Lágrimas escorriam pela minha face. Eu estava tremendo. E a cada segundo, ela se aproximava mais e mais. Fechei os olhos e coloquei as mãos na frente. Eu não queria ver o meu fim daquele jeito que seria. Lembrei que tinha deixado a porta do porão aberta e sai correndo em direção a ela. Subi rapidamente as escadas e a menina ficou em baixo, eu podia a ver gritando por mim. Dizendo palavras que eu não entendia. Apenas fechei a porta que levava ao porão quando cheguei lá em cima. Olhei para as panelas, elas estavam flutuando e o garoto da sala, que havia me acordado na noite anterior estava lá. Parado na outra porta da cozinha. Me olhando e rindo, como sempre fazia.

– Sai daqui. Sai daqui! – eu gritava aos prantos, estava sozinha.

Não esperei muito até o que garoto realmente desapareceu e as panelas voltaram para o seu lugar de origem. Eu suspirei fundo. Aquilo estava acabando comigo. Eram 1:30AM. Corri para internet. Certamente em New York seriam 10:30PM. Liguei o notebook o mais rápido que eu pude. Tranquei-me no quarto e sentei na cama, fechei todas as janelas e fiquei debaixo do edredom. Abri o meu e-mail e tinha diversos e-mails dos meus amigos. O último era algo como:

“Sam, sempre que ligamos pra você a gente não consegue falar. Sempre dá erro. Então, a gente está indo para aí hoje. Chegamos amanhã de tarde. Eu espero. Iremos passar uma semana. Te amamos e sentimos tua falta. Com carinho, Ali.”

Desesperei-me. Aquele e-mail teria sido enviado na manhã daquele dia. Eles chegariam em algumas horas. Coloquei a mão na cabeça e joguei o computador contra a parede e ouvi o barulho forte. Olhei para o meu diário, ele estava rodando no chão. Abri-o e li o que estava escrito.

“Gostou das suas visitas de hoje? Porque fugiu da sua amiga? Ela poderá voltar a qualquer momento e assustar você...”.

Olhei aquilo e gritei. Minha vida agora era o verdadeiro inferno. O que eu mais temia, aconteceria. Meus amigos iriam vim me visitar. Eu teria que me manter na linha. Por pelo menos, uma semana. Quando eles voltariam aos Estados Unidos. Eu não sabia mais o que fazer. Fiquei rodando pelo quarto e lembrei de onde guardava minhas “armas”. Abri a caixa e fiquei procurando algo que eu pudesse utilizar naquele momento. Peguei uma faca. Achei que poderia acabar comigo mesma. Mas, quando posicionei a faca por cima de mim, vi o diário se abrir. Então parei.

“Tem certeza que vai se entregar desse jeito? Tem certeza que quer vir pra cá? Para o inferno? Pro meu lado? Não faça isso. Pense bem.”.

Parei. Se as coisas já estavam daquele jeito assim, imagine se eu tentasse fazer algo para ir para o lado da Cassie. Fiquei brincando com a faca. Jogando no chão e olhando onde cortava. Olhei no relógio e eu já estava com um pouco de sono, então deitei no chão e dormi por ali mesmo. Meus sonhos nunca mais foram os mesmos. A cada segundo que se passava minha vida havia ficado mais terrível. Coisas péssimas aconteciam comigo. Eu me sentia sozinha. Eu ainda tinha meus sentimentos. Faria qualquer coisa para voltar a aquele dia e dizer para mim mesma que nunca abrisse aquele maldito diário. Que nunca fosse curiosa a aquele ponto. De mexer nas coisas alheias. Fui acordada naquela manhã com o diário caindo por cima de mim.

“Ei! Acorde... Corra para o porão.”.  

Do mesmo jeito que eu estava, eu sai correndo para o porão. Não me lembrava muito bem da madrugada anterior, então, não me importei muito. Mas, a medida que eu corria as luzes da minha casa iam se apagando, mesmo a luz do dia. Todo o lugar se escurecia. Minha cabeça sangrava, eu me sentia tonta. Mas, o caminho do meu quarto para o porão não era tão perto. Passei pelo corredor e as luzes se apagavam e aquilo me deu um desespero. Mas, não consegui parar de correr. Apenas corria em direção aquele lugar.