Eu dei um pulo da cama e fiquei o encarando. Eu ainda estava lá, presa ao ar. Eu subia cada vez mais alto, até ficar presa no teto. Quis gritar, mas não iria adiantar de nada. De repente, o menino ria, apenas disse algo como “Eu estou te observando” depois, correu para fora do quarto e a porta bateu forte. Um barulho grande. Algo me intrigava, o fato dele ter entrado no quarto mesmo com a porta fechada e na chave. Olhei para cima e fiquei pensando naquilo. Havia mesmo sido real? Eu não estava sonhando? Apenas me deitei de lado e não consegui dormir logo, só depois de muito tempo. Acordei cedo no Domingo, com a minha mãe batendo na porta. Chorando.

– Sam! Sam! Acorde! – ela dizia.

– O que foi, hein? Não tá vendo que eu estava dormindo? Insuportável! – apenas disse isso.

– A Mrs. Megan foi assassinada! O assassino está próximo! Ele está próximo! – ela gritava ainda mais.

Observei ela sair correndo pelas escadas e fui correndo atrás dela. Todos estavam lá fora. Os policiais, a minha família, a família da Mrs. Megan, e eu estava calada o tempo todo. Ouvi comentarem que, o corpo da mulher não foi encontrado, apenas a sua língua. Aquilo me preocupou. Eu fechei os olhos e lembrei que não fizera nada com o corpo da Megan, mas havia cortado sua língua.

– Minha filha, fala pra mamãe. Você viu alguma coisa? – minha mãe falava aos prantos.

– Olha, eu não vi nada. Eu estava dormindo. Eu não sei de nada. E vamos pensar pelo lado bom... Ela não vai mais sair fofocando nada por aí. Essa mulher era uma peste. – pra quê eu fui dizer aquilo? Todos me olharam estranho, me culpando com o olhar.

Saí de perto antes que mais algo de ruim acontecesse por ali. Fui para o meu quarto e de lá, fiquei observando tudo pela janela e suspirando fundo. O diário se abriu sozinho e olhei para ele, eu já estava acostumada com aquilo. Andei até ele e li o que estava escrito.

“Feliz com o que fez? Eu escondi de novo. E só você sabe onde ela está, querida Sam...”

Fiquei observando o diário por alguns instantes e respirando fundo. Eu não sabia.

– Cassie, me entenda! Eu não sei onde elas estão! Deixa-me em paz! Me esquece! Eu te odeio! – foi a última coisa que disse antes de ver o meu quarto girar.

“NUNCA”.

Eu pude ver se escrito em letras maiúsculas, senti uma pressão na cabeça e desmaiei, acordei no meio da noite. Com barulhos estranhos debaixo do chão. Era no porão. Eu olhei para os lados e o clima de suspense estava no ar. Vi recados da minha mãe por toda parte, avisando que haviam ido ao velório da Megan em Manchester. Só voltariam na Terça. Aquilo me fez ficar com mais medo ainda. Calcei minhas pantufas e fui andando devagar até a cozinha, ao chegar lá um copo teria atingido minha cabeça se eu não tivesse desviado ao ver que algo estava sendo jogado. Os barulhos no porão aumentavam. O vento batia na janela da cozinha e fazia um rugido. Tudo estava escuro. Eu estava sozinha. Risadas foram escutadas do porão. Eu estava com medo. Mais uma vez, com medo. Coloquei minha cabeça antes de descer as escadas no porão. Desci tudo com cuidado e os barulhos foram diminuindo, eu pude ouvir algo ser empurrado no meio das caixas, eu não pude acreditar ao olhar para aquele lugar. Saia do escuro, uma garota engatinhando. Quem seria ela? Eu coloquei a mão na boca para não gritar e fui me afastando para trás, sem acreditar naquilo. Era impossível me afastar. Ela estava vindo a minha procura. Ela estava vindo até mim. Eu não podia escapar.