu disse, você não é como as prostitutas sem valor, então não precisa temer nada... Apenas quero aproveitar o momento de sua maior fraqueza para poder pegar um pouco de poder emprestado e não é só isso... – o rosto dele se aproximou e parou com os lábios tocando de leve o meu ouvido – Vou te mostrar oque realmente é ser possuída por um homem de verdade... Algo que nem mesmo o Kakashi não conseguiu te demonstrar pelas reações que me mostra.

- Você... – O rosto dele se afastou até ficar de frente ao meu quando eu falei – Você não é homem o bastante para me mostrar droga nenhuma! – e com a mão que eu agarrava a neve, joguei seu conteúdo no rosto. Lance se afastou um pouco, e tirou a mão da minha coxa para limpar o rosto. Aproveito a brecha enorme que ele abriu e levanto meu joelho direto no seu estômago. Uma lufada de ar escapa pela boca dele e seu corpo tomba para o meu lado.

Tirei forças não sei de onde, e então me levantei dali e fiz a única coisa que parecia prudente ali. Corri. Corri para longe dele e da vila com meu vestido branco esvoaçando com a ventania da nevasca que se aproximava de Konoha. Essa mesma ventania cortava minha pele com rajadas que mais pareciam facadas geladas que não só cortavam como queimavam e adormeciam minha pele cada vez mais. Respirei fundo com a esperança que o sangue voltasse a correr pelas pernas, mas então perco todo ele quando sou agarrada por trás.

- Me solta! – Gritei inutilmente.

- Mitsue... Você só está dificultando as coisas. É como dizem, só pode dizer que uma coisa é ruim depois de experimentá-la – Soltei um grito quando a mão dele foi para baixo do meu vestido branco e começou a subir sob o tecido.

- NÃO! NÃO! – Me debati, deixando lágrimas pesadas caírem cada vez que ele se aproximava do sutiã que parecia ser minha única e ultima defesa.

- Shh... Seja obediente e aproveite a ultima chance que tem de sentir algum prazer antes de morrer.

E então, com o pouco de sensibilidade que me restava, além do calor da mão dele eu consegui sentir aquele formigamento característico que o entregava.

Ele possuía meu chakra.

                                                        ---

Dezembro, dia 1 – Próximo ao portão da vila sob ataque.

Kakashi.

Já estávamos dentro da floresta que rodeava Konoha, prestes a entrar na trilha do portão principal da vila. Tocamos os pés na trilha de terra assim que surgiu e começamos a correr mais rápido para o portão e foi neste momento que aquela sensação inexplicável se tornou alarmantemente mais forte. Meu chakra reagia a isso com agitação desde que entramos no território da vila, mas bastou ficar mais próximo a ela que aquela sensação começou a ter sentido.

Deixei meu chakra mais liberto pelo meu corpo para ter clareza e consegui identificar algo parecido com pontos de calor espalhados pela vila inteira. Então era isso... Meu chakra reagia como uma antena de rádio que se sintonizava com todos os chakras da mesma “estação” que estão em volta. Mas a quantidade de pontos de calor era absurda. Na vila haviam apenas quatro pessoas com aquele chakra incluindo eu.

- Os rebeldes... – Respondi minha pergunta interna e então todos os meus companheiros calados até então me olharam.

- O que é que tem eles? – O mais velho perguntou.

- Arisu não estava de brincadeira quando disse que vários deles estão atacando a vila. Tem dezenas e mais dezenas deles espalhados por tudo que é lado – Falei com desgosto – Mas oque realmente me preocupa é que eu não sinto o chakra da Mitsue em canto algum.

- Não é possível que ela já tenha sido pega! Soube que aquela mulher é muito forte – O mais jovem de vinte e poucos anos comentou realmente surpreso.

- Mas eu ela está grávida... Então isso a deixa exposta a eles – O outro acrescentou e então o mais novo mordeu o lábio inferior.

Fiquei mais tenso com o ultimo comentário e logo o mais velho repreendeu os dois.

- Fiquem quietos, se não vão falar algo realmente útil, fiquem em silêncio!

- Ah... Foi mal Kakashi – O mais novo se desculpou, mas eu deixei isso de lado quando a presença de alguém ficou mais forte.

- Parem de correr! Parece que temos um inimigo próximo!

Todos desaceleraram até parar e eu levei a mão a bandana, pronto para descobrir o Sharingan se necessário. O meu chakra respondeu com mais força assim que um homem apareceu na trilha, parecendo ter pressa para alguma coisa. Peguei uma kunai e me posicionei na defensiva.

- Pare onde está e se identifique! – Falei em voz alta, apertando mais o tecido da bandana.

O homem parou e levantou os braços.

- Eu sou Yuuto da vila de Konoha! – Sai da defensiva imediatamente e abaixei a mão que estava na bandana para observá-lo melhor, mas ele pareceu me identificar primeiro – Hã? Kakashi é você mesmo?

- Sou sim... – Fiz um sinal para que os outros abaixassem as armas e então ele correu na minha direção.

- Caramba, ainda bem que voltou! – Finalmente consegui vê-lo quando ele saiu das sombras das árvores na beira da trilha, e então me alarmei quando vi que seu rosto estava repleto de cortes até o pescoço.

- Oque aconteceu?! Porque não está com a Mitsue?! – Me aproximei dele com pressa.

- Calma Kakashi, eu vim aqui a pedido dela – Levantou as mãos para que eu desacelerasse.

- O que aconteceu com ela?

- Naruto a levou para fora das fronteiras da vila perto do Portão Leste. Ela deve estar bem agora, mas me pediu para que te levasse até ela.

- Entendo – Me virei para os meus companheiros – Esta é a ultima ordem que darei a vocês. Vão para a vila e ajudem a defendê-la dos invasores, e por tudo que é sagrado, sobrevivam.

- Certo Kakashi-sama – O mais novo concordou junto com todos os outros, e então desapareceram, correndo na direção da vila.

- Melhor irmos também... – Ele ia se virar para o portão principal também mas eu impeço.

- Você disse que eles iam para fora da vila, mas isso faz quanto tempo?

- Por volta de meia hora atrás – Me confirmou.

- Eles já saíram... Então é melhor que evitemos entrar na vila para não atrasar – Refleti, tentando pensar com a maior calma que podia.

- Sugere que demos a volta até a floresta a Leste de Konoha, certo?

- Sim, é o mais seguro.

- Também acho uma boa ideia, mas melhor irmos a toda. Dar a volta demora e pelo visto teremos uma tempestade.

Concordei e então cortamos a trilha de terra até a floresta naquela direção para dar a volta. Olhei para o Yuuto enquanto corríamos e percebi que sua nuca estava com um curativo grande que começava a deixar escapar um pouco de sangue.

- O que aconteceu com você...?

Yuuto olhou para mim tentando entender oque eu queria dizer, mas entendeu quando viu para onde eu olhava.

- Ah, isso? – Ele apontou para a nuca e então deu um sorriso confiante – Só caí de um telhado enquanto protegia a Mitsue e acabei fazendo uma ferida feia, mas não é nada que me deixe debilitado.

Abri um sorriso, um pouco aliviado em saber que ele a protegeu.

- E como está o bebê...? Pelo menos enquanto a protegia.

- Estava seguro, e posso afirmar com toda a confiança que ainda está bem. Você conhece a Mitsue muito melhor que eu, então deve compreender oque quero dizer.

- Sim, e é por isso que me preocupo mais com ela agora. Com o bebê as chances dela esquecer de si mesma só aumentam. E pensar que eu enrolei na missão para não ter protegido ela de si mesma... – Soltei um suspiro pesado e balancei a cabeça.

- Ei, fique ao menos mais positivo em relação a ela. Você sabe que ter estresse agora só colocará as coisas contra o seu favor.

- Eu sei disso... Eu tento colocar mais confiança nela agora, mas a situação apenas não me deixa fazer isso. Tenho medo que ela possa bobear e... – Apertei os lábios – Espero que o Naruto a proteja direito, só isso.

- Ele a protegerá. Devem estar a caminho de um lugar seguro agora.

Paramos quando ouvimos um barulho numa árvore próxima e então descobrimos que era apenas o barulho de uma espada de lamina azul batendo contra um galho, segurada por um homem que tinha uma máscara negra numa das mãos. Mas não foi isso que nós fez ficar completamente rígidos em nosso lugar. E sim ver quem era por trás das roupas de rebelde.

- Tenho que discordar disso Yuuto-san... Nesse momento Mitsue está num encontro com o Lance – Falou com a naturalidade de quem lê a previsão do tempo em um jornal.

- Ryo...? – Yuuto ficou chocado ao meu lado, mas eu não perdi meu tempo atrás de respostas do porque dele ter aparecido ali depois de séculos.

- Então porque você está parado ai em vez de protegê-la como sempre fez?! – Perguntei, com péssimas impressões dele, principalmente por não ter sentido o chakra do cara.

- Protegê-la? – Ele deu uma risada leve e então parou de bater a lâmina no galho e a ergueu para frente – Se o Lance não tivesse me interrompido, o corpo dela estaria fincado na minha lâmina – Balançou a lâmina azul que refletiu a luz de um modo intimidador, mas não tive tempo para me intimidar com uma simples katana.

- Que merda é essa que está falando?! – Meu chakra ardeu dentro de mim, pronto para qualquer coisa.

Yuuto tocou meu ombro, controlando as emoções melhor que eu, oque era surpreendente.

- Parece que você não está mais do nosso lado, certo?

- Exatamente – Falou ainda tranquilo.

- Então isso basta – Yuuto afastou a mão do meu ombro e me olhou, incitando-me a dar o fora dali em direção da Mitsue.

- Boa sorte – Murmurei pouco antes de desaparecer do meu galho, indo o mais rápido que podia para longe dali.

- Tsc – Ryo negou com a cabeça - Péssima ideia.

Só entendemos oque quis dizer quando um clone perfeito dele apareceu com a mesma lâmina na minha direção e por pouco não me corta. Salto para trás, tocando o chão coberto por neve e o clone faz o mesmo, parando numa boa distancia a minha frente.

- Não posso permitir que alguém passe daqui... – Ryo abaixou a lâmina e levou a mão livre para trás e pegou outra espada, mas esta era mais grossa, com desenhos que acompanhavam as curvas da lâmina grande enquanto ela brilhava num azul brilhante, e então ele olhou diretamente para mim e sorriu enquanto o seu clone fazia exatamente o mesmo -... Aliás, o meu trabalho é eliminar traidores.