Acordei com um barulho de uma concha. Me virei pra dormir mais. Mal sentia minhas mãos. Mas Hades, quer dizer, meu pai, veio me acordar.

- Ei, vamos tomar café da manhã - dizia ele, me balançando pelo ombro - você vai ter um dia puxado hoje.

Me virei, e ele parou de me sacudir, e deu uma risadinha. Eu devia estar bem mal arrumada.

Me sentei na cama, procurando o equilíbrio. Me levantei, e, se não fosse pelo criado-mudo, estava com a cara no chão.

- Tem um probleminha - eu disse.

- Sim? - Ele arqueou uma sobrancelha.

- Tirando essas, eu não tenho roupas.

- Não se preocupe - disse ele se virando - eu arrumei algumas. Estão no armário.

Ótimo. Pensei. Ele comprou as roupas que mais odeio no mundo.

Mas quando abri o armário, achei que ele me conhecia melhor do que ninguém.

Uma bota e casacos militares, shorts e calças pretas e rasgadas, blusas rebeldes e escuras, tênis, e umas blusas verdes que não gostei.

- Ahn.. Valeu - eu disse.

Peguei um shorts, uma blusa preta com a escritura: ''What the Hell'' e a bota militar.

Voltei, e ele me esperava na porta do chalé.

- Vamos. Temos um péssimo dia pela frente. A noite é melhor.

Assenti e sorri. Saímos e quase fiquei cega com tanta luz. Amarrei o cabelo em um rabo de cavalo e seguimos ao refeitório, e nos sentamos, esperando os outros chalés. 

- Aquele é o de Niké - disse, apontando pra um bando de garotos e garotas que pareciam competir entre si -, aquele é o de Hefesto, o de Atena, Ares, e Zeus.

O chalé de Hefesto era composto por pessoas quietas, fortes e morenas ou negras. O de Atena por loiros e loiras que estavam entretidos em seus livros ou me analisavam com curiosidade.  Percebi que era quase igual a eles, tirando as roupas escuras. Talvez fosse a benção suprema. O de Ares começaram a me fuzilar com o olhar quando perceberam que eu olhava pra eles. Era composto de pessoas fortes e aparentemente bravas. Já o de Zeus estavam garotos e garotas de atitude (era o que parecia), de olhos extremamente azuis e davam risadas. Jared estava lá, e quando me viu, me cumprimentou com um aceno de mão. Meu pai me olhou com uma cara: quem é aquele lá?

- Jared. Nos conhecemos logo que chegamos aqui - eu disse.

Ele arqueou as duas sobrancelhas.

Chegaram mais chalés. O de Hécate estava lá, pois vi a Aline. Ela me cumprimentou balançando a cabeça.

Quando todos os chalés chegaram (o último foi o de Afrodite), o café da manhã foi servido. Quando terminamos, meu pai me levou para o bosque. Caminhamos uns dez minutos, até que ele parou em um lugar limpo. Estava escuro como a noite, mas eu podia enxergar muito bem.

- Bem - ele começou - , como minha filha, você pode envocar espíritos, chamar mortos para o campo de batalha, enxergar no escuro, abrir fendas, manipular fogo grego e fogo negro, entre outros.

Eu olhava com uma bela cara de poker face pra ele.

- Você vai ver.

Ele se virou, analisou as sombras por um instante, e se virou. E eu achando que ele era um pai carinhoso. Ele simplesmente jogou uma palma de fogo grego em mim. Dei uma cambalhota pra frente pra me proteger.

- O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO? - Berrei - QUER ME MATAR?

Ele sorriu irônico, e jogou uma palma de fogo negro em mim. Desviei novamente, e olhei para trás.

Tudo queimava loucamente.

Olhei para ele, traumatizada. Como alguém poderia ser tão mal? Ele simplesmente cruzou os braços e viu tudo queimar. Havia várias garotas verdes tentando acabar com o fogo. 

- Você vai ficar parada? - Uma delas disse - É a única que pode ajudar!

Hesitei por um segundo, e fui. O desespero delas era enorme. Cheguei perto das chamas, mas elas não estavam quentes. Devagar, me atrevi a tocar o fogo. De repente, como se meus dedos fossem um aspirador de fogo gigante, ele sumiu entre minha mão. Todo aquele fogo sumiu. As garotas verdes suspiraram, aliviadas. Agradeceram e começaram a cuidar das árvores.

Olhei pro meu pai, desconcertada. Antes que eu pudesse falar, ele disse:

- Você é imune a fogo grego e negro, e consegue extinguí-lo.

Eu quis bater nele de tanta raiva.