Eu havia voado. Assim, voado mesmo! Sozinho!

Eu nunca havia conseguido fazer isso corretamente, mas eu acho que a gravidade da situação ajudou. Depois disso, Bianca armou o arco e sumiu no meio da batalha. Eu só via alguns gigantes desmoronar. Poderia ficar lá, pensando, mas vi que não seria tão fácil assim. Saquei a espada e corri em direção à batalha.

Mesmo sendo quatro, estávamos conseguindo dar conta da situação. Bem, não éramos exatamente quatro pessoas. A Aline era uma bruxa, a Bianca estava sobre efeito da benção de Hades, e o pai dela... Bem, o pai dela é o Senhor dos Mortos. E eu. Mas eu só lutava como uma pessoa normal, então nem contava. E também haviam os guerreiros zumbis, que a cada passo eram invocados, e faziam um belo trabalho.

Eu fui correndo até Aline, para ajudá-la. Ela havia lutado contra monstros o dia inteiro, e estava bem cansada. E lutar com uma faca é bem perigoso. Seus cabelos negros estavam desalinhados, como se alguém tivesse tentado cortá-los com uma tesoura sem fio. Sua blusa estava rasgadas em três partes, como uma garra. Através disso, dava para ver que as três garras roçaram a pele dela. Tinha uma expressão de puro ódio em seu rosto, e lutava com mais ferocidade a cada instante. Mas ela iria cansar. E também estava muito na ofensiva.

Cheguei e fiquei de costas com ela, no nosso modo de ataque.

- AAAAHHH!! - Ela gritou, enquanto girava a faca em minha direção.

- EI! - Eu me abaixei quando sua arma correu pelo ar, onde estava minha cabeça. - Os monstros! Não eu!

Ela ficou meio confusa, olhando pra mim, quase decepcionada por eu não ser um monstro, e assim não poder me matar. A ponta de uma flecha negra surgiu na dracaena que ela estava combatendo. Aline virou o corpo naquela direção e deu de cara com uma Bianca de cara feia, como se dissesse: Lutem, seus covardes! Deixem o papo para depois! E, então mirou outra flecha e atingiu o cão infernal que estava para me atacar. E daí sumiu no meio da batalha. Eu e Aline voltamos à formação, dessa vez sem ela me atacar.

Eu estava para matar um gigante, quando senti uma dor nauseante no braço. Nós estávamos indo bem, não faltava tantos monstros assim. Por instinto, olhei para o meu braço e vi um espinho de mais de trinta centímetros de comprimento, parecendo um punhal, cravado no abaixo do meu ombro.

Doía muito, e eu tinha a impressão que poderia desmaiar. Veneno.

Quando prestei atenção de onde o espinho/punhal veio, um passou rente aos meus cabelos, raspando na orelha. E, daí, eu vi o monstro. Ele era meio grande. Tinha um rosto humano muito feio, e um corpo de leão, com uma cauda cheia de espinhos.

Um manticore. Eu tinha uma péssima reputação com eles. Acho que preferiria lutar com meu pai do que um daqueles. Aline percebeu que me ombro estava machucado e tirou o livrinho de seu bolso. Isso era arriscado, mas acho que era melhor do que ela lutar e me proteger.

Pensei que ela iria falar algo para o meu ombro melhorar e tal, mas quando vejo, o manticore solta um grito e se transforma em corvos.

- E eu? - Perguntei, meio contrariado. Não conseguia fazer muita coisa com o meu ombro machucado.

Aline pareceu ofendida.

- Tenho cara de curandeira de Apolo?

Eu suspirei e tentei lutar o melhor que eu pude com o ombro machucado. Era realmente difícil, mas não podia fracassar. Estávamos quase sendo derrotados, quando Bianca apareceu do nada, saltou em cima de uma ciclope de uns dois metros e perfurou seu olho com uma faca, e com um outro salto ela voltou ao chão, perto de nós.

Sua capa a fazia parecer irreal, com os armamentos parecia perigosa, e com a benção de Hades, qualquer um se viraria e saia correndo. Quando ela voltou ao chão, colocou as mãos na cintura e passou a analisar o estrago que tinha feito com o monstro. Vi uma flecha a atingi-la, mas quando ela chegou perto, se transformou em cinzas.

Bianca estava invencível.

Então, ela se virou para nós, e nos avisou.

- Se preparem, nós vamos ao Olimpo.

- Tipo, agora? - Aline perguntou, e cortou um braço de uma dracaena, fazendo-a virar pó.

Bianca assentiu com a cabeça.

- Mas como? - Eu perguntei, meio confuso.

- O pai está com o Elmo - ela respondeu, olhando para a esquerda, onde Hades transformava monstros em pó com sua espada negra, com os gumes banhados à prata. - Ele vai nos levar, hum, agora.

E então, quase como combinado, uma sombra negra nos envolveu, e voltamos ao Olimpo. Por um momento, desejei ficar na montanha de Atlas.