Dilemas escrita por Paige Sullivan


Capítulo 32
Capitulo 32


Notas iniciais do capítulo

Enjoy it!



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Capitulo 32

LAGO MANGUABA – ALAGOAS

Charles acordou em sua cama e sentiu que estava nu. Ainda meio grogue pelo sono, foi se ajeitando na cama e virou de frente para ver se de fato estava em seu quarto. Assim que sentou, Monalisa vinha com sua camisa no corpo, com um coque mal feito e de cabelo solto. Sorriu assim que o viu acordado.

— Pensei que fosse dormir o dia inteiro, dorminhoco. – ele sorriu ainda com sono.

— Que horas são?

— Acho que onze horas. – ele se assustou – Há quanto tempo não dormia bem assim? – ajeitou a bandeja de café em suas pernas e lhe deu um selinho.

— De uns dias pra cá tem sido difícil. – olhou para a bandeja mais concentrado – Quanta coisa!

— Você precisa se alimentar. Pelo visto, quando fica com estresse e ansiedade não se alimenta e emagrece.

— Já me conhece assim?

— Eu tento. Vou tomar um banho.

Vinte minutos depois, Charles já descia as escadas com a bandeja. Sua empregada pegou de sua mão e assim que sentou e pegou o controle remoto, o telefone tocou.

— Eu não tinha pedido para deixar desligado? – ele falou sério, mas não alterou a calma.

— Ah desculpa senhor. – ela chegou rápido perto dele – Seu tio ligou para minha casa. Pediu para que eu ligasse o telefone.

— Ok. – viu na bina que o telefone era de seu tio e prontamente atendeu – Alô.

— Estava quase pegando um avião para ir ai te dar uns tapas Charles.— Manoel parecia irritado do outro lado — Que história é essa de dar susto em todo mundo?

— Tio, não é a primeira vez que sumo do mapa.

— Eu sei, mas geralmente eu sou avisado desses seus sumiços. Tá achando que é Ethan Hunt e eu sou da IMF e vou te achar em qualquer canto desse mundo é?— ele riu. Até irritado, o tio dele tinha que fazer piada.

— Desculpa tio.

— E sozinho? Tem noção de como isso é perigoso?

— Perigoso? – andou até a varanda e estranhou – Falou com Jay não é?

— Bom... Eu tinha que saber onde você estava. Ele ficou preocupado.

— Não estou sozinho, se é isso que quer saber.

— Não estou falando da empregada. Ela não dorme com você.— Manoel parou um instante – Ou vai saber...

— Tio?! – exclamou, mas depois soltou uma gargalhada – To me sentindo com 15 anos de novo.

— Devia era te dar uns tapas mesmo.— bufou — Preciso que você volte amanha, ou no máximo depois de amanha. Dennis e Tiago não conseguiram adiar uma reunião com um acionista do Stolt e olha que ele foi bem persuasivo.

— Não consigo mesmo descansar. – suspirou – Hoje é segunda. Quarta de manhã estou no escritório.

— Ok. Te vejo lá. – ia desligar quando ouviu uma voz ao longe — Está com quem?

— Monalisa.

— Ai pai eterno. Por favor, me de paciência para aturar essas coisas...

— Tchau tio. E ó... Vou desligar de novo o telefone aqui. Já sabe que estou bem. Precisar mandar recado, mande pela empregada, ok?

— Agora já sei porque não quer ser incomodado.

— TIO! – já exclamava e sabia que estava vermelho. Manoel conseguia umas tiradas que deixava qualquer um desconcertado.

— Brincadeira. Mas deixo o recado com ela sim. Não tenho outra escolha.

Charles desligou e ficou olhando para o telefone rindo. Deu graças a Deus de não ter colocado no viva voz. Iria se afogar no lago se as mulheres da casa ouvissem as besteiras do tio. Monalisa chegou e o abraçou por trás. Ele se virou e a beijou um pouco mais intensamente do que aquele selinho de mais cedo. Levou-a para dentro e sentaram no sofá. Ligou no canal do tempo para ver como estava o clima, e enquanto procurava o que queria, ela se distraia com uma revista.

— Ligou o telefone?

— Ah sim, meu tio deixou um recado pela empregada. Se eu não atendesse, era bem provável que ele viesse até aqui pra me dar bronca. – ela riu.

— Pelo visto vai ter que voltar não é? – chegou mais perto e sentou em seu colo – Está tão bom aqui.

— Eu sei. – sorriu – Mas só volto na quarta. Ainda temos tempo. Estou vendo se o tempo está bom, pra eu te levar pra passear de barco.

— Ah que bom! – ela virou para TV – Eu ia adorar. – encararam-se e ela foi chegando perto – Daqui a pouco.

— É. Temos a tarde toda. – virou-a no sofá e ficou em cima dela.

******

MINAS GERAIS

Dominique estava no shopping procurando o ultimo pedido de sua mãe. Já eram quase seis horas e ela tentava procurar algo que já achava inútil. Só teria o outro dia para ajudar a arrumar e tudo ficaria perdido sem o enfeite que sua mãe queria. Mas que ela também inventou ideia?

Parou para lanchar um pouco. Sentiu-se observada, mas a praça de alimentação estava cheia, e tentou tirar essa ideia da cabeça. Continuou comendo e olhando o mapa que sua mãe tinha feito das lojas que ela tinha que ir pra procurar o tal item. Bufava, só restava mais uma loja e ela estava cansada. Sentiu-se observada de novo e acabou olhando para os lados tentando descobrir de onde vinha essa sensação. Nada.

Levantou e resolveu fazer logo o que sua mãe tinha pedido. Quando voltou a procurar a loja, virou para trás com a sensação de que alguém a seguia. Já estava ficando paranoica. Virou e tombou com um corpo parado bem na sua frente.

— Sempre desconfiada. – olhou assustada. Mas que diabos ele estava fazendo ali? – Surpresa?

— Que merda é essa Bruno?

— Vim te ver. – ela olhou para o relógio.

— Mas como?

— Se eu contar você não vai acreditar. – sorriu maroto – Melhor saber que estou aqui.

— Eu deveria te matar. Me segue e acha tudo normal? – cruzou os braços.

— Não tinha a intenção de te assustar. De fato eu não ia nem aparecer em Minas.

— Acredito nisso?

— Sério. Como acha que cheguei aqui tão rápido? The Flash?

Ela o ignorou e foi procurar a loja. Ele foi atrás. Não falaram mais nada, mas ele sabia que a curiosidade dela seria maior, e no final , acabaria perguntando. Entraram na loja e ela apenas pediu indicação para vendedora. Assim não ficaria tanto tempo procurando e menos tempo ainda com ele. Divergiam os olhares entre si e os produtos nas prateleiras, até que ela não se aguentou.

— Tá Bruno, como chegou aqui? – ele sorriu.

— Tenho uma reunião na Usiminas. – ela entendeu finalmente. No fundo, se sentiu um pouco chateada por ele não ter ido conversar com ela, mas escondeu isso piamente. E depois se chutou mentalmente por estar tão confusa por causa dele – Te vi no shopping por acaso. E como já pretendia ir atrás de você para conversar...

— Atrás de mim?

— É. – ele assentiu – Eu não vou deixar barato suas esquivas de hoje mais cedo.

— E veio de que? Trem bala? – mudou de assunto.

— Não. Minha empresa fretou um jato para a equipe, dois advogados e mais um cliente. Chegamos rápido por causa disso. – ela virou de novo pra prateleira – Mas é serio. Aproveitei porque queria conversar.

— Você não tem nenhuma reunião não? – cruzou os braços.

— Se tivesse não estaria aqui passeando no shopping Nique. Para de me enrolar.

— Não vou conversar nada com você, já disse. – a vendedora chegou com o que ela precisava e os dois terminaram o assunto naquele momento. Ele continuou olhando os produtos, enquanto ela ia pro caixa e pagava a compra.

Saíram da loja em silencio de novo, e foram andando para a saída do shopping. Quando chegaram ao estacionamento, Dominique o parou e o olhou séria.

— Vai pro seu hotel. Eu vou pra casa da minha mãe.

— Nem posso conhecer sua irmã? – ele sorriu e ela gelou. Respirou fundo várias vezes e ele percebeu que tinha algo errado, mas a principio, se fez de idiota – Se não quiser, não tem problema. Mas eu a achei linda sabia?

— Como assim achou-a linda? Vai me dizer que Leticia te mostrou alguma foto dela?

— Aham. – respondeu todo bobo pegando o celular – Me admira, ela nunca ter me contado dessa menina, já que ela tem 4 anos e são os exatos anos que ela foi adotada. Foi logo depois que você voltou pro Rio não é?

— Tchau Bruno. – ela sabia onde ele queria chegar, e não ia dar esse gosto pra ele.

— Dominique. – ele correu atrás dela. Já estava chegando no carro, quando segurou sua mão – É minha filha?

O mundo caiu ali. Ela ficou tonta e ele percebeu que algo não estava bem. Foi só o tempo de segurá-la, e ela cair em seu colo desmaiada.

****

RIO DE JANEIRO

Aline estava no setor da contabilidade.  Cheia de papeis em volta de si, tentando reorganizar parte da documentação até Dominique chegar. Parecia que só por ela não estar ali, os papeis brotavam em sua mesa. Mariana ainda estava arrumando parte dos problemas, já que dois funcionários novos estavam sendo treinados naquela semana.

Enquanto olhava para um relatório importante, sentiu um perfume característico. Olhou para o relógio e viu que já eram quase sete horas da noite. Virou e viu Dennis sorrindo lindamente para ela. Letícia estava ao lado dele olhando para ela e trazendo um copo de café.

— Acabei de tomar minha cafeína. Ta na hora de você tomar a sua. – ela sorriu, agradeceu e tomou um gole.

— Desculpa. Perdi a hora. – Dennis beijou sua testa.

— Sem problemas. Eu e Tiago estamos esperando na recepção. É bom que adiantamos alguma coisa também, estou cheio de papeis na pasta.

— Usa a sala de reuniões. – olhou para Leticia – Conseguiu terminar?

— Não. Diana me encheu de coisa pra fazer também. – olhou para Dennis – Bora cunhadinho, e eu levo um café pra vocês dois.

Aline já olhava para o computador e via a quantidade de coisas que ainda tinha que fazer. Dividiu o que podia e mandou para o e-mail de Mariana e encostou-se à cadeira tomando o resto do café. Sentiu uma dor de cabeça vindo de repente. Sabia que era porque Dennis tinha dado a ideia dos quatro jantarem juntos. Provavelmente, era para ver como ficaria Tiago e ela na mesma mesa e se haveria algum constrangimento e só de imaginar isso, se tremia toda.

Letícia acompanhou os dois para a sala de reuniões. Também sentiu a mesma tremedeira ao pensar que os quatro jantariam juntos. Se não fosse tão calma, provavelmente já estaria pulando de nervoso. Já não bastasse Diana colocando mil coisas pra ela fazer, ainda tinha mais essa.

Diana ainda estava em sua sala. Acabou acumulando trabalho também e já nem era porque o time estava desfalcado, e sim porque já sabia do paradeiro de Charles. Lembrava-se da casa do lago. Tantos momentos bons que teve com ele lá. Mas depois da discussão no apartamento dele, também tinha noção de que sozinho ele não estava. E não era burra. Provavelmente era com a tal loira que ele saiu do jantar de Manoel. Sua mente não ajudava e não conseguia se concentrar no trabalho. Tentou, mas não conseguiu. Resolveu deixar para o outro dia, porque já estava ficando louca. Ela precisava de férias, com certeza.

Saiu de sua sala e viu Leticia ainda ali. Estranhou. Olhou para os lados e só ela estava ali, alem da sala de reunião estar com a luz acesa também.

— Leticia. – ela se virou – Alguma equipe ainda trabalhando?

— Ah não. Dennis e Tiago estão ai. Estão nos esperando. Aline ainda esta terminando um relatório pra você, e eu to tentando organizar isso aqui amanha. Porque senão depois ela se perde na própria mesa.

— Entendi. – pegou o celular – Estou indo pra casa. Também estou cansada. Amanha nos vemos. Manda um beijo pra Aline.

— Pode deixar. – sorriu.

****

MINAS GERAIS

Bruno estava sentado em uma poltrona em frente a cama de Dominique. Ela continuava dormindo, com uma feição tão tranquila, que aparentemente, nem parecia ser ela. Ana colocou o rosto para dentro do quarto e ali ele teve certeza – o que já tinha reparado na foto – que ela idêntica a Dominique. Respirou fundo e imaginou se por um momento aquela menina era mesmo sua filha. Chamou-a com a mão e ela fez movimentos de gatuno, como se andando em casa de madrugada, na ponta dos pés, para não ser descoberta.

— Quem é você? – cruzou os braços séria e ele riu.

— Eu sou o Bruno. Falou comigo hoje de manha, lembra? – falou baixo para não acordá-la.

— Ah. – falou alto e colocou a mão na boca – Ela tá dormindo né?

— Uhum. – Cristina apareceu na porta do quarto também e olhou para os dois. Ele virou para olhá-la e ela sorriu – Tudo bem agora, só está dormindo.

— Que bom. – ela olhou para Ana – Vai lá lanchar, a Bia está ai.

— Obaaa! – exclamou baixo e saiu andando de fininho de novo.

— Posso falar com você? – ela o chamou. Ele assentiu e saiu do quarto acompanhando-a até a sala – Desculpa pela bangunça.

— Não. Que isso. To vendo que está fazendo uma festa.

— Ah sim, entrada da primavera. Lembra?

— Uma vez eu vim com a Nique sim. – sentaram no sofá – Peço desculpas pela intromissão, mas ela desmaiou, achei melhor trazê-la pra cá.

— O que aconteceu?

Ele contou o que o levou a Minas e de tê-la encontrado no shopping. E da indelicadeza dele de ser direto o suficiente. Cristina engoliu em seco. Ele desconfiava enfim.

— É verdade ou não é Cristina?

— Não sei. – ela encostou-se – Sinceramente, não sei. Ela te contou parte do que aconteceu quando vocês dois brigaram?

— Que ela tinha se envolvido com alguém aqui. Mas só fui descobrir dessa gravidez quando já estávamos no Rio de novo. – ele parecia angustiado – Poxa, Cristina, ela me disse que o bebe tinha morrido.

— Ela o que? – ela ficou apavorada – Como ela pode fazer isso?

— Não sei exatamente. Ela sabe que você sabe que essa menina é filha dela? – falou baixo com medo de alguém ouvir a conversa.

— Não. Augusto... – parou um momento para pensar – Ela se isolou em uma cidade bem de interior aqui. Deu a menina pra adoção e ele a buscou.

— Entendi. – Bruno se sentia mal, muito mal mesmo – Sabe o que é mais difícil? – ela pegou suas mãos e as afagou – Olha o tempo que fiquei recluso disso tudo. E ela mesma. Por que fazer isso com ela mesma?

— Não sei. – ela parecia triste também – Ela nunca conversou comigo. E seguiu com a vida dela no Rio, achei melhor deixar o tempo passar. Uma hora ela não vai conseguir segurar isso tudo pra si e vai acabar contando.

— Vou ver se ela acordou. Preciso, no mínimo, saber se é isso mesmo. Amanhã eu tenho uma reunião importante e não posso faltar.

— Se não conseguir falar com ela, tenta no Rio. Vocês dois moram por lá, se veem com mais frequência. – ele realmente parecia desolado – Por isso que te pedi pra voltar.

Dominique já estava acordada e ouviu o final da conversa. O tom da voz de Bruno era sofrido, e ela já se sentia mal por ele achar que Ana era filha dele. Respirou fundo algumas vezes tentando segurar o choro. Foi andando de fininho para a varanda, sem que os dois a vissem. Chegou e viu os pedreiros levando algumas coisas e indo embora. Ana corria junto com a amiguinha no quintal e só de pensar que sua mãe teve dedo para fazer Bruno voltar, sua mente entrou em curto e seu estomago revirou. Correu para a pia e vomitou o que tinha comido mais cedo.

— Não devia ter levantado. – Bruno já estava atrás dela preocupado – Por que não me esperou.

— Não sabia que estava ai. Só fui descobrir quando ouvi sua voz conversando com minha mãe. – lavou o rosto e ele lhe estendeu uma toalha. Secou o rosto e ele a ajudou a sentar – Eu...

— Niqueee. – Ana chegou perto dos dois – Você tá bem?

— Oi, meu amor. – respondeu com a voz embargada – Estou só um pouquinho tonta, mas nada demais.

— Moço... – puxou a calça de Bruno e ele agachou para falar com ela – Leva ela pro quarto.

— Levo sim. – ele sorriu – Mas tem que pagar uma taxa.

— O que é taxa? – ela coçou a cabeça e Dominique revirou os olhos.

— Taxa... Deixa-me ver. Eu a levo, mas só se você me der um beijo na bochecha.

— Ah... Isso é taxa? – acabaram rindo. Ela tentava falar a palavra direito, mas o sotaque junto com a idade não ajudavam muito – Tá bom. – beijou-o na bochecha e ainda o abraçou.

— Gente, que abraço gostoso. – sorriu – Agora eu a ajudo e ainda vou levar algo pra ela comer.

— Ebaaa!

— O que está acontecendo aqui? – Augusto surgiu perto deles com um ar sério e irritado. Principalmente ao se deparar com Bruno na sua frente – O que você está fazendo aqui?

— Paai! – todos olharam para a menina. Augusto mudou o ar e sorriu ao ver a menina. Pegou-a no colo e a abraçou. Bruno já não sabia se sentia náuseas ou se ficava com pena da menina, que era muito pequena e não sabia a confusão que estava envolvida – Ele é amigo da Nique.

— Eu o conheço, meu amor. – sorriu pra ela e a colocou no chão de novo – Vai lá, Bia esta te esperando na cozinha.

— Tá.

Quando ela saiu de perto dos três, Dominique sentiu uma tonteira novamente e Bruno a segurou. Augusto também se preocupou e tentou chegar perto, mas Bruno não deixou.

— Não encosta nela.

— Eu... – olhou para ela – Está bem?

— Estou com cara de que estou bem? – respondeu debochada e se apoiou ainda mais em Bruno – Me leva pro quarto.

— O que você está fazendo aqui? – perguntou de novo olhando pra ele.

— Não está vendo? Ficou cego, por acaso? – ele o olhou irado. Se pudesse, deixava Dominique apoiada um pouco na bancada da área e dava socos acumulados em Augusto – Não lhe devo satisfação.

— Essa casa é minha. Claro que deve.

— Olha... – respirou fundo – Não vou discutir. Vou levá-la para o quarto e se me der na telha depois, eu falo com você.

Ignorou Augusto e pegou Dominique no colo. Levou-a para o quarto e trancou a porta. Assim que ela se acomodou na cama, sentou na poltrona e quase arrancou todos os cabelos da cabeça. Depois, andava de um lado para o outro nervoso, e ela percebia que ele estava angustiado.

— Quer dizer que voltou por que minha mãe te pediu? – ele parou de andar e a encarou – Ouvi o final da conversa. Não sei o que vocês falavam antes. Pode ficar tranquilo.

— Então... – sentou perto da cama – Ana é minha filha?

— Não. – ela foi logo taxativa. Já estava passando mal e ficar enrolando para contar a verdade só iria piorar as coisas – Não estou mentindo dessa vez.

— Ela é filha do Augusto então? – ele perguntou já com medo de saber a resposta. Ela começou a chorar – Nique, por favor...

— Não sei. – chorou ainda mais.

— Como assim não sabe? – ele a olhava indecifrável.

— Lembra que quando eu contei parte da história?

— Lembro. E isso por si só já me irrita, porque você mentiu pra mim. – ele parecia magoado, e ela chorou ainda mais.

— Me escuta, não tem porque esconder mais nada de você.

Dominique contou de Mikael, irmão de Augusto que morava na Europa. Ele tinha ido para o Brasil visitar o irmão e eles dois se conheceram. Ficaram amigos e bem íntimos, principalmente, porque eles dois tinham terminado e ela se sentia carente. Um mês depois, ele disse que iria voltar para a Europa e dois dias antes acabaram dormindo juntos. No outro dia, ele sofreu um acidente de carro e morreu. Ela ficou mal e Augusto também. Só que ele sumiu, e para Cristina não ficar ainda pior, porque já tinha parado no hospital devido ao sumiço dele, ela o procurou.

— Nós bebemos... Conversamos, afogamos nossas mágoas...

— E dormiram juntos. – ele não acreditava no que estava ouvindo – Não foi isso que você me disse... Você dormiu com ele? – levantou indignado – Como...? Essa menina é filha dele.

— Isso eu não sei. – ela se recuperava do choro – Ele disse que o irmão dele não podia ter filhos. Mas eu não sei se ele falou a verdade.

— E nunca fez o teste pra descobrir?

— Não quero descobrir isso. – ela se irritou – Não tem noção de como fiquei quando descobri que estava grávida.

— Nique... – ele sentou perto dela – Isso é grave. Você deu a menina pra adoção.

— Sabe por que minha mãe acha que a menina é sua? Porque ela me viu em depressão. Você chegou a vir aqui para tentar reatar e eu já estava metida no meio dessa confusão.

— Por que mentiu então quando te perguntei?

— Já vi como o olha. Vocês se odeiam. E na época você ainda era mais explosivo que agora. Tinha medo de você fazer uma besteira.

— E acha que só porque estou mais velho não tenho vontade? – ele bufava – Não acredito que foi capaz de esconder isso de mim. – afastou-se novamente e foi em direção a janela – Logo de mim.

— Tenho medo do que pode acontecer com minha mãe.

— A doença dela. – ela concordou e ele sentou-se novamente na poltrona – É muita informação pra mim. Como guardou tudo durante esses anos?

— Questão de prática. – deu de ombros – Ela está sendo bem cuidada. Não tenho força emocional para cuidar dela e lidar com todos esses problemas.

— Ai se torna mais fácil mentir pra todo mundo e viver uma vida de mentira.

— Não sabe como é difícil. – ela o olhou irritada e magoada – Não durmo bem durante varias noites. Vir pra cá... Ver o crescimento dela e não poder acompanhar... – voltou a chorar – Eu...

— A Dominique que eu conheço... – riu sem humor – Ou pelo menos conhecia, tira de letra qualquer problema. Não se deixa levar por nenhum obstáculo.

— Eu mudei muito.

— Pelo visto mudou mesmo. – foi em direção a porta – Sabe por que voltei? Porque eu te queria de volta... Depois disso tudo... Não sei se quero mais.

Assim que ele saiu de seu quarto, ela se afundou ainda mais na cama. Chorou tudo o que podia e sentia cada vez pior por ter mentido para a pessoa que mais tinha amado na vida.

****

TERÇA FEIRA

Aline saia do banheiro passando mal. Letícia saia do outro passando pelo mesmo problema. Chegaram à cozinha e tomaram algo para melhorar o enjoo, mas assim que sentiram chegar ao estomago, correram e vomitaram tudo novamente.

— Nique tinha que viajar. – Aline escorou-se na parede da área e foi caindo no chão – Não estou nem me aguentando em pé.

— E eu? – Letícia respirou fundo – Quero morrer isso sim.

****

LAGO MANGUABA – ALAGOAS

Charles e Monalisa terminavam de tomar o café da manha. Suas malas estavam prontas. Tiveram que adiantar os voos porque para quarta feira já estavam todos lotados. Melhor chegar mais cedo do que o programado, do que chegar atrasado para os compromissos.

— Estava pensando em ficar no Rio até o final da semana. Até mesmo porque não tem passagem durante a semana pra França. Os voos estão todos lotados.

— Que bom. Só assim a gente aproveita mais a companhia um do outro. – sorriu – Já sabe onde vai ficar?

— Posso ficar no hotel de sempre. Não sei ainda.

— Que tal ficar no meu apartamento? – ela o olhou surpresa – Que foi?

— Não vai te causar nenhum problema não? Capaz de Diana aparecer no apartamento querendo tirar satisfação com você e me encontrar lá. Não vai acabar bem.

— Ela não vai voltar lá tão cedo. – ele tomou mais um gole de café – Não depois da discussão que tivemos.

— Entao, eu aceito. – sorriu – Vamos? – olhou para o relógio – Pelo que eu lembre, de barco leva um tempinho não é?

— Leva mesmo. – levantou – Vamos.


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Notas finais do capítulo

Semana que vem tem mais! Bjussss!



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