Floresta Negra escrita por Ana Luiza


Capítulo 3
Capítulo 3 - Robert Schmidt


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi gente!
Só queria agradecer á todos os comentários que recebi, vocês são realmente incríveis!
Obrigado por lerem, espero que gostem!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/280934/chapter/3

O café. Eu podia sentir os efeitos que aquela bebida causava no meu corpo a cada gole. Os efeitos da noite mal dormida pareciam ir embora instantâneamente. Porém, eu ainda fingia ler as pequenas palavrinhas à minha frente. Nenhuma delas fazia sentido algum.

Ana franzia os olhos enquanto olhava para a tela do seu notebook. Eu podia ouvir o som irritante do impacto de seus dedos no pequeno teclado.

– Mel, achou alguma coisa? - Ana perguntou.

Ana parecia tão cansada quanto eu. Seus cabelos ruivos estavam presos em um coque e suas olheiras estavam disfarçadas em uma quantidade quase exagerada de maquiagem.

– Ainda não. - Eu murmurei. - Nada de útil.

Ana e eu tinhamos conseguido convencer os nossos professores de que precisavamos usar a grande biblioteca da escola para uma pesquisa. Apesar de termos conseguido convencer alguns professores, a bibliotecária nos encarava a cada cinco minutos.

A biblioteca do nosso colégio era enorme, mas vazia. As estantes de livros eram grandes o suficiente para que alguém precisasse de uma escada para alcançar alguns livros. Entretanto, a variedade de livros não parecia nos ajudar hoje.

– Eu também não estou encontrando nada, Mel...

Eu suspirei e fechei o livro com força.

– Eu acho que não vamos encontrar nada hoje. - Eu resmunguei, cansada.

Ana mordeu o lábio. Ela parecia estar em um dilema entre ir embora ou continuar procurando. Enquanto ela decidia o que iria fazer, eu abri o livro mais uma vez, lendo algumas frases aleatórias.

O livro falava somente de pessoas mortas, suas causas, onde morreram, como elas eram, o que faziam antes da morte...Eu me perguntei que tipo de pessoa pesquisava por aquilo.

Normalmente não haviam fotos das pessoas mortas – eles simplesmente descreviam a aparência da pessoa antes da morte – porém, quando as pessoas eram de certa forma famosas, uma pequena foto aparecia ao lado dos dados.

Michael Jackson, Elvis Presley, Etta James... Eu quase ri quando vi a foto de um homem que aparentemente não gostava de pentear o cabelo. Ele não me era conhecido, porém estava na categoria dos famosos.

Robert Schmidt.

Sua foto era extremamente antiga e não tinha cor, como nas outras fotos. Eu pude ver que ele parecia cansado e seu rosto estava estranhamente rechonchudo.

Ele morrera com setenta anos, em um manicômio. Aqueles eram os únicos dados sobre aquele senhor. Eu pude sentir uma estranha curiosidade sobre aquele homem. Por que não haviam dados completos sobre ele, mas mesmo assim ele estava na categoria dos famosos. Com direito à foto e tudo o mais?!

– Acho que é melhor irmos para a aula. - Disse Ana, finalmente.

Eu dei de ombros e fechei o livro.

Nós juntamos nossas coisas e guardamos o livro. Ana se despediu da bibliotecária rabugenta e nós finalmente saímos daquele lugar. Assim que a porta da biblioteca se fechou e eu comecei a andar apressada até a minha sala, eu comecei a sentir os efeitos do café se desvairem do meu corpo.

Eu bocejei e entrei na sala de aula.

O professor de história anotava um enorme texto no quadro negro e os alunos o copiavam. Eu pude ouvir algumas pessoas reclamarem e outras até mesmo xingarem o professor.

Tiago, que estava sentado na última fileira acenou para mim e eu pude ouvi-lo sussurrar:

– Vem...

Eu sorri e caminhei lentamente até a cadeira ao lado dele, desviando de algumas bolinhas de papel. Quando eu me sentei, Tiago sorriu e me passou um pequeno bloco, com algumas anotações das aulas anteriores.

– Obrigada. - Eu murmurei.

– Cadê a Ana?

– Foi para a aula, ela tem educação física agora...

Tiago fez uma careta e eu pude notar que ele odiava educação física tanto quanto eu.

Quando eu finalmente comecei a anotar o texto do quadro, um pequeni avião de papel caiu em cima do meu caderno. Eu ergui uma sobrancelha. Um bilhete? Para mim? Quem iria me entregar um bilhete.

Eu o abri rapidamente, animada com a possibilidade de uma nova amizade. Só uma menina faria aquilo.

Oi Melanie! É Melanie, não é?

Tanto faz, só escrevi para perguntar se você é mesmo a irmã do Tyler.

Sabe como é né? As notícias se espalham como água...

Beijinhos, Patrícia.

Eu suspirei. Como eu não suspeitei?! Tudo girava em volta do meu querido irmãozinho, não é?

Eu peguei minha caneta e escrevi rapidamente.

Sim, somos irmãos. Acho.

Eu imitei o pequeno origami sem dificuldade e olhei em volta, tentando adivinhar quem tinha me jogado aquele bilhete. Tiago cutucou o meu braço e apontou para uma menina, sentada na primeira fileira.

Ela era uma garota bonita, não podia negar. Ela passava a mão por seus cabelos negros de cinco em cinco segundos. Pude notar que suas unhas estavam pintadas de rosa claro e sua pele era incrivelmente branca, o que dava um contraste legal. Não conseguia ver muito bem o seu rosto, mas pude notar que ela tinha uma pequena covinha no queixo.

– Ela é bonita. - Eu comentei.

Tiago ergueu uma sobrancelha.

– Só por fora.

Eu revirei os olhos e joguei o bilhete. Felizmente o professor ainda estava escrevendo no quadro e não notou o meu ato de infantilidade. Depois de alguns minutos, outro bilhete caiu na minha mesa.

Bom saber! Hoje no intervalo você vai conhecer minhas amigas.

Beijinhos, P.

Eu continuei a fazer o meu trabalho e não me interessei em responder o seu bilhete. Eu sabia que aquilo tudo era só por causa de Tyler. Eu daria um jeito de despistá-las e voltaria à minha pesquisa.

Porém, assim que o sinal tocou anunciando o nosso intervalo, as coisas foram um pouco diferentes. Tiago arrumou suas coisas rapidamente e começou a se afastar de mim, sem nem ao menos perguntar se eu iria acompanhá-lo.

– Tiago, onde você vai? - Eu perguntei confusa.

Ele me encarou, mais confuso ainda.

– Eu vou à reunião.

– Reunião?

– É, Mel. A reunião do meu clube... Nós vamos testar um novo jogo hoje.

Tiago tinha um canal famoso no Youtube, onde ele e seus amigos comentavam sobre jogos e coisas do gênero. Eu sabia que os amigos de Tiago não iriam me querer lá.

– Divirta-se.

Tiago sorriu e foi embora.

Eu joguei todas as minhas coisas dentro da mochila. Antes que eu pudesse disfarçar e sair de fininho, Patricia se aproximou.

– Melanie?

Droga.

– Sim?

Seu lábio estava todo melado de gloss.

– Ah, então você é a irmã do Tyler...

– Nós não somos... - Eu suspirei – É, tanto faz.

Ela sorriu e segurou o meu braço com força.

– Vem, eu vou te mostrar os meus amigos.

Por mais clichê que aquilo fosse suar, eu tinha que admitir: Patrícia e seus amigos tinham comprovado que o meu colégio era um verdadeiro ninho de cobras.

Patricia era o tipo de garota que conhecia todo mundo e o fato de eu estar andando com ela, fez com que as pessoas acenassem para mim. Eu conheci mais pessoas em um intervalo do que eu já tinha conhecido a minha vida toda.

Entretando, as pessoas que eu conheci, não eram pessoas agradáveis.

Nós estavamos todos sentados em uma enorme mesa no refeitório. Aquela mesa parecia ser um trono – só as pessoas importantes podiam ficar ali. Todos gargalhavam e conversavam sobre várias coisas aleatórias. Todos pareciam estar se divertindo, menos eu. Para falar a verdade, eu me sentia um peixe fora d'água.

Eu não sou o tipo de pessoa chata que não gosta de uma boa conversa ou até mesmo de fazer uma fofoca de vez em quando e rir com os amigos. Eu adoro isso tudo. Mas as conversas deles eram sobre coisas estupidamente superficiais. Eu estava ficando com dor de cabeça só de ouvir.

– Quem é a garota mais gostosa da turma? - Um dos meninos perguntou em voz alta.

Os outros garotos perto dele gargalharam e começaram a fazer uma espécie de votação. O pior de tudo, era que eles rebaixavam as meninas que eles não achavam boas o suficientes.

– A rosana é bonitinha! - Um deles gritou.

– A buzanfa gorda dela é maior que a da minha avó! - O outro gritou.

Aquele comentário me deixou completamente enjoada.

Será que Tyler comentava coisas assim com os seus amigos? Eu duvidava. Eu sabia que Tyler não era o cara mais simpático do mundo, mas eu nunca o vi rebaixar ninguém a esse ponto... Mas isso não importa de qualquer jeito.

– E então Mel, tá curtindo? - Patricia perguntou.

– Hmm... - Foi tudo o que saiu da minha boca.

Ela olhou para os dois lados e se aproximou, se certificando de que ninguém iria ouvir, apesar da mesa cheia.

– O seu irmão...ele é um gato.

– É... Quer dizer, muita gente diz isso.

– Mas ele parece ser um pouco inacessível.

Eu dei de ombros.

– Acho que é o jeito dele. Ele não é muito...

– O fato é: eu quero ficar com ele. Quero muito. O problema é que...eu não sei, ele nunca ficou com nenhuma menina desse colégio. Ele não é gay, é?

Eu franzi o cenho, me lembrando do dia em que Tyler tinha beijado uma menina na minha frente, sem hesitar.

– Ele está longe de ser gay. - Eu disse, me arrependendo em seguida.

Patricia sorriu.

– Ótimo. Preciso que você me aproxime dele. Eu já tentei puxar assunto, mas ele não deu muita atenção.

Eu olhei para Tyler. Ele estava sentado em uma mesa longe da minha, mas eu ainda podia vê-lo nitidamente. Ele conversava com alguns garotos animadamente. Eu podia vê-lo gargalhar e aquilo quase me fez sorrir.

Era a primeira vez que eu o via gargalhar. Ele já tinha soltado umas risadas na minha frente, mas nada como aquilo. Ele estava realmente se divertindo.

Sua risada era grossa e gostosa. Era o tipo de som que eu poderia escutar pelo resto da vida e não me importaria ou me irritaria.

– Melanie?

– Sim? - Eu perguntei assustada por ter me distraido tanto.

– Será que você pode fazer isso por mim?

Eu mordi o lábio levemente.

– Patricia, eu e Tyler não temos um relacionamento muito amigável...

Patricia revirou os olhos.

– Você só precisa me apresentá-lo. O resto eu faço, eu não sou idiota.

Eu olhei para Tyler novamente. Agora ele estava com óculos escuros e os graços cruzados. Seus amigos ainda falavam com ele, mas ele parecia estar pensando em outra coisa.

– Quer saber, você quer ir a um luau hoje?

Eu a encarei.

– Um luau?

– É... A praia é em frente à sua casa, os seus pais não vão reclamar. Além do mais, você pode chamar o Tyler...

Eu olhei para Tyler e logo em seguida olhei para as pessoas em minha volta. Não sabia se um luau com aquelas pessoas seria algo divertido, mas eu sentia que estava precisando disso. Ultimamente eu estava tão preocupada que não me dava nem um segundo de descanso. Talvez fosse divertido ir ao luau e ver a reação de Tyler ao saber da atração de Patricia. Ou não.

– Eu...eu vou pensar.

– Você jura?

– Juro.

Eu me sentei, sabendo que se eu não o fizesse, correria o grande risco de cair no chão. Eu simplesmente não acreditava no que eu estava lendo.

Assim que cheguei em casa, sentei-me na escrivaninha e abri o meu notebook. No mesmo momento lembrei-me do livro que tinha lido no colégio sobre pessoas mortas. Por algum motivo, ou simplesmente por curiosidade, eu comecei à procurar por Robert Schmidt. Eu sabia que encontraria alguma coisa sobre esse homem e a minha curiosidade seria saciada. Porém, eu me arrependi de ter pesquisado no segundo em que encontrei uma pequena biografia sobre aquele homem.

Robert, antes de ser internado, era um escritor. De acordo com a biografia, ele fora um escritor de sucesso na Inglaterra, lugar onde nascera. Robert costumava trocar cartas românticas com sua amante e, em uma dessas cartas, ele confessara que tinha dons sobrenaturais. Sua amante, preocupada com seu estado de saúde, confessou tudo à sua família que decidiu interná-lo em uma clínica.

Robert passou anos de sua vida tentando provar as pessoas que não era maluco, mas sem sucesso. Ele morreu com setenta anos de idade, assassinado. Ninguém sabia a causa da morte e muito menos o assassino(a).

Eu pude sentir minhas pernas ficarem bambas e agradeci por estar sentada. Eu nunca havia ouvido falar daquele homem, mas sabia que ele era inocence. Eu era a prova disso.

Então eu não era a única? Haviam mais pessoas como eu por aí? Pessoas vivendo normalmente, tentando esconder o seu segredo.

Eu estremeci.

Será que os meus pais...eram como eu? Será que isso era algo genético. Eu mordi o lábio com tanta força que eu poucos segundos pude sentir o gosto amargo de sangue e a marca dos dentes no lábio inferior.

Tive vontade de dormir. Não só pelo cansaço, mas para me ver livre de toda essa loucura por algumas horas.

– Melanie?

Assim que ouvi a familiar voz de Tyler, fechei o notebook e me levantei da escrivaninha. Respirei fundo e tentei me recompor. A última coisa que eu queria era que ele suspeitasse de alguma coisa.

– Entra. - Eu resmunguei.

A porta se abriu lentamente e ele entrou. Ele fechou a porta com o pé e ficou me encarando, como se soubesse que algo estava errado. Eu o analisei também, notando que ele estava um pouco arrumado demais. Ele usava uma jaqueta de couro, com uma camiseta preta por baixo e jeans. Eu podia sentir o cheiro do seu perfume, mesmo estando relativamente longe dele. Por algum motivo, eu tive vontade de me aproximar.

Depois de um tempo me olhando, ele deu uma risadinha.

– Pantufas?

Eu revirei os olhos. Não estava com a minima vontade de ser julgada.

– O que você quer?

Ele deu de ombros.

– Eu pensei que você iria no luau hoje, já que você virou a melhor amiga de Patricia.

Eu franzi o cenho.

– Eu não sou a melhor amiga da Patricia. Aliás, ela só falou comigo por causa de você. Todo mundo naquele colégio fala comigo só por causa de você.

Desta vez Tyler foi quem revirou os olhos.

– Não é como se eu gostasse ou procarasse por isso.

Eu sabia perfeitamente o motivo pelo qual todos idolatravam Tyler e eu odiava admitir aquilo. Ele era muito bonito. Bonito até demais. Todas as garotas naquela escola queriam ter Tyler como namorado e todos os garotos queriam ser como ele. Mas ele simplesmente ignorava noventa por cento dessas pessoas.

– E então, você vai? - Ele insistiu.

Eu soltei uma risadinha.

– Você está me convidando?

– Eu só estou aqui porque Cláudia insistiu muito. - ele murmurou, cruzando os braços.

– Sua mãe.

– Cláudia.

Eu me sentei na cama. Não estava mais tão animada para ir a esse luau. Na verdade, eu estava terrivelmente cansada. Eu só queria desaparecer, enfiar-me em um buraco negro e não sair de lá nunca mais. Eu não sentia que estava muito sociável.

– Eu vou facilitar as coisas para você. Pode ir sozinho.

Ele sorriu, sem mostrar os dentes.

– Patricia vai ficar um pouco decepcionada, você não acha?

– Como eu disse, ela só sabe quem eu sou por sua causa. Ela está completamente a fim de você.

Tyler assentiu, completamente indiferente. Eu sabia que outro garoto teria sorrido com a ideia de ter uma garota apaixonada por ele. E principalmente se essa garota fosse a mais popular e a mais bonita.

– E se eu te dissesse que não estou interessado?

– Não seria um problema para você dar somente um beijo nela. Você já fez isso antes, na minha frente.

Tyler gargalhou.

– Você não esquece isso mesmo não é? O que foi? Você ficou com ciúmes?

Eu ergui uma sobrancelha.

– Eu com ciúmes de você?! Por que você não se toca? Eu simplesmente disse que você não parece ser um cara muito romântico e um beijo não é nada para você.

– Tem razão. Mas eu conheço a Patricia e sei o que um beijo pode significar para ela. Não quero nenhuma menininha no meu pé. - Ele deu uma piscadela para mim.

Eu revirei os olhos.

– Quer saber de uma coisa? Vai embora daqui! Vai pro seu luau e esquece que eu existo.

– Pode deixar. Não vai ser um problema.

Minha ideia de luau era bem diferente do que eu encontrei assim que cheguei na praia. Na minha cabeça, eu achei que encontraria uma enorme fogeira, pessoas rindo e assando marshmallows, música ao vivo e aquela decoração havaiana que não havia como não amar. Porém, não foi exatamente isso que eu encontrei.

Algumas pessoas dançavam na areia ao som de um remix bem feito de Born this way, da Lady gaga. Algumas pequenas palmeiras e flores decoravam o local. Um Dj tocava animadamente embaixo de uma tenda e logo ao lado, havia uma pequena mesa com alguns pratos típicos. Puffs e almofadas estavam espalhados pelo chão, para quem quisesse se sentar.

Eu respirei fundo e me aproximei do local. Quando estava pronta para entrar, um homem forte e um tanto robusto bloqueou minha passagem. Ele tinha a pele branca e era careca. Eu pude notar que ele era bem maior que eu, o que não era uma surpresa – todo mundo é maior que uma menina de 1,65.

– Nome? - Ele perguntou.

Sua voz grossa me deu arrepios e fez com que eu me perguntasse que tipo de pessoa ponhe um segurança em um luau.

– Melanie Copperland. - Eu tive que gritar, devido à música.

Ele segurava um bloco com alguns nomes anotados. Ele ficou alguns minutos lendo os nomes em voz baixa e então deu um sorriso.

– Bem vinda ao luau da Patricia.

Ele abriu o caminho para mim e eu entrei, sem hesitar.

Eu olhei em volta tentando me localizar e quase desisti de ter vindo quando não vi ninguém que eu conhecia. Nem sequer Tyler. Eu estava pronta para ir embora quando alguém tocou no meu ombro. Eu me virei assustada e quase suspirei de alivio quando vi Patricia.

– Tyler disse que você não viria.

Eu dei de ombros.

– Eu estava um pouco cansada, mas resolvi vir.

Patricia sorriu.

– Nós conversamos. Quer dizer, vou um pouco dificil, no começo ele estava me ignorando, mas acabamos conversando. - Ela me deu uma piscadela.

Eu tentei forçar um sorriso, mas não deu muito certo.

– Fico feliz que tenha alcançado seu objetivo.

– Não, o meu objetivo não foi alcançado. Ainda.

Ela me entregou um copo vermelho e se afastou de mim. Eu olhei para a substância preta dentro do copo e a cheirei. Tinha cheiro de coca cola. Aliviada, eu tomei um longo gole, mas me arrependi logo em seguida, quando senti o gosto de álcool. Coca cola misturada com alguma bebida alcólica.

Eu fiz uma careta.

– Nunca aceite bebida de ninguém. - Tyler sussurrou no meu ouvido.

Eu o encarei, me perguntando onde ele estava e se ele estava me observando esse tempo todo.

– Eu pensei que você não viria. - Ele disse, pegando o copo da minha mão.

– Eu também pensei. - Eu murmurei.

Ele tomou um gole da bebida e sorriu para mim. Eu ergui uma sobrancelha.

– Você só tem dezessete anos, não deveria estar bebendo... - Eu tive que gritar, devido à música alta.

Ele deu de ombros.

– E você tem dezesseis.

– Mas eu não sabia que havia álcool...

– Não me venha com essa.

Eu respirei fundo, sem paciência ou vontade de brigar com ele mais uma vez.

– Vamos para um lugar mais calmo? - Tyler perguntou.

Eu ergui uma sobrancelha para ele, completamente surpresa. Porém, antes mesmo que eu pensasse em uma resposta, eu senti alguém segurar minha cintura com força e me puxar para perto. Eu podia ver mãos masculinas segurando minha cintura com força e ignorando as cotoveladas fracas que eu dava em sua costela enquanto tentava me soltar. Ele me virou com força, nos deixando frente a frente.

Eu quase vomitei de repulsa quando notei que o garoto que me segurava era um dos amigos de Patricia, que havia se sentado conosco no intervalo hoje de manhã. Eu não sabia nada sobre ele, mas sabia o bastante para não estar interessada.

– Você é a Melanie, não é? - Ele perguntou, nossos lábios quase se tocando.

Eu pude sentir o cheiro forte de álcool. Eu tentei me afastar, mas ele me segurou com mais força, me prendendo em seus lábios.

– Será que você pode me soltar? - Eu resmunguei.

Ele deu uma risadinha.

– Você é tão bonitinha...

Ele aproximava cada vez mais, me deixando cada vez mais enojada.

– Tira as suas mãos de mim, você está me machucando!

E ele realmente estava. Suas mãos seguravam o meu braço, cada vez mais forte. Eu sabia que ficaria com hematomas depois.

– Qual é! Eu sei que você quer...

Ele se aproximou e seus lábios quase se tocaram. Entretanto, eu fui mais rápida e virei o rosto, fazendo com que ele beijasse minha buchecha.

– Por favor, me solta! - Eu quase gritei.

Ele deu outra risadinha.

– Só depois que você me der um beijo...

– Você é surdo? Não está ouvindo que ela não quer? - Eu pude ouvir Tyler resmungar.

– Não enche!

Eu olhei para Tyler rapidamente. Ele parecia estar incrivelmente entediado, porém eu sabia, por algum motivo, que ele não estava de brincadeira.

– Eu já disse para soltar... - Tyler disse lentamente.

O garoto revirou os olhos e me segurou com mais força, me puxando para si.

– Tudo bem, você pediu isso. - Tyler disse calmamente.

Eu pude sentir a mão forte de Tyler segurar meu braço e me puxar com força. Força o bastante para me livrar do toque daquele garoto. Eu perdi o equilibrio e quase caí, mas Tyler me segurou antes que isso acontecesse.

Não me entenda mal, não foi um daqueles toques românticos que as pessoas veem nos filmes. Foi mais como se ele não quisesse que eu caísse na frente e todos e o contrangisse.

– Idiota, não se mete aqui! - O garoto gritou.

Tyler deu de ombros e deu um soco no rosto do menino. O som do seu pulso colidindo com o rosto do garoto me fez estremecer. A força do soco foi tão grande, que o garoto caiu no chão e todos pararam para olhar.

A música parou de tocar e todos começaram a tirar fotos do garoto que agora estava com o nariz sangrando. Ele se levantou rapidamente e saiu correndo, completamente humilhado. Nenhum segurança se aproximou para dar um sermão em Tyler ou expulsá-lo da festa. Talvez porque ele era o protegido de Patricia.

Todos ainda estavam paralisados quando Patricia gritou:

– Continuem a música! Nunca viram uma briga antes?

Eu pude ver o dj dar de ombros e colocar outra música para tocar. Lentamente as pessoas pararam de tirar fotos e voltaram a dançar. Tyler alongou o braço e se aproximou de mim. Ele parecia estar tão tranquilo, como se dar socos em idiotas fizesse parte da sua rotina.

– Você não precisava fazer isso.

– De nada.

– É sério Tyler, você poderia ter se machucado...

Tyler bufou.

– Aquele idiota sabe que se ele encostar um dedo em mim eu quebro a cara dele.

Eu arregalei os olhos.

– Você não pode ter tanta certeza assim. Ele parecia ser bem forte, meus braços ainda estão doendo.

– Eu fui bem treinado.

Eu mesma não acreditava em nenhuma das minhas palavras. Só analisando os braços musculosos de Tyler, eu sabia que ele era mais que capaz de acabar com qualquer um.

– Bem, obrigada.

– Eu não sou seu irmãozinho mais velho? É a minha obrigação te proteger...

Por algum motivo, eu corei.

– É o que minha mãe diz, pelo menos. - Ele sussurrou.

Eu sorri para ele.

– Muito obrigada, mas não faça isso de novo.

Ele assentiu.

– Tyyleer... - Eu pude ouvir alguém cantarolar.

Tyler revirou os olhos e então alguém colocou as mãos em seus olhos. Eu notei rapidamente que aquelas unhas só poderiam ser de uma pessoa.

– O que foi, Patricia?

Patricia tirou as mãos dos olhos de Tyler e sorriu.

– Eu sabia que você adivinharia...

– Esse cheiro só poderia ser de uma pessoa...

Pela expressão de Tyler, eu soube que aquilo não fora um elogio. Mas Patricia não pareceu notar e abraçou Tyler.

– Você é um anjo...

Tyler tentou se solta, completamente inconfortável com a situação. Patricia o segurou com mais força. Tyler parecia estar extremamente irritado e eu sabia que se ela não fosse uma garota, ele também daria um soco nela.

Eu achei um tanto engraçado o fato de nossas posições terem sido invertidas tão rápido.

– Patricia, eu acho melhor...

Ela sorriu.

– Você não acha melhor nada. Agora vem aqui!

E então eles se beijaram.

– Muito obrigada por vir, Tiago.

Ele segurou a minha mão e sorriu.

– Obrigado por me chamar. Faz com que eu me sinta importante de alguma forma.

Instântaneamente eu me senti inconfortável. É claro que eu gostava, de certa forma, de sentir a mão de Tiago na minha, mas alguma coisa fazia com que eu me sentisse desconfortável. Tiago pareceu perceber isso de alguma forma e soltou minha mão.

Eu suspirei e olhei para o mar.

Assim que Tyler começou a beijar Patricia, eu senti nojo. Uma ânsia de vômito me atacou e eu pensei que vomitaria ali mesmo, em cima dos dois. Porém, eu me controlei e saí do local. Fui cara de pau e pedi o celular de uma menina – simpática, até – emprestado. Sem pensar duas vezes, eu liguei para Tiago.

Quando o encontrei, eu não quis ir embora mas também não quis ficar naquele luau infernal. Tiago me segurou e me guiou até um lugar mais reservado da praia. Estavámos ali desde então.

– Você parece um pouco abalada. - Tiago sussurrou, me analisando.

Eu olhei para ele.

– Eu não estou abalada... Só estou pensando que ir para esse luau talvez não foi a minha ideia mais brilhante.

– Então por que você foi?

Eu dei de ombros.

– No começo eu estava cansada, mas depois achei que seria bom me distrair um pouco.

Na verdade, eu ainda estava me perguntando por que eu tinha ido a esse maldito luau. Eu estava tão cansada mas quando vi Tyler ir embora, algo me fez ir até o luau. Idiotice a minha.

– Eu fiquei com medo. - Tiago murmurou.

– Medo de quê?

Ele respirou fundo.

– Eu não sei. Quando vi hoje de manhã você com aquele pessoal, achei que eu e Ana tinhamos perdido você. Quem iria querer andar conosco quando se é amiga dos mais populares do colégio? Achei que você não iria querer nem olhar na nossa cara de novo.

Eu franzi o cenho.

– Você pensou isso de mim?

– No começo, sim. - Ele disse lentamente. - Mas quando notei que você estava tão deslocada naquela mesa, minhas esperanças se renovaram de novo. E quando você me ligou...

Eu dei de ombros.

– Eles podem ser os mais populares, mas não são um poço de inteligencia.

Tiago deu uma risadinha.

– É sério! Um deles me perguntou se o número vinte e cinco tem raiz quadrada.

– Nossa!

– Eu... eu sinto que eu não quero me envolver com essas pessoas. - Eu suspirei – E Tyler também não.

Tiago franziu o cenho.

– Tyler?

– É...eu sinto que ele não é como os outros sabe?

Tiago revirou os olhos.

– Ele é a pessoa mais cobiçada do colégio, como ele não é como os outros? Você mesma disse que ele estava aos amassos com Patricia!

– Ele não quer isso. Eu sei que ele não quer. E eu não sei o que as pessoas veem nessa Patricia! Ela nem é tão bonita assim e não tem nada na cabeça.

– Hmm... - Foi a sua opinião sobre o assunto.

Ele se levantou e caminhou até a água. Ele tirou o seu all star e o jogou em qualquer lugar. Ele estava pronto para entrar na água, de roupa e tudo, porém, quando colocou os pés na água, ele gritou:

– Aaai! Tá fria!!

Eu gargalhei.

– Acho que vou ficar por aqui... - Ele resmungou, só com os pés molhados.

Eu me levantei e tirei minha sapatilha.

– Vem, Mel! - Ele gritou.

Eu corri em sua direção, mas mantive uma distância culdadosa da água, sem me aproximar completamente.

– Vem...

Eu balancei a cabeça negativamente. Eu sabia o que iria acontecer se eu entrasse na água e eu não queria sentir aquelas sensações...

Tiago se aproximou e pegou minha mão. Repentinamente, ele me puxou, fazendo com que os meus pés ficassem molhados. A água estava tão fria que eu estremeci. Era quase como se estivessem enfiando pequenas agulhas em cada centímetro do meu pé. Eu sabia que meus pés ficariam dormentes logo.

Mas essa não foi a pior parte. Assim que a minha pele entrou em contato com a água, eu senti a ponta dos meus dedos formigarem e um gosto metálico na língua. Meus olhos repentinamente ficaram mais abertos e eu fiquei mais atenta. Era quase como se eu tivesse engolido uma grande dose de café. Meus poderes haviam sido ativados.

Eu dei um pulo para fora da água, completamente assustado. Meu corpo todo tremia e todas aquelas sensações macabras foram embora repentinamente. Tiago saiu da água também, se aproximando de mim.

– Você está bem? A água está muito gelada não é?

Eu assenti, incapaz de falar qualquer coisa. Ele segurou as minhas mãos e eu me senti um pouco melhor. A sensação da sua mão quente contra a minha mão fria me deixou um pouco mais tranquila.

– Mel, precisamos conversar.

Eu respirei fundo e somente quando notei que estava mais controlada, sussurrei:

– Pode falar.

Seu rosto empalideceu. Por um instante, eu achei que ele iria vomitar. Ele respirou fundo algumas vezes e finalmente disse:

– Mel, eu acho que você é uma garota incrivel.

Eu sorri para ele.

– Você também é... muito legal.

– É sério, Mel. Eu nunca conheci uma menina como você. Você passou por tanta coisa e ainda está aqui, vivendo sua vida, continua sorrindo... Eu não sei se aguentaria se fosse você.

Tiago não sabia de tudo o que acontecera na minha vida, mas aquilo ainda me comoveu. Eu não pude evitar de sorrir para ele e apertar sua mão carinhosamente, tentando confortá-lo.

– Muito obrigado, Tiago. Eu...

– Não, espera! Deixe-me continuar, se eu parar agora não sei se vou conseguir continuar.

Eu assenti.

– Continuando... Você é uma garota muito bonita, Mel e eu não sei o que você viu em um panaca como eu. Digo, a única “amiga” - ele fez as aspas com os dedos - que eu tinha até então era a Ana. Você não julga as pessoas pela aparência, é isso que eu gosto em você.

Todos aqueles elogios estavam começando a me deixar sem graça. Eu pude sentir meu rosto ficar quente e sabia que estava vermelha como um tomate. Tiago também estava vermelho.

– Tudo isso me fez gostar de você de um jeito diferente, sabe?

– Você quer dizer...

– Gostar de você como mulher.

– Oh!

Aquilo realmente tinha me pegado de surpresa. Eu nunca havia pensado em Tiago daquele jeito e eu não sabia que esse pouco tempo que nós nos conheciamos tinha sido o suficiente para que ele...estivesse apaixonado por mim.

– Eu não quero que você veja isso como uma obrigação, se você não quiser nada comigo, eu vou entender. Ninguém nunca quer. Mas eu sinto que eu vou acabar morrendo se não fizer isso logo, Mel.

Eu engoli em seco. Eu não sabia o que pensar, muito menos o que dizer. Eu gostava de Tiago? Estava pronta para entrar em um relacionamento? Eu queria entrar em um relacionamento? Aquilo iria mudar a nossa amizade?

– Mel, eu quero muito ficar com você. Então...Você quer...hum...Sabe? Namorar?

Apesar da tensão, não pude evitar e tive que sorrir.

– Desculpe, Mel, eu estou um pouco...Quer dizer, muito nervoso.

– Sem problema.

Eu ainda podia ouvir o som alto da música tocando. Eu sabia que o luau ainda estava rolando e me perguntei o que Tyler estaria fazendo, se ele ainda estava aos beijos com Patricia e o que ele pensaria sobre isso.Mas Tyler não deveria importar. Ele era um idiota e essa era a minha vida. A minha vida e não a dele.

– E então? Você quer namorar comigo?




Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então pessoal, o que acharam?
Gostaram ou não? Mandem comentários com as suas opiniões e suas perguntas que eu prometo que respondo tudo :)
Beijão, até o próximo capítulo.