Um toque francês escrita por lufelton


Capítulo 10
Capítulo 10- Tintas Assassinas


Notas iniciais do capítulo

Finalmente.... Aqui está o capítulo 10.
Desculpa ter demorado tanto, estava em função de provas e trabalhos e eu queria fazer esse capítulo com muita calma e inspiração...
Obrigado à todos que estão lendo e elogiando, é muito importante para mim toda essa atenção.
Final de semana passado eu vi amanhecer, um dos motivos pelos quais me fez ficar inspirada... Casal sem igual aquele, né?
Beijo para vocês amores..



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Eu e Margot ficamos conversando até mais tarde daquele dia. Passamos o resto do tempo falando sobre, praticamente, todas as pessoas de Strangers Place. Margot parecia ter em seus conhecimentos tudo o que rolava naquele lugar. Em troca de algumas de suas fofocas, decidi contar algumas coisas sobre a Inglaterra. Ela idolatrava tudo vindo de minha terra natal, principalmente, meu sotaque.

Quando os ponteiros do relógio apontaram para 21 horas, tive que dizer a ela que estava um pouco cansada e que iria dormir. Margot era uma pessoa legal, mas se eu, ao menos, não tomasse alguma atitude, ela ficaria até o sol nascer.

Ao fechar a porta, encostei-me contra ela e suspirei fundo.

 Meu quarto estava uma bagunça.

Comecei juntando os pacotes dos biscoitos que haviam caído no chão e criado um aglomerado de farelos sobre ele. Ao terminar de arrumar tudo, sentei-me na cama e olhei em volta, até perceber que não havia aberto a segunda mala. Ao abri-la, retirei as roupas que faltavam serem penduradas e dobradas no guarda-roupa e, quando afundei a minha mão dentro da grande mala, notei que havia uma sacola com algumas coisas duras e frágeis em seu interior.

- Não me lembro de ter posto essa sacola aqui. – disse parecendo curiosa.

Ao virá-la do lado avesso, notei que havia um bilhete colado bem ao centro do papel, o qual dizia:

- Achei que fosse querê-los... É sempre bom guardar lembranças, não é?

Eu te amo

Beijos, pequena.

Ninguém havia assinado, mas não precisava de muito esforço para descobrir quem havia escrito:

 Mamãe.

Ela pôs a sacola enquanto eu adormecia e, dentro dela, encontravam-se quadros.

Três quadros.

O primeiro era uma foto minha quando pequena, junto com meus pais, enquanto me ensinavam a caminhar. Certamente, era uma de minhas fotos favoritas.

O segundo continha uma foto minha com Peter e Amber, em nossa apresentação em Los Angeles no ano passado. Uma eterna relíquia, eu diria.

E o terceiro e último quadro, não era nem mais nem menos do que uma foto minha com Michael, quando ele havia passado em minha casa para me buscar para irmos à festa. Mamãe fez questão de tirar a foto, afinal estávamos realmente muito elegantes.

Minha mãe sabia realmente como me alegrar, nem podia acreditar que havia esquecido minhas três fotos favoritas em Londres. Fiquei encarando cada uma delas, começando a rir sozinha após me lembrar de cada momento. Devia ter aproveitado mais, pensei.

Depois de alguns minutos ainda os observando, decidi colocá-los em cima de uma mesinha perto da sacada. Não adiantava ficar me lamentando.

O que passou, definitivamente, já passou.

Após terminar de arrumar o que faltava, decidi dormir. O sono e a exaustão se invadiam em mim de modo tão rápido e tão espontâneo, que me faziam querer esquecer do mundo e adormecer ali mesmo.

Esquecer do mundo, uma boa ideia.

O dia seguinte amanheceu ensolarado. Os raios de sol apoderavam-se de meu quarto, enquanto eu espreguiçava-me em minha cama. Verifiquei o horário: eram 9h47. Levantei-me imediatamente e comecei a me arrumar para tomar café no refeitório, afinal não seria necessário que dessa vez aquele cara aparecesse aqui hoje novamente.

Ri ao me lembrar da cena de ontem. Eu realmente o chamei de faxineiro?

Quando finalmente prendi meus cabelos castanhos, fui direto à porta para me encontrar com os elevadores e ir, o mais rápido possível, para o refeitório.

Ao chegar, reparei que tudo estava lotado. Aos meus olhos, lembrava-me aqueles locais onde os americanos se encontram para almoçar, como assistimos em filmes. Todas as mesas pareciam ser distribuídas por grupos, fazendo-me concluir que ninguém por aqui se misturava.

- Drew!- disse uma voz conhecida, uma voz suave que me fez querer encontrá-la imediatamente.

Era ele.

Era Morin.

Ao virar, vi que ele estava em pé, diante de uma mesa, acenando para mim, enquanto Desi e Ed encaravam suas comidas sem dizer uma palavra.

Sorri em troca do aceno e fui até ele.

Quer dizer... Eles!

- E aí, como foi ontem?- perguntei, enquanto me acomodava.

- Péssimo. – Desi respondeu, antes que Morin pudesse, ao menos, abrir a boca.

- Por quê? O que aconteceu?- disse, agora olhando para ela.

- O que aconteceu? Bem... O que aconteceu foi que Morin deu um chilique e disse que não queria mais ir à porcaria da Champs-Élysées e deu ideia ao gênio ali – apontou a cabeça para Edmound- para irem beber, acredita nisso?

- Por acaso, será que me esqueci da parte em que você concordou e foi beber com a gente?- disse Morin, que bufava de raiva.

- Concordei mesmo, mas não planejava ficar bebendo até às 4 horas da madrugada! Por isso, fui embora e vocês disseram que não iriam demorar, não é mesmo Ed?

- Desi, já te falei que não ficamos bebendo até às 4 horas... Só ficamos mais um pouco do planejado, agora estamos aqui, vivos e discutindo durante o café. Quer parar com esse drama?- defendeu-se Edmound.

- Drama? Eu fico que nem uma tonta preocupada com você e ainda acha que estou fazendo drama? Quer saber, deu para mim. – disse retirando-se da mesa. – Vou para o meu treino e faça o favor de não vir atrás de mim hoje, Edmound!- e saiu, deixando claro que lágrimas lhe escapavam.

- Que droga mesmo!- disse Edmound, batendo sua mão contra a mesa. - Desirée, espera!- disse, saindo da mesa, deixando eu e Morin sozinhos, observando-os sumirem do refeitório.

- Não entendo porque ele vai atrás dela. – despachou.

- Talvez porque ele goste dela. –respondi.

- Isso não é gostar! Isso é obsessão. – disse, dando uma mordida em seu sanduíche.

- Quando gostamos muito de uma pessoa, ficamos dispostos a fazer quaisquer coisas por elas. –argumentei.

- Não acredito muito nisso. – ele disse, olhando para baixo.

- Talvez porque nunca tenha acontecido com você. – deixei escapar, fazendo-o olhar para mim, aparentando estar muito impressionado.

Como eu sou idiota, pensei e desviei o olhar imediatamente.

- Você... Você não vai comer nada?- perguntou, passando as mãos delicadamente pelos cabelos.

- Ah... Sim, eu vou agora. – disse, levantando-me.

- Posso ir com você? Quero dizer... Elas só falam em francês e pensei que, talvez, você quisesse ajuda, mas se não quiser, eu... - disse embaralhando-se com as palavras.

 - Eu quero... - interrompi-o. Quer dizer, menos um desastre no dia, não acha?-sorri.

Ele riu timidamente e fomos até o buffet, que não parecia estar muito longe de nossa mesa.

- Oi, Morin!- disse Sophie, que estava sentada em uma mesa próxima da nossa. Ela era tão nojenta que aproveitou o momento em que ele estivesse perto dela, mas o melhor não foi isso! O melhor foi que, pela segunda vez, ela havia dado de ombros a minha existência.

-Oi, Sophie. – respondeu Morin, não se mostrando muito alegre.

- Não sei como você consegue cumprimentar essa tal de Sophie. – disse, bufando.

   - Ela é realmente muito chata, mas não precisa ficar com ciúmes. – e riu.

- Eu? Ciúmes?- olhei para ele espantada. Parecia que ele havia me dado o troco por aquela resposta. – Pode ficar mostrando esse seu sotaque escocês para ela e suas amigas, eu não me importo. - disse, empinando o nariz.

- Algo de errado com o meu sotaque? O seu parece... – disse, desafiando-me.

- Parece... – e o encarei.

- Nada... Eu o acho lindo. –disse, olhando para mim e nós, sem percebermos, estávamos olhando um para o outro, sem se mexer.

Eu escutei bem?

Nicolas Morin disse que meu sotaque era lindo!

O cara mais bonito desse lugar disse que meu sotaque era lindo! Eu estava prestes a desmaiar, se não fosse por...

- Drew!- Margot vinha em minha direção, segurando caixas... Caixas de tintas?

- Margot?- disse, desviando o olhar para ela.

- Oi... Tudo bem? Eu só vim lhe entregar as tintas que você pediu ontem. Desculpe chegar assim, mas não vou conseguir lhe entregar depois. Acredita que vou ter que encontrar a minha mãe lá na Place de La Concorde? Vou demorar muito para ir até lá... Mas enfim, tome!- disse dando as tintas para mim e mais uma pequena sacola. - Aqui estão as tintas! Eu tinha apenas essas cores e aqui está a sacola com alguns lençóis plásticos, caso você precise tapar os móveis para não os manchar com tinta. Até mais!- disse, saindo correndo.

- Hã... Quer ajuda com isso? – perguntou Morin.

- Não, obrigada- agradeci. – Vou só levá-las ao meu quarto e já volto, tudo bem? Eu me esqueci de dizer que pretendia pintar o meu quarto hoje... – disse.

- Se você quiser... Eu posso pegar o seu café enquanto você leva isso ao seu quarto e eu lhe entrego lá. – arriscou.

- Claro! Ótimo! Assim você poderia me ajudar a pintar o meu quarto! Nossa aula começa mais tarde hoje mesmo. - disse, aparentando estar muito entusiasmada. Até mais do que eu devia.

- Pintar? Bem... Eu não estava planejando isso... – disse parecendo confuso.

- Por favor, Morin! Eu não sei desenhar, nem nada do tipo, mas você sabe! Por favor!- disse fazendo cara feia.

 Ele deu um longo suspiro e revirou os olhos.

- Qual é o número do seu quarto? – disse sorrindo.

- Você é demais, sabia? – disse abrindo o maior sorriso desde que cheguei. – É 422 e te espero lá, ok? – disse, deixando-o sozinho na fila para pegar o café.

Subi nos elevadores o mais depressa possível e ao chegar, pus as tintas no chão junto com a sacola. Comecei a arrumar tudo que parecia estar desorganizado, não queria aparentar ser uma bagunceira.

Fui ao banheiro e comecei a me avaliar no espelho, soltei meus longos cabelos e comecei a fazer caras e bocas perante ao espelho.

Espere aí.

Por que eu estava fazendo isso?

Como se eu me importasse se Nicolas me achava bonita, ou não.

Mas e se ele não acha?

Alguém estava batendo na porta, o que me fez pular de susto.

- Morin? – gritei, indo em direção à porta.

 - Não! Sou o Leonardo da Vinci fantasiado de Nicolas. – respondeu rindo.

- Muito engraçado, monsieur Morin! – disse abrindo a porta, possibilitando lhe a visão de meu quarto.

- Peguei sanduíche, era a única coisa que eu sabia que você gostava. – disse sorrindo.

- Ah, tudo bem! Está ótimo para mim. – e o peguei de sua mão.

- Seu quarto é muito mais organizado que o meu, acho que até o banheiro parece mais limpo. – disse rindo.

- Eu sou neurótica com limpeza, por isso que é desse jeito. Porém, não gosto de ser assim. – disse, mastigando.

 Ele caminhava no meu quarto, observando tudo. Até que seus olhos encontraram os três quadros que eu havia posto na pequena mesa ontem à noite. Ele os encarava com cuidado, até que suas mãos não se aguentaram e foram diretamente a um dos quadros.

Coincidentemente...

O quadro de Michael.

- Esse é seu namorado?- disse, ainda olhando para o quadro.

- Hã... Não. Não tenho namorado. – disse, enquanto limpava minha boca com o guardanapo.

Mas ele não acreditou.

Agora ele olhava para mim, com uma cara que mostrava desconfiança.

- O que é? É sério... Não namoramos. – parecia até brincadeira, mas por incrível que pareça, alguma coisa em mim dizia que eu deveria contar a ele. – Tudo bem! Nós... Somente estávamos juntos, mas nunca namoramos.

- Ele gosta de você?- ele perguntou, pondo o quadro na mesinha e indo em direção à minha cama.

- Não sei... Eu acho que não. – disse, desanimada.

- Por que não? – ele insistia.

- Por que não? Bem, não sei... Talvez ele nunca tenha me achado interessante o bastante para levar seu sentimento a sério. – respondi, fazendo-o concordar levemente com a cabeça, como se estivesse somente me acompanhando.

- E você? Gosta dele? – perguntava, olhando para mim.

- De Michael? Bem... Gosto. – respondi, sem querer prestar atenção em sua expressão, por mais que não fosse expressar absolutamente nada. – E Claire? Como está? –mudei de assunto.

- Está bem. – disse, fazendo-me imaginar suas ligações com ela. Fazendo-me pensar em seus beijos, que eram capazes de provocar inveja em qualquer casal, pois nenhum se igualaria a eles.

Morin e Claire.

Eles foram feitos um para o outro, pensei.

- Vamos pintar? – interrompeu meus pensamentos.

Concordei com a cabeça. Um clima diferente havia se formado entre nós, ou somente em mim.

Por que o fato de imaginar Morin e Claire era tão assustador ao imaginar Michael e seu desprezo por mim?

Não. Isso não significa nada.

Nada.

 Quando terminamos de por os lençóis plásticos nos móveis, pegamos os pincéis e abrimos as caixas de tinta.

Só havia azul escuro, violeta e laranja. De alguma forma, teríamos que fazer essas cores combinarem.

Missão impossível, pensei.

Sem perceber, Morin já havia começado a pintar. Fiquei o observando fazer as linhas delicadamente, mas notei uma expressão séria em seu rosto. Parecia até que ele não gostava do que estava fazendo.

Então, tive uma ideia: fui até ele, lentamente, e o empurrei, destruindo sua planejada obra de arte.

- Ei! Você me fez borrar, sua idiota! – disse parecendo indignado.

- Idiota é você que segue regrinhas para pintar! Nunca pensou em se divertir fazendo o que gosta? – desafiei-o.

- Divertir-se como? Assim?- e pintou o meu nariz.

- Você. Não. Fez. Isso. – disse, botando a mão em meu rosto.

- Ah, fiz. – disse rindo. – E seu nariz está muito bonito. – ria mais ainda.

- Vai ser assim é? – disse, indo em direção à outra caixa de tinta.

- Nem pense nisso. – ele disse, afastando-se.

- Sinto muito... Já pensei. – e pintei o seu cabelo.

Ele se defendia pintando o meu rosto, depois meu braço, enquanto eu pintava absolutamente tudo o que estava em minha visão.

Nós ríamos um do outro. Ríamos como duas crianças.

Notando a sua vitória sobre mim, saí correndo para me proteger.

- Volte aqui! – disse rindo e saindo correndo atrás de mim.

Quando estava quase colocando a mão na maçaneta, algo havia me puxado.

Algo não.

Ele.

Ele me pegou pela cintura, tirando meus pés do chão com muita facilidade, fazendo- me rodopiar e rir ao mesmo tempo.

Ou, fazendo-me arrepiar.

Até que ele, de repende, colocou-me contra a parede, fazendo-me sentir somente a sua respiração. Nós não ríamos mais, nem sorríamos mais, nem ao menos nos pintávamos mais. Somente, olhávamos um para o outro.

O que estávamos fazendo? Pensei. O que EU estava fazendo?

A culpa era toda minha e eu tinha agir, antes que...

- O quarto está uma bagunça, não é? – desviei o olhar.

- É... – finalmente respondeu. Ele se afastou e passou as mãos pelos cabelos, que agora estavam endurecidos.

- Ainda não acredito que você pintou o meu cabelo... – ele disse, rindo.

- Morin, estamos todos cobertos de tinta! – disse, fazendo-nos rir mais ainda.

- Vamos acabar isso então. Sem competições, ok? – ele sorriu.

- Ok . – concordei.

Demoramos 30 minutos para pintar todo o quarto e, quando finalizamos, ficamos impressionados com o nosso trabalho.

As paredes haviam ficado muito melhores, pensei.

- Obrigada pela ajuda! – disse sorrindo.

- Disponha. – ele riu. – Apesar disso – apontou para suas vestes. – foi bem legal.

- É mesmo! – concordei. – Afinal, que horas são?

- Quase 11 horas, melhor nos arrumarmos... Temos aula daqui a pouco. – disse, examinando o relógio.

- Tem razão. – concordei. Por mais que, no fundo, eu não quisesse concordar.

- A gente se encontra na frente dos elevadores? – perguntou.

- Hã... Sim! – e o examinei saindo.

Sem esperar um segundo, sentei-me no chão.

Deus... Se há alguma pessoa que pode me ajudar, só pode ser você... O que aconteceu aqui? O que foi aquilo? Por que ele me deixa desse jeito?

Decidi parar de achar as respostas que nunca vinham e começar a arrumar o meu quarto. Comecei tirando os lençóis de cada móvel e quando me virei para notar se estava tudo em ordem, percebi que alguma coisa estava errada...

Um pouco de tinta cobria, somente, o rosto de Michael na foto.


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