Jon estava evitando Arya ao máximo. Procurava fazer as coisas quando ela não estava, ficava horas dentro do quarto, ou nas florestas das redondezas. Jon havia até providenciado um quarto diferente para ela. Não queria desejar sua irmã, não queria ter que passar por isso. Mas ao mesmo tempo, ansiava cada vez mais pelo toque dela, pelo sorriso, pela voz, por ela.

– Jon? Está bem? – perguntou Samwell Tarly, que estava escorado em uma árvore. – Parece tão vazio ultimamente. Nem ri mais.

– São muitos afazeres, me sinto cansado. – Jon tentou mentir, mas o amigo logo riu.

– Você não me engana, Senhor Comandante. – Sam havia trocado todo o seu peso por coragem nesses últimos anos, nem parecia mais o gordinho assustado de antes.

Jon abriu um sorriso.

– São coisas particulares.

– Jon... – Sam agora falava num tom de voz preocupado. – Arya precisa de você. Não sei o que disse a ela, mas isso a causou muito mal. Ela é sua irmã, Jon, não pode ficar longe dela, ela precisa de você.

– É por esse motivo que eu estou me afastando. – Jon continuou a afiar o gume de sua espada, sentado à uma pedra congelada. – Ela é minha irmã.

– Não entendo. – Sam se aproximou e sentou ao seu lado.

– Sam... Eu preciso lhe contar uma coisa. – Jon guardou sua espada e olhou para o amigo. – Eu amo Arya.

– Sim, é claro. É sua irmã. – Sam riu de leve. – O que há de mal nisso?

– Não, Sam... Eu a amo mesmo.

Sam agora pensava que Jon estava encrencado, mas não pode deixar de rir por alguns instantes.

– Se você a ama, conte a ela.

– Como? – Jon balançou a cabeça. – Ela é minha irmã, e... E eu sou um Patrulheiro.

– Na verdade você é o Comandante. Você dá as ordens, dita as regras. Se quiser ficar com ela, fique.

– Isso não muda o fato de que ela é minha irmã...

– Escute Jon, por quantos séculos os Targaryen casavam-se entre eles mesmos? Quantas famílias do interior fazem isso? E o mais importante, você é meio-irmão dela.

Sam já estava se alterando, quando ouvem o trotar de algum animal se aproximar. Ao virarem o rosto viram uma Arya muito abatida em cima de Nymeria.

– Eu vou embora, Jon. – disse ela de cima de sua loba. – Já fiquei por tempo demais. Vou para Winterfell ficar com Sansa, Bran e Rickon.

Jon levantou-se da pedra e foi até ela, tentando a impedir.

– Por quê? – ele segurou sua mão. – Não está satisfeita com tudo o que lhe dei?

– Jon... – alertou Sam. – Lembre-se do que lhe falei.

Sam sumiu entre as árvores, deixando apenas o eco de suas palavras.

– Jon, eu preciso ir. – ela sorriu, mesmo que não conseguisse mais. – Vamos Nymeria.

– Arya, espera.

Ela não deu ouvidos a ele. Já estava a alguns metros de distância, quando ouviu novamente a voz de seu amado irmão:

– Eu te amo.

Arya sentiu os olhos arderem e lágrimas grossas rolarem pelo rosto. Não queria que Jon a visse chorar, tinha que se manter forte. Mas antes que pudesse secar suas lágrimas, ouviu Fantasma correr pela neve, e ao olhar para trás, Jon saltou do lobo e a segurou pela cintura, tirando-a de cima de Nymeria.

– Arya, por favor. – Jon parecia aflito. – Eu peço que fique. Pelo menos até eu lhe dizer...

– Não Jon, você não me quer aqui. – Ela tentou desvencilhar-se dos braços do irmão, mas esse se manteu forte.

– Pare! – ele gritou com ela, fazendo-a arregalar aqueles lindos olhos cinza. – Por favor... Pare de agir como se não fosse nada para mim. Eu te amo, Arya.

– É claro que me ama. Somos irmãos.

– Não. Eu sou seu meio-irmão, e te amo como Robert amou nossa tia Lyanna. Te amo como nosso pai amou Lady Catelyn. Te amo como a abelha ama o mel, como os esquilos amam suas nozes. Amo como as árvores amam a brisa, amo como a neve ama o frio, e o sol o calor. Te amo como Sansa ama seus vestidos, canções, versos poéticos.

Ambos choravam, porém estavam com um sorriso doce nos lábios.

– Arya, eu te amo. – Jon a abraçou, deixando suas lágrimas contidas molharem o rosto. – Eu te amo, apesar de ser errado. Eu te amo, mesmo que não fique comigo, eu apenas te amo, irmãzinha.

Jon e Arya estavam quietos. Ela não estava acreditando no que havia ouvido, e ele o que tinha dito.

– Eu te amo mais. – disse Arya, abraçando-o fortemente. – Meu amor por você é maior do que qualquer coisa.

– Maior que a Muralha? – Jon a olhou sorrindo.

– Bem maior. – ela sorriu de volta, depositando um pequeno beijo nos lábios do irmão, que por um momento sentiu que iria explodir de tanta felicidade. – Sempre te amei, Jon.

– Sempre te amei também, mas fui idiota o suficiente para perceber isso só agora.

Arya deu vários beijos em Jon, por todo o rosto. Mas agora os concentrava apenas nos lábios.

– Seu beijo é como eu sempre imaginei. – ela sorriu docemente. – Tão viciante.

Abraçaram-se mais uma vez e voltaram juntos para Castelo Negro, onde foram recebidos por Sam alegremente.