Memories escrita por taay


Capítulo 11
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura!



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  Ele ainda me olhava, parecia equivocado; suas expressões eram fáceis de ler: confusão, aceitação, medo, confusão de novo, e a última eu não soube distinguir. Suas emoções estavam bastante expostas, eu sabia que ele logo iria me dar a resposta apenas o observando. As nuvens da dúvida iam se afinando e se afinando, até restar apenas uma camada translúcida, que logo se foi junto com tudo o que se podia fazer contra isso.

  Dei-lhe tempo e levantei-me indo até a janela.

  O sol estava a se pôr, não havia reparado no passar do tempo. O horizonte quase lhe tampava metade, e as cores em magníficas. Tons de laranja, dourado, amarelo escuro e cinza das nuvens se misturavam em quase o que se vê em uma pintura abstrata. Talvez como peças de um quebra-cabeça, todos estavam onde deviam estar.

  E então percebi que eu era como uma peça de um quebra-cabeça que caiu num lugar inacessível, e ficou lá, largado. Eu não sabia onde era meu lugar. Senti-me oca, com um vazio que não dá para ser totalmente coberto, como tentar tampar o sol com uma peneira, a luz sempre entra, e a única coisa a se fazer é sentar e esperar que um dia, talvez, aquilo se resolva.

  Mas afinal, por que eu estava tão sentimental de repente? Talvez fosse por todo esse tempo guardando e guardando tudo, toda a mágoa, as inseguranças, acho que se pode colocar como uma barragem de um rio. Em que chove, chove e chove. Um dia, toda aquela água acumula; consequentemente ou não, a barragem quebra. E toda a água vaza, se jogando no desconhecido.

  E então foi que tudo aconteceu.

  E então minha barragem se estilhaçou, criando uma rachadura, seguida e outra e outra, até que tudo desmoronou junto com tudo o que acontecera durante todos esses anos. Vi-me sentindo uma garotinha assustada, com medo do bicho que tem dentro do armário e escuro, era perigoso demais, e ficar encolhida num canto, tampada até aonde se podia com o cobertor; abraçando os joelhos e chorando baixinho. Talvez o que sempre aconteceu foi que eu pedia por socorro; gritava mentalmente, mesmo que sem saber. Queria que alguém me consolasse, ansiava por aquilo como um peixe precisa de água.

  Uma lágrima escorreu na mesma hora que senti braços me acolhendo por trás; que logo me forçaram a me virar.

  Luke me abraçou como nunca ninguém fez, destruiu todos os muros que restavam ao redor de minhas defesas automáticas, assim que passou seus braços ao redor da minha cintura e me apertou de encontro ao seu corpo. Logo ele havia me puxado de volta a cama, sentando-se onde estava minutos atrás e me puxou para seu colo.

  — Eu sabia que você não era aquela menina durona de meses atrás, não precisa se fingir de forte, eu estou aqui agora. Vou te proteger, não precisa ter medo.

  Suas palavras soaram tão verdadeiras que agi por impulso e quando vi meus braços já estavam entrelaçados em seu pescoço e meu rosto enfiado no vão do mesmo. Ele me apertava tão forte que não ficaria surpresa se conseguisse fundir nossos corpos.

  — Shh, quietinha agora. — Falou quando comecei a me desculpar por chorar tão descontroladamente na sua frente. — Está tudo bem, não precisa desculpar-se, sou seu melhor amigo, não precisa fazer isso, meu amor.

  Não sabia se minutos mais haviam se passado, ou se foram horas, mas chorei por tudo como nunca tinha feito em anos e mais anos.

  Devo ter cochilado, por que quando abri os olhos vi seus olhos azuis me encarando preocupados no mesmo instante que ele havia me deitado, nossas pernas estavam entrelaçadas e ele traçava um caminho permanente de vai e vem com a ponta dos dedos no pé na lateral do meu pé esquerdo. Minhas mãos estavam rígidas, por em alguma hora eu ter me agarrado a sua camiseta. Luke ainda me olhava; paciente, enquanto eu avaliava minha posição atual.

 — Minha mãe...

  Minha voz saiu como um sussurro.

  — Ela já saiu na mesma hora que você caiu no sono e me prometeu que eu cuidaria de você com minha vida; mas isso eu já faço, então...

  O rubor tomou conta de mim e vi que ele deu um sorrisinho de lado na mesma hora que passava os dedos na minha bochecha.

  — Está melhor? — Assenti levemente enquanto o via traçar círculos com as pontas dos dedos até minha nuca. — Eu vou descer para preparar alguma coisa para comermos, já que sua mãe me avisou de que não tinha nada já pronto na geladeira. — Beijou minha testa, e foi caminhando até a porta de meu quarto quando disse a última parte. — Te encontro lá em baixo.

 Foi quando ouvi seus passos se distanciando, que sai da cama e fui ao banheiro a fim de escovar os dentes, estava com um gosto ruim na boca.

  Acendi a luz e fechei a porta, me olhando no espelho em seguida. Eu estava horrível! O cabelo todo desarrumado e arrepiado em vários lugares; meus olhos estavam muito inchados formando enormes bolsas em baixo; meu rosto estava meio amarelado, parecia que eu estava doente. Escovei os dentes duas vezes, grata pelo sabor forte de mente depois de tal. E então resolvi tomar uma ducha.

  Olhei em volta e minha toalha já estava ali. Fui ao quarto e voltei rapidamente com uma blusa e um short de pano leve.

  Enfiei-me rapidamente em baixo do chuveiro, sentindo aos poucos meus músculos rígidos e cheios de nós se desfazer, e relaxarem. Peguei meu shampoo de amêndoas e lavei duas vezes logo depois passando o condicionador e deixando-o com os minutos necessários para fazer efeito. Enchaguei.

  Cerca de dez minutos depois, sai do box do banheiro e percebi a camada de vapor que embaçava o espelho e rodeava o banheiro em busca de uma saída. Vesti-me rapidamente, penteei meu cabelo com minha escova favorita, tentando tirar alguns nós que haviam se feito enquanto lavava.

  A noite foi tranquila, quase normal se tirar todo o horror de se desfazer em pedaços. Luke havia feito hot-dogs que comemos enquanto víamos o filme de terror que ele havia trazido junto com uma muda de roupa para amanhã.

  — Qual é o nome do filme? — Perguntei quando mal tinham se passado cinco minutos do inicio do mesmo.

  — Pânico Na Floresta. Tem medo de filme de terror?

  Balancei negativamente a cabeça.

  E era verdade, já havia visto filmes como Sexta-Feira 13 do Jason, Atividade Paranormal e Dia Dos Namorados Macabro, e não senti medo, apesar de alguns sustos inevitáveis que sempre aconteciam.

  — Eu odeio essas partes, em que a menina foge pra floresta. Não tem sentido nenhum; ela sabe que irá morrer, então, a única diferença é que ela morre cansada de tanto correr e sempre ou está chovendo ou ela cai por tropeçar em algum lugar. Ou os dois. Já está virando tradição entre filmes de terror isso.

  Luke me olhava surpreso quando terminei de falar, com uma sobrancelha erguida.

  — O que você faria? Se fosse o Jason, por exemplo, querendo te matar? — Seu olhar se tornara divertido, ele estava me desafiando, dava para saber pelo tom atrevido em sua voz.

  — Eu olharia para ele e diria “Primeiro: olha, eu não vou correr, não quero morrer suada, certo? Segundo: Eu vou me sentar aqui, faça o que você quiser, mas não me faça correr por ai como uma idiota. E terceiro... — Fiz uma pausa dramática, por alguns segundos e depois continuei. —... Dá-me um autógrafo por que eu sou sua fã.

  Agora ele parecia confuso.

  — Por que é fã dele?

  — Ele mata com criatividade. Se você assistir a diferentes filmes dele, não é com uma faca, já vi com um daqueles machadinhos, uma pá, até um gancho eu acho que já o vi usar. Não é que nem os outros assassinos de filmes por ai. Ele é diferente, eu gosto disso.

  Em minha mente pensei que iria me criticar, ou algo assim, mas não. Ele ficou sério, e quando o terminei, começou a rir descontroladamente o que durou vários e vários minutos.

  Quando se acalmou, voltou um pouco o filme, por termos perdido e continuamos daí.

  — Ok, hã, agora me diz...

  — Dizer o que?

  Estávamos no meu quarto novamente, falando sobre coisas variadas. Ele sentado encostado na parede, ao lado da minha porta e eu do outro lado do quarto, de frente para ele; com as costas apoiadas no guardarroupa.

  — Seu filme de terror favorito.

  — O Chamado. O primeiro, e o segundo, são muito bons.

  — Por quê?

  — Por que é bem contado, não é uma história boba que colocaram algum suspense e pessoas morrendo. Apesar de a história ser bem dramática, eu gosto. Já até me apelidaram de Samara Morgan, por uma vez eu ter pintado meu cabelo de preto e ele sempre caia no meu rosto. Inclusive foi seu primo e a Giovanna, que me apelidaram. A única coisa que eles concordaram, em anos.

  — Interessante. É sempre bom saber que sua melhor amiga já foi chamada de Samara.

  — Também acho. E você? Qual seu filme de terror favorito?

  — Eu acho que não tenho um favorito. Os filmes do Freedie Krueger são interessantes, mas a primeira vez que vi um deles, não conseguia dormir. O Freedie VS Jason é legal, mas achei meio sem graça. Acho que os filmes mais legais de terror que já vi são todos os filmes Atividade Paranormal e Dia Dos Namorados Macabro.

  — É eu também acho.

  Estávamos jogando uma bolinha de papel, ele a jogava em mim e eu jogava nele. Até que era legal, me ajudava a distrair-me.

  — Já viu Um Amor Para Recordar? — Perguntou

  — Já. Eu gostei, um pouco. Eu preferiria ler o livro, é mais bem contado. Já li o Diário De Uma Paixão, do mesmo autor. E realmente me fez chorar bastante no final. É maravilhoso!

  — Você tem o livro? — Assenti. — Depois de eu terminar de ler A Maldição do Tigre e O Resgate do Tigre, eu pego emprestado então.

  — Ok...

  Olhei no relógio do meu celular e ele falava que era quase meia-noite.

  — Hora de dormir.

  — Espero que não se importe de eu dormir aqui com você, mas se quiser eu durmo no sofá lá em baixo...

  — Pode dormir aqui. Não tem problema.

  — Tudo bem. Vou trocar de roupa e já volto.

  Arrumei o necessário rapidamente. Coloquei sua mochila com o necessário no mesmo lugar onde colocava meu material escolar, que é onde teria mais espaço. Tirei a colcha da cama, fazendo uma bola com a mesma e jogando dentro do guardarroupa também de onde também peguei meu travesseiro e meu cobertor. Tirei também um travesseiro a mais, que nunca usava para Luke. Pela primeira vez, fiquei feliz em dormir em uma cama de casal, que a muito achava exagero por eu ser apenas uma.

  Logo Luke estava de volta, com uma calça de pijama provavelmente porque parecia ser de um pano meio fino; e sem camisa. Repreendi-me por quase me perder na visão de seus músculos, tanto dos braços, quanto do tórax e abdômen. Perguntei olhando para outro lado qual lado ele dormiria e logo ele se deitou do lado esquerdo.

  Antes de apagar a luz, fechei as cortinas da janela, mas a deixei aberta. Era uma noite quente, ou era só eu que estava com calor. Apaguei a luz e caminhei até a cama. Deite-me e pude ver quase tudo do quarto pela luz da lua se infiltrar bem de leve pelas cortinas. Acomodei-me, fechei os olhos e fingi que não senti o braço de Luke se envolver em minha cintura, me puxando para si com um tanto de força. Senti seu hálito doce em meu rosto por estarmos, agora no mesmo nível de altura; pois normalmente ele era trinta centímetros mais alto.

  — Boa noite, Kimberlly.

  Achei que estava delirando, mas meu nome nunca soou tão bonito, dito pela sua voz rouca por estar sussurrando. Talvez seja por eu estar cansada, isso melhor dormir Kimberlly, vai dormir!

  — Boa noite, Luke.

    Demorei a pegar no sono. Eu sabia que ele ainda estava acordado, me olhando, sentia isso. E forcei-me a continuar de olhos fechados. Mas por fim, o cansaço me venceu e eu mergulhei no mar dos sonhos com uma vontade imensa de ir e não voltar mais ou quem sabe pelo menos permanecer lá por anos e mais anos.


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Notas finais do capítulo

See you soon guys! :)) Don't forget the reviews



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