Die With Me escrita por Lívia Black


Capítulo 2
2. Our love like ashes in our mouths


Notas iniciais do capítulo

Heeeey *o* Finalmente aí estou eu com o capítulo 2, o penúltimo dessa short. Espero que esteja ficando bom, não queria decepcioná-los! Agradeço muito, a cada um de vocês leitores que deixaram comentários no capítulo passado, de todo o coração ♥ Espero, sinceramente, que esteja ficando bom...



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Por um segundo, Yuuki se permitiu ser dominada pela sensação de que aquilo era real.  Que não era só mais um sonho doentio. Que ela não estava mais dormindo de olhos abertos.

Porém, um segundo para Yuuki, era mesmo apenas um segundo, e não adiantava agarrar-se na esperança de que aquilo era verdadeiro, quando seu coração sabia que tudo que aquele momento representava era uma mentira.

Não era como se, um dia, no futuro, as coisas fossem voltar a ser como antes. Ela não entendia porque Zero estava querendo iludi-la, entregando aquela bandeja de sensações e aguçadas memórias, levando-a até ali.

Juntos, podiam observar, na linha tênue que demarcava o horizonte, uma fina camada de luz que ia surgindo. Estavam sentados sob o ponto mais alto do telhado do Colégio Cross. Ou melhor, do que restara dele, depois da batalha contra os Level E.

Zero, que até então apenas respirava fundo, olhando a paisagem pitoresca, se permitia apertar sua mão, e entrelaçar os dedos nos seus. Parecia segurá-la como se tivesse medo de que, de repente, sua pele pudesse se dissolver na dele, e ela fosse desaparecer para sempre.

Mas... Por que ele se importaria tanto?

 Será que ele acreditava que o fato de estarem vivendo aquele momento mudaria alguma coisa? Será que era um pedido de desculpas, por seu comportamento agressivo após descobrir o que ela era? Ou será que era somente uma forma de dizer adeus?

O último nascer do sol que assistiriam juntos, antes de tudo se romper... Antes de ela lhe virar as costas para sempre.

-É radiante, não é?

Na verdade, seria radiante, se não doesse tanto. Cada palavra que lhe escapava a sua boca, poderia ser a última que ele a ouviria dizer, e mesmo assim, ela sabia que se ficasse tentando selecionar cada sílaba, perderiam todo o seu tempo. E não era como se houvesse tempo para ser desperdiçado, agora.  

Diante de suas palavras, Zero suspirou. E como eram um todo, sabia que pelo mesmo motivo que ela suspiraria. Estava estragando um momento perfeito com a sua voz. E por mais que fosse necessário fazer isso, doía. Não era como se desse para digerir que para eles, de fato, não havia nascer do sol ou final feliz.

-Sim, é. Sempre observei daqui...

Yuuki soube no mesmo instante que ele não se referia apenas ao nascer do sol.

O que será que ele poderia ter observado dali?

Então, sentiu-o deslizar os dedos pelas costas de sua mão, e um arrepio desceu-lhe toda a coluna, respondendo a pergunta.

Ela.

Porém, qual versão dela?

Era uma vez, no que parecia ter sido tanto tempo atrás, apenas uma inocente garota. Tirando o seu orgulho de poder ser guardiã do colégio Cross, e conhecer o segredo mais  sombrio que o envolvia, nada poderia haver que a distinguisse das demais. Essa garota tinha parte das memórias apagadas, um místico salvador. Tinha um melhor amigo, ou pelo menos pensava que tinha um melhor amigo, e que ele estaria com ela em todos os momentos, assim como ela esteve com ele. Ela não se importava que ele fosse diferente, que só falasse quando queria ou que raramente conseguisse uma passagem para ela em suas muralhas de frieza. Ela queria estar com ele. Compartilhava todos os seus segredos com ele, menos aqueles que nem ela conseguia muito bem administrar. Para essa garota,  ir até o telhado do colégio Cross acompanhada de Zero seria algo banal, quase rotineiro.

Mas não restava quase nada dessa garota, agora. Tudo o que permanecia eram as reminiscências dela, que por si só já conseguiam ser demasiado dolorosas. Saber que ele a observara de lá, naqueles tempos...

Era quase como colocar sal sobre as feridas recém-abertas.

-O que está fazendo, Zero? -A tortura era forte demais. Mais tarde, quando estivesse indo embora para sempre com Kaname-senpai, aquelas memórias fariam com que se rendesse à uma porção infindável de amargas lágrimas. E ela estava tão farta de chorar. –Por que estamos aqui? O que significa...- Ergueu a mão esquerda para o alto, entrelaçada a dele, e contemplaram os dedos se encaixando tão simbolicamente. -...isso?

Sabia que poderia estar sendo rude demais com aquelas palavras, afinal, era a primeira vez que ele agia daquela forma com ela, desde...Aquele dia. Mas ela não podia se impedir de querer desvendá-lo, descobrir o que se passava naquela mente tão obtusa. Era tão difícil dizer o que ele poderia estar sentindo naquele instante!

Surpreendeu-se ao notar que ele virara-se para olhar para ela. Os orbes violeta percorriam-na com cuidado e mistério igualitários, mas tão intensamente que era algo quase íntimo.  Deixou para olhá-la nos olhos por último. Quando finalmente se cruzaram, Yuuki prometeu que não desviaria, mas era tão entorpecedor, que ela quase se sentiu tentada.

-Eu precisava saber como seriam as suas reações te levando aqui, Yuuki.

Ele não hesitou nem por um segundo em dizer a destruidora verdade. Era sincero. Mas ela admitia que, talvez, um eufemismo tivesse sido mais aconchegante naquele caso.  

-Então, isso é um teste? –Suas sobrancelhas se uniram, e ela não sabia dizer se sentia raiva ou mágoa, por ter pensado que aquilo tudo era um pedido de desculpas ou uma doce despedida.

-Não completamente. – Ele mordeu o lábio, um pouco desconfortável. Yuuki sentiu os olhos pesarem de lágrimas, e odiou-se por isso. Sabia que era uma ilusão desde que se permitira deliciar com a sensação de estar ali com ele. Não deveria ser uma surpresa entender que fora programado. Além disso, prometera que não iria chorar. Era Zero quem deveria estar assim naquele estado, diante da morte de Ichiru e da quase certa perda da presença dela, se é que fazia alguma diferença. No coração de Zero, aparentemente, havia uma espessa muralha feita de gelo. E tudo que ela tinha feito para derretê-la, durante todos aqueles anos, fora perdido quando ele soubera que ela uma vampira.  – O teste foi só para me assegurar de que não estava cometendo um erro. Mas também queria ficar com você e conversar com você sobre... sobre tudo. Há muitos segredos entre nós, mas acho que é óbvio que eu me sinto melhor quando estou segurando a sua mão.  

Sabia que, por convenção, seus olhos brilharam de emoção, quando ele murmurou aquilo, com tanta sinceridade prescrita na íris. Incrível como devia soar idiota, ansiando por aqueles pequenos gestos simbólicos, que faziam seu coração, que ainda tinha algo de garotinha, explodir em arco-íris e borboletas.

Mas algo estranho, ao mesmo tempo, tomou conta de seu estômago. Algo como autopreservação. De repente, os dedos dele pareciam também serem tiras feitas de gelo, que queimavam demais para continuar segurando. Esquivou-se do toque, usando a desculpa de abraçar os próprios joelhos. Seus olhos reprimiam gotas.

-Só tenho uma pergunta para você, Zero. –Yuuki se pegou sendo incisiva. Pois se deu conta de uma coisa, que deveria ter sido óbvia desde o inicio. Não sairiam do lugar, e nenhuma despedida, palavra, ou gesto, significaria qualquer coisa enquanto não avançassem sobre uma única questão. Onipresente, até no ar em que respiravam. –Tive esperanças de que você sentisse o mesmo que eu, e que esses fossem os motivos. Mas diante do seu silêncio, e desse seu maldito teste estúpido, me vejo sem alternativas. Tenho que lhe perguntar diretamente. Por que você salvou a minha vida, Kiryuu Zero? Por que não deixou com que Lead sugasse o meu sangue, antes de destruí-lo?  Você apontou uma arma para mim quando soube o que eu era, então, porque, agora, salvou a minha vida?

Havia uma nota de desespero incontido em cada sílaba que Yuuki usava para falar. Mas era como se, finalmente, sentisse parte daquela bola na garganta sendo cuspida. Todos aqueles ressentimentos e dúvidas, todos os motivos que ela tivera para confrontá-lo aquela noite, ao invés de simplesmente ir embora sem as dores de uma despedida, podiam ser suprimidos no desejo que sua voz expressava ao indagar aquela questão. Por que você salvou a mim, Zero? Por quê? Se você não sente o que eu sinto, e se odeia o que eu sou, por que me salvou?!


Ela precisava da resposta quase como seu corpo precisava do oxigênio do ar para se manter vivo. Mas Zero negou o que mais precisava.

Intuitivamente, devolveu-lhe outra pergunta.

-O que você sente por mim, Yuuki?

E não era apenas uma pergunta. Era A pergunta. Impressionante que, de todas as chances que ele tivera para perguntar para ela, escolhesse logo agora, quando ela estava impedida de lhe responder.

-A minha pergunta, primeiro, Zero. –Protestou. Iria arrancar essa resposta dele, nem que para isso tivesse que ir além do que era permitido.

Era questão de vida ou morte.

As pálpebras de Zero se fecharam uma ou duas vezes, num declinar suave, enquanto ele parecia ponderar sobre alguma coisa. Seus lábios fechados murmuravam uma palavra ininteligível, que ele provavelmente não queria que ela ouvisse. Depois disso, mesmo com os pequenos raios do sol matinal acariciando suas peles, havia ficado frio. O silêncio invadiu o ambiente, como um intruso familiar.  Era denso, quase palpável, e por isso ela não se atrevia a interromper.

Cultuara a paciência até Zero ser finalmente capaz de cerrar os punhos, encará-la, e dizer o que provavelmente também estava entalado em sua garganta aquele tempo todo.

-Se você estava se referindo a amor, quando falou de sentimentos, saiba que eu não sou feito de pedra, Yuuki. Por mais que às vezes eu possa querer fingir que sou. É claro que eu...- Sua voz hesitou, mas ele não cedeu à vontade de regressar ao conforto que o silêncio lhe proporcionava. –É claro que a amo.

Ela quase não conseguia acreditar. Poderia se beliscar agora, apenas para ter certeza. Mas tinha medo de que, ao beliscar, perdesse o sabor tão doce, viciante e entorpecente, de tudo aquilo. Estaria Yuuki tendo alucinações? Era... improvável. Nunca uma alucinação tinha feito seu coração disparar mais rápido que um motor, e em tão pouco tempo. Nenhuma alucinação lhe fora capaz de congelar os lábios, em “o” simétrico, ou de fazer seu corpo estremecer conforme as palavras o atravessavam. Nunca uma alucinação poderia reproduzir tão bem a íris violeta de Zero, ou o veludo de sua voz dizendo que a amava. Mesmo assim...Era tão difícil acreditar naquilo.

-Está surpresa? –Tão surpresa, que não conseguia nem arquitetar palavras. Espontaneamente, ele deu um meio sorriso, como se achasse patético ela não saber daquilo antes, mas ao mesmo tempo adorasse seu choque. –Eu amava aquela garota doce que conheci, quando pisei aqui pela primeira vez. –Se as coisas deveriam mudar por isso, não havia funcionado. O sabor daquela realização ainda era o mesmo para Yuuki, algo simplesmente bom demais para ser descrito. Ela fora aquela garota. Tinha as reminiscências dela, e acreditara na realidade dela por um tempo que ia além do que ela já havia existido. Por Zero, ela poderia recuperar cada fragmento que perdera daquela garota. –E já que a amava, eu devia isso a ela, por mais que tudo tivesse sido uma mentira. Algo que ainda me recuso a acreditar. –O rancor nas notas dele eram como pequenos punhais querendo ser arremessados em sua redoma de felicidade, e que não podiam ser ignorados. Por que ele falava de mentiras agora? Por que queria estragar aquilo? Se ele a amava, então nada havia sido uma mentira. – Aí está sua resposta. Eu não podia deixar a garota que amava morrer, Yuuki, enquanto não tivesse a certeza.


-Que certeza?!

Já estava bom demais para ela saber que tinha sido salva por amor. Não havia necessidade de explorar aquilo mais a fundo. Só que sua voz traiu essas ideias, deliberadamente. Não foi algo que pôde controlar. Zero tinha razão. Mentiras não podiam pairar por ali, com tantos sofrimentos. E se ele a salvara também para ter essa tal certeza, ela não poderia privá-lo disso.

-A certeza, Yuuki. –Como não pudera reparar o quão perto ele estava, agora? Seus rostos estavam tão próximos que ela até conseguia notar as pequenas rugas de amargura que tomavam conta dele enquanto se confessava. Arrependeu-se de ter-lhe esquivado a mão. Tão de repente, queria tocá-lo. –Queria ter a certeza de que você sempre foi um monstro, e que a Yuuki que conheci não existe mais, foi apenas uma ilusão. Certeza de que você é uma criatura tenebrosa da noite, como a mulher que acabou destruindo com toda a minha família. Certeza de que você é um vampiro, e não aquela doce garota sendo injustiçada.

-Zero...

Cinzas em sua boca. Era isso que restara da felicidade que achara ter o direito de possuir, segundos atrás. Aquela era a certeza que ele queria ter. Não a certeza de que a amava mesmo, ou a certeza de que ela não o abandonaria.

Era aquela certeza.

A certeza de que ela não era um vampiro.

 Yuuki conseguia assistir em sua mente seu castelo de cartas desmoronando. Caia tão rápido quanto quando se construíra naquele instante em que ele confessou o seu amor. Sim, ele a salvara, e a amara, mas por que ela sempre tinha que ser estúpida demais para não notar que as palavras estavam no passado? O que mais a decepcionava, não era isso, e sim o fato de que ela esquecera que não ia deixar aquelas esperanças daquela garotinha dominarem-na mais. Ela não podia ser aquela garotinha, para Zero. Nunca mais. Não sendo uma vampira ao mesmo tempo. E isso devia ter sido óbvio, era óbvio, mas ela se recusara a deixar as esperanças a abandonarem, até aquele momento.

Zero jamais iria perdoá-la, porque ela realmente nunca havia passado de uma ilusão para ele. Se ele não podia amar uma vampira,  então realmente, a Yuuki que ele amava nunca havia existido, e tudo fora uma ilusão, porque ela sempre fora uma vampira na pele de uma humana, vivendo uma vida que não lhe pertencia e vivendo um amor que não lhe pertencia.

O ódio dele era maior do que ele mesmo, ela compreendia isso. Admitia que ele jamais iria aceitá-la, por mais que lhe doesse. Mas não tanto quanto doía ter que lhe dizer tudo aquilo, dar aquela certeza para ele. Era o mínimo que podia fazer, sim, mas a dor que causaria nele seria incomensurável, e se uma coisa não havia mudado no dia em que suas memórias voltaram, era o seu amor por ele, e o fato de que ele era uma parte sua. A dor dele era a dor dela, e as palavras que iria dizer agora seriam de longe, as mais dolorosas possíveis.

-Eu sou mesmo uma vampira, Zero...

A voz lhe era quase estranha, as palavras tinham dificuldade de sair, mas mesmo assim, ele as ouviu, e mordeu o lábio com tanta força que por um momento ela temeu que pudesse se cortar. Em sua íris, o reflexo do sofrimento dela era tão tangível quanto a raiva dele.

-E eu não acredito em você, Yuuki.

Ele declarou, simplesmente, cheio de desprezo. Só faltava dar de ombros.

A primeira fase era sempre a negação. Como alguém conseguiria viver sabendo que passara toda sua vida acreditando em uma ilusão? Sinceramente, nem ela entendia como conseguia estar de pé depois de ver tudo que o que construíra desabar na sua frente. Como que por instinto, também foi acometida pela raiva. Raiva do maldito destino, e de tudo que ele os estava obrigando a enfrentar.

-Como você não acredita em mim!?

Será que Zero pensava que Yuuki era sadomasoquista ao ponto de querer vê-los sofrendo, mentindo ser o que ela era? Ser uma vampira sangue-puro era um fato, já consumado. Por mais que ferisse seu orgulho, ela podia até admitir que gostaria muito de não ser. Kaname sofreria com aquilo, mas era a verdade. Preferia mais vezes que o infinito ser a garota Yuuki a ser princesa sangue-puro, mas a ironia do destino roubara-lhe também a própria identidade.

-Não acredito, porque sei que é ele.  Estou quase certo que Kuran Kaname colocou todas essas falsas lembranças na sua cabeça, apenas para poder nos separar.

Yuuki não pode evitar sorrir um sorriso triste de admiração. Sorrir, porque era lindo ver a forma com que Zero distorcia as coisas, distorcia o amor de seu irmão a uma coisa monstruosa, apenas porque a amava, e se recusava a acreditar que ela nunca havia sido mais que uma ilusão em sua vida. O amor que Zero sentira pela pessoa que ela pensara ser era inexorável, e saber disso lhe enchia de prazer, de modo que não podia evitar o sorriso.

Eu achava que não havia meios de nos separar. Que nós fossemos um só. E é engraçado, porque não consigo me livrar da sensação de ser parte de você. O que você acha, Zero?

Era uma pena que ele não ouvisse pensamentos.

-É tão impossível assim para você aceitar o que eu sou?

Talvez, ela fosse de fato masoquista, por fazer uma pergunta daquelas. Será que as esperanças estavam voltando? Destrua isso logo, Yuuuki! Não consegue enxergar que só está piorando as coisas? Tudo isso só consegue ir afundando mais e mais, em um abismo de dor.

-É tão horrível assim para você aceitar que ele poderia querer você longe de mim?

-Nunca, nada me afastaria de você. –Ela continuava sorrindo. Zero ainda não conseguia entender que Kaname não tinha mais significado do que uma peça, quando estava entre eles. Não era dela a responsabilidade dos fatos estarem acontecendo daquela forma. Ela nunca mentira. Jamais esconderia o fato de ser uma sangue-puro de Zero, se o reconhecesse. Agora que ele sabia da verdade, e ela também, o único para qual a realidade mudava era Zero. Devia ser por isso que os sentimentos de Yuuki estavam tão intactos, tão reais, ainda. Ser um vampiro mudava as coisas apenas na concepção dele. Era ele que não podia aceitá-la, e cultivar seus sentimentos. Era ele quem fazia tudo ter sido só uma ilusão. Ele que não conseguia abrir mão, e por amá-lo demais, Yuuki não conseguia ficar chateada com ele por essa fraqueza. Ele tinha o direito de odiá-la.  Mas ela jamais o odiaria, assim como jamais iria querer afastar-se dele por nenhum outro motivo que não fosse...Ele mesmo. -Você é o único que tem esse poder.

Em outra situação, ele conflagraria de felicidade por ouvir aquele tipo de confissão. Em outra situação, ele faria com que mais confissões como aquela viessem. E as retribuiria, bem satisfatoriamente.

Mas naquela situação, a única retribuição que podia fazer era levar os dedos, pálidos e tímidos, até o rosto de Yuuki, sentir a pele dela sobre a sua, e rezar para que algum vestígio de suas teorias loucas fosse verdadeiro. Rezar para que aqueles seus momentos não fossem os últimos, rezar para que ela não se dissolvesse na ilusão, rezar para que ela não pudesse ser um vampiro, já que não fazia sentido. A criatura com aquele toque tão quente, de olhos e sorriso tão tristes, tão bela e doce, com aqueles longos cabelos castanhos e macios, com aquele perfume inebriante de pétalas de rosa, e aqueles lábios tão... seus. Não fazia sentido que fosse um vampiro.

-Eu jamais me afastaria da garota que conheci. –Ele faria suas próprias confissões, para pagar suas dívidas. Não havia mais nada que quisesse esconder diante de tudo. - Daquela que cuidou de mim, que curou minhas feridas, que me ofereceu o próprio sangue. Que estava sempre sorrindo, em qualquer lugar, por tudo e por todos. Daquela para quem, se dedicasse minha vida toda, não faria diferença alguma, porque eu a amava acima de todas as coisas. 

-Zero?

Os olhos de Yuuki estavam cheios de lágrimas. Suas promessas de não chorar quase atiradas ao chão, uma vez que era impossível controlar aquela explosão de dor, de toques, e de lástimas que vinham com as palavras dele.

-A minha Yuuki. –Zero pegou uma mecha de seu cabelo, e a olhou de uma forma tão meiga e sua, com seus rostos e respirações tão próximos, que ela praticamente se esqueceu de que o quanto antes se afastassem das esperanças e mentiras, melhor.

Porém, ele insistia em relembrá-la: -Mas essa Yuuki não é um monstro.

E tão logo aquele olhar desapareceu, para abrir lugar a incerteza. Tão logo ele deixou seu cabelo cair, interrompendo o toque em seu semblante.

-Zero... – Yuuki implorou. Se continuassem naquele ritmo, o restaria de seu coração até o sol estar por inteiro no céu? -Não torne tudo isso mais difícil. Eu entendo que não pode me aceitar, compreendo, de uma vez, mas, por favor, não faça isso...As esperanças não podem voltar para mim.


-Eu não vou deixá-la ir enquanto não tiver certeza, Yuuki.

Ah. Sim. Ela sabia disso. Ele não repousaria em paz, e ambos não sofreriam mais tarde, em paz, enquanto ele não fosse crente de que a verdadeira mentira era a toda a história que haviam vivido, e não ela ser uma vampira.

Só não sabia o que fazer para ele acreditar. Mas tinha que fazer alguma coisa, antes que ele começasse a dizer mais palavras que inspirassem sentimentos profundos que, por sua vez, inspiravam a esperança.

A esperança tinha que morrer.

-O que você quer que eu faça para que você tenha certeza?

-É simples. -Zero desabotoou, em um único gesto, três botões da camisa de seu uniforme, deixando seu pescoço, aonde o sangue corria, delicioso e quente, inteiro à mostra. Somente quando sacudiu a cabeça, e se livrou do repentino apetite, que tremeu ao sentir o perigo de onde ele queria chegar. - Prove-me que é mesmo um vampiro...

Beba meu sangue


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Notas finais do capítulo

Reviews? :3



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