- Julgo que senhorita Hathaway sabe o que a princesa Vasilisa está a sentir, não sabe? – Perguntou-me Dimitri. O olhei confusa, mas no momento seguinte uma confusão de sentimentos e pensamentos passou por mim, medo, angustia, culpa, admiração até surpresa, eu sabia que isso tudo não vinha de mim, e bastou olhar para Lissa para ter a confirmação disso.

Agora era eu que estava assustada, Kirova olhava entre mim e Lissa, para depois desviar o olhara para Dimitri. Ela tinha sido apanhada de surpresa. Desviei os olhos nos deles.

- É um dom – murmurou uma coisa rara e maravilhosa.

-Os melhores guardiões possuem esse tipo ligação – acrescentou Dimitri – Minha mãe tinha uma amiga que me contou sobre essas lendas quando era pequeno.

Kirova mostrou-se ultrajada.

- Essas lendas têm seculos! Decerto não esta a sugerir que deixaremos continuar na academia depois de todos os ocorridos – Exclamou.

Dimitri encolheu os ombros.

- Ela comporta-se como uma selvagem e pode ir contra todas as regras e a boa educação que considera sem importância, mas é só para viver a vida de modo a se sentir feliz e á vontade, sem se importar com as consequências. E isso não é certo, mas ela mostra potencial…

- Selvagem e sem boa educação? – Disparei – Mas quem é você afinal? Um subcontratado?

- O guardião Belikov é agora o guardião da princesa. Guardião oficial – falou kirova.

- Vai utilizar mão-de-obra barata, estrangeira, para proteger Lissa?

Este comentário foi completamente desapropriado, pois a maioria dos guardiões e Morois eram de descendência russa ou romena, mas na altura parecera-me mais inteligente.

Mas afinal eu nem podia falar muito. Eu fui criada nos estados unidos, mas os meus pais eram estrangeiros, minha mãe era escocesa, possuía cabelo ruivo e um sotaque ridículo e o meu pai, segundo a minha mãe ele é um Moroi turco. Ao qual herdara esta combinação genética uma pele cor de miolo de amêndoa e traços fisionômicos que eu gostava de considerar algo exótico, como os de uma princesa do deserto. Grandes olhos escuros e cabelo de um castanho tao profundo, que mais parecia preto. Não que eu me tivesse importado ter herdado o cabelo ruivo da minha mãe, mas temos que nos satisfazer com o que nos calha na rifa.

Kirova levantou os braços exasperada virou-se para ele.

- Está a ver? Completamente indisciplinada! Todas as ligações psíticas e todo o potencial em bruto do mundo não podem compensar uma coisa destas. Uma guardiã sem disciplina é pior que não ter guardiã alguma.

 - Neste caso ensinem-lhe disciplina. As aulas ainda agora começaram. Voltem-na a por na escola e treinem-na novamente.

- Impossível! Esta muito atrasada em relação com os colegas.

- Não estou nada! – Contrapus.

Sequer olharam para mim, parecia que eu era invisível aos seus olhos.

- Então deem-lhe mais sessões de treino – reforços Dimitri.

Enquanto o resto de nos observava eles continuavam com a argumentação, Dimitri tentando fazer com que eu ficasse e Kirova arranjando desculpas para me expulsar. Meu orgulho ainda estava ferido por Dimitri ter tido tanta felicidade em apanha-nos. Mas tinha naquele momento reconhecer que ele era minha única apótese de poder ficar na academia com Lissa.

E mais valia ficar naquele inferno que do que sozinha sem Lissa. Através da minha possível “ligação” com lissa vi que ela tinha uma ponta de esperança que eu ficasse.

- E quem é que ia dispensar esse tempo extra? – Inquiriu – você?

Dimitri parou imediatamente a discussão.

- Bem não era bem isso …

Kirova satisfeita cruzou os braços.

- Bem me parecia!

Dimitri encontrava-se claramente em desvantagem, ele olhou para mim e Lissa rapidamente, perguntei-me o que ele teria visto: claramente duas raparigas ridículas olhando-o com os olhos suplicantes? Ou duas raparigas fugitivas que haviam fugido de uma escola de alta segurança e gastado meta da herança de Lissa?

- Sim – falou finalmente – posso treinar a Rose, dar-lhe as lições que ela perdeu durante estes últimos dois anos que esteve fora.

- E depois? Não terá nenhuma consequência? – Kirova irritou-se – sairá em pune sem que nada tenha acontecido?

- Encontre outra forma de a castigar – falou Dimitri – temos cada vez menos guardiões principalmente quando se trata de raparigas, não podemos nos dar ao lux de perder mais um.

- Temos que concordar com o guardião Belikov. Mandar Rose embora seria uma pena. Desperdício de talento - pronunciou-se Victor pela primeira vez na discussão.

 Kirova pôs-se a olhar pela janela. Lá fora, a escuridão era total. Como a academia funcionava num horário noturno, manha e tarde eram teros relativos. Alem disso, as janelas eram pintadas para impedir que o sol entrasse em excesso.

Quando ela voltou a olhar para nós, Lissa procurou pelo seu olhar.

- Por favor diretora Kirova, deixe Rose ficar.

“Oh Lissa”, Pensei. “Tem cuidado” usar compulsão em outro Moroi era perigoso, principalmente quando se tem testemunhas. Fui com a ajuda da compulsão que conseguimos fugir sem que dessem conta, Lissa começou a ter esse dom quando tinha apenas 13 anos, todos os Morois o tem, mas o de Lissa era mais forte que dos restantes, não tinha como fugir dela.

Mas ela estava a usar só um pouco desse poder, ninguém deu por ele.

Kirova deu um suspiro resignado.

- Se a menina Hathaway ficar na academia vão ser estas as condições: a sua matrícula aqui em são Vladimir é estritamente a título experimental. Pise o risco uma vez que seja, e será expulsa. Ira frequentar todas as aulas e respetivos treinos dado aos noviços da sua, sem atrasos. E também ira treinar com o Guardião Belikov nos seu tempo livre antes e depois das aulas. Tirando isso você não terá qualquer atividade social, exceto as refeições. Não sairá do seu dormitório depois de todas a suas aulas e treinos. Se não seguir essas regras a risca, será mandada embora.

Saltei uma gargalhada forte.

- Banida de todas as atividades sociais? É essa a sua maneira de nos manter afastadas?
- Indaguei, ao mesmo tempo que apontava para Lissa – Esta com medo que fujamos outra vez?

- Estou a tomar precauções. Estou certa de que se lembrará que nunca foi devidamente castigada por ter destruído parte da propriedade da escola. Tem muito que compensar – Puniu apertando os lábios finos até estes formarem uma linha reta – Estou a fazer uma proposta muito generosa, sugiro que não deixes que a tua atitude a ponha em perigo.

Eu queria dizer-lhe que a sua proposta não era nada generosa, mas reparei no olhar de Dimitri. Era difícil lê-lo: Talvez quisesse dizer que acreditava em mim, ou que eu era uma idiota para continuar a discutir com Kirova. Não fazia ideia.

Desviei o olhar dele, pela segunda vez naquela reunião, e olhei para o chão, ciente de Lissa ali ao meu lado, que me encorajava com todo fervor, através da nossa possível “ligação”. Por fim respirei fundo e encarei a diretora.

- Muito bem. Aceito.

Kirova expulsou-nos do gabinete para que fossemos as aulas que começariam em menos de alguns minutos. Lissa foi levada por um guardião para a sua aula. A única coisa que me restava de consolo era a possível ligação que tínhamos agora onde eu podia sentir os seus sentimentos e pensamentos. Eu fui obrigada a ir falar com os concelheiros de orientação da academia. Continuava a ser o mesmo Moroi de anos atrás. Era o velho que já devia estar reformado custava acreditar que ele andasse por aí.

A conversa foi rápida durou apenas cinco minutos e limitou-se a perguntas sobre o meu regresso e às aulas que frequentava em Chicago e Portland. Depois olhou para a minha ficha e rapidamente rabiscou o meu novo horário.

1º Tempo – Técnicas de Combate Avançadas para Guardiões.
2º Tempo – Teoria de Guarda-Costas e Proteção Pessoal III.
3º Tempo – Prática de Halterofilia e Treino Físico.
4º Tempo – Artes Linguísticas Noviços.
- Almoço-
5º Tempo – Comportamento Animal e Fisiologia.
6º Tempo – Pré-Calculo.
7º Tempo – Cultura Moroi IV
8º Tempo – Arte Eslava.

Eca. Tinha esquecido como o dia na academia era longo, só veria Lissa, depois do almoço. Encanhenei-me para a minha primeira aula. Em frente a grande porta do ginásio, parei e respirei fundo, Dimitri que me seguia me olhou de maneira estranha mas não disse nada. Empurrei a porta e entrei, olhei em volta da quadra a procura de algum rosto conhecido, e encontrei, Mason.

- Hei Mason, limpe a baba, se quer me imaginar nua, faça-o num lugar apropriado – Risadas preencheram a quadra e sopros zombeteiros. Mason pareceu sair do transe me dando um sorriso torto.

- Bem, hoje é a minha vez de Dar o aquecimento – falou.

- Bem então acho que é uma boa hora para pensar em mim nua – respondi, conseguido mais risos abafados.

- Bem é sempre uma boa hora para pensar em voce desse jeito – disse mais um bom amigo meu, Eddie Castile.

Dimitri atras de mim abanou a cabeço e saiu murmurando coisas em Russo. Caminhei até Mason e o abracei, tinha sentido saudades dos meus amigos.  

- Então… posso ser sua parceira? – Perguntei, fazendo um aquecimento rápido.

- Claro!
- Só não pegue pesado comigo- Pedi. Meu orgulho já tinha sido ferido por Dimitri, imagina se também fosse ferido por alguém como Mason. Se bem que ele estava mais bonitinho que antigamente.

- Pode deixar Hathaway! - Assentiu.