Dilemas escrita por Paige Sullivan


Capítulo 33
Capitulo 33


Notas iniciais do capítulo

Enjoy it!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/280731/chapter/33

Bruno estava dentro da banheira do hotel ainda se recuperando do choque do dia anterior. Tentava melhorar a ressaca que se instaurou em seu corpo devido a quantidade de álcool que colocou pra dentro. Quase duas garrafas de uísque. Um marco para dizer a verdade.

Mantinha os olhos atentos nas pequenas ondas que se formavam na água devido aos movimentos de suas mãos.

Por que ela fez isso com ele? Por que esconder tudo isso durante esses anos? Revolta-se só com o fato de saber que ela tinha dormindo com Augusto. Aquilo sim era nojento e repugnante. O homem era marido da mãe dela. Isso não dava pra entender e muito menos se conformar.

O mundo parecia estar indo contra eles dois o tempo todo. Quando não era um problema mutuo, era algo relacionado a eles próprios. Sabia que durante o relacionamento deles dois, nada tinha sido fácil, que a ultima briga antes dela partir para Minas e se refugiar na casa da mãe foi complicada, que terminar pelo telefone tinha sido péssimo... Lembrou-se de quando foi procurá-la para reatar. Que ela confessou que tinha tido um caso com um rapaz, mas nada mais tinha sido falado. Que dormiram juntos, mas que ficou confuso por não entender como ela tinha dormido com outro cara logo depois que terminaram.

Ele também tinha errado naquela época. Foi embora sem dizer nada. Partiu para outra viagem ligada ao trabalho e tentou fugir dos problemas. Foi para um bar local logo dois dias depois que chegou a cidade e deparou-se com uma ruiva de olhos verdes, que o olhava constantemente. Horas mais tarde, estava dentro de seu quarto no flat tentando suprir seu desejo em uma mulher que não era Dominique. E o pior foi a cena dela vê-lo transando com a ruiva e o choque em seu olhar.

Discussão. Pelo visto era a única coisa que os dois sabiam fazer quando estavam perto um do outro. O final derradeiro de um relacionamento que mesmo com tantos problemas, tinha tido momentos bons. Dali, nunca imaginou que um ano depois, o amor falaria mais alto e eles dois voltariam. Tudo parecia melhor, eles dois tentavam esquecer o passado, mas algo não se encaixava. E vinha dela. Sempre dela.

Cristina nunca gostou dele. Nunca o achou bom o suficiente para a própria filha, que ele sabe que criou com muita dificuldade. Sempre foi doente e mesmo lutando até hoje contra a doença, era uma mulher determinada para criar Dominique, mas uma fraca e medrosa em não largar o marido inconveniente e oportunista. Nunca o engoliu também.

Depois de todo esse tempo ela ainda o ligou pedindo para que voltasse. Acreditava que a menina era dele e que por algum motivo ele fazia bem a sua filha. Foi contra todos os seus conceitos sobre ele para pedir um favor. Claro, não pode dizer que foi só porque conversaram que ele voltou, mas o que ela lhe disse foi o combustível para acionar o que já tinha guardado a sete chaves no coração. Só não esperava ter toda essa revelação em tão pouco tempo.

****

Dominique levantou da cama. Olhou-se no espelho e deplorou o que viu. Em todos os sentidos. Conseguia se ver por dentro e se sentia a pior pessoa do mundo. Estava um caco e tinha noção de que era a maior culpada de toda aquela história. Arrumou-se, pegou sua mala e foi em direção ao quintal da casa. Augusto não tinha ido trabalhar. Estava de óculos escuros e ele não podia ver exatamente o olhar morto e sem vida dela, mas assim que ela levantou a cabeça e o encarou, ele pode sentir.

— Vai embora?

— Vou. – queria responder como sempre fazia, malcriada e debochada, mas estava sem forças até pra falar direito – Troquei meu voo.

— Sua mãe já sabe que decidiu voltar? Nem deu tchau para sua irmã.

— Minha filha, Augusto. Ela é minha filha. – retrucou fraca – Não tem ninguém aqui pra ouvir nosso segredo. – pela primeira vez em anos, ele não sentia faíscas no tom da voz. Ela estava desolada, assim como quando a encontrou naquele casebre no interior há anos atrás.

— Eu te levo para o aeroporto. Depois converso com sua mãe. – não falou nada. Deixou ela desabafar a dor que tinha dentro de si com aquela resposta.

Não tinha porque discutir, rebater nem nada. Queria morrer. Só de lembrar o final da discussão com Bruno, seu coração parecia estar sendo esmagado por um rolo compressor. Entrou no carro, fechou a porta e encostou a cabeça na janela. Augusto colocou a mala no banco de trás, sentou no banco do motorista e ligou o carro. Olhou para o lado e via nas mãos inquietas e pequenas, um tremor nada característico dela. Saiu com o carro e partiu para o aeroporto.

Fizeram todo o caminho em silencio. Assim que chegaram ao aeroporto, ela percebeu onde estava e saiu devagar. Parecia fraca e debilitada. Ele tirou a mala dela e tentou ajudar. Levou-a até o embarque. Quando chamaram seu voo, entregou-lhe a mala. Ela o olhou ainda de óculos escuros e nada falou. Virou-se e foi embora.

***

Bruno já tinha terminado a reunião na Usiminas. Estava no aeroporto com os colegas esperando autorização do jato para decolar. Tinham ainda dois voos na frente até liberar a pista que eles poderiam usar. Sentou-se próximo a janela e com o Ipad tentou focar seus pensamentos em algo interessante pela web. Levantou para pegar um café e viu Augusto andando ao lado de Dominique indo em direção ao voo que estava na sua frente. Ela estava de óculos escuros, cabelos soltos, e olhava ora pro chão, ora para os lados.

Pensou por um momento em ser um suicida e louco e partir pra cima de Augusto. Mas apenas esperou. Não conseguia ter outra reação a não ser ficar parado e assistir. Era o lugar que ela tinha lhe colocado, servia apenas como assistência. O voo foi anunciado e ela pegou a mala sem nem falar nada. Virou e foi embora. Augusto continuava a observando e ele não sabia descrever o que aquilo significava.

Por um breve momento sentiu pena dela. Mas ela tinha errado com ele não era? Por que vê-la se arrastando e parecendo desiludida o dilacerou por dentro?

****

                                                                              QUARTA FEIRA

Aline e Leticia estavam chegando ao prédio da MP. Ainda não tinham se recuperado de terem passado mal no dia anterior. Pegaram o elevador e assim que sentiu a pressão, Leticia sentiu uma tontura que se não fosse por Aline, teria a feito cair no chão.

— Acho que você tinha que ficar em casa.

— Não. – ela olhou pra Aline – E você também. Já viu a quantidade de maquiagem que colocou no rosto pra disfarçar a feição de morta?

— Isso é pra eu rir ou pra aproveitar e te jogar no primeiro buraco que eu ver? – a porta se abriu e elas saíram.

— Não sei. Pelo menos me faz rir um pouco você me olhando assim. Voltamos aos velhos tempos.

— Isso que é gostar de sofrer. – meneou a cabeça e assim que chegaram ao setor, Dominique estava a toda colocando várias papeladas na mesa de várias pessoas.

— Que horas você chegou? – Leticia olhou para o relógio – São oito horas da manha e eu já achei cedo.

— Cheguei às seis. – falava normal. Quem olhasse de fora, nunca perceberia o estrago que ela estava por dentro – E vocês são duas fracas. – elas se assustaram – Tendo que chegar as oito pra dar conta?

— Eu acho que vou transferir a ideia do buraco pra ela. – Aline comentou cansada – Ta merecendo mais.

— Também acho. – Leticia cruzou os braços – Como foi em Minas?

— Tranquilo. – sorriu abertamente – Depois mostro a foto que tirei da Ana. Está linda.

— Imagino.

— Enquanto isso, vou trabalhar. – virou-se para ir embora e assim que foi chegando ao seu setor, sentiu uma tontura que quase a fez cair no chão, não fosse Danilo a segurar.

— Que isso hein, mal me vê e já desmaia? – ela sorriu fraco – Vou dormir bem hoje.

— Que forma educada de perguntar se está tudo bem comigo. – se abraçaram – E não, não estou bem, acho que comi algo que não me fez nenhum pouco bem.

— E por isso deveria estar em casa. – levou-a para um banco ali perto e trouxe uma água – Fala com Diana.

— Não. – tomou o copo de água – Já viu a quantidade de trabalho que eu tenho pra fazer? – levantou – Eu vou acelerar tudo e depois peço pra sair cedo.

Meia hora depois...

Aline levantou e foi na copa pegar um pouco de café. Estava com um sono que ia além do que ela imaginava e precisava de algo para acordar. Abriu a geladeira e viu um pote com vários caquis, e quando sentiu o cheiro, a vontade de vomitar foi nas alturas. A servente a olhou e ficou preocupada.

— Está tudo bem minha filha?

— Desde segunda to assim. – colocou a mão na cabeça – Fui jantar fora e acho que a comida não caiu bem.

— Eu vou ver se tenho algum remédio aqui pra você. Vai sentar, vai, eu levo na sua mesa.

— Obrigada. – sorriu e voltou para sua mesa.

Quando ela chegou com um remédio, Leticia logo correu em cima.

— Também quero. – a servente a olhou surpresa – To passando mal.

— Aline... – Dominique entrou no setor delas – Que cheiro é esse? – sentiu uma vontade louca de vomitar – Quem está usando esse perfume forte? – olhou para os lados e ninguém entendeu nada – É você mesma Aline? – ela cheirou o próprio braço.

— To usando o perfume de sempre.

— Ihhh. – a servente olhou para as três – Vocês estão grávidas?

O setor todo parou para olhá-las. Elas encaravam a servente apavoradas. Não tinha possibilidade nenhuma disso estar acontecendo, e logo com as três ao mesmo tempo.

— Imagina que lindo. As crianças vão crescer juntas.

— NÃÃÃO! – chiaram ao mesmo tempo.

— Tá doida mulher? – Aline olhou pra ela – Obrigada pelo comprimido, já que meu problema é comida que não caiu bem.

— Deus me livre! – Leticia bateu na mesa – Imagina, eu nova desse jeito grávida, não!!!

 - Continuando... – Dominique pigarreou para que todos parassem de olhar pra elas e virou para Aline – Eu preciso que você me de um parecer desse projeto para eu terminar de lançar as notas fiscais.

— Ok.

Na hora do almoço

Dominique saiu primeiro que todas elas. Disse que precisava resolver uns problemas no banco para despistar. Pegou um táxi e foi para uma farmácia um pouco longe de onde elas trabalhavam. Assim que entrou, se encaminhou para o setor certo e ficou encarando as prateleiras por um tempo.

— Boa tarde. – a menina da farmácia chegou sorrindo – Posso ajudar?

— Qual o melhor? – apontou e ela olhou para a prateleira.

— Eu usei esse aqui... – pegou o pacote e a entregou – Me serviu muito bem.

— Ok. Vou levar três. – sorriu sem humor – Vamos ver se eles me dão um desempate.

— Nunca ninguém reclamou do resultado.

Saiu da farmácia e pensou onde poderia fazer esses testes sem que ninguém soubesse. Olhou para todos os lugares em volta e resolveu entrar em um restaurante próximo.

****

Aline e Letícia almoçavam num restaurante vegetariano ali perto. Como não estavam bem, preferiram comer algo saudável e de preferência feito a vapor para não piorar a situação.

— Aquela servente é doida. – Leticia começou – Nem tem como eu estar grávida, eu uso anticoncepcional.

— E eu? – Aline olhava para o suco – Se bem que...

— Se bem que o que? – olhou para ela – Ai meu Deus, Aline...

— Minha menstruação ainda não veio. – olhou para Leticia assustada – Não... – riu – Não tem como não.

— Aline... – ela continuava encarando o copo de suco – Pode ser do Tiago?

— Eu não estou grávida Leticia. – se revoltou e falou alto. Algumas pessoas encararam-na e ela respirou fundo – E não me inventa ideia. Eu uso anticoncepcional também. Que coisa de louco. E ainda uso camisinha.

— E precisa? Se usa uma coisa porque vai usar a outra?

— Porque não estou namorando tanto tempo assim.

— Não confia no Dennis? – ela a olhou assustada – Que isso. Eu conversei com o Tiago, fizemos os testes e tal já para não termos problema.

— Depois de quanto tempo? Vai me dizer que antes vocês não usavam camisinha?

— Uma semana depois. – ela se assustou – Não sou tão convencional quanto você. E ele foi super legal comigo. E tu sabe que homem se amarra quando libera as amarras dele...

— Eu entendi. – Aline a parou – Lá vem você com suas maneiras de falar.

— O que? – olhou pra ela rindo – Como se você fosse santa.

— Ser santa é uma coisa, falar de certos detalhes é outra. Até mesmo porque já fiquei com o Tiago, não preciso de detalhes.

— Como é? – ela não gostou do jeito de Aline falar – Só não vou revidar porque...

— Porque eu estou certa. – olhou-a – Da licença. – sentiu uma vontade louca de vomitar e correu para o banheiro.

Cinco minutos depois e já com a conta paga, Leticia entrou no banheiro atrás dela. Já se sentia um pouco melhor depois do remédio que tomou, mesmo tendo certo incomodo. Aline lavava o rosto e ela chegou perto dela. Pegou sua mão e ela estava gelada.

— Acho que você piorou porque ficou preocupada. Que tal tirarmos a duvida?

— Que duvida? – estava secando o rosto – Vai me dizer que você também acha...

— Eu não acho nada. Eu tenho certeza que não estou. Mas vou ser sua amiga, e vamos fazer esse teste juntas.

— Eu já disse que não estou....

— Mas ficou na duvida. Qual é... Vamos logo, fazer o teste não vai matar ninguém.

Foram para primeira farmácia perto do restaurante. Olharam um tempo para as prateleiras, pegaram o que achavam necessário e partiram pra o escritório. Assim que chegaram e foram ao banheiro, se certificaram de que só tinham as duas, Leticia colocou o aviso de manutenção do lado de fora, e trancou a porta.

— Vamos.

****

Olhavam para os testes espalhados na pia. Mesmo as duas sabendo que iria dar negativo, a sensação de que algo ali pudesse ir contra as expectativas era grande. Toda mulher tinha isso. E mesmo que Aline e Tiago não tivessem mais nada, Leticia sentia uma certa apreensão. Não tinha tanto tempo mesmo que ela e Tiago tinham ficado juntos em São Paulo. Se Aline estivesse grávida, poderia ser dele, e isso a mataria. Porque alem de ver que ele ainda sentia algo por ela, a própria estar esperando um filho dele... Seria terrível para todos os lados.

Aline queria logo que o tempo passasse para ir embora. Depois que Leticia colocou caraminhola na sua cabeça, a vontade era de tacar fogo naqueles testes. Estar grávida de Tiago? Ia se jogar do alto do prédio. Era azar demais. Sim, porque do jeito que ela era sortuda, essa criança não seria do Dennis mesmo.

****

Dominique já estava sentada em um jardim mais reservado do prédio. O horário de almoço estava acabando, e ela precisava se recompor. Guardar todos aqueles sentimentos para si piorava ainda mais seu estado. Apertou a bolsa contra si e respirou fundo tantas vezes parecendo ter corrido uma maratona. Pegou seu celular e pensou em ligar para Bruno. Mas o que iria dizer para ele?

***

Bruno tinha acabado de entrar em seu apartamento. A viagem se estendeu mais do que queria, acabou tendo que voltar do aeroporto para a empresa para outra reunião de emergência e a volta foi adiada para o dia seguinte. Estava cansado, física, emocional e espiritualmente. Sim, porque depois de tudo o que tinha acontecido, parecia que seu espírito tinha ido passear um pouco e o largou a mercê do além.

Deitou no sofá e quis muito ter uma empregada para lhe preparar algo para comer. Quando pegou o celular para ligar e pedir uma comida, recebeu uma mensagem de Dominique. Suspirou. Será que valia a pena ler o conteúdo?

"Não contei nada as meninas. Por favor, não fala nada para Leticia por enquanto. Preciso melhorar meu estado para ter forças e contar tudo."

Olhou a mensagem um tempo pensando se responderia ou não.  Resolveu ligar para pedir a comida e depois veria o que fazer.

****

Dominique continuava sentada esperando uma resposta. Voltou ao trabalho e o dia todo passou tensa sem receber nada. Danilo chegou perto dela no final do expediente preocupado. Ela parecia estar pior do que antes.

— Pelo visto não falou com Diana não é?

— Não. – encostou-se a cadeira, olhou o telefone de novo e o encarou – Pode me dar uma carona? Estou super cansada.

— Claro. – ele pegou sua bolsa e a ajudou a levantar. O escritório já estava vazio, e quando chegou ao elevador, Aline e Leticia chegaram perto dela preocupadas.

— Aconteceu alguma coisa? – Aline perguntou.

— Ela não está se sentindo bem. – Danilo respondeu – Estou levando ela pra casa. Querem uma carona?

— Estou de carro. – Aline sorriu – Mas obrigada.

Todos se despediram brevemente no estacionamento e Leticia já entrou no carro desconfiada.

— Ela estava tão bem de manha. – pegou o telefone e tentou ligar para o irmão. O celular só dava desligado – Estou achando que tem algo com o meu irmão.

— Você sempre acha isso Leticia. – Aline já dirigia – Esquece isso.

— De repente ele ainda não voltou de viagem. – olhou para Aline – E você? Está bem?

— Você está bem?

— Pra te falar a verdade, não era muito a noticia que queria receber, mas estou bem.

— Quando a gente se propõe a fazer aquele teste, nunca é.

Ficaram em silencio por um tempo, até que Aline se deu conta do que Leticia tinha dito. Quando o sinal fechou, virou para ela séria.

— Queria que tivesse dado positivo?

— Por que não? – ela olhou pra Aline – Não é questão de ser filho do Tiago, você não entende.

— Pelo visto não.

— Perdi meus pais muito pequena Aline. Eu e Bruno vivemos a mercê da vida há muito tempo, e mesmo tendo ele perto de mim, nunca pude dizer que eu tinha uma família. – ela parecia triste – Você ainda tem seus pais. Eles te amam, mesmo estando longe, quando vocês estão juntos parece que nunca se separaram.

— Entendi. Mas você já tinha me falado isso.

— Eu quero curtir sim a minha vida. E tenho muito tempo pra isso, mas mesmo que fosse algo inesperado, sem programação seria muito bem vindo, eu só iria acelerar os meus planos e pular etapas.

— Independente do pai? – ela voltou  a dirigir – Acho que o pensamento esta errado ai. Se você quer uma família, tem que pensar em estabilidade.

— Eu sei. – virou pra janela. Ficaram um tempo em silencio de novo – Esquece essa historia. Não estou grávida, ainda bem e no momento posso curtir um pouco mais minha juventude. – piscou – E você?

— Eu vou fazer o exame de sangue amanha. Mas não acho que esteja. O teste me aliviou bastante. Mas com certeza não quero filho agora. Não quero criar sozinha.

— Dennis tem cara de que vai ser um ótimo pai.

— Tiago também.

— Mas... – elas riram – Sem filhos agora. Queremos nossas famílias...

— Se eles ouvirem isso, provavelmente teriam um treco.

— E você vai fazer exame amanha pra que? – olhou desconfiada – Por acaso...

— É né? Vou fazer nada não. Os três deram negativo. Pra que me preocupar?

Chegaram ao apartamento antes de Dominique. E isso porque tinham saído juntas do prédio. Estranharam e Aline chegou a ligar pra ela pra saber se ele a tinha levado ao hospital. Ela garantiu que não e que estavam conversando em uma rua ali perto.

— Alô. – Leticia atendeu ao telefone – Oi amor. – e entrou em seu quarto.

Aline ficou olhando a porta se fechar e sentou na cadeira ali perto. Pra ser sincera, jogou o corpo cansado de tantos abalos. Era meio complicado imaginar aquilo na vida dela. Estava com Dennis. Tinha quase certeza que os dois sempre se precaviam. Mas na noite em São Paulo com Tiago não foi assim. Respirou fundo e imaginou se logo os três testes de farmácia estariam errado. Não era possível, não tinha essa possibilidade. Já tinha consulta marcada pra daqui um mês no ginecologista, mas não aguentaria aguardar tanto tempo.

E se ela estivesse grávida mesmo? Dennis não seria o pai, seria? Estava quase surtando. Olhou o relógio e viu que não dava mais tempo de ligar para o consultório. Amanha cedo ligaria.

Ia tomar um banho quente e tentar dormir um pouco. Levantou e foi em direção ao quarto, quando Leticia saiu e sorriu pra ela.

— Os meninos estão pensando em vir aqui. Dennis disse que vai te ligar.

— Pra cá? – ela parecia cansada – Ai meu Deus, vão trazer alguma comida?

— Não. – ela riu – Parece que a Marta fez algo pra gente bem saudável, eles iam nos levar pra lá, mas parece que a Ariana está com o pessoal da obra do condomínio e está tudo bagunçado.

— Entendi. Vou só tomar um banho então.

Que ótimo. Alem de estar com uma duvida cruel na cabeça, ainda tinha mais essa. Hoje era o dia que queria se afundar na cama e ir dormir. Mas seria muita desfeita largar o namorado de mão.

****

Danilo pressionava o volante estarrecido com tudo que Dominique lhe contara. E ela se sentia menos pior por ter conseguido desabafar isso com alguém fora do seu circulo. Ficaram em silencio um bom tempo, até que ele se virou de lado no banco para olhá-la.

— Há quanto tempo você esconde isso?

— Um bom tempo, pode ter certeza.

— E agora mais uma novidade.

— Que não veio em boa hora. – reclamou, esfregou as mãos – Desculpa. Não sou a pessoa que você pensou que eu fosse.

— Bom... – ele respirou fundo – As pessoas não são perfeitas. Nunca são na verdade. – pegou as mãos dela já nervoso também – Não acha que seria bom você tirar um tempo para organizar as ideias, e depois esclarecer tudo com todo mundo?

— Não sei. – ficou encarando as mãos dele na dela – Estava pensando em voltar para a minha psicóloga. Ela me ajudou muito.

— É um começo. – puxou o queixo dela e a fez encará-lo – Por que você não quer saber de quem ela é filha?

— Porque se eu tiver certeza de que aquele traste é pai dela, minha vida vai acabar de vez. Imagina se minha mãe descobrir?

— Olha... Eu não sou psicólogo nem nada, mas acho que você deveria esclarecer tudo. Sua mãe precisa saber a verdade. As pessoas não podem mais ser enganadas.

— Não... – ela negava veemente.

— Nique. Você está aqui conversando comigo pra desabafar, mas está me dando a oportunidade de dar minha opinião também. Todos os pontos tem que ser colocados nos is. Você não pode passar a vida inteira escondendo isso. As pessoas só serão ainda mais prejudicadas.

— Eu sei. – limpou o rosto – Mas... É muito difícil.

— Agora, principalmente. Eu não conheço o Bruno, mas o admiro sabia? Depois de tudo o que aconteceu, ele voltou e quer ficar com você.

— Queria...

— Ele ainda quer. Ficou decepcionado porque você mentiu, mas acho que vocês se amam de verdade. – ela o encarou – Estou tentando ser seu amigo e não te julgar, porque acho que você falhou em muitas coisas ai sim, mas está tendo a oportunidade de acertar tudo de vez.

— Já sei o que quer dizer.

— Ainda bem que sabe.

Danilo deixou-a na porta do prédio. Despediram-se e ele pediu que qualquer ajuda, era só pedir a ele, que ele viria correndo ajudar.

Assim que entrou no apartamento, viu os dois casais espalhados pela sala vendo filme. Aline já dormia encolhida no colo de Dennis, que parecia estar indo para o mesmo caminho. Tiago e Leticia estavam comendo algo e prestando atenção, quando Leticia a viu entrar. Deu um selinho nele e foi na direção dela.

— Melhorou? – ela sorriu fraco.

— Só preciso tomar um banho e dormir.

— Quer comer alguma coisa? Eu fiz o jantar, ou então preparo um lanche e te levo.

— Não, valeu. Não estou com fome. Vou só pro meu quarto, termina de ver o filme ai.

— Está tudo bem Nique? – Tiago chegou perto dela, e ela se apoiou nele sentindo uma tonteira – Pelo visto não. Quer ir no medico?

— Não, não precisa não. Eu quero ir pro quarto. – Leticia a olhava séria – Não me olha assim. Só quero dormir.

— Você precisa comer. Está fraca.

— Estou sem fome, se eu comer vou colocar tudo pra fora.

— Vamos, eu te levo pro quarto. – Tiago a fez apoiar mais nele.

Assim que eles saíram de perto, Leticia olhou desconfiada. Já estava com ideias e só de ver o sumiço dela durante o dia, o papo com Danilo... Será que estava grávida dele? Ia ficar chateada, queria tanto um sobrinho, e Bruno ia ficar arrasado. E do jeito que Dominique era, ela não ia saber de nada até que ela quisesse, e só isso já a deixava irritada.

UM MÊS DEPOIS

Letícia estava angustiada andando pela casa de um lado para o outro. Quando não era Dominique que fugia de qualquer conversa, era Bruno que também estava ocupado e procurava despistar. Algo ali fedia e ela já estava entrando em paranoia.

— Já disse... – Aline começou – Bruno não vai te atender.

— Mas isso é um absurdo. Eu sou a irmã dele.

— Deixa um recado e marca um encontro, não sei, no trabalho dele, no apartamento. Ele não vai te negar. – Tiago comentou – Eu acho.

— Bom dia. – Dominique saiu e encontrou Leticia a olhando de cara feia – Que eu fiz?

— Aconteceu alguma coisa com meu irmão? – ela reclamou. Tiago olhou pra Aline, que apenas acenou com a cabeça pra ele não se meter.

— Você que é irmã dele não sabe, eu que vou saber? – virou e fechou a porta com força. Letícia estava estupefata.

— Viu isso?

— Ela já está assim há um mês mais ou menos. Acha mesmo que ela vai te responder direito?

— To falando, tem caroço no angu. E sabe o que eu descobri? – eles negaram com a cabeça – Que meu irmão foi pra Minas quando ela estava lá.

— Lá vem você com suas ideias.

— Não é ideia, é um fato. Eles se encontraram lá, e tem algum bafafá ai.

— Bom... – Aline levantou – Se tem eu não sei, eu vou trabalhar. – ela a encarou séria – Leticia, ela vai contar o que aconteceu. Por favor, para de insistência.

— Será que ela está grávida? – Tiago comentou calmo, terminando de passar a manteiga no pão, sentiu dois pares de olhos o encarando furtivamente e levantou o rosto – Que foi?

***

Bruno já terminava de arrumar sua pasta para ir trabalhar. Foi pego de surpresa com duas mãos indo de encontro as suas costas e o beijando ali mesmo. Sorriu, virou e sua amiga sorriu de volta.

— Já vai trabalhar?

— Tenho que ir. Sabe como é, sem trabalho, sem salário. – riram.

— Verdade. – ele percebeu que ela estava arrumada – Eu tenho que ir também. Tenho uma reunião na empresa daqui a meia hora e vou direto. Já to vendo o falatório quando me virem com a mesma roupa de ontem.

— Fala pra suas amigas invejosas que você estava com um homem lindo... – lhe deu um selinho – Gostoso... – deu outro selinho e ela já ria – Cheiroso... E carinhoso na sua cama. Elas vão morrer.

— Seria uma ótima ideia. – a campainha tocou e ela foi atender – Pois não? – a pessoa do outro lado da porta estava muda – Quer alguma coisa querida?

— Quero falar com Bruno. – ele parou instantaneamente de arrumar a pasta. Virou-se para a porta e viu Dominique parada, séria e tentando se conter para não perguntar alguma coisa – E é um assunto sério.

— Estou indo para o trabalho. – a amiga dele percebeu a tensão dele assim que veio andando em direção a porta. Quem fosse a mulher parada ali na porta, também estava tensa e percebeu um olhar medroso, retraído e apreensivo. Olhou melhor pra ela e percebeu que era Dominique, a ex namorada dele.

— Eu sei. Só assim pra pegar você aqui no prédio. Será que não pode me dar um minuto da sua atenção?

— Bom... – ela já se sentia ignorada ali – Bruno to indo pro trabalho, mais tarde te telefono. – pegou sua bolsa e saiu ali de fininho. Dominique apenas lhe deu um espaço para passar. Ele estava encostado na porta olhando pra ela sem saber o que responder.

Em outras situações seria sexy vê-lo daquele jeito. Procurou não inalar nada muito forte, já que sabia que ele estava cheiroso, mas perfumes ultimamente estavam acabando com seu estomago. Sua mente estava tão presa aos seus problemas que não conseguia relaxar. Poderia muito bem tirar de letra aquela historia.

— Vou ficar parada aqui na porta? – perguntou tão calma que até ele estranhou. Geralmente viria com seu ar debochado e irritante, que o fazia querer irritá-la ainda mais para se divertir. Mas não, estava aparentemente serena, mesmo vendo que seu corpo estava tenso.

— Estou pensando se é uma boa ideia.

— Que seja então. Eu falo aqui. – controlou novamente a voz. Não estava conseguindo controlar muito as emoções e provavelmente ia chorar. E antes mesmo que ela conseguisse falar, se derramou em lágrimas ali na porta. E ele se dilacerou. Pegou-a pelos ombros, fechou a porta com o pé, colocou-a sentada no sofá e trouxe um copo de água da cozinha – Desculpa, eu...

— Não vou fazer nada. Relaxa.

— Não consigo. Ultimamente só reajo assim, chorando de tudo. – limpou o rosto. Mesmo querendo abraçá-la, ele ainda sentia uma hesitação pra chegar perto. Precisava se manter firme também.

— O que você queria falar?

— Olha... – respirou fundo algumas vezes e procurou relaxar. Impossível – Eu tenho uma coisa importante pra falar. Na verdade, estou me preparando pra contar isso há um tempo, mas não tive coragem de vir aqui... Eu...

— É sobre a Ana? – ela negou – Sua mãe? – ela negou de novo – Augusto?

— Não. É sobre nós dois. – ele suspirou cansado.

— Não há mais nós dois. – ela congelou – Isso morreu há um mês. Eu tentei, mas você não ajudou... Eu....

— Posso terminar de falar? – esfregou as mãos nervosa e tinha algo ali que ela escondia – Eu... – ela ia falar que o amava, mas será que isso amenizaria as coisas? – Eu...

— Anda Dominique, estou com pressa. – tentou tratar com indiferença – Tenho muita coisa pra fazer, um projeto pra entre...

— Estou grávida.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dilemas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.