Tudo aquilo era estranho para mim. Nunca mais eu tivera notícia do Matt. Ele nunca mais apareceu. Não me preocupei, aliás, não queria fazer mal nenhum a ele. Queria apenas distância. Durante o resto do dia, eu não tive nenhum aviso da Cassie. Passei o dia em paz, até chegar o fim da tarde. Eu estava cortando um papel do diário, até que a companhia tocou. Levei o diário comigo. Abri a porta e percebi que era a dona Megan, nossa vizinha que eu sempre odiei, mas não falava nada, pois eu era educada. Mas, aquela energia negativa, e aquele sentimento ruim estava tomando conta de mim novamente.

– Posso ajudar? – perguntei.

– Dona Rose se encontra? – ela respondia com um tom de voz sarcástico.

– Não... Saia daqui. Todo mundo odeia você, você só vêm pra cá pra pedir alguma coisa, vai pra sua casa, vadia. – retruquei fechando a porta, mas a mulher impediu.

– Você está estranha, Sam. Você está ficando louca! Eu vou esperar sua mãe aqui. – ela entrou em casa.

Pude perceber o diário sendo aberto em minhas mãos e algumas palavras se formando naquele espaço em branco.

“Leve-a para a casa dela, Sam... Leve a tesoura, também. Você já sabe o que fazer.”

Eu havia entendido o recado, suspirei fundo. Iríamos nos livrar daquela mulher.

– Sim... Desculpe, ando meio estressada. Não seria melhor irmos para sua casa? Aqui está chato hoje. Quando a mamãe chegar, a gente volta. – foi a única desculpa que pude inventar naquele momento.

A mulher não disse nada, apenas se levantou e andou até a porta, saímos da minha casa e o diário ficou em cima da mesa. Apenas levei a tesoura, bem escondida. Eu mal pude esperar até chegarmos à casa da Megan. Eu puxei a tesoura para perto de mim, e enquanto ela estava por trás, eu coloquei aquela tesoura em seu peito, mas ela ainda respirava. Virei-me a sua frente e perfurei seus olhos, o seu olho esquerdo pulou para fora e ela gritava. Lembrei-me de como ela era faladeira, vivia falando de todos, a fofoqueira de Yorkshire e a primeira ideia que tive a cabeça foi cortar a sua língua, não esperei muito até que fizesse isso. Minhas mãos estavam molhadas de sangue e sua língua ao chão. Percebi que aos poucos ela foi perdendo a respiração, até que morreu. Estava coberta de sangue, e um enorme trovão havia sido escutado aquele momento. Era uma horrível cena. Sua boca estava aberta, saindo sangue de dentro. Um sangue estranho. Sangue preto. Saí correndo dali o mais rápido possível. Ninguém poderia desconfiar de mim. Entrei em casa e virei-me para o sofá, havia um garoto lá. Um garoto estranho. Dei um pulo para trás e ele olhou para mim. Seus olhos eram fundos, e não havia pupila. O menino ria. Sua risada se assemelhava a da Cassie. Eu o encarei por alguns momentos. De repente, o menino desaparece e deixa pegadas por onde anda. Pegadas de pó. O diário estava aberto, em uma página branca. Algumas palavras já haviam sido formadas e eu já conseguira entender o que ela queria dizer.

“Não teve medo! Muito bem... Continue assim.”

Lavei minhas mãos o mais rápido que pude. Já era muito tarde quando escutei o barulho do carro dos meus pais chegando à garagem. Corri para o meu quarto, com o diário da Cassie em mãos. Eu não podia deixa-lo perto da minha família nem por um instante. Eu apenas deitei em minha cama e fiquei olhando para cima. As imagens do assassinato continuavam em minha mente. Eu consegui escutar a viatura da polícia chegar ao local do crime. Mas fingi que não sabia de nada. Aliás, virei-me para o lado e consegui dormir. No meio da madrugada, senti um vento bem frio. Mas, não acordei. O vento ia aumentando a cada segundo e eu pude sentir levemente meu corpo ser levitado. Acordei assustada e olhei para o lado. O garoto. Era o garoto da sala. Ele estava me levantando.