Pode me chamar de louco, insano, maluco, pirado ou o que vier a sua cabeça. Mas era questão de vida ou morte. E eu só teria chance se atacasse o titã.

Eu corri para atingi-lo, e ele sorriu. Sua roupa mudou para uma armadura, e uma lança surgiu em sua mão. Eu engoli em seco, mas não consegui fazer outra coisa além de atacá-lo. Minha espada já estava a caminho.

Nossas armas se chocaram e o ar ficou carregado de Ozônio. O titã me empurrou pra longe e eu voei uns cinco metros até me chocar na parede, com um baque surdo. Atlas vinha caminhando, sorrindo de prazer. Sua lança estava com a ponta para cima, e poderia parecer que ele iria me ajudar a levantar ou me pegar e torturar.

Me levantei tentando me livrar dos pontos negros que dançavam em frente aos meus olhos. Minha cabeça latejava loucamente. Mas logo, eu tive que me apoiar em um dos joelhos, para evitar de cair de cara no chão. Ao ver isso, Atlas aumentou o sorriso de divertimento. Como os cantos dos olhos pude ver Aline duelando com um gigante, e, com um golpe rápido, ela rolou por baixo do monstro e espetou a faca em sua panturrilha. O gigante fez uma cara de confuso e se transformou em poeira. Mas ela não perdeu tempo e murmurou alguma coisa entre dente, enquanto lutava com uma dracaena. Logo, todos os monstros em um pequeno raio se transformaram e flores e caíram no chão. Mas havia muitos outros em volta, e nós não daríamos conta. Quando me dei conta, Atlas já baixava a lança. Eu só tive tempo de me esquivar até ele tentar outra vez.

Eu tentava defender com minha espada, mas ele era realmente forte, e mal tive tempo de investir. Algum tempo depois, ele conseguiu tirar a espada de minhas mãos. Ela rodou e por sorte atingiu um cão infernal, que não conseguiu se desviar. Ele virou uma mistura de pó amarelo e pelo negro, que voou com o vento. Mas minha espada estava longe. Atlas baixou novamente sua lança, com um sorriso triunfante no rosto.

Eu pulei para o lado, e ela rachou o chão onde atingiu. A única coisa que me veio na cabeça foi correr atrás da espada. E eu fiz isso.

- Volte aqui seu covarde! - Gritou Atlas. Ele tinha uma voz forte e carregada, como a de um líder. Uma parte do meu cérebro quase o obedeceu. Mas continuei correndo. Um gigante apareceu, mas eu simplesmente rolei entre suas pernas. Quando consegui alcançar minha espada, vi que não era só o gigante e o titã que estavam atrás de mim, Mas sim quase o exército inteiro.

Ao longe, pude ver Aline tento trabalho com um monstro parecido com uma pessoa, mas com pelo lustroso, pequenos pés e mãos curtos e parecidos com nadadeiras, mas ele conseguia muito bem utilizar a espada. Aline estava pálida, e suava. Parecia prestes a perder a luta. Não tinha muita escolha a não ser usar os meus truques de filho de Zeus.

Ergui a espada em direção ao céu, e canalizei quase todas minhas forças. Eu queria raios. Muitos raios. Com um grito, eu liberei esse poder. Cães infernais, dracaenae, gigantes, e vários outros monstros se transformaram em pó, com sua essência voltando ao Tártaro. Mas ainda faltavam vários. Aline estava com vários cortes e suas roupas estavam rasgadas. Eu não aguentava de cansaço, e meus joelhos cederam. Caí, e coloquei as mãos no chão, arfando. Aquilo tinha me esgotado quase completamente.

- Isso não foi suficiente, cria de Zeus - disse Atlas. Eu estava com bastante raiva daquele cara, mas não conseguia nem ficar de pé. Muito menos lutar contra ele. - Vejo que seu fim chegou.

Olhei para ele, e vi que tinha um sorriso maluco no rosto. Seus olhos tinham uma sensação homicida. Os monstros à sua volta pareciam sorrir. Ele me chutou no peito, e fui jogado para longe. Bati a cabeça numa estante protegida por vidro, que se quebrou. Senti que um havia perfurado minha bochecha esquerda. O titã olhou para mim com desdém, e ergueu a lança.

- MORTE! MORTE! - Os monstros em volta dele gritavam. E então, o titã abaixou a lança.

E tudo o que vi foi uma escuridão horrível.

Mas aquilo não foi só. Escutei gritos de desespero. Mas não pareciam nada humanos. A escuridão cessou em parte, e pude enxergar melhor.

Não havia uma lança cravada em meu tórax. Na verdade, a lança nem atingiu nada. Ela ficou parada, em caminho para me partir. As sombras começaram a se espessar em volta. Começou a esculpir a silhueta de um guerreiro, e ele segurava uma espada, bloqueando o caminho da lança. O titã tinha uma expressão confusa, até mesmo desesperada. Então, as sombras formaram de vez uma pessoa. Ela vestia uma completa armadura negra por baixo de uma calça jeans e uma blusa comprida preta. Usava tênis estilo all-stars. E tinha um capacete também negro, e cabelos loiros mesclados de diversas cores saía de lá, indo à várias direções. Ela parecia uma das garotas do jogo de Capture à Bandeira, só que eu nunca vi ninnguém com uma armadura como aquela. Ela segurava uma longa e curva espada negra, que me aterrorizava. Presos nas suas costas havia uma aljava com flechas cor de bronze e um arco negro. Nas suas pernas havia cintos prendendo mais aljavas com flechas, mas eram pretas na perna direita e de várias cores na esquerda. Ela assustaria qualquer um, mesmo sem a entrada teatral.

Com um susto, percebi que era Bianca.

- Você mudou, Carol - ela disse, com um certo divertimento na voz. Havia uma espécie de brilho negro pairando em volta dela. Era a benção de Hades. Aquilo me assustava, despertava as cenas aterrorizadoras que havia visto em toda a minha vida.

Atlas também parecia com medo. Ele estava com os olhos arregalados e fazia força contra a espada. Os monstros em sua volta começaram a recuar, aterrorizados.

- Que tal dar uma voltinha? - Bianca disse, e uma sombra negra envolveu todos nós. Em menos de um segundo, havíamos voltado para o monte em que Atlas segurava o céu.