Dilemas escrita por Paige Sullivan


Capítulo 40
Capitulo 40




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/280731/chapter/40

Dennis e Aline já estavam no carro dela. A direção para ele era desconhecida. Preferiu não falar mais nada. Ainda estava chateado porque ela não parecia acreditar nele. Mas não podia pedir que a confiança fosse a maior de todas, até mesmo porque se conheciam há pouco tempo.

Mas ele já tinha provado tanta coisa para ela. Custava dar um voto de confiança?

— Onde estamos? – olhou para o prédio comercial em que ela estacionou em frente – Pode estacionar aqui?

— Pode. Vem. – saiu do carro e ele foi atrás. Assim que entrou no prédio, percebeu que estava em uma clinica particular. Aline falou com a recepcionista, pareciam muito intimas, e logo em seguida foram encaminhados para uma sala adjacente.

— Preciso perguntar? – ela não o olhava. Apenas continuou lendo uns folhetos perto da mesa e esperando algo que ele não sabia o que era – Aline?

— Bom dia. – assim que virou, um médico apareceu. Parecia ser conhecido dela, já que automaticamente, ela levantou e se abraçaram – Uau. Quando me contaram lá na frente que você estava aqui, não acreditei. Tudo bom?

— Mais ou menos. Precisamos da sua ajuda.

Enquanto esperava Aline contar tudo para o desconhecido, a preocupação de Dennis passou de Matias para o homem à sua frente. Quem ele era e como os dois eram tão íntimos? Será que era algum ex-namorado? E por que ela estava o arrastando para aquela confusão?

— Com licença... – interrompeu incomodado – Aline... Pode me dizer o que está fazendo?

— Esse é Marcos, meu primo. Ele é medico. E pode nos ajudar.

— Claro. Mas precisamos nos apressar. Quanto mais tempo perdemos aqui, menos provas vamos ter.

Marcos levantou e apontou a porta a eles. Dennis ainda se sentia perdido com toda a situação, mas ao menos parecia ser algo para ajudá-lo. Entrou em outra sala com Marcos.

Meia hora depois, e vários exames realizados, finalmente conseguiu pensar em algo para falar.

— Acha mesmo que pode ajudar? – perguntou já arrumando a manga da blusa que usava.

— Espero que sim. É complicado dar certeza, mas tentei realizar os exames mais prováveis de detectar. O de urina de repente será o mais conclusivo, já que se foi uma dosagem forte, e misturado com álcool, demora até 72 horas para sair do organismo.

— Que bom.

— Mas que confusão é essa hein? – olhava para o prontuário dele e anotava algumas coisas – Sabe que se ser conclusivo, a pessoa pode ir até presa por isso.

— O meu maior problema não é nem esse agora, mas tenho que ter provas.

— Claro. – escreveu mais alguma coisa no prontuário – Você e a Aline estão juntos?

— Sim... Eu acho. – deu de ombros – Depois dessa situação, eu nem sei mais.

— Acho que fomos muito mal apresentados... – esticou a mão para ele – Marcos Resende, primo de Aline. – por dentro Dennis ficou super aliviado por isso.

— Desculpa a falta de educação dela. Está chateada. Dennis Palmas.

— É. Minha prima sabe escolher bem os namorados. – riu e Dennis o olhou sério – Desculpa, não me contive. – levantou e foi arrumando as amostras – É que você e seu irmão não têm a melhor fama do mercado. E quando eu os vi na revista, não achei que fosse sério. Mas ai vocês chegaram aqui... Bom...

— É sério.  – nem Dennis mais sabia – Ou era. Depois do que aconteceu, esquece... Deixa pra lá.

— Vou fazer o possível para ajudá-los.

Saíram da sala e Aline estava olhando algo pelo celular. Respondia rapidamente e com o rosto franzido. Pelo visto tinha mais preocupação rodeando a mente dela. Chegou perto e sentou ao seu lado. Ia falar algo, mas ela o parou com a mão. Marcos também parou a sua frente, e ela levantou para atender o celular.

— Oi mãe (...) Mas quando chegaram? – franziu ainda mais o rosto – E por que só fiquei sabendo agora? (...) Não, mãe. Está tudo bem. (...) Pela minha voz nada.

— Manda um beijo para ela. – Marcos se meteu. Ela apenas assentiu.

— Eu sei mãe. Eu sei que a senhora quer conhecê-lo, mas é que estamos muito ocupados essa semana com a campanha. (...) Claro que podemos arrumar um tempo para a senhora. (...) – olhou para Dennis, e ele parecia perdido olhando para o nada. Respirou fundo – Sim, vamos sim. Marca o jantar amanha, pode ser? (...) Marcos está mandando um beijo para a senhora. (...) Sim, eu tive uma alergia e vim procurá-lo. Mas está tudo bem. Beijo.

Assim que desligou, Marcos falou mais algumas coisas para eles e foram embora. Durante parte do caminho para o prédio de Aline, estavam calados. E isso a estava deixando ainda mais incomodada.

— Minha mãe quer te conhecer. – olhou para o lado e ele apenas assentiu – Marquei com ela amanha.

— E pretende contar a ela em que pé estamos? – virou e a olhou magoado. Ela sentiu também aquilo e foi parando o carro na primeira esquina que pode – Ou será que vamos fazer o papel de namorados do ano, ou eu posso explicar como me senti um inútil hoje de manha para ela?

— Dennis...

— Já entendi Aline, você precisa saber se estou falando a verdade para acreditar em mim. Tudo bem, isso já ficou bem claro.

— Mas eu não disse nada. – se inconformou – Você está colocando...

— Quando eu te perguntei, não tive resposta. Quem cala consente.

— Não funciona assim não. – virou de lado – O que queria que eu fizesse? Achasse tudo muito normal?

— Não é isso. Tem mais coisa ai.

— Claro que tem. – ligou o carro de novo – Mas não vou discutir no meio da rua.

Chegaram ao apartamento e depois de perceber que estavam sozinhos, Aline jogou suas coisas no sofá e Dennis continuou ali parado no meio do caminho. Olharam-se por um tempo tentando encontrar todas as respostas ali mesmo.

— Como acha que eu me sinto hein? – também parecia magoada – Eu... Não precisava ter transado comigo para depois jogar essa bomba no colo.

— Já te pedi desculpas por isso.

— Mas isso é jogar baixo. – foi andando de um lado para o outro – Que inferno Dennis! Achou que não fosse mais ficar com você, é isso? Ai pensou... "Vou dormir logo com ela, porque assim quando ela terminar comigo, pelo menos eu tive uma transa para contar história!" . Isso se não pensou mais baixo do que eu estou falando aqui.

— Então é isso que você pensa de mim? – se revoltou – Que eu sou um mero canalha que só quer saber de te comer? – ela o encarou um pouco pasma. Nunca tinha falando assim com ela – Se eu quisesse comer alguém, apenas pelo simples prazer de fazer, eu teria arrumado qualquer mulher que eu conheço, e olha que a lista é longa... – ela ia dar um tapa em sua cara, mas ele a travou e a empurrou – Agora vai me ouvir.

Empurrou-a para sentar no sofá e começou a andar de um lado para o outro. Não conseguia pensar racionalmente, sua mente parecia jazer no limbo. Ok, nem tanto, mas estava caminhando para lá.

— Eu não simplesmente dormi com você. Se fosse isso, não teria te pedido em namoro. – olhou finalmente para ela – Droga Aline, eu te amo. Sabe o que é encaixar isso em tão pouco tempo na minha vida? – sentou de frente para ela – Você é a primeira mulher que eu amo de verdade. Nunca senti isso por ninguém. Sempre tive controle dos meus sentimentos, e mesmo a sensação de não ter esse poder quanto ao que eu sinto por você ser bom, diante dos fatos é angustiante. Porque eu não quero te fazer sofrer e isso está estampado na sua cara.

— Dennis...

— Sério, eu fiquei sem dormir porque eu não consigo controlar nada. E ouvir você chorando acabou comigo. E tudo por minha culpa, porque eu o chantageei primeiro, eu que comecei...

— Para. – chegou perto dele – Por favor, para. – esfregou seus braços para tentar acalmá-lo – Eu confio em você Dennis. – ele a encarou – Sério, eu confio. Eu sei que você está falando a verdade. É que fui pega de surpresa. Mal começamos a namorar e já estamos passando por um grande problema. E só de ouvir que você possa ter dormido com ela, e que você nem esperou muito para dormir comigo...

— Aline...

— Tudo bem. Eu entendo que você ainda esteja perdido. E que o lance com ela foi mais planejado por ela do que conseguimos processar agora. É uma situação fora do seu controle, entendi bem. Mas repito... Fui pega de surpresa. E eu já passei por poucas em boas nos meus relacionamentos, achei que o nosso seria calmo. – deu um sorriso triste – Mas acredite, eu confio em você.

— Não parece. – abaixou os braços. Ficaram alguns instantes em silêncio – Desculpa.

— Tudo bem. – passou as mãos em seu rosto e sorriu mais alegre – Eu também te amo tá? E vamos passar por isso juntos.

— Eu não quero me separar de você.

— Vamos dar um jeito. – abraçaram-se forte – Aquele infeliz vai ter o que merece.

Dennis não aguentou mais. Precisava beijá-la de novo, saber se tudo que dizia era verdade. Ela correspondeu a cada toque, cada detalhe de tudo que ele pedia. Era necessário para eles passarem essa segurança de sentimento um para o outro. Era o que iria segurá-los por um bom tempo nessa confusão até acertarem os pontos.

— Seu primo vai nos ajudar? – perguntou depois de um tempo quando estavam abraçados no sofá – Ele não parecia ter gostado muito de mim.

— Marcos é chato. Ele não gosta do namorado de nenhuma mulher da família. Depois ele se acostuma e faz amizade, mas no começo é sempre assim.

— Ele não pareceu muito convencido da história.

— Depois eu explico melhor. Mas ele é discreto e vai nos ajudar.

— E ele é o que afinal?

— Ele é alergologista, só que ele tem seu próprio laboratório. Por isso te levei lá. O resultado não tem chance de ser alterado.

— Pensou nisso? – perguntou surpreso.

— Claro. Se Matias tem negócios aqui, ele não está pra brincadeira. Vai que alguém inteligente diz para ele que você pode tentar fazer esse exame? Ele pode subornar alguém para adulterar tudo. Pelo menos no meu primo eu confio.

— E depois?

— Depois eu não sei. Com os resultados em mãos, podemos ter alguma chance.

— É. Podemos. Mas eu preciso da filmagem dele do hotel. Não é possível que Daniele me arrastou praticamente caído sozinha. Alguém ajudou.

— Vamos descobrir. – ela sorriu e o beijou – Só que precisamos trabalhar.

— E eu nem sei como vou sair do projeto. Qual a desculpa que eu vou dar?

— Não tem a campanha de tênis? Ela é grande, pode consumir boa parte do seu tempo.

— Eu sei, mas ela não está garantida. Eu disse isso ao Charles, porque era uma desculpa concreta para ele não me prender em Fortaleza.

— Liga de novo para o cliente, marca uma reunião com ele, um jantar, vamos juntos e tentamos convencê-lo.

— Faria isso por mim? Somos de duas empresas rivais praticamente. Esse projeto com o Stolt é uma coisa, com outros clientes é outra.

— Tem coisa muito mais importante envolvida nisso, para pensarmos em disputa de empresas e quem vai ganhar premio no ano que vem. 

FORTALEZA

Charles e Diana ainda estavam vivendo em sua pequena lua de mel. Ela praticamente passava o dia com ele, mas como tinham a desculpa perfeita de trabalho, ninguém desconfiava. Estavam deitados e conversando sobre seu futuro, quando o celular de Charles tocou. Era Monalisa.

— Comment va ma chère?

— Très bien. – Diana já não gostou muito de ouvi-lo falar daquele jeito.

— Queria saber se está disponível esse final de semana. Estou indo para o Brasil.

— Que bom! Precisava mesmo falar com você. Meu tio disse que sua empresa está precisando daquela campanha para o hotel novo.

— Sim, sim. — ela sorria do outro lado da linha – Mas não é só sobre isso que gostaria de conversar com você.— Diana puxou seu telefone e colocou no viva voz assim que percebeu que ele engoliu em seco – Charles?

— Oi. – sorriu para Diana pedindo desculpas pelos olhos – Sobre isso também é bom conversamos. – tossiu – Não estou mais disponível.

— Encontrou alguém?

— Sim. Pode-se dizer isso.

— Hum... — Monalisa era esperta. Sabia do que ele estava falando – É uma pena. Mas tudo bem. Nunca tivemos nada sério mesmo. Mas vou sentir muito sua falta. — Charles não sabia se ria das caretas que Diana fazia ou se da situação como um todo — De qualquer forma, vamos acertar a campanha. Quando estará disponível?

— Nunca. – Diana sussurrou e Charles a olhou sério – Que é? – deu de ombros e apontou para o telefone.

— Estou em Fortaleza com um cliente, mas acho que na segunda feira que vem estarei disponível.

— Que maravilha! Está marcado então.

— Vou agendar com a secretária e ela te liga informando a hora.

— Claro. Nos vemos então na segunda. Beijos.

— Ok. — Diana apontou o dedo para a cara dele – Até lá.

Assim que ele desligou, ela saiu da cama e foi buscar o laptop. Ele sabia que ela não estava nenhum pouco contente com aquilo, mas precisavam conversar.

— Você sabe que ela não significa nada. Eu já deixei isso bem claro.

— Essa conversa mole dela não parecia nada.

— Diana... – virou-a para ele – Não vamos brigar por coisa idiota, por favor.

— Não gosto nela. Só isso. – olhou para ele – Ela não me transmite confiança, e tenho quase certeza de que se ela sabe da nossa história, vai usar isso de ponto forte para ficar com você.

— De onde tirou isso? – ele se assustou – Monalisa não é esse tipo de pessoa.

— Vai acreditar em alguém que conhece há um mês, dois no máximo, ou alguém que conhece quase há mais de quinze anos?

— Vou acreditar que você está com ciúmes. – abraçou-a – Mas não tem problema, eu só tenho olhos para você.

— Mas soube se engraçar rapidinho na cama dela.

— Diana... – foi procurar algo na mala – Não vou discutir com você. Temos muita coisa para resolver até quinta feira. Vou tomar um banho.

Assim que ele entrou no banheiro, Diana se sentiu tentada em olhar seu celular. Mas não o fez. Confiava em Charles e não podia ter uma crise de adolescente, se deixando levar por um ciúme besta. Só que algo naquele olhar daquela mulher não a agradava nenhum pouco. E um dia ela ainda ia descobrir o que era.

Aproveitou para ligar para a empresa. Quando falou com Amanda e descobriu que Aline ainda não tinha chegado, pediu para que ela retornasse depois e entrou em contato com o setor financeiro. Dominique já estava na ativa e tentando se inteirar de vez com os fatos que ficaram despercebidos quando ela ficou em casa. Conversou com Diana e prometeu um relatório para sexta feira, e que falaria com Helena para agendar uma reunião.

PALMAS PUBLICIDADE

Tiago já ligava para Dennis pela quinta vez. O que será que ele inventou de fazer com Aline, que já eram quase meio dia e ele ainda não tinha chegado à empresa? Charles tinha ligado e ele deu uma desculpa de que o irmão tinha ido a uma reunião e que ainda não tinha chegado. Depois de repassar mais uma vez a mentira na cabeça até Charles ligar de novo, Dennis deu entrada no andar deles.

— Finalmente! – saiu puxando o irmão para dentro da sala dele – Onde diabos você se enfiou?

— Preciso de sua ajuda. – ele olhou sério para Tiago – E o assunto morre aqui. Só você, eu e Aline podemos saber do assunto em questão.

— Pelo visto é algo ruim.

— É péssimo.

Depois de um tempo contando ao irmão sobre a chantagem, Tiago quase atirou algo em sua mesa pelos ares. Estava tão furioso quanto o irmão ficou quando recebeu aquela proposta.

— Mas você não pode sair da campanha.

— Por enquanto vou ter que sair. Só que para isso preciso da sua ajuda para conseguir de vez aquela campanha com a empresa de tênis. Aline também sabe e vai nos ajudar.

— E como ela está? – Tiago estava preocupado. Afinal, ela também estava recebendo toda aquela situação nas costas.

— Olha... – jogou o corpo para trás – Foi mais difícil do que pensei. Ela confia em mim e acredita que eu esteja falando a verdade, mas eu também fiz uma grande besteira quando cheguei.

— Saiu se agarrando com ela sem contar nada antes? – Dennis o encarou pasmo – Somos irmãos e te conheço muito bem. Ficou com medo dela não falar mais com você, de não querer acreditar e nem olhar mais para sua cara. – Dennis assentiu – Depois eu que sou o cafajeste.

— Teria feito o mesmo. – bufou e foi pegar alguma bebida no mini bar – Vou aproveitar que Charles não está aqui e beber uma dose. E nem adianta falar nada. To seco por uma dessas.

— Eu também estaria. – Tiago pegou uma também – Só precisamos saber como ganhar a campanha deles. Mas não está nem engatilhado?

— Estava. Mas outra empresa entrou comprando a briga e ele ficou de dar a resposta. Marquei um jantar para hoje, mas se isso não der certo, não sei como vou convencer nosso primo de que não vou ter tempo de dar conta de duas campanhas.

— Vamos pensar em algo então. Chama Aline aqui na empresa. A gente senta, conversa e pensa em algo. Se duas mentes pensam melhor do que uma, três então...

— Pode ser. Vou ligar para ela. – ele ia sair da sala quando Tiago o segurou pelo ombro.

— Como vocês dois ficaram?

— Não muito bem. Sei lá. Ela ainda está meio fechada. Espero que no final fiquemos bem.

— Eu também.

Dennis não entendeu a frase do irmão. Afinal, ele também tinha tido um romance com ela e não tinha ficado muito satisfeito com o namoro deles? Por que agora toda essa compreensão?

— O que deu em você?

— Como assim? – Tiago não entendeu.

— Todo compreensivo. Eu sei que nós engolimos um pouco toda a situação em volta de nós três, mas no fundo você não ficou nenhum pouco satisfeito que ela ficou comigo.

— No inicio...? – Tiago sentou-se novamente – Não fiquei mesmo não. Mas vendo vocês dois juntos, acho que é o melhor para ela. – olhou para a bebida por um tempo enquanto Dennis se apoiava em uma das cadeiras – Eu fui um idiota com ela. E os dois parecem se gostar de verdade. Não queria ver mais ninguém magoado. – encarou o irmão – Espero mesmo que vocês dois fiquem juntos.

— Bom... Eu também quero que você seja feliz Tiago. E por favor, toma mais juízo. Nós não somos mais crianças, e não estamos mais com idade para ficar brincando com os sentimentos de ninguém. Ariana estava certa o tempo todo. Isso não leva a lugar nenhum.

— Mas eu gosto da Leticia.

— Gostar apenas não é o suficiente. – Dennis andou pela sala de Tiago terminando de tomar o gole que tinha restado no copo – Nós somos novos. E se for para ficar brincando com o sentimento dos outros e nos enganando ainda mais, melhor ficarmos sozinhos. Sabe disso.

— Sei sim. – Tiago também terminou a dose – Mas não tenho intenção de brincar com ninguém.

— Que bom! – sorriu para o irmão – Vou ligar para Aline e pedir para ela vir aqui.

— Ok.

MONTENEGRO PUBLICIDADE

Aline chegou afoita na empresa. Largou todos os documentos, pegou só sua bolsa e correu para o banheiro. Quando viu que estava sozinha, se trancou na primeira cabine e vomitou tudo que tinha direito. Parecia que a comida do dia anterior tinha ficado embrulhada em seu estomago e só saiu agora, e ainda por cima por onde não devia. Encostou a cabeça na parede, trancou a cabine e pediu a Deus que ninguém chegasse naquele momento. Respirou fundo e vomitou novamente. Mas dessa vez saía o restante do dia anterior e praticamente sua bile vinha junto. Estava mal, muito mal. E sabia que isso tudo era resultado de sua mente que não parava de pensar na conversa com Dennis, de todo o ocorrido e de como sua vida conseguia ficar uma merda em questão de pouco tempo.

Saiu do banheiro quando achou que estava menos pior, lavou o rosto, escovou os dentes e tentou fazer uma maquiagem decente, que pelo menos disfarçasse sua cara de morta. Ajeitou o cabelo e tentou ganhar o mundo, mesmo sentindo-se um lixo por dentro.

— Até que enfim te vi. – Leticia chegou correndo e a arrastou – O pessoal da produção está louco atrás de você, Diana já ligou duas vezes e você chega na hora do almoço?

— Não to afim de tomar sermão agora, se é que dá pra entender. – respondeu ríspida. Letícia parou no meio do caminho e a encarou. Ficaram naquela troca de olhares e depois de perceber a desconfiança dela, engoliu em seco. O ruim de não conseguir disfarçar algumas coisas era o que a deixava irritadíssima consigo mesma.

— Brigou com o Dennis?

— Não. – respondeu cansada – Estou só passando mal. – não era mentira – Vomitei tudo que comi ainda pouco.

— Hum... – Leticia coçou o queixo – Está grávida?

— Vira essa boca para lá. – andou rápido até sua sala – Não começa com o papo de maluco não. – entrou como um furacão dentro da sala e Amanda nem teve tempo de respirar.

— Some a manha toda e de repente diz que está ai passando mal, que vomitou a comida toda. Mal Dennis chegou ontem e vocês dois se confinaram no quarto.

— Ué... E vomitar agora só significa gravidez? – Amanda ouvia atentamente, mas com os olhos fixos no computador – Eu me cuido tá legal? E não fica gritando minha vida pessoal para a empresa toda ouvir. – apontou com os olhos e Leticia entendeu.

— Tudo bem. – levantou os braços em derrota – Mas liga para Diana. Ela está te procurando que nem uma louca.

— Vou buscar um remédio. – Amanda levantou rapidamente e saiu da sala correndo.

(...)

Partiu pela empresa procurando loucamente por Helena. Não a viu em lugar nenhum. Resolveu ir ao setor financeiro, de repente a acharia por lá.

— Amanda!? – ela viu uma mulher grávida e deduziu ser a Dominique.

— Sim.

— Oi. – chegou sorridente – Sabe se Aline já chegou?

— Ela está na sala dela.

— Obrigada. – Dominique saiu e a deixou ali sozinha. Foi procurar por Aline e dar uma revisada em alguns valores.

Assim que viu Helena parada no meio do caminho, puxou-a para um corredor próximo. Helena não entendeu nada, mas sabia que quando Amanda fazia isso, fofoca viria por ai.

— Aline chegou?

— Chegou. Está na sala dela. E eu nem te conto. – sorriu maléfica – Acho que ela está grávida.

— Grávida? – conteve um grito no sussurro, mas quase teve um treco – E não vai me dizer que é daquele gostoso do D Palmas?

— Ele mesmo. Ela só namora ele né? E não parece ser do tipo de pessoa que sai namorando Deus e o mundo.

— Não. Esse papel quem roubou foi a amiga loira dela. – riram cúmplices – Mas como você soube disso?

— Ele chegou ontem de viagem. E parece que eles dois tiveram uma conversa longa. Hoje ela não chegou cedo e ainda saiu vomitando pelo banheiro.

— Eita. – olhou para o relógio – Ih, vamos logo que eu tenho que terminar de arrumar a agenda da Diana.

—  Eu vou buscar um remédio para ela. Depois chego lá.

Dominique já tinha chegado a sala delas. Trancaram a porta e tentaram arrancar algo de Aline para saber porque ela estava tão mal.

— Tem certeza que vocês dois não brigaram nem nada disso? – ela inquiria como se fosse uma policial – Porque você não fica muito bem quando briga com ninguém. E ainda está com a cara um pouco inchada. Essa maquiagem toda ai não me engana.

— Não posso mais ter uma dor de estomago normal não? – cruzou os braços – Que ideia.

— E ainda tem o senhor Caio que pelo visto está rondando o terreno de novo. – Aline sentiu vontade de vomitar de novo. Só de pensar naquela história dele, que ela tinha feito questão de esquecer, e que era ínfima para o problemão que ela estava passando no momento, alguém tinha que voltar com aquela história.

— Mentira?!

— Verdade. Agora uma coisa que eu não perguntei e que fiquei super curiosa. – olharam para Dominique curiosas – Ele não tentou nada com você quando foram embora não?

— Não. – Aline já imaginava aquela pergunta. E já tinha se preparado para dar a resposta. Não foi nenhuma surpresa e elas acreditaram pela indiferença dela – Ele só confirmou comigo o jantar da mãe esse fim de semana.

— Ele te convidou para o jantar no apartamento dele? – Leticia riu sem acreditar – Gente, ele é inacreditável.

— Não a convidou apenas. – Dominique interviu – Ele me convidou com o Bruno também. E seria bom se você fosse com o Tiago também. Quanto mais gente em volta dela, menos ele vai chegar perto.

— Acho que Dennis faz o trabalho por si só. – Aline comentou – Mas vou falar com ele para te convidar.

— Não acredito que ele se esqueceu de mim. – o ramal delas tocou – Alô. – Leticia atendeu pelo viva voz.

— Vocês estão tendo uma reunião?— era Amanda.

— Mais ou menos. – Leticia respondeu – Pode esperar uns dez minutos?

— Posso sim. Mas tem uma ligação para Aline. Caio Matos.

— Falando no diabo. – Dominique comentou pasma – Esse ai é vaso ruim mesmo. Não vai morrer tão cedo.

— Como?— Amanda não entendeu.

— Pode passar.

Olharam-se sem entender nada. Dominique começou a olhar em volta da sala e elas entenderam menos ainda.

— O que foi? – Aline perguntou.

— To procurando por alguma câmera. Porque não é possível.

— Aline?— era Caio.

— Oi Caio. - responderam as três ao mesmo tempo. Assim ele não falaria nada mesmo – Você está no viva voz na minha sala. Nique e Leticia estão aqui.

— Oi meninas. – elas responderam – É que era sobre a Leticia mesmo que eu queria falar. Estava revisando aqui com o bufe os convidados, e eu esqueci de falar para convidá-la. Como convido o Bruno e esqueço dela? Não pode isso.

— Ah tá. Eu já ia ligar te intimando a me convidar. – Leticia comentou e todos riram.

— Por isso mesmo que liguei. Antes de receber alguma ameaça, sabe?

— Ainda bem que me conhece.

— Então, como aumentou um pouco a lista de pessoas, e a festa deixou de ser apenas de boas vindas, vai ser no jockey club na lagoa. Salão nobre. Vou pedir para entregar o convite para vocês por e-mail.

— Nossa! – Dominique comentou – Vai comemorar o aniversario dela?

— Não!— ele riu – É que ela fechou um contrato com uma empresa aqui no Rio, e eles souberam da festa, pediram para eu organizar tudo e juntar uma coisa com a outra. Sabe como é né...

— Uhum. – Aline respondeu – Mas que negócio ela fechou?

— Ah sim, o vinhedo dela fechou com uma empresa brasileira para distribuição dos vinhos aqui no Brasil. E será em larga escala. Estão investindo um dinheiro grande. Mas depois eu conto mais detalhes. O importante é que a festa deixou de ser apenas um simples jantar e virou de gala. Portanto meninas, muito bem arrumadas.

— Deus do céu. Com essa barriga nada vai caber em mim. – Dominique cruzou os braços irritada – Que foi? – percebeu que elas a olhavam divertidas – Não são vocês que estão carregando barrigão de um lado para o outro.

— Nem está com barrigão ainda Nique.

— Meninas, preciso ir, vejo vocês por lá.

— Pode deixar. – responderam ao mesmo tempo de novo. Letícia desligou e olhou para Aline.

— Que foi? Não aconteceu nada. Que saco. – levantou e pegou uma pasta e o telefone – Vou na produção dar uma olhada no comercial.

Meia hora depois

Aline conversava com o produtor sobre algumas ideias que teve. Ele já mostrava peças do comercial, do segmento todo em si, mas de encaixes que ainda precisavam ser feitos, quando o celular dela tocou.

— Desculpa, to interrompendo?— Dennis logo falou sem dar tempo dela pensar.

— Mais ou menos. – pediu licença e foi para um canto da sala – To conversando com a produção aqui sobre o comercial.

— E está indo tudo bem?

— Sim. Sua equipe veio aqui hoje para ajudar um pouco. É muito pouco tempo para resolver tanta coisa. Mas diga.

— Eu contei tudo para Tiago como a gente tinha conversado. E ele pediu para você vir aqui. Precisamos repassar algumas ideias antes de irmos para o jantar com o cliente.

— Claro. Mas não está muito em cima da hora não? – olhou para o relógio – São quase três horas.

— Por isso que liguei. Se puder vir correndo. Eu comprei o almoço e está tudo sendo preparado na sala de reuniões. O jantar foi marcado para nove horas.

— Ainda bem que vim arrumada para trabalhar. Mas você não.

— E nem Tiago. Mas nós tempos roupas reservas aqui no escritório. Nós vamos ao vestiário da academia e nos trocamos. Isso não é problema.

— Tudo bem. To indo para ai.

Aline saiu da produção e foi a sua sala novamente. Falou com Leticia que ia a uma reunião com Dennis sobre o comercial e que não demoraria. Ela não entendeu muito bem, mas não comentar. Imaginou que fosse algo mais relacionado a eles dois do que qualquer outra coisa, e deixou passar. Avisou a Amanda que sairia para uma reunião e que ligaria para Diana da rua.

Assim que deixou o prédio, mandou uma mensagem para ela avisando que o dia estava todo enrolado e que teria sido o motivo de ainda não conseguir ligar.

Meia hora depois chegou a PP. Foi logo encaminhada para a sala de reuniões, e percebeu a mesa posta para três pessoas. Tiago e Dennis logo chegaram e se cumprimentaram. Dennis apenas a beijou na testa e sentou em uma das cadeiras por perto. Tiago abriu os pratos para todos e como ninguém tinha almoçado, serviram-se e começaram a comer. Um tempo de silencio depois, Tiago foi o primeiro a se pronunciar.

— Dennis me contou tudo e sinceramente tenho tanta vontade de bater na cara desse Matias como já tive quando essa historia toda começou.

— É. Eu imaginava que algo de ruim poderia acontecer, mas como Dennis falou que não era para me preocupar na época, deixei passar. Mas...

— Seu primo já deu noticias?

— Ainda não. – ela respondeu olhando já para Dennis – Espero que venham noticias boas.

— Nunca pensei que ficaria feliz em saber que um teste de drogas positivo seria boa noticia, mas espero o mesmo. – comentou cansado. Tomou mais um gole do refrigerante e olhou para o irmão – E então?

— Pois bem. Precisamos nos ajudar. Não é uma situação fácil, mas é uma apoio triplo. Não podemos titubear em nenhum momento.

— Principalmente se ela vier trabalhar aqui. – Aline comentou – Vai ser ainda mais complicado manter uma linha de convívio e informações com ela metendo o bedelho em tudo.

— Acha que ela vai representar a todos eles aqui? – Tiago olhou para Dennis.

— Duvido. A fachada é ela conseguir um emprego, porque ele quer se instalar no Rio de vez. Ou sei lá, só me vigiar. – aproximou-se da mesa – O mais importante é que ela ache que estamos caindo feito patos na história dele.

— Precisamos ter cautela, ok? – olharam para ela – Até mesmo porque não sabemos com que tipos ele anda, muito menos os contatos que tem aqui no Rio.

— Isso é verdade.

— Ainda temos um mês para organizarmos as ideias. O mais importante hoje é conseguirmos aquela campanha de tênis.

— Nós vamos conseguir. – Aline tentou ser otimista.

— Então... – Tiago puxou uns papeis de uma pasta – Fiz um levantamento rápido da concorrente. Não acho que vai ser muito difícil conseguir ganhar deles.

— Espero mesmo que não.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dilemas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.